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Lua Nova: A Escolhida

          Desde que aquele velório aconteceu eu sentia que meu pai escondia alguma coisa de nós, tentei perguntar diversas vezes, mas ele não contava nada, dava desculpas esfarrapadas ou simplesmente mudava de assunto, então eu resolvi deixar quieto, mas teve um momento que isso não dava mais certo.

- Cí, onde você comprou esse colar? - Katherine perguntou assim que acabou a aula.

- Minha vó que me deu. - digo sorrindo.

Eu sei que não devia dizer nada para ninguém, mas Kath era de confiança e saberia se eu mentisse. 

- É realmente muito lindo, nunca vi um igual a esse. - ela disse recolhendo suas coisas.

- Nem eu, vamos? - peguei minha mochila e já fui saindo da sala.

- Sim. - ela pegou sua mochila e me seguiu.

- Tem provas amanhã, né? - perguntei enquanto desviava das pessoas que estavam passando pelo corredor.

- Sim, eu não estudei nada. - ela resmunga.

- Eu não estou muito preocupa. - dei de ombros.

- Você nem precisa estudar para as provas, você tem um talento nato, devia me passar um pouco desse conhecimento. - ela ri.

- Não exagera, Kath. Eu dou uma lida ou outra, às vezes eu estudo muito, mas isso não é ser um Einstein na vida.

- Você que pensa assim, se eu conseguisse a metade que você consegue eu não ganharia tantas broncas dos meus pais. - ela revira os olhos.

- Quem sabe que você namorasse menos e estudasse mais isso não aconteceria. - digo para provocá-la.

- Sabe do que você precisa, Cecília?

- Não, do que? - interrompi meus passos assim que saímos do colégio.

- De um namorado, você é muito fechada, não faz nada, não sai com ninguém, nem namorado quer mais ter. - ela fica na minha frente.

- Kath, nem tente... Já sabemos onde vai acabar essa história. - suspiro.

- Eu sei que seu ex é um babaca por completo, mas não entendo porque isso te impede de conhecer outras pessoas. - ela coloca as mãos nos meus ombros.

- Por respeito ao meu coração que já cansou de sofrer pelas minhas escolhas erradas. - encaro seus olhos castanhos escuros.

- Você é tão complicada, mas esse é o meu conselho. - ela sorri.

- Falado em namorado, sua obra de arte do Picasso está bem aí. - olho para o carro preto estacionado.

- Tá mais para obra de arte do Botero ultimamente. - ela olha para o namorado e acena.

- Malvada. - rio.

- Já vou indo, pensa no que eu disse, tá?

- Se você parar de encher o saco eu penso, manda um oi pro Brayan.

- Tchau, Cí! - ela se despede e corre pro carro.

- TCHAU! - aceno para ela e vejo o carro indo embora.

          Fui para casa a pé, era uma das horas preferidas do meu dia, era só eu e meus pensamentos, não deixei de pensar no que a Kath me disse, desde que eu e Simón terminamos ano passado eu me fechei, pessoas só machucam e eu não queria ser machucada de novo.

          Segurei o pingente do meu colar e fechei os olhos. Por que você não está aqui, vó?  Perguntava mentalmente todos os dias. Quando abri os olhos meu colar estava brilhando, eu fiquei assustada e eu soltei ele, foi quando ele parou de brilhar e fiquei apavorada.

          Fui para a casa correndo, entrei às pressas, joguei a mochila na cama e fui para o escritório onde meu pai estava em meio a uma ligação.

- Sim, eu sei.... Pode esperar só um pouco? Minha filha quer falar comigo, depois eu retorno a ligação. - ele disse assim que me viu.

- Posso saber o que está me escondendo? - espero ele desligar o celular e sento na sua frente.

- Do que está falando? - ele perguntou confuso.

- Do que eu estou falando pai? Você sabe, primeiro a vovó pede pra nunca desgrudar desse colar... - tiro o colar de dentro da blusa.

- Esse colar... - ele arregala os olhos quando o viu.

- Depois você nos leva a um enterro sinistro, com rituais esquisitos e tirando o fato de que não é nada convencional ir pra um enterro com uma espada, mas respeitei seu luto e mesmo assim você não disse a verdade!

- Sua vó te deu ele? - ele aponta para o colar.

- Sim e agora esse colar começa a brilhar do nada, então pelo amor de Deus me diz o que tá acontecendo? - suspiro.

- Então ela estava certa sobre você. - ele sorri.

- Ela quem? Sobre o que? - pergunto mais confusa ainda.

- Sua vó, esse colar era realmente para ser seu. - ele se levanta e anda pelo espaço.

- Mas qual é a relação dessa loucura toda? Eu já estou me sentindo louca.

- Ok... Vamos começar pelo velório. - ele anda de um lado pra outro.

- Prossiga.

- Eu sou da Guarda Real, mas eu uso esse negócio de empresário de fachada desde quando casei com sua mãe, o velório era do Rei William, como ele era meu grande amigo a morte dele foi muito horrível, aqueles rituais todos são necessários no velório de um rei. - ele volta e se sentar.

- Rei de onde? - pergunto confusa.

- Mahina...

- Calma, Mahina dos contos que a vó me contava?

- Sim, aquelas histórias são todas reais.

- Então existe diversas dimensões mágicas, com animais mágicos, com coisas mágicas e tudo mais? - tento fazer minha ficha cair.

- Sim, magia é real e por causa dela que você tem esse colar. - ele aponta.

- O que ele significa?

- Lembra a história dos Escolhidos e do pingente que escolhia?

- Era minha história favorita. - sorrio ao lembrar.

- Sua vó era uma Escolhida, antes dela morrer ela teve um sonho que você "herdaria" o colar, acho que ela estava certa.

- Eu não estou acreditando nisso. - olho para o colar perplexa.

- É toda a verdade, estou tão feliz por você, agora você pode ter sua própria aventura.

- A mamãe sabe? - suspiro

- Não, quando eu decidir casar com sua mãe eu também adotei a imagem de empresário que sai a negócios, quando na verdade eu estou em Mahina, queria ter uma vida normal com a minha família, mas Mahina é meu segundo lar.

- E porquê não contou pra ela?

- Ela não entenderia e por isso você também não vai contar. - ele segurou minha mão e me olhou fixamente.

- Ok, mas com a condição de não me esconder mais nada.

- Então quer saber como eu entrei para a Guarda?

- Quero. - sorrio.

          Então ficamos horas conversando, ele explicou que quando minha vó contou toda a verdade e o levou para Mahina e de lá ele não quis mais sair e para ficar lá ele entrou na Guarda Real, então ele contou todas suas aventuras.

          Voltei para o meu quarto sorrindo porque finalmente eu ia ter minha própria aventura, Mahina realmente existia e quando eu era criança eu amava Mahina, eu fechei os olhos e comecei a lembrar.

- Vó eu quero ser uma grande aventureira como você. - eu sentei em seu colo.

- Vai ter sua aventura ainda, eu era que nem você e por isso eu conheci Mahina. - ela sorriu para mim.

- Mahina?

- A dimensão dos sonhos, meio medieval, com reis e todo o resto.

- Como é Mahina?

- Linda, cheia de cores e animais mágicos.

- Mágicos? - encostei minha cabeça em seu peito.

- Sim, lá tudo é mágico.

- Quero saber mais. - sorri para ela com meu sorriso travesso.

- Vou te contar tudo as poucos, mas um dia você vai ver com seus próprios olhos. - ela acariciou meus cabelos.

- E quando isso acontecer serei uma aventureira como você.

          Eu nem estava acreditando, era tudo que eu queria quando eu era criança, quando eu tive mais idade eu passei a acreditar que tudo era invenção como todos os contos para as crianças, mas mesmo assim eu sonhava com Mahina e a possibilidade dela existir me fazia sonhar mais ainda, mas por fim ela realmente existe.

- Filha? - meu pai bate na porta me tirando de minhas lembranças.

- Entre. - respondo me sentando imediatamente.

- Sua vó pediu pra te dar isso assim que você soubesse da verdade. - ele me entrega um pequeno livro de capa dura preta, escrito "Mahina" em letras prateadas bem grandes.

- Pra mim? - passo a mão pela capa.

- Sim, ela mesma escreveu. - ele sorri.

- Ok, vou ver agora. - abro o livro animada.

- Até o jantar então. - ele fecha a porta.

          Analisei cuidadosamente o livro, admirei as letras cursivas e li atenciosamente o que estava na primeira folha.

          Minha Cí, estou tão orgulhosa, desde que você nasceu eu sabia que o pingente seria seu e se está lendo isso quer dizer que eu estava certa, não sabia quanto tempo ia ficar com você então eu garanti que você saberia de tudo, decidi contar todas as minhas aventuras nesse livro, queria te contar pessoalmente, mas não tem jeito, espero que ame Mahina mais do que já amou quando era criança e muito mais ainda do que eu, espero que aproveite bastante, sua aventura acabou de começar!

         Este livro está conectado com você ,então você saberá a hora certa de ler as outras coisas. Sempre estarei com você, mas lembre que ser uma Escolhida é uma grande responsabilidade, mas você às vezes vai amar os momentos de fama.

                                                     Com amor , Vovó!

          Então fechei o livro com lágrimas nos olhos, ela tinha pensando até nisso, mas agora eu me sentia mais perto dela do que nunca me senti.

Quando eu ia voltar a dormir meu celular tocou.

- Ei, Cí! - Katherine diz do outro lado da linha.

- Que foi?

- Então você pode vir aqui em casa me ajudar a estudar para as provas, só mais dois dias de aulas e eu não estou conseguindo enfiar todo esse conteúdo na cabeça.

- Pode ser, que horas?

- Agora!

- Estou indo. - desligo a chamada.

          Dei uma ajeitada no cabelo e sai casa correndo só deu tempo de falar "Mãe estou indo na casa da Kath, volto antes do jantar". Peguei um táxi e em pouco tempo eu já estava lá, Kath não morava muito longe, mas era um distância um pouco cansativa de se percorrer por conta própria.

          Fiquei um bom tempo na casa da Kath, me estressei diversas vezes, pois parecia que ela ignorava tudo que eu dizia, estava no mundo da lua.

- Katherine, tem como prestar mais atenção? - me zango com ela.

- Desculpa, o que você estava falando? - ela sai do seu transe.

- Com certeza não era sobre o Brayan, tenho quase certeza que era nele que você estava pensando. - reviro os olhos.

- Sim, brigamos hoje. - ela suspira.

- Ainda você me pergunta porque não tenho namorado.

- Você não cansa de estar certa? - ela suspira.

- Não sei, mas vamos focar aqui? Brayan não vai te ajudar a passar.

- Você tá certa de novo, então vamos lá.

          Depois disso ela foi melhor, já tinha tudo na ponta da língua, eu até esqueci da hora, Kath era minha única amiga desde quando éramos crianças, brincávamos juntas, nos conhecemos com a palma de nossas mãos. Katherine tinha minha altura, era branquinha, tinha os olhos castanhos escuros e seu cabelo era liso de um castanho claro. Por sermos rebeldes sempre nos mentíamos em diversas confusões, mas sempre saíamos de todas elas.

- Cecília, que horas você tem que ir?

- Falei que ia voltar antes do jantar.

- Então acho melhor você correr. - ela fecha o livro e começa a guardar suas coisas.

- Meu Deus, tenho que ir agora. - digo assim que vejo a hora.

- Eu te acompanho até a porta. - ela se levantou da mesa.

- Obrigada. - me levanto e vamos juntas para a porta.

- Até amanhã! - digo saindo da casa

- Até! - ela fecha a porta.

           Peguei outro táxi para voltar, quando cheguei eu já estava 5 minutos atrasada, mas só foi eu entrar na sala que eu já ouvi o grito da minha mãe.

- CECÍLIA!

- ACABEI DE CHEGAR MÃE! - grito de volta.

- VEM LOGO!

- Estou aqui. - digo entrando na sala de jantar.

- Então como que foi lá? - ela faz sinal para o jantar ser servido.

- Ajudei a Katherine no estudo para as provas.

- Que bom, me alegro em relação a isso, prova que você puxou a inteligência da sua mãe. - ela sorri.

- Acho que ela puxou a minha. - meu pai provoca.

- Com certeza foi a minha. - ela o encara.

- Não vou discutir sobre isso.

- Que bom que vamos comer em paz. - digo.

- E como foi o trabalho? - ela pergunta pro meu pai.

- Foi bem, a mesma coisa de sempre. - ele me lança um olhar cúmplice.

- Viu, Cecília? Um dia será você. - ela solta um sorriso satisfeito.

- Pode ter certeza, mãe. - olho pro meu pai que não evita o sorriso.

          Passamos o jantar conversando sobre diversas coisas, mas nada referente a conversa minha com meu pai e muito menos sobre a tal "empresa", era legal eu e meu pai dividir esse segredo, mas eu também achava que minha mãe também precisava saber.

                                                               •••

          Já havia se passado 4 meses desde que minha vó morreu. Era domingo, havia se passado 3 dias desde que descobri toda a verdade, eu estava sentada em um banco no jardim lendo um livro, foi quando meu pai apareceu.

- Filha, chegou sua hora.

- Hora de que pai? - fecho o livro.

- De ir pra Mahina, já estão chamando todos os Escolhidos e eu tenho que te levar.

- Sério? - abro um grande sorriso.

- Sim, pegue algumas roupas e o que você quiser, mas só o necessário, o resto será comprado lá.

- Quanto tempo tenho?

- Depois que você estiver pronta nós vamos, mas você pode tomar um banho para relaxar antes.

- Então vou arrumar minhas coisas e tomar um belo banho. - digo levantando do banco.

- Ótimo, tempo suficiente para eu dar uma desculpa para sua mãe.

- Estou indo. - dou um beijo na sua bochecha e vou arrumar minhas coisas saltitando de felicidade.

           Peguei algumas roupas básicas, alguns sapatos, alguns livros e todo o resto que eu ia precisar. Tomei um delicioso banho me arrumei e quando desci com as coisas minha mãe já estava me esperando.

- Estou tão orgulhosa que você vai viajar a negócio com seu pai. - ela me abraça.

- Pois é, estou muito ansiosa.

- Não esquece de ligar enquanto está lá. - ela segura minha cabeça com as duas mãos.

- Mãe, eu sei me cuidar já tenho 16 anos. - reviro os olhos.

- Você sempre vai ser minha menininha.

- Mãe, vou viajar com o pai e não me mudar. - brinco.

- Para de ser chata, Cecília.

- Querida, já temos que ir, então termina logo a despedida com a Cecília.

- Tá bom. Te amo, filha. - ela me abraça de novo.

- Também te amo, mãe. - abraço ela com mais força.

- Tchau, querida. - ele a abraça e dá um beijo.

- Tchau, cuida direito da nossa filha se não você fica sem pescoço. - ela se desfaz do abraço e o encara.

- Pode deixar. - ele ri.

           Saímos rapidamente antes que minha mãe não parasse de se despedir, então meu pai me levou até uma floresta bem distante da minha casa.

- Que floresta é essa? - analiso o lugar assim de saio do carro.

- Uma floresta onde a magia flui, tem mais algumas dessas pelo mundo. - ele sorri.

- Ok, mas como vamos pra Mahina?

- Você é a dona do colar, abre o portal. - ele me olha com um olhar desafiador.

- Essas coisas não vem com manual de instrução? - resmungo.

- Você vai saber o jeito de abrir, feche os olhos, se concentre e pense em Mahina.

- Ok. - fechei meus olhos, estendi minha mão e pensei em Mahina.

- Já pode abrir. - ele pousa a mão no meu ombro.

- Uau. - vejo uns flash de luz azul marinho e começa a abrir um grande portal.

- Vou primeiro, como você é a dona do portal, assim que você passar ele se fechará.

          Então meu pai passou e eu fiquei meio medo de atravessar, então eu peguei minhas coisas, respirei fundo, fechei os olhos e atravessei, quando abri meus olhos novamente o portal atrás de mim tinha se fechado.

- Seja muito bem-vinda a Mahina, senhorita Escolhida. - meu pai sorri pra mim.

- Finalmente você saiu dos meu sonhos. - sorrio.

           Mahina era espetacular, rodeada de uma natureza colorida, com seu céu de um azul mais vivo e seus estranhos animais mágicos, Mahina era muito melhor do que tudo que eu já tinha sonhado.

           Peguei o livro que minha vó me deu e passei para a página seguinte.

           Se você está nessa página quer dizer que já chegou em Mahina, ela é linda, não? Mahina foi meu lar e agora é o seu, aproveite o máximo, pois sua jornada começa exatamente aqui.

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