Capítulo 2: Tensões no Escuro

O escritório estava quase vazio, o som dos poucos teclados ainda ativos ecoava suavemente pelo ambiente, criando um pano de fundo discreto para o que estava por vir. As luzes reduzidas criavam sombras alongadas nas paredes, dando ao local um ar mais íntimo e carregado de tensão. Ester arrumava seus papéis com movimentos automáticos, mas sua mente estava longe dali. O peso dos relatórios inacabados parecia menor diante do turbilhão de sentimentos confusos que a assombravam desde o início do dia. Algo no ar estava diferente, e ela sentia isso na pele.

Quando abriu a porta da sala de reuniões, encontrou Bruno encostado na mesa, com os braços cruzados e um sorriso que irradiava o seu charme natural. Ele era assim, sempre à vontade, como se o mundo girasse no seu ritmo. Os olhos dele, escuros e penetrantes, encontraram os de Ester, e por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar.

- Achei que não viesse - disse ele, inclinando a cabeça para o lado, o olhar fixo nela com uma intensidade que fez o estômago de Ester revirar.

- Por que não viria? - respondeu ela, tentando soar mais tranquila do que se sentia. A voz saiu firme, mas o coração batia rápido demais para disfarçar o nervosismo.

Bruno deu de ombros, o sorriso ampliando-se de forma quase provocativa. Deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles.

- Talvez tenha achado estranho eu te chamar assim, fora do expediente. Mas, honestamente, não conseguia esperar mais para falar com você.

As palavras ficaram suspensas no ar. Ester sentiu um frio percorrer sua espinha, misturado com uma curiosidade que ela não conseguia controlar.

- E… sobre o que quer falar? - perguntou, tentando manter o tom profissional, embora soubesse que havia algo mais naquela conversa.

Bruno abriu a boca para responder, mas o momento foi abruptamente interrompido quando a porta da sala se abriu com força.

- Ah, desculpem a interrupção - disse uma voz firme, carregada de uma ironia sutil que Ester reconheceu imediatamente.

Laura estava ali, encostada no batente da porta. O olhar dela era afiado, como se pudesse atravessar qualquer máscara que Ester tentasse manter. O sorriso nos lábios de Laura misturava confiança e algo mais difícil de definir, uma provocação silenciosa. Seus olhos estavam fixos em Ester, e havia algo naquela presença que fazia o ar na sala parecer mais denso.

- Laura? - perguntou Ester, surpresa, mas tentando esconder o impacto que a presença dela causava.

- Preciso falar contigo, Ester. É importante - disse Laura, ignorando completamente a presença de Bruno, como se ele fosse irrelevante naquele momento.

Bruno, claramente irritado com a interrupção, olhou de uma para a outra antes de soltar um suspiro carregado de frustração.

- Parece que essa conversa vai ter que esperar - disse ele, com um sorriso forçado. Seus olhos demoraram um segundo a mais em Ester antes de sair da sala, passando por Laura sem que ela se movesse um centímetro para lhe dar espaço.

Assim que a porta se fechou, a tensão na sala aumentou, quase palpável. O silêncio se estendeu por um momento, apenas interrompido pelo som dos saltos de Laura contra o piso enquanto ela caminhava lentamente até o centro da sala. Cada passo parecia medir a paciência de Ester.

- O que foi tão importante que não podia esperar? - perguntou Ester, cruzando os braços numa tentativa de parecer firme, embora seu coração batesse forte demais para ignorar.

Laura não respondeu de imediato. Em vez disso, estudou Ester, o olhar avaliador e provocante. O silêncio entre elas era carregado, denso, como se cada respiração fosse uma batalha não declarada. Finalmente, Laura deu um pequeno sorriso, inclinado mais para o desdém do que para a simpatia.

- Estava curiosa para ver como você reagiria à notícia - disse, com a voz suave, mas carregada de um tom quase divertido. - Sou oficialmente a nova gerente do setor de qualidade.

Ester piscou algumas vezes, processando a informação. A notícia a pegou de surpresa, mas ela tentou manter a compostura.

- Parabéns, acho… - respondeu, mas sua voz saiu mais baixa do que gostaria, traindo a confusão que sentia.

Laura deu um passo à frente, aproximando-se o suficiente para que Ester pudesse sentir a energia que emanava dela. Era uma mistura de poder e algo mais… algo que fazia a pele de Ester arrepiar. O perfume de Laura, marcante e inebriante, parecia preencher o espaço entre elas.

- Não precisa se preocupar, Ester. Sei que isso não te afeta diretamente… ainda - disse Laura, com um sorriso que sugeria saber mais do que estava dizendo.

- Ainda? - repetiu Ester, franzindo a testa, sentindo o peso das palavras ecoando em sua mente.

- Ah, amor, você sabe como as coisas podem mudar rapidamente por aqui. — Laura inclinou-se levemente para frente, os olhos fixos nos de Ester. A palavra “amor” saiu com um tom macio, quase íntimo, como se fosse direcionada para alguém muito mais próximo do que uma simples colega de trabalho.

Ester tentou desviar o olhar, mas havia algo hipnótico na maneira como Laura a observava. Era como se cada movimento, cada microexpressão estivesse sendo analisada, desnudada, deixando Ester exposta de uma forma que ela não sabia explicar.

- Laura, o que exatamente você quer? - perguntou finalmente, tentando soar firme, mas o leve tremor em sua voz entregava o nervosismo crescente.

Laura deu mais um passo, reduzindo ainda mais a distância entre elas. Agora, Ester podia sentir o calor do corpo dela, uma proximidade que era desconfortável e, ao mesmo tempo, estranhamente excitante. Laura ergueu a mão lentamente, como se fosse tocar o rosto de Ester, mas parou a poucos centímetros, o olhar fixo no dela.

- Você é interessante, Ester - murmurou Laura, a voz baixa, carregada de um tom que Ester não conseguiu decifrar. Era uma mistura de desafio e promessa, algo que fez o coração de Ester acelerar ainda mais.

A tensão na sala era sufocante. Ester não sabia se deveria recuar ou enfrentar o olhar de Laura. Quando Laura finalmente se afastou, um sorriso satisfeito surgiu nos seus lábios, como se tivesse conseguido exatamente o que queria.

- Acho que já ocupei o suficiente do seu tempo. Até mais, Ester. - E, com isso, saiu da sala, deixando a porta se fechar suavemente atrás dela.

Ester ficou parada por um momento, o coração ainda disparado, os pensamentos confusos. Tentou retomar o foco nos papéis à sua frente, mas as palavras de Laura ecoavam em sua mente, junto com o olhar penetrante que parecia tê-la despido de todas as suas defesas.

Mais tarde, já no caminho de casa, Ester não conseguia afastar Laura dos seus pensamentos. Havia algo na maneira como ela a olhou, como se tivesse visto algo que nem Ester sabia que estava lá. O toque que nunca aconteceu ainda queimava na sua pele.

Enquanto isso, Laura estava em sua nova sala, organizando os papéis deixados por Antônio. Parou por um momento, lembrando-se da expressão de Ester, da forma como ela desviava o olhar e mordia levemente o lábio quando estava desconfortável.

"Interessante, de fato", pensou Laura, sorrindo para si mesma, satisfeita com o efeito que havia causado.

Do outro lado do escritório, Julia observava discretamente. Ela havia visto Bruno entrar na pequena sala de reuniões, depois Ester, e então Laura. Viu Bruno sair com um semblante irritado, e Laura entrar com a confiança de quem dominava o ambiente. Mas o que mais chamou sua atenção foi o tempo que Laura ficou sozinha com Ester. Algo estava acontecendo entre eles, algo mais profundo do que simples relações de trabalho. E Julia, sempre atenta aos detalhes, estava cada vez mais curiosa sobre o que realmente ligava aqueles três  e o que aconteceria quando as tensões finalmente explodissem.

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