Nos dias seguintes, a rotina na empresa começou lentamente a retomar ao seu ritmo habitual. Os corredores voltaram a ecoar conversas corriqueiras, as máquinas de café voltaram a ser ponto de encontros rápidos e, acima de tudo, o clima pesado que antes pairava sobre todos parecia, enfim, ter sido dissipado.O setor de marketing, agora sob os cuidados provisórios de Laura, não demorou a receber um novo gerente. A notícia chegou numa manhã de terça-feira, através de um comunicado interno que se espalhou rapidamente na empresa pelos e-mails. O novo nome era Ernesto Muniz, vindo de uma filial do norte do país, com um currículo impressionante e uma postura elogiada por onde passava.A chegada de Ernesto foi marcada por uma pequena reunião informal no auditório do setor, onde ele se apresentou com simpatia, deixando uma boa primeira impressão. Diferente de Bruno, Ernesto trazia consigo um ar de colaboração e respeito, algo que os funcionários já não sabiam mais se era possível esperar de alg
A manhã chegou com um céu limpo e um leve aroma de café pairando no ar, cortesia do refeitório da empresa que, naquela altura, já estava em plena atividade. Ester sentia-se diferente naquele dia. Havia algo de novo no seu passo, uma leveza renovada, como se finalmente ocupasse um espaço que também era seu por mérito próprio.De volta ao setor de Administração, não como secretária, mas como Assistente Administrativo Sênior, Ester foi recebida com curiosidade e alguns olhares de surpresa. Afinal, todos sabiam que ela vinha do setor da Qualidade, diretamente ligada à Laura. Os boatos já circulavam, mas ninguém ousava comentá-los diretamente. No entanto, ali estava ela, agora com mais responsabilidades, um novo lugar, e uma vontade firme de fazer valer cada segundo.Antes de sair da sala do antigo setor, no entanto, ela fez algo que considerava quase simbólico. Pegou um pequeno papel de notas, daqueles adesivos cor-de-rosa que Laura sempre deixava por perto, desenhou uma rabisco que podia
Ester estava novamente em frente ao espelho do pequeno lavabo do escritório, recitando novamente as palavras que diria a Bruno. A imagem refletida mostrava mais do que uma mulher organizada em seu blazer bem alinhado e maquilhagem impecável, ela estava visivelmente nervosa, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Por mais que tentasse ensaiar todos os cenários possíveis, o rosto de Bruno sempre aparecia na sua mente com aquele sorriso descomprometido que a desarmava. Toda vez que ela tentava abordar um assunto mais sério, ele mudava de tema. Mas hoje, Ester estava decidida. Ela precisava desta conversa.Com um suspiro profundo, alisou a barra do blazer, endireitou a postura e voltou à sua mesa. O dia prometia ser longo, e ela sabia que a ansiedade faria companhia a cada segundo. No fundo do escritório, Julia aproximava-se com aquele andar confiante e olhar predatório, como se sempre estivesse a calcular a próxima jogada. Julia era uma mulher que sabia usar sua beleza a seu favo
O escritório estava quase vazio, o som dos poucos teclados ainda ativos ecoava suavemente pelo ambiente, criando um pano de fundo discreto para o que estava por vir. As luzes reduzidas criavam sombras alongadas nas paredes, dando ao local um ar mais íntimo e carregado de tensão. Ester arrumava seus papéis com movimentos automáticos, mas sua mente estava longe dali. O peso dos relatórios inacabados parecia menor diante do turbilhão de sentimentos confusos que a assombravam desde o início do dia. Algo no ar estava diferente, e ela sentia isso na pele.Quando abriu a porta da sala de reuniões, encontrou Bruno encostado na mesa, com os braços cruzados e um sorriso que irradiava o seu charme natural. Ele era assim, sempre à vontade, como se o mundo girasse no seu ritmo. Os olhos dele, escuros e penetrantes, encontraram os de Ester, e por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar.- Achei que não viesse - disse ele, inclinando a cabeça para o lado, o olhar fixo nela com uma intensidade
Na manhã seguinte, o escritório ganhou ação gradualmente com o som dos passos apressados, telefones tocando e conversas abafadas pelos corredores. Laura, entretanto, já estava em sua nova sala antes mesmo do horário de expediente começar. O sol mal iluminava a cidade lá fora, mas dentro dela, as engrenagens já giravam com precisão.Com a xícara de café ainda quente ao lado, enquanto organizava sua lista de tarefas, conferindo cada detalhe com a meticulosidade que a definia. Foi então que um novo e-mail apareceu na sua caixa de entrada. Era de Letícia, do RH, informando a necessidade urgente de contratar uma nova secretária para o setor.Laura sorriu para a tela, um sorriso que misturava oportunidade e estratégia. Sem hesitar, a única pessoa que passou por sua mente foi Ester. Não era uma mudança tão drástica da função atual dela, mas a ideia de tê-la mais próxima, sob sua supervisão direta, era tentadora demais para ignorar. Além disso, o cargo de secretária do gerente trazia benefíci
O dia seguinte começou com um céu cinzento e carregado, refletindo o clima dentro da cabeça de Ester. O e-mail de Letícia ainda estava fresco na sua mente, assim como a sensação desconfortável de saber que Laura, de alguma forma, estava por trás daquela “promoção”. O aumento de salário e os benefícios eram tentadores, mas a proximidade forçada com Laura fazia seu estômago revirar. Ou talvez fosse outra coisa que a deixava inquieta, aquela tensão elétrica que pairava entre as duas, como se cada encontro fosse uma partida de xadrez onde nenhuma queria admitir o verdadeiro jogo. Ester ainda estava imersa nesses pensamentos quando o telefone vibrou novamente. Era Bruno, insistente como sempre. "Me encontra para um café? Precisamos mesmo conversar." A mensagem parecia inocente, mas Ester sabia que havia mais ali do que trabalho. Ela respirou fundo, pegou a sua mala e decidiu que não podia adiar aquilo. Talvez entender o que Bruno queria ajudasse a clarear a confusão que se formava na sua
O som constante dos teclados e o zumbido baixo das conversas nos corredores criavam uma trilha sonora quase reconfortante para Ester naquela manhã. Mas, por dentro, ela sentia-se como se estivesse num terreno instável, cada passo calculado para não escorregar. A oferta de Laura ainda ecoava em sua mente, misturada com a conversa ambígua que tivera com Bruno no dia anterior. Nada parecia ser o que realmente era, e isso a deixava mais desconfortável do que gostaria de admitir.Enquanto revia alguns documentos, uma nova notificação apareceu na sua tela: “Letícia do RH gostaria de agendar uma reunião rápida contigo. Sala 4, 10h.”Ester franziu a testa. Não esperava um novo encontro com Letícia, mas algo na formalidade do convite parecia indicar que não era apenas sobre processos burocráticos. Decidiu que precisava de respostas e talvez Letícia pudesse oferecê-las.Letícia estava à espera na pequena sala de reuniões no fim do corredor. A mulher, conhecida pelo seu profissionalismo impecáve
Laura estava ansiosa pelo primeiro dia em que trabalharia tão perto de Ester. Ter a jovem ali, sob sua supervisão direta, seria uma excelente distração em meio às intermináveis papeladas. Mas, mais do que isso, era uma vitória. Um prazer sutil e perigoso de poder tê-la por perto. Ainda assim, manteve-se firme, autoritária, caminhando pelo prédio com seus saltos ecoando pelos corredores, anunciando sua aproximação.Ester, por sua vez, mal pregou os olhos durante a noite. A dúvida corroía sua mente. Ainda dava tempo de desistir? Ou deveria enfrentar Laura de frente, conquistar o respeito dela e provar que não seria facilmente dobrada? Com o pensamento oscilando entre medo e desafio, levantou-se cedo, afogando-se em café para manter-se alerta. Aproveitou o tempo extra para limpar sua mesa no antigo setor e levar suas coisas para a nova estação de trabalho, estrategicamente posicionada bem em frente à sala de Laura.Ao chegar, encontrou um pequeno post-it amarelo colado ao telefone. As pa