Secredos Corporativos: Controle e Sedução
Secredos Corporativos: Controle e Sedução
Por: Debora Araujo
Capitulo 1: Sob a Superfície

Ester estava novamente em frente ao espelho do pequeno lavabo do escritório, recitando novamente as palavras que diria a Bruno. A imagem refletida mostrava mais do que uma mulher organizada em seu blazer bem alinhado e maquilhagem impecável, ela estava visivelmente nervosa, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Por mais que tentasse ensaiar todos os cenários possíveis, o rosto de Bruno sempre aparecia na sua mente com aquele sorriso descomprometido que a desarmava. Toda vez que ela tentava abordar um assunto mais sério, ele mudava de tema. Mas hoje, Ester estava decidida. Ela precisava desta conversa.

Com um suspiro profundo, alisou a barra do blazer, endireitou a postura e voltou à sua mesa. O dia prometia ser longo, e ela sabia que a ansiedade faria companhia a cada segundo.

 No fundo do escritório, Julia aproximava-se com aquele andar confiante e olhar predatório, como se sempre estivesse a calcular a próxima jogada. Julia era uma mulher que sabia usar sua beleza a seu favor, e isso a colocava frequentemente no centro das atenções. Assim que chegou à mesa de Ester, colocou os papéis com um sorriso falso nos lábios.

- Preciso de ajuda com esses relatórios. Você consegue terminar isso pra mim? - disse Julia, com um tom que soava mais como uma ordem do que um pedido.

Ester hesitou por um momento, mas, na verdade, aceitou mais pelo alívio de se distrair do que por bondade.

- Claro, Julia - respondeu enquanto pegava os documentos. "Quanto mais trabalho, menos tempo para pensar nele", pensou.

Julia arqueou as sobrancelhas, surpresa com a prontidão de Ester. Normalmente, era necessário um pouco mais de persuasão. Mesmo assim, ela decidiu aproveitar a deixa. Sentou-se na mesa ao lado e começou a digitar no teclado, embora os olhos frequentemente se levantassem em busca de alguma reação.

- Então, já ouviu a última novidade? - perguntou, inclinando-se um pouco para frente como se estivesse prestes a contar o maior segredo do mundo. - Demitiram mais uma secretária do seu Antônio. Pelo mesmo motivo de sempre.

Ester suspirou, os olhos fixos nas planilhas à sua frente, mas o tom de desprezo em seu rosto era inconfundível. "O mesmo motivo de sempre", claro, era o comportamento predatório de Antônio, o gerente do setor de qualidade. Todos sabiam que ele usava sua posição para assediar as secretárias mais jovens, e sua má reputação era tema recorrente nos corredores.

Julia percebeu que Ester não estava mordendo a isca e continuou, insistente:

- Ouvi dizer que estão considerando demitir ele de vez agora. Você tem noção do que isso significa?

Ester apenas balançou a cabeça, tentando conter a irritação. Não tinha paciência para os boatos de Julia, especialmente em um dia em que sua mente já estava ocupada demais.

- Julia, se você quer que eu faça o seu trabalho, pelo menos me deixa fazer ele em paz - respondeu, sem levantar os olhos do ecrã.

Julia revirou os olhos e, com um gesto desdenhoso, levantou-se em busca de alguém mais disposto a ouvi-la. O som de seus saltos ecoou enquanto ela se afastava.

O escritório voltou ao habitual: o som incessante dos teclados, o aroma de café que parecia nunca desaparecer e as vozes abafadas que vinham do refeitório. No setor de qualidade, o clima era um pouco mais tenso. Todos sabiam que o afastamento de Antônio abria espaço para uma nova gerência, e era óbvio que Laura, a funcionária mais ambiciosa do setor, não perderia a chance.

Laura era o oposto de Ester. Tinha um olhar afiado e um ar de autoconfiança que era quase intimidador. O cabelo curto, num corte pixie, reforçava a sua imagem de mulher decidida e prática. Desde que Antônio começara a acumular problemas, Laura estava estrategicamente se posicionando. Fora ela quem incentivara a última secretária a formalizar uma denúncia de assédio, algo que todos temiam fazer.

"Seja objetiva e direta. Eles não têm como ignorar se você for clara", lembrava-se de ter dito à secretária, que hesitou antes de enviar o e-mail que selaria o destino de Antônio.

Agora, Laura estava um passo mais próxima de conquistar o cargo. Sabia que seu desempenho era impecável e que Letícia, do RH, certamente já a considerava a principal candidata.

Letícia, por sua vez, analisava a lista de candidatos em sua sala. Era meticulosa, quase obsessiva, quando se tratava de seguir os critérios da gerência. Ester, embora estivesse na lista, não era do setor de qualidade, o que a colocava em desvantagem. Letícia ajustou os óculos, pegou o relatório de Laura e suspirou. "Ela realmente é uma candidata forte", pensou.

Enquanto isso, Ester terminava o terceiro relatório que Julia lhe empurrara, mas sua mente voltava ao assunto que mais a atormentava: Bruno. Será que ele sentia algo por ela? Ou estava apenas a brincar com os seus sentimentos?

Naquele momento, Bruno apareceu no escritório, com seu habitual sorriso fácil e a camisa ligeiramente dobrada nos cotovelos, um detalhe que sempre chamava a atenção de Ester. Ele parecia casual, mas a maneira como cumprimentava os colegas com aquele tom amigável e despreocupado mostrava que ele sabia exatamente o efeito que causava. Bruno não era do tipo que se deixava envolver facilmente, mas com Ester, algo parecia diferente, pelo menos era isso que ela se perguntava constantemente.

Ester tentou ignorar a presença dele, mantendo os olhos fixos na tela do computador, mas a cada palavra que ele dizia aos outros, o som de sua voz parecia puxá-la para longe das planilhas. Quando ele finalmente se aproximou de sua mesa, segurando uma xícara de café, ela sentiu o coração acelerar.

- Ei, Ester. Está muito ocupada? - perguntou Bruno, com aquele sorriso que sempre a desarmava.

Ela piscou algumas vezes, tentando parecer indiferente.

- Sempre estou, não é? - respondeu, tentando manter o tom profissional.

- Verdade. Acho que é por isso que tudo aqui funciona tão bem - disse ele, apoiando-se na mesa ao lado. - Mas... parece um pouco distraída hoje.

O comentário a fez corar. Ester virou-se rapidamente para o monitor, digitando qualquer coisa para disfarçar.

- Só o fluxo normal de trabalho - murmurou, enquanto sentia o olhar dele em si.

Bruno abriu a boca para dizer algo, mas antes que pudesse continuar, Julia apareceu, interrompendo com a sua presença sempre calculada.

- Bruno, precisava falar contigo sobre o projeto de marketing. É urgente - disse Julia, com um tom doce que Ester reconhecia como forçado.

Ele suspirou, jogando um olhar de desculpa para Ester.

- Depois continuamos, então. Até logo, Ester.

E, assim, foi embora com Julia, que parecia satisfeita com a interrupção. Ester fechou os olhos por um momento, tentando acalmar o turbilhão de pensamentos. Era sempre assim. Quando ela finalmente sentia que poderia se abrir, algo ou alguém interferia.

No setor de qualidade, Laura andava com determinação, cada passo medido como se já fosse a nova gerente. Tinha a atenção de Letícia, e isso bastava para alimentar sua confiança. Ao cruzar com Bruno no corredor, ela parou, avaliando-o com o mesmo olhar calculista que reservava para qualquer possível aliado ou rival.

- Bruno, acho que você pode se interessar por uma novidade - disse Laura, o tom controlado e direto, como quem tem algo importante a dizer.

Ele arqueou a sobrancelha, curioso.

- Do que se trata?

Laura ajeitou a postura, cruzando os braços enquanto o observava.

- Sobre o cargo de gerente. Estão analisando os candidatos neste momento. Alguns já começaram a enviar relatórios detalhados e a reforçar suas conquistas. É curioso ver como as peças começam a se mover, não acha?

Bruno deu um leve sorriso, encostando-se na parede.

- Sempre soube que você era uma estrategista nata. Já está preparando o terreno, não é?

Laura soltou uma breve risada, seca e eficiente.

- Num ambiente como este, quem não está?

Bruno inclinou levemente a cabeça, avaliando-a com cuidado antes de responder:

- Verdade. Mas é sempre bom lembrar que o jogo não é tão previsível quanto parece.

Com isso, ele saiu, deixando Laura pensativa. Ela sabia que Bruno era alguém que não se deixava envolver facilmente em intrigas, mas sua influência informal no escritório era algo que ela sempre levava em conta. Laura ajustou a postura e continuou seu caminho, convencida de que, com ou sem apoio, o cargo estava ao seu alcance.

Enquanto isso, Letícia observava o comportamento de todos com a sua habitual atenção ao detalhe. Apesar de sua posição no RH, ela era vista como uma figura neutra, mas carregava o poder de decidir quem avançaria na empresa. Olhando os relatórios que chegavam à sua mesa, ela notou algo curioso: Ester estava entregando resultados consistentes, mas sem se promover, enquanto Laura fazia questão de enfatizar cada conquista.

Letícia suspirou, colocando os papéis de lado. Apesar das decisões técnicas, sabia que o próximo gerente não seria escolhido apenas pelos números. Havia muito mais em jogo: a política, os relacionamentos e as percepções que cada funcionário criava no ambiente de trabalho.

De volta à sua mesa, Ester sentiu seu telemóvel vibrar. Uma mensagem de Bruno apareceu na tela:

"Podemos conversar mais tarde? Me encontre na sala de reuniões pequena às 18h."

Seu coração deu um salto. Ele raramente a chamava assim, diretamente, e a escolha da hora, após o expediente, parecia ainda mais incomum. "Será que é agora?", pensou. Talvez, finalmente, fosse a oportunidade de dizer tudo o que sentia.

Ao mesmo tempo, do outro lado do escritório, Julia observava Ester de longe, percebendo sua reação à mensagem. Um sorriso malicioso apareceu em seus lábios. Não era segredo que Ester tinha algo por Bruno, mas Julia estava determinada a saber mais.

E assim, enquanto os ponteiros do relógio avançavam, o escritório parecia se transformar numa panela de pressão. Todos os movimentos, todas as palavras e olhares tinham peso. O destino de muitos estava sendo decidido, mas o de Ester, naquele momento, parecia preso a uma única conversa que poderia mudar tudo.

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