Capítulo 3: Jogadas Silenciosas

Na manhã seguinte, o escritório ganhou ação gradualmente com o som dos passos apressados, telefones tocando e conversas abafadas pelos corredores. Laura, entretanto, já estava em sua nova sala antes mesmo do horário de expediente começar. O sol mal iluminava a cidade lá fora, mas dentro dela, as engrenagens já giravam com precisão.

Com a xícara de café ainda quente ao lado, enquanto organizava sua lista de tarefas, conferindo cada detalhe com a meticulosidade que a definia. Foi então que um novo e-mail apareceu na sua caixa de entrada. Era de Letícia, do RH, informando a necessidade urgente de contratar uma nova secretária para o setor.

Laura sorriu para a tela, um sorriso que misturava oportunidade e estratégia. Sem hesitar, a única pessoa que passou por sua mente foi Ester. Não era uma mudança tão drástica da função atual dela, mas a ideia de tê-la mais próxima, sob sua supervisão direta, era tentadora demais para ignorar. Além disso, o cargo de secretária do gerente trazia benefícios e um salário significativamente melhor, algo que poderia ser um argumento convincente para Ester. A ideia de ter Ester sob sua supervisão direta era irresistível. Não apenas pelo controle que teria sobre ela, mas pela tensão que pairava no ar toda vez que estavam próximas.

Ela começou a digitar a resposta para Letícia, explicando que já tinha uma candidata em mente, alguém que conhecia bem a rotina da empresa e que merecia essa promoção. Escolhendo cuidadosamente cada palavra, sabendo que a formalidade era apenas uma parte do jogo. No fundo, Laura tinha um trunfo: sabia que, se Ester hesitasse, Bruno poderia ser a chave para convencê-la. O setor de qualidade ficava proximo do de Bruno, e Laura conhecia bem o "jeitinho" dele com as colegas. Se necessário, poderia muito bem usar isso ao seu favor.

Depois de enviar o e-mail, Laura recostou-se na cadeira, satisfeita, continuando a organizar seus afazeres do dia.

Enquanto isso, em outro andar do prédio, Bruno preparava-se para uma reunião de marketing, focada na revisão da última campanha de divulgação do novo lançamento da empresa. Mas, por mais que tentasse, sua mente voltava para a noite anterior. A reunião frustrada com Ester ainda ecoava na sua cabeça. Ele se perguntava o que exatamente estava acontecendo entre elas. Não era apenas o fato de Laura ter interrompido o encontro deles, havia algo mais, uma tensão no ar que ele não conseguia ignorar.

Ele vinha tentando criar um momento íntimo com Ester há meses. Ele era carismático, desinibido, e sabia usar isso para se aproximar de quem quisesse. Seu histórico com colegas de outros setores era bem vasto, mas sempre discreto o suficiente para não causar problemas. O que o intrigava em Ester não era apenas a beleza discreta dela, mas o jeito reservado, a forma como parecia sempre escapar das suas investidas, mesmo quando ele sentia que o interesse era mútuo. O problema era que Ester não caía nas suas armadilhas como as outras. Ela mantinha um controle que o desafiava.

Interrompendo seus pensamentos, o som de uma nova notificação de e-mail chamou sua atenção. Era o anúncio formal da promoção de Laura como nova gerente do setor de qualidade. Bruno não conseguiu evitar um olhar de desdém enquanto lia o comunicado. Laura nunca esteve no seu radar, nem profissionalmente nem pessoalmente. Ela era competente, claro, mas havia algo nela que o irritava, talvez o fato de que ela também sabia jogar o jogo corporativo, e jogar bem.

Decidido a entender melhor o que estava acontecendo, Bruno desceu até o andar onde Julia trabalhava. Sabia que ela era observadora e, mais importante, sempre tinha uma visão clara do que se passava nos bastidores da empresa. Encontrou ela na copa, preparando um café.

- Julia, tem um minuto? - perguntou, com o tom casual, mas o olhar atento.

Julia virou-se, arqueando uma sobrancelha, já percebendo que a conversa não era só sobre trabalho.

- Claro, Bruno. O que foi? - respondeu ela, entregando-lhe um sorriso curioso.

- Queria saber o que achou da promoção da Laura. - Bruno inclinou-se levemente, como se as palavras precisassem ser mantidas em segredo, embora soubesse que Julia adorava uma boa fofoca corporativa.

Julia soltou uma risada baixa, mexendo a colher na chicara de café.

- Ah, isso? Foi… algo que iria acontecer logo. - Ela fez uma pausa, olhando diretamente para Bruno. - Mas o que realmente me chamou a atenção foi o tempo que ela ficou sozinha com a Ester ontem à noite.

Bruno cruzou os braços, o olhar estreitando-se.

- Você não deixa escapar nada, né? - repetiu, já imaginando as cenas na sua cabeça.

Julia assentiu, com um brilho divertido nos olhos.

- Esse trabalho precisa ter alguma diversão também. A expressão da Ester quando saiu… ela fica diferente quando esta com você, mas com a Laura.

Bruno soltou um suspiro, a mente fervilhando com novas teorias.

- Esta dizendo que tem algo entre as duas? - perguntou, mais para si mesmo do que para Julia.

Julia deu de ombros, mas o sorriso malicioso não desapareceu.

- Não sei, mas parece que sim. E olha, Laura não é de dar ponto sem nó. Se ela quer algo, vai atrás. E, pelo que vi ontem, ela quer algo da Ester ou a Ester.

Bruno ficou em silêncio por um momento, processando a informação. A ideia de que Laura poderia estar se aproximando de Ester por motivos além do profissional não o agradava. Havia algo de possessivo no modo como pensava em Ester, mesmo que nunca tivesse admitido isso em voz alta.

- Obrigado, Julia. - disse ele, finalmente, dando-lhe um sorriso antes de sair.

Enquanto caminhava de volta para sua sala, Bruno sentia que o odio crescer. Laura não era só uma colega ambiciosa; ela estava se tornando uma adversária. E ele não tem adversarios.

Na mesma tarde, Ester recebeu uma notificação no seu e-mail. Era de Letícia, do RH, informando que havia uma vaga de secretária do gerente no setor de qualidade e que ela estava sendo considerada para a promoção. Ester leu o e-mail duas vezes, o coração acelerando. A promoção era uma oportunidade, benefícios melhores, salário mais alto, mas o que realmente a perturbava era o motivo por trás dessa oferta.

Ela sabia, instintivamente, que Laura estava por trás disso.

Ester fechou o e-mail e olhou pela janela, tentando clarear os pensamentos. Sabia que aquela não seria uma decisão fácil. Aceitar o novo cargo significava estar ainda mais próxima de Laura. E, por mais que a ideia a intrigasse, também a assustava.

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