Dez Anos Atrás

FLAGRANTE

Maya ouviu o barulho de chuveiro e abriu os olhos. Percebeu que estava no quarto de hotel e se lembrou de Hanna dizendo que alugou um quarto para elas não irem embora bêbadas. Sorriu e achou que Hanna quem estava tomando banho.

Levantou, ia dar um susto nela. Percebeu que estava nua e viu uma mancha roxa próximo ao seio.

— Merda! Vai aparecer no decote do vestido. Mamãe vai ter que passar base e esconder essa pancada!

Tentando se lembrar quando foi que fez aquela porcaria em sua pele, teve flashes de memória de um homem beijando seus seios. Balançou a cabeça, mas os flashes voltavam sem serem evocados! Ela estava sendo beijada e possuída por um homem que não era seu noivo. E estava gostando muito. Ouviu sua voz gemendo em sua cabeça e levantou desesperada:

— Não, não, não, não, não… — Não adiantava negar para as lembranças irem embora. Foi quando ela viu em cima da mesa: celular, carteira, relógio de ouro. Um copo de whisky com menos de um dedo da bebida âmbar ao lado desses itens masculinos. Olhou em volta e viu roupas jogadas. As dela e as dele misturadas. Arregalou os olhos: — Merda!

Começou a se vestir apressada, sabia que as lembranças eram reais: tinha tido uma tórrida noite de sexo selvagem com um desconhecido e muito provavelmente ele quem estava tomando banho. Não queria nem ver a cara do sujeito, só precisava fugir dali o mais rápido possível e fingir que nada disso aconteceu! Sem querer perder tempo calçando os pés e o estranho sair do banheiro, pegou suas sandálias nas mãos, deu mais uma checada pra ver se não tinha mais nada seu no quarto enquanto estava com as mãos na maçaneta da porta. Assim que abriu, viu que Denny estava levantando o braço pra bater e Hanna estava ao lado dele.

Olhou os dois assustada, e sabia que sua visão deveria ser péssima! Descabelada, maquiagem borrada, descalça e com as sandálias nas mãos, fugindo de um quarto de hotel!

— Denny, posso explicar…

Denny apenas passou ela para o lado e entrou no quarto. Hanna e ela o seguiram e olharam exatamente para onde ele estava olhando: os itens masculinos que ela já tinha olhado e o barulho do chuveiro denunciavam que tinha um homem no quarto com ela. Denny fechou os olhos com força e quando abriu, Maya viu mágoa, fúria, incredulidade. Ele se aproximou dela em duas passadas e pegou sua mão com violência. Maya nunca o viu nervoso, e acreditava que ele ia agredir ela naquele momento. Mas Denny só puxou o anel de dedo dela e saiu.

— O que aconteceu, Maya? — Hanna perguntou assim que ele saiu

— Não sei. Me tira daqui.

— Acho melhor você não ir pra casa desse jeito. Papai está furioso.

— Me tira daqui, Hanna. Antes que ele saia do banheiro.

— Está bem. Venha.

Hanna levou a irmã para o quarto do outro lado do corredor, que ela tinha alugado.

— Eu vou pra casa de carro por aplicativo, tentar acalmar nossos pais. Vai tomando um banho, aqui tem roupas pra você se trocar. Se recomponha e passe gelo nesse chupão antes de voltar para casa.

— Como Denny soube? E como fui parar lá?

— Não sei. Você bebeu demais ontem, me pediu pra trazer você para o quarto. Eu tinha marcado com um gatinho pra depois da festa, deixei você aqui e quando voltei, você não estava. Como suas coisas estavam aqui, achei que você foi dar uma volta e dormi. Acordei e você ainda não tinha voltado, então me arrumei e estava pronta pra ir te procurar quando a mamãe me ligou dizendo que Denny estava vindo pra cá, que disseram que você estava dormindo com um cara em outro quarto. Tentei sair pra te socorrer quando ele adentrou te procurando. O que foi que você fez, mana?

— Não sei. Não sei mesmo. — Maya começou a chorar e Hanna a abraçou.

— Fique calma. Vamos amansar o papai e mamãe e depois resolvemos com o Denny, ok?

Hanna saiu, deixando a irmã chorando inconsolada. Ela não entendia de verdade o que tinha feito. Ela nunca foi dada a beber, muito menos a sexo desregrado. Esteve com Denny durante três anos e algumas vezes as coisas realmente esquentaram entre eles, mas ela sempre conseguiu segurar. Como assim, uma noite antes de seu casamento, ela jogou tudo no ralo?

Nunca foi covarde, então se levantou, tomou o banho, pegou suas coisas, fez checkout no hotel e dirigiu pra casa. Quando entrou, Hanna estava sentada ao lado de Denny em um dos sofás e a mãe no outro. O pai andava de um lado para o outro, nervoso, com um copo de gin na mão.

Assim que a viu, ele foi até ela e lhe deu um tapa no rosto. Maya nunca apanhou, aliás, o pai nunca nem gritou com ela! Mesmo assim, sabia que deu mancada e merecia aquilo.

— Denny é um cara decente, foi um homem bom pra você. Não merecia isso, Maya.

— Papai…

— Eu te falei que nós precisávamos dessa parceria. Jamais iria abrir mão de um genro perfeito como Denny por causa das suas sem vergonhices. E muito pior, se cancelarmos o casamento, nossa família vai ficar com o nome na lama e tudo pelo que seu avô e sua mãe trabalharam toda a vida vão ser jogados no lixo! E nunca mais Hanna encontra um noivo decente! Viu todo o mal que você causou?

— Papai, me deixa falar…

— Eu não quero ouvir! Não quero nem te ver mais, Maya. Você avisou que queria estudar e não se casar. Era só você ter me falado que mantinha sua decisão e eu dava outro jeito. Não ter destruído toda sua família dessa forma!

— Papai…

— Cala a boca! — O pai levantou a mão pra bater nela de novo, mas Jenny entrou no meio:

— Querido, por favor. Suba, eu vou conversar com ela…

— Não! Eu vou falar. Você queria tanto estudar! Pois suas coisas estão arrumadas. Seu vôo é em duas horas. Vai viver sua vida e não volte nunca mais.

— Está me mandando pra outra cidade para estudar, papai?

— Não, estou te colocando pra fora de casa. Não quero te ver nunca mais.

— Eu não vou! Posso morar com a vovó Sophia…

— Porque você é tão bipolar? Nem você sabe o que quer da sua vida! Tudo o que você quer é me contrariar e me envergonhar! Quando eu quis que você se casasse, esbravejou que queria estudar. Depois mudou de idéia e deixou preparar todo o casamento, pra fazer essa vergonha. Agora estou te mandando estudar e você quer ficar aqui pra toda a cidade espiar sua vergonha? Você vai embora.

John Lee pegou no braço dela e começou a arrastar até a porta. Foi a primeira vez que Denny se manifestou. Levantou e segurou o sogro:

— Não, John Lee. Não vale a pena. Por favor, vamos até o escritório comigo.

— Vai querido, por favor, se acalme. Quando vocês voltarem, Maya já vai ter embarcado, eu prometo.

Maya notou que sua mala já estava realmente pronta no canto a aguardando. Viu Denny tirar o pai da casa, depois de lhe entregar um cheque sem a olhar…

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