Depois que Maya contou a proposta que Hanna fez, Danilo disse que faria e se encaminhou a doar a medula. — Espere, Dan! Pare de loucura! — Como assim, Maya? É minha Florisbela que vou ter de volta! Se é uma coleta dolorida de sangue que me separa dela, então quanto mais rápido eu fizer, mais rápido eu consigo! — Não é assim tão simples, Danilo! Estamos lidando com Hanna, uma mulher louca acostumada a ter tudo o que quer e traiçoeira a ponto de esconder nossa filha! Você já imaginou se a gente não a encontrasse e ela tivesse morrido? Você sabe a que nossa filha está sujeita e com quem? Você não pode simplesmente salvar a vida dela sem garantias de que ela vai nos devolver a nossa filha, Danilo! Danilo pensou muito no que Maya disse. Preferiu conversar com a mãe antes de fazer besteira. Maya estava certa, Hanna não era de confiança! Se ele tivesse certeza que seria apenas a troca, faria sem problemas. Jamais se negaria salvar uma vida, mesmo que fosse a da irmã traiçoeira e ordinári
Danilo entrou naquele quarto para dar a notícia pra Hanna, completamente emocionado. Ele estava esgotado. Sua cabeça era pura emoção de tudo. Todos os acontecimentos marcantes da sua vida se misturavam na sua cabeça. Teve pesadelos naquela noite, assustadores! Começou sonhando com uma bebezinha correndo pra ele, quando ela chegava perto, era Hanna em miniatura. Depois que passava a surpresa, ele a abraçava e ela tinha uma faca escondida que enfiava nas costas dele. Com muita dor, ele olhava em volta e estavam em uma praia. Seu pai Joseph chegava e arrancava a faca das costas dele, sem falar nada. Ele se sentava na beira da praia e Hanna miniatura ficava rindo de frente pra ele, enquanto ele ensanguentado, via seu pai entrando no mar. A menininha gritava: Justin, vai buscar o vovô! E logo Justin aparecia, entrando no mar atrás de Joseph. Danilo ficava sentado, olhando e depois de muito tempo, Hanninha falava: — Menos um. Nossa família está fadada a ser pequena, papai. Quando um chega
— Porque você quem veio negociar comigo? Maya não tem coragem de encarar os ferimentos que me causou? — Eu te peço desculpas pelo que ela fez, Hanna. Ela perdeu o controle. — Eu não quero falar com você. Quero falar com minha irmã. — Eu sou seu irmão, Hanna. — Não. Aquele resultado de DNA diz que não somos irmãos. — Hanna, pare! Você sabe que manipulou aquele resultado. Trocou pelo resultado do Justin com Denny. — Não sei do que você está falando.— Hanna, é sério que você não pensou que eu faria outro exame de DNA? — Então vocês sabiam? E mesmo assim me deixaram convivendo com Justin? — Não, confiamos Justin a você. Queríamos que você tivesse a experiência de ser responsável por uma criança. — Não importa. Não quero conversar com você, já disse. Maya é a irmã que eu reconheço. Quero negociar com ela.— Olha Hanna, eu estou te dando o benefício da dúvida. Achei que você tivesse percebido que Maya só quer arrancar seus olhos na unha. Minha mulher não é mais a sonsa que você se
Quando Danilo saiu, Hanna pegou seu celular e começou a pesquisar. Por mais que ela achasse que ele montou aquele programa de televisão, não acreditava que pudesse ter sido em todos os países que ela pesquisou. Claro que mandou traduzir, porque só falava inglês e um pouco de português agora, mas ainda assim, muito poucas palavras. Sempre achou que se um dia resolvesse aprender outras línguas, evitaria japonês e árabe, por acreditar que pareciam muito difíceis. Mas quando conheceu Murilo, descobriu que o português era a língua mais difícil do mundo! Eles complicam tudo, tem um monte de variações para uma palavra só, palavras que não podem ser traduzidas para nenhuma outra língua! Era muito complicada aquela língua! Jogou a pesquisa em grandes jornais brasileiros, e encontrou uma notícia de última hora. A palavra "morte" chamou sua atenção. Lembrava de sua época de escola, que tinham espanhol. O português se parecia bastante com essa língua e se tivesse o mesmo significado, ela não sa
— Não! Não. Não! Eu não aceito, Danilo! O que você fez pra ela? — Eu não fiz nada, Maya! Eu fiz a doação da medula. O próprio doutor Mayer coletou. Ele pediu que eu contasse nosso problema com Hanna pra me distrair. Depois da coleta continuou comigo durante a recuperação. Também não lembro de ter terminado a história, porque acabei pegando no sono. Talvez os analgésicos que ele me deu para a dor. Quando acordei, você estava lá pra me buscar. Não fiz nada, ou então o doutor não teria me tratado tão bem, você não acha? — Eu não sei, Danilo! — Maya desabou a chorar, inconsolável! — Filha, vamos fazer um plano, vai ter outro jeito! — Que jeito, Samantha? Eu quero ir embora. Quero ir pra minha casa, abraçar meu filho. — Isso é muito bom, Maya. Justin vai ser sua cura da batalha perdida. Assim que seu pai resolver tudo por aqui, podemos voltar e nos recuperar. Depois começamos tudo de novo. — Não! Eu quero ir embora agora. Preciso do meu filho. Vou arrumar minhas coisas e vou embora.
— Senhor Lars, por favor, enquanto meus pais e meu marido não chegam, o senhor pode me dizer como acabou nessa confusão? Maya estava sentada no sofá do sítio, Justin sentou ao lado dela em silêncio, fazendo o papel de homem da casa. Internamente ela sorriu para o filho, agradecendo mentalmente. Aquele homem poderia saber quem Hanna pagou para esconder a filha dela, ou dar uma pista! — Eu posso te chamar de Maya? Eu sou brasileiro, em meu país não temos tanta formalidade como aqui. Na verdade, eu pensei que nunca mais precisaria...— Não se preocupe. Fique à vontade.— Então. Eu passei no vestibular para a USP em São Paulo, que é...— Eu sei. A melhor universidade do país, como a nossa Harvard. — Sim, só que gratuita. Quando estava terminando, recebi a proposta para fazer especialização em oncologia em Nova York. Aceitei, claro. Ganhei bolsa e ajuda de custo. Na especialização, conheci o doutor Stevens. Homem apaixonado pela medicina como eu. Sempre nos demos bem, ele me levou pra m
— Você sabe onde está minha filha? — Sim , eu sei! — Vocês são todos uns bobos. Ele falou que a mãe dele estava cuidando da Tiphany pra tia Hanna se tratar! — Hillary. O nome dela é Hillary e nós a chamamos de Hill.— Vou mandar preparar o jato, vamos para o Brasil buscar minha filha agora mesmo! — Esperem. Não se afobem! — Lá vem. Eu sabia que não ia ser de graça. Me fala quanto é, que eu pago. — Danilo, pare com isso! Chega! Danilo estava nervoso, com o peito estufado. Mas quando Samanta falava, ele calava. Maya estava quieta, acuada. Jhon Lee percebeu e saiu de perto de Samantha e a abraçou. — O que foi, Maya? Conseguimos o que tanto queríamos. Minha neta vai voltar pra casa. — Vocês não percebem? Murilo tem razão. Não podemos ser afobados. Tiphany não existe. A menina que eu gerei e que me foi arrancada se chama Hillary. E realmente, não podemos ser afobados. Tiphany não me conhece, aliás, nenhum de nós! Nós a desejamos e esperamos, e fizemos um castelo em cima dela. Mas
Maya checava tudo na Saborosa Brasil. Sua adega climatizada com tecnologia de ponta. Foi a terceira que ela abriu, a primeira no exterior e era o seu xodó. Nela continha sua coleção de garrafas ouro com sua assinatura, e ela era a mais complexa, que lhe deu mais trabalho e exigiu mais viagens. Quando ela teve a idéia, foi porque pensou que poderia aproveitar as viagens constantes que começaram a fazer para o Brasil, para dar andamento no projeto de Justin e Murilo. Quando Murilo deixou Florzinha nos Estados Unidos, 13 anos antes, ele tinha um problema.Ele tinha feito larga campanha com doação de células tronco e colocou São Paulo no topo de inscritos no REDOME, mas a compatibilidade dos doadores eram um pra 1000, enquanto para parentes era um pra 100. A coleta do cordão umbilical ainda é a melhor probabilidade de compatibilidade. Mas o problema na época é a recusa dos pais de ter uma criança com leucemia e gerar outra só para coletar células tronco do cordão. Ou quando a doença se