Quando Danilo saiu, Hanna pegou seu celular e começou a pesquisar. Por mais que ela achasse que ele montou aquele programa de televisão, não acreditava que pudesse ter sido em todos os países que ela pesquisou. Claro que mandou traduzir, porque só falava inglês e um pouco de português agora, mas ainda assim, muito poucas palavras. Sempre achou que se um dia resolvesse aprender outras línguas, evitaria japonês e árabe, por acreditar que pareciam muito difíceis. Mas quando conheceu Murilo, descobriu que o português era a língua mais difícil do mundo! Eles complicam tudo, tem um monte de variações para uma palavra só, palavras que não podem ser traduzidas para nenhuma outra língua! Era muito complicada aquela língua! Jogou a pesquisa em grandes jornais brasileiros, e encontrou uma notícia de última hora. A palavra "morte" chamou sua atenção. Lembrava de sua época de escola, que tinham espanhol. O português se parecia bastante com essa língua e se tivesse o mesmo significado, ela não sa
— Não! Não. Não! Eu não aceito, Danilo! O que você fez pra ela? — Eu não fiz nada, Maya! Eu fiz a doação da medula. O próprio doutor Mayer coletou. Ele pediu que eu contasse nosso problema com Hanna pra me distrair. Depois da coleta continuou comigo durante a recuperação. Também não lembro de ter terminado a história, porque acabei pegando no sono. Talvez os analgésicos que ele me deu para a dor. Quando acordei, você estava lá pra me buscar. Não fiz nada, ou então o doutor não teria me tratado tão bem, você não acha? — Eu não sei, Danilo! — Maya desabou a chorar, inconsolável! — Filha, vamos fazer um plano, vai ter outro jeito! — Que jeito, Samantha? Eu quero ir embora. Quero ir pra minha casa, abraçar meu filho. — Isso é muito bom, Maya. Justin vai ser sua cura da batalha perdida. Assim que seu pai resolver tudo por aqui, podemos voltar e nos recuperar. Depois começamos tudo de novo. — Não! Eu quero ir embora agora. Preciso do meu filho. Vou arrumar minhas coisas e vou embora.
— Senhor Lars, por favor, enquanto meus pais e meu marido não chegam, o senhor pode me dizer como acabou nessa confusão? Maya estava sentada no sofá do sítio, Justin sentou ao lado dela em silêncio, fazendo o papel de homem da casa. Internamente ela sorriu para o filho, agradecendo mentalmente. Aquele homem poderia saber quem Hanna pagou para esconder a filha dela, ou dar uma pista! — Eu posso te chamar de Maya? Eu sou brasileiro, em meu país não temos tanta formalidade como aqui. Na verdade, eu pensei que nunca mais precisaria...— Não se preocupe. Fique à vontade.— Então. Eu passei no vestibular para a USP em São Paulo, que é...— Eu sei. A melhor universidade do país, como a nossa Harvard. — Sim, só que gratuita. Quando estava terminando, recebi a proposta para fazer especialização em oncologia em Nova York. Aceitei, claro. Ganhei bolsa e ajuda de custo. Na especialização, conheci o doutor Stevens. Homem apaixonado pela medicina como eu. Sempre nos demos bem, ele me levou pra m
— Você sabe onde está minha filha? — Sim , eu sei! — Vocês são todos uns bobos. Ele falou que a mãe dele estava cuidando da Tiphany pra tia Hanna se tratar! — Hillary. O nome dela é Hillary e nós a chamamos de Hill.— Vou mandar preparar o jato, vamos para o Brasil buscar minha filha agora mesmo! — Esperem. Não se afobem! — Lá vem. Eu sabia que não ia ser de graça. Me fala quanto é, que eu pago. — Danilo, pare com isso! Chega! Danilo estava nervoso, com o peito estufado. Mas quando Samanta falava, ele calava. Maya estava quieta, acuada. Jhon Lee percebeu e saiu de perto de Samantha e a abraçou. — O que foi, Maya? Conseguimos o que tanto queríamos. Minha neta vai voltar pra casa. — Vocês não percebem? Murilo tem razão. Não podemos ser afobados. Tiphany não existe. A menina que eu gerei e que me foi arrancada se chama Hillary. E realmente, não podemos ser afobados. Tiphany não me conhece, aliás, nenhum de nós! Nós a desejamos e esperamos, e fizemos um castelo em cima dela. Mas
Maya checava tudo na Saborosa Brasil. Sua adega climatizada com tecnologia de ponta. Foi a terceira que ela abriu, a primeira no exterior e era o seu xodó. Nela continha sua coleção de garrafas ouro com sua assinatura, e ela era a mais complexa, que lhe deu mais trabalho e exigiu mais viagens. Quando ela teve a idéia, foi porque pensou que poderia aproveitar as viagens constantes que começaram a fazer para o Brasil, para dar andamento no projeto de Justin e Murilo. Quando Murilo deixou Florzinha nos Estados Unidos, 13 anos antes, ele tinha um problema.Ele tinha feito larga campanha com doação de células tronco e colocou São Paulo no topo de inscritos no REDOME, mas a compatibilidade dos doadores eram um pra 1000, enquanto para parentes era um pra 100. A coleta do cordão umbilical ainda é a melhor probabilidade de compatibilidade. Mas o problema na época é a recusa dos pais de ter uma criança com leucemia e gerar outra só para coletar células tronco do cordão. Ou quando a doença se
Maya entrou apressada no enorme edifício espelhado. O som dos seus saltos soavam alto no assoalho preto brilhante. Passou os olhos pelo relógio rapidamente e percebeu que já estáva quase na hora do almoço. — Merda! — Praguejou baixo. Corria um enorme risco de não conseguir falar com o todo poderoso, arrogante e galinha senhor Bukaiter!Subiu até ao andar indicado e passou ligeira pela secretária direto à porta do escritório. Coloca a mão na maçaneta para a abrir e atrás dela ouve a voz desesperada da secretária — A senhora não pode entrar aí, aguarde eu anunciar…Maya não conseguiu evitar um gritinho quando viu a cena! Corou violentamente e se encaminhou pra saída, puxando a porta. Ouviu Danilo gritando para que ela esperasse que ele a atenderia. Danilo soltou um "merda" em alto e bom som quando foi interrompido. Depois que ela fechou a porta novamente, saiu de entre as pernas de Alícia e começou a se ajeitar. Estava furioso. Não só por ter sido impedido de liberar seu stress,
Danilo se divertiu com a cara de espanto que Maya fez, mais ainda quando ela começou a gaguejar, perguntando se ele era louco. — Maya Dawson, respira. Vamos conversar sobre minha proposta e você pode pensar. Você não tem muitas opções mesmo, então vamos: diga porque me procurou? — Procurei porque achei que você tinha sanidade. Mas descobri que estou falando com alguém totalmente desprovido de juízo! — Você me procurou porque acha que eu tomei de seu pai bens que não lhe pertenciam e tenho que lhe devolver. — Se você sabe disso, faça a devolução e pronto, resolvemos isso e acaba-se os motivos pra gente ter contato. — Aí que você se engana, Maya. Você é extremamente capacitada para fazer as coisas acontecerem, mas juridicamente falando, você é uma leiga. Pra isso, tenho uma equipe de advogados trabalhando pra mim. Eu só descobri ontem que os bens que seu pai e Denny me deram como garantia ao empréstimo que lhes fiz, na verdade pertencem a você. E concordo plenamente que você não te
Quando chegaram no hospital, juntos, causaram grande alvoroço. Entraram, o médico chamou Maya e Danilo de canto e deixou o restante da família aguardando. Explicou que o pai não teve melhoras no quadro dele e que ia prescrever o bypass por mais 72 horas, e mante-lo em coma induzido. Maya questionou, fez todos as perguntas possíveis e cabíveis, mas o médico só dizia que não tinha certeza de nada, que estavam fazendo tudo que era possível, mas que o pai não estava reagindo.— Entenda, Maya. Nós estamos realizando tudo que a ciência nos permite. Mas temos uma crença interna entre médicos, que está em grande estudo da psique humana e já foi amplamente divulgado, que se o paciente não quiser sair do estado em que se encontra, nossos esforços serão em vão! — Posso vê-lo? — Entenda, Maya. Seu pai está em coma induzido em uma UTI, respirando por aparelhos e com uma máquina trabalhando no lugar do coração dele. Se ele pegar uma bactéria, mínima que seja, vai ser fatal. E por isso não permit