Sábado. Nove e quarenta e cinco da manhã o jato particular da empresa Camp Jordan pousa no Aeroporto Internacional do Rio Grande do Norte. Aislan desembarca na companhia de Skoob, seu cão gigante da raça Dobermann. Pelo preto brilhoso e macio de seu pelo bem aparado e pelo seu porte imponente, vemos que o cão recebe cuidados tão minudentes quanto o dono. Aislan é um cara vaidoso... Muito vaidoso, por sinal. Ele é aquele tipo de homem que não abre mão de exercícios físicos diários. Tem horários semanais marcados em spas, barbearia e manicure. Sim! Ele não nega que pinta as unhas, com base, claro, além de tingir os cabelos regularmente. Os fios brancos não têm vez naquela cabecinha oca... E pensem em um homem cheiroso. É claro que quem o vê não nega que Aislan seja um partidão... Só que é chato, muito chato, enfim... Como o Henrique pensou em tudo, ele alugou um carro esportivo para que Aislan pudesse passear à vontade pela cidade. Na saída do aeroporto o carro lhe é entregue por um funcionário e assim se inicia as férias de Aislan que mesmo admirando a beleza da cidade, não está nada empolgado. Para piorar, o GPS lhe leva para o endereço errado e o que era para ser uma viagem de uma hora e quinze minutos até a cidade de Touros, se torna um verdadeiro tour do pesadelo e irritabilidade.
Cerca de uma hora e meia depois, Aislan, enfim, encontra a famosa casa do lago que recebe esse nome carinhoso tanto em homenagem ao famoso filme, quanto por ter sido construída às margens da Lagoa do Boqueirão na Região de Mato Grande. Um lugar tranquilo, exceto no verão por atrair turistas e visitantes locais, com uma vista esplêndida, pouquíssimos vizinhos e de extrema paz e isso Aislan sente assim que desce do carro. Skoob não perde tempo e mergulha na lagoa, assustando assim as crianças e turistas ali presentes. Aislan pede para que todos tenham calma dizendo que o cão é adestrado e que é extremamente manso. Realmente ele não mentiu. Skoob, apesar do tamanho, é dócil e brincalhão. As crianças mais corajosas arriscam uma aproximação e logo o cachorro conquista a todos, que voltam a se banhar e a brincar com ele.
Vendo que seu o parceiro fez amizade e confiando que ele não irá atacar ninguém, Aislan retira a mala do carro e se dirige para a varanda ao fundo da casa. Ao destrancar a porta ele repara que uma mulher está na varanda da casa ao lado, com uma feição nada agradável, observando o Skoob. Ao perceber que está sendo observada, a mulher crava o seu olhar no dele e solta um meio sorriso ao acenar dando boas vindas. Aislan acena respondendo a hospitalidade, mas o primeiro pensamento que lhe vem à cabeça é de que aquela mulher, mesmo linda e aparentemente gentil, não está feliz com a sua presença e muito menos com a presença de Skoob. Mandando, mentalmente, ela ir à merda e tudo o que já acontecera até ali, Aislan adentra a casa, deixa a mala na cozinha e saí abrindo todas as janelas. De volta à cozinha ele pega uma garrafa de cerveja na geladeira e respira fundo após tomar o primeiro gole e lá está a vizinha na janela da cozinha da casa ao lado, lhe observando. A primeira reação de Aislan é se aproximar da janela e fechar as cortinas. Mais uma inspiração profunda de ar e ele se dirige a sala onde liga o som e degusta mais goles de cerveja. Admirando a paisagem pela janela e dando uma checada se tudo corre bem entre seu cão e as crianças na lagoa, outra vez ele percebe que a vizinha está a lhe observar pela janela da sala. Por instinto, a sua reação é a mesma de outra hora, fechar as cortinas, mas agora ele se demora e por cerca de alguns segundos, fita os olhos azuis desviando dos seus na tentativa de um disfarce mal sucedido. Aquela mulher vira de costas curvando o corpo para acariciar um cachorro que sabe Deus de onde surgiu. Aislan admira o belo corpo da vizinha intrometida tendo pensamentos pervertidos...
— É vizinha! O que você tem de estranha e introsca, você tem de gostosa. Magrela, mas gostosa.
Pensa ele enquanto a segue com o olhar até perdê-la de vista. Ela usa um vestido florido vermelho dando um realce em sua pele branca. Seus seios são pequenos proporcionais ao seu corpo miúdo e de estatura que não passa de 1,68 m. Parece uma daquelas adolescentes chefes de torcida. As pontas do cabelo castanho tocam os bicos dos seus seios, assim como a curta franja tocam suas sobrancelhas, salientando ainda mais o azul piscina de seus olhos que, de repente, voltam a fitar os olhos verdes de Aislan. Lá está ela outra vez o assustando como uma assombração. Instantemente ele fecha as cortinas.
— Saí pra lá bonequinha de porcelana do mal. Vai assombrar outro, eu não. Já vi que essas férias prometem. Prometem muita raiva e sessões de terror.
Skoob entra molhando todo o piso da casa e ainda faz questão de chacoalhar o corpo se livrando do excesso de água.
— Não, Skoob. Não! Olha aí! Molhou todo o chão. Mas que merda! Estou falando... Estou falando.
Skoob tenta se encolher como que pedindo desculpas, mas sendo um cachorro daquele tamanho, a impressão que dá é que ele está se preparando para saltar... E o faz quando Aislan se arrepende de ter gritado e lhe pede desculpas. O cão por pouco não o derruba, mesmo o dono tendo 1,89, braços fortes, bem trabalhados e musculosos...
Um grandalhão de pele clara levemente bronzeada. Os braços e tórax bem definidos... A barriga tanquinho... O peitoral harmonioso chama a atenção mesmo que ele esteja vestido com terno e gravata... Vê-se ao longe... Assim como as partes baixas. Pernas saradas, bumbum empinado, coxas grossas, batatas suculentas, enfim... Aislan é todo uma delicinha em forma de homem. Seus cabelos são de um tom castanho claro com loiro em um corte curto, com os fios desfiados e desalinhados dando um ar desleixado ao look do nosso amigo, mas que ao mesmo tempo o deixa maravilhosamente elegante. Ah vocês devem estar se perguntando como ele tem a pele bronzeada se vive em uma cidade fria? Mas, ele é a vaidade em pessoa, certo? Sim! E o belo faz sessões periódicas de bronzeamento artificial. O Henrique fica puto com isso. Como um cara que se cuida ao extremo fica fazendo exercícios físicos diários, que é rigoroso quanto a sua alimentação e um cara que diz se preocupar com a saúde, se expõe desse jeito a um perigo iminente que um câncer de pele pode causar? Esse foi mais um dos motivos de o Henrique manda-lo para Natal. Se ele acabar gostando de praia e calor, nos próximos meses o seu bronzeamento será natural, tomando os cuidados necessários, longe de riscos. Vamos torcer para que sim. Vamos torcer para que ele se apaixone pelo verão…
Após secar todo o chão por onde Skoob passou, Aislan tratou de descarregar a bagagem do carro, alimentou o dog, guardou suas roupas e pertences nos armários e aí se deparou com o presente deixado por Henrique. Com um sorriso irônico ele coça a cabeça não acreditando no que o amigo lhe comprou. Ao se ver livre de suas tarefas, Aislan decidiu almoçar em um dos quiosques. A sua vontade era de almoçar a beira mar, mas dirigir depois de uma manhã tensa e cansativa não estava mais em seus planos. Skoob voltou a brincar com as crianças na lagoa, enquanto o saradão se deliciava com uma bela porção de feijão verde, prato típico do estado e nem preciso dizer, né? Foi amor à primeira vista e com direito a um: “Garçom! Traga mais uma porção, por favor.”.Tudo corre bem e
Domingo, seis horas da manhã. Aislan desperta depois de dez horas consecutivas de um sono tranquilo e agradável. Descanso esse que o fez despertar com ânimo e disposição para a sua corriqueira corrida matinal. Higiene pessoal? Ok! Garrafinha d’água? Ok! Smartwatch? Ok! Calça e camiseta? Aaah... Não! O aplicativo marca 26º graus, sendo a sensação térmica de 28º. Uma bermuda, um boné e o par de tênis. Pronto! O nosso amigo está prontíssimo. O Skoob também está no clima e após um breve alongamento, os dois iniciam a maratona às margens da lagoa.A paisagem é exuberante. O céu azul é enfeitado pelos reluzentes raios de sol entre nuvens branquinhas que passeiam depressa empurradas pelo vento.
O sol está para se pôr. A maioria dos visitantes já foi embora e os que ficaram se despedem de Aislan e Skoob. A porta da varanda da vizinha está fechada. Aislan lamenta por Luna estar lá trancada com a víbora em forma de gente. Ele não entende como uma pessoa pode ser tão egoísta, furiosa e curiosa também. É muita coincidência ela estar colocando o lixo pra fora bem na hora que ele está para adentrar a casa... Ou não?— Skoob, eu não consigo entender qual é dessa mulher. Ela demonstra me odiar, mas não perde uma chance para ver o que estou fazendo. Bisbilhoteira e fuxiqueira. Deve estar falando mal de mim nas redes sociais. Ela não sai da frente das telas. Quando não é no notebook é no celular. Ela deve estar com os dedos duros de tanto escrever fofo
Segunda-feira. O dia já amanhece com alta temperatura. Aislan, aproveitando o bom humor e ainda querendo provocar, levanta mais cedo e faz uma série de alongamentos na beira do lago, se preparando para a corrida matinal. Skoob dorme na varanda. Na casa ao lado, a vizinha que ainda não dormiu e ainda está possessa, se atreve a olhar pela janela e vê Aislan, sem camisa, correndo em volta da lagoa. Tomada de raiva ela decide ir tirar satisfações com o vizinho pervertido. Luna a acompanha lado a lado mesmo seu instinto querendo correr até Skoob para brincar. A cara feia da dona lhe causa medo, então é melhor obedecer. Ao ver a vizinha se aproximar da cerca, Aislan caminha até ela com o sorriso mais irônico que talvez ele nunca tenha dado em sua vida. A vontade dele é de gargalhar, mas se controla e procura ser gentil, ao seu modo, claro.
Já é noite e de volta a vila, Aislan estaciona o seu carro no jardim e se dirige para a casa de Catléia ao perceber que as luzes estão acesas e ao imaginar que ela provavelmente esteja acordada. Ele toca a campainha. Dessa vez ela demora um pouco mais para abrir a porta...— Oi! Você veio pegar a foto? Está aqui.— Oh, não. Desculpe, mas eu tomei a liberdade e procurei por fotos suas na internet, quer dizer, do gato e encontrei essa aqui.Aislan entrega uma cópia da foto para ela que observa já com os olhos a lacrimejar. Bom dia! Bom dia e o que temos pra hoje? Um Aislan tomando seu desjejum de um lado e uma Catléia dormindo do outro. Terça-feira, mais um dia quente, trinta graus na sombra às nove da manhã. Aislan já fez sua corrida matinal. Já alimentou Skoob e retirou a sujeira dele deixada pelo jardim. "O que fazer agora?" Pensa ele. Sem opções ele decide dar uma volta pelo bairro em busca de pistas que o levem ao gato. Já perto do horário de almoço ele retorna para casa e se depara com Catléia deitada em uma rede, do lado externo da casa, com Luna deitada no chão ao seu lado e com o notebook em seu colo.— Nada?— Infelizmente não! Domingo. O dia amanhece com recorde de temperatura. Dez horas da manhã e os termômetros marcam 32° graus. Aislan com certeza vai tentar uma aproximação com Catléia esperando ver no que dá, campainha acionada. Luna late. A porta se abre. Catléia vestida num vestido longo, amarelo florido.— Oi! Bom dia Aislan!— Bom dia!— Alguma novidade? Tem pistas do meu gato?— Infelizmente não. Por isso eu estou aqui. Amanhã eu vou embora e eu ficarei bem chateado se não encontrar o Finn.<Capítulo oito:
Capítulo nove:
Minutos depois é Catléia quem saí com o celular e o seu notebook nas mãos. Ela chama Luna a aguardando passar, tranca a porta e acompanha o vizinho medroso.— Você vai mesmo lá?— É claro que vou. Aislan, não tem nada naquele telhado. Dias antes de você chegar eu e a dona da casa fizemos uma bela de uma faxina. Só tem caixas e bugigangas lá. O barulho deve ser da janela que nos esquecemos de fechar.— Um sótão?— Sim, um sótão. Nada demais.