A segunda-feira chegou com a rapidez de um relâmpago. Sofia acordou cedo, sentindo o peso da reunião com a equipe pairar sobre seus ombros. O caso de Eduardo Vasconcelos, um empresário do setor imobiliário, estava se desenrolando rapidamente, e a disputa de propriedade precisava ser abordada com seriedade. O último que ela queria era desapontar seus clientes, especialmente alguém tão enigmático e exigente quanto Eduardo.
Enquanto se preparava, ela não conseguia deixar de pensar no encontro casual que teve com ele no domingo. Era um sentimento novo e inquietante — um misto de curiosidade e excitação que a fazia questionar se estava realmente pronta para isso. Com o café na mão, observou Davi brincar enquanto se arrumava. A visão dele sorrindo, totalmente alheio às suas preocupações, a lembrava do que realmente importava em sua vida. — Mamãe, você vai ficar em casa hoje? — Davi perguntou, sua voz doce cortando os pensamentos de Sofia. — Não, meu amor. Vou trabalhar, mas você vai se divertir muito com a vovó e o vovô hoje — respondeu, tentando manter o tom alegre. Davi fez uma cara triste, mas logo se animou ao pensar em como seus avós sempre o levavam para fazer algo divertido. Após dar um último abraço no filho, Sofia saiu, decidida a encarar o dia. Ao chegar ao escritório, a atmosfera estava tensa. Os membros da equipe já estavam reunidos na sala de conferências, discutindo os pontos mais críticos do caso. Sofia se juntou a eles, respirando fundo enquanto tomava seu lugar à cabeceira da mesa. Ela precisava liderar essa reunião com firmeza e clareza, e não permitir que o nervosismo a dominasse. — Bom dia, pessoal. Vamos começar — ela disse, acenando para a equipe, que respondeu com um coro de “bom dia” quase automático. O primeiro ponto da agenda foi a revisão da estratégia. Sofia apresentou suas observações sobre a disputa de propriedade, detalhando as falhas que tinha identificado. As perguntas começaram a surgir, e Sofia se viu imersa na discussão. Ela falava com confiança, explicando os riscos envolvidos e as possíveis soluções. O nervosismo inicial começou a se dissipar à medida que a conversa fluía. Mas, conforme a reunião avançava, a imagem de Eduardo não saía da sua mente. O jeito como ele a olhava, como se tentasse decifrar não apenas suas palavras, mas quem ela era por trás delas, a deixava intrigada. O que ele realmente pensava sobre o caso? Quais eram suas intenções? Após algumas horas, a reunião chegou ao fim. Sofia estava exausta, mas satisfeita com o progresso feito. Assim que todos começaram a sair, ela decidiu que precisava entrar em contato com Eduardo para discutir os próximos passos da parceria. Com o coração acelerado, pegou seu telefone e ligou para a empresa de Eduardo. Ele atendeu rapidamente, sua voz familiar trazendo um misto de alívio e ansiedade. — Olá, Sofia! Que bom que você ligou. Como estão as coisas? — Oi, Eduardo. Estou bem. A reunião foi produtiva, mas gostaria de discutir alguns pontos do caso. Você tem um momento? — Claro! Estou aqui no escritório. Venha quando puder — ele respondeu, a animação na voz dele era contagiante. Sofia rapidamente arrumou algumas coisas e saiu, dirigindo-se à empresa de Eduardo. Assim que chegou, foi recebida na recepção e levada ao seu escritório. O ambiente era moderno, com um design sofisticado que refletia o sucesso do empresário. Ao entrar no escritório, Eduardo estava concentrado em uma pilha de documentos, mas quando a viu, seu rosto iluminou-se. — Dra. Sofia! Que bom te ver — ele disse, fazendo um gesto para que ela se sentasse. — Estava apenas analisando algumas propostas para um novo projeto. Como foi a reunião? — Foi produtiva, mas ainda temos alguns detalhes a resolver sobre a disputa de propriedade — respondeu Sofia, sentando-se em uma das cadeiras à frente da mesa dele. Eduardo a ouviu atentamente, intercalando perguntas com observações que mostravam seu conhecimento do setor imobiliário. A conversa fluiu naturalmente, e a tensão que havia antes agora era quase palpável, mas não era a tensão do trabalho. Era algo mais profundo, algo que deixava Sofia ciente da presença dele de uma forma que a deixava inquieta. — Eu aprecio sua abordagem meticulosa. Você não tem ideia de como isso é raro — Eduardo comentou, olhando nos olhos dela. — Agradeço. É um caso importante para mim, e eu quero garantir que tudo saia conforme o planejado — Sofia respondeu, tentando manter a seriedade. Ele inclinou a cabeça, e um sorriso travesso surgiu em seus lábios. — Você sabe, Sofia, sua dedicação é admirável. É uma qualidade que eu valorizo muito. Mas, às vezes, você precisa permitir-se um pouco de leveza também. A afirmação fez com que ela se sentisse vista de uma maneira que não esperava. Por um instante, os olhos dele brilhavam com uma intensidade que fez Sofia sentir um calor subir pelas suas bochechas. Não era apenas o advogado que ela tinha visto antes; era um homem que tinha suas próprias ambições, suas próprias inseguranças. — É verdade — ela concordou, sentindo uma risada escapar de seus lábios. — Mas é difícil, especialmente quando temos tanta responsabilidade. — A vida é uma responsabilidade constante, mas também deve ser uma aventura — ele respondeu, seu olhar fixo na dela. O momento se estendeu, e Sofia percebeu que, por trás da fachada séria e profissional de Eduardo, havia um homem que também queria mais da vida. Uma faísca de entendimento passou entre eles, e ela sentiu que algo estava se formando ali, algo que poderia ir além de uma simples relação profissional. — Vamos nos encontrar novamente para discutir isso mais a fundo? — ele sugeriu, quebrando o silêncio que se estabelecera. A proposta a surpreendeu, mas também a intrigou. — Sim, claro. Eu adoraria — Sofia respondeu, sentindo uma mistura de ansiedade e excitação. Com isso, a conversa terminou, mas o pensamento sobre Eduardo permaneceu em sua mente, como uma semente plantada que começava a brotar. Ela saiu do escritório, um misto de sentimentos crescendo dentro dela. Não era apenas o trabalho que a animava agora; era a ideia de descobrir mais sobre aquele homem e a conexão que parecia estar se formando entre eles. A semana mal começara, mas Sofia sabia que havia algo novo e inesperado no ar, algo que poderia mudar sua perspectiva de vida.A noite estava tranquila quando Gabriel chegou à casa de Sofia. O céu se tingia de laranja e roxo, sinalizando o início do crepúsculo, enquanto Davi brincava na sala, imerso em seu mundo de blocos de montar. Sofia estava na cozinha, preparando um lanche rápido quando ouviu a campainha tocar. Com um sorriso involuntário, ela foi até a porta, reconhecendo o som familiar da voz de Gabriel do outro lado.— Oi, Davi! — ele disse, agachando-se para cumprimentar o filho. A alegria no rosto de Davi ao ver o pai era inegável, e isso fez o coração de Sofia se aquecer.— Papai! — Davi exclamou, correndo em direção a Gabriel e envolvendo-o em um abraço apertado. Sofia observou a cena, sentindo uma onda de nostalgia a atingir. Havia algo no jeito como Gabriel interagia com Davi que a fazia lembrar dos momentos bons que tiveram como família.— Estou pronto para o jantar. Você está pronta? — Gabriel perguntou, olhando para Davi, que estava quase pulando de excitação.— Sim! — Davi respondeu, e então
A quarta-feira chegou mais rápido do que Sofia esperava. A manhã começou agitada, com Davi indo para a escola e ela tendo que se preparar para a reunião com Eduardo. Ao longo do dia, sua mente vagava entre as tarefas do trabalho e a expectativa do encontro. Ela tentava se convencer de que não havia nada de especial, que era apenas um jantar de negócios, mas havia uma ansiedade sutil que a acompanhava.Quando o relógio marcou o horário, Sofia se arrumou com cuidado. Optou por um vestido simples, mas elegante, e se olhou no espelho, procurando alguma segurança. “É só um jantar”, repetiu para si mesma. Mas mesmo assim, uma pequena parte dela esperava que o encontro fosse mais do que isso.Ao chegar ao restaurante, Sofia sentiu um frio na barriga ao avistar Eduardo na entrada. Ele estava elegante, como sempre, com um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Mas, ao se aproximar, notou que havia uma mulher ao lado dele — uma mulher alta, com cabelos longos e ondulados, usando um vestido ve
Eduardo dirigia calmamente pelas ruas tranquilas da cidade, a luz dos postes iluminando o caminho à sua frente. O jantar com Sofia e Laura ainda ocupava sua mente. O brilho dos sorrisos de Laura e a energia que ela trazia à mesa eram inegáveis, mas, enquanto pensava nela, uma parte dele sentia-se distante, quase indiferente. Ao chegar à casa de Laura, ele estacionou e virou-se para olhar para ela.— Obrigada pela noite, Eduardo. Você sempre sabe como tornar os jantares interessantes — Laura disse, um brilho nos olhos que indicava algo mais.Ele sorriu, mas não sentiu o mesmo entusiasmo que ela parecia expressar. Na verdade, não tinha certeza se queria que a amizade deles avançasse para algo romântico. Laura era inteligente e bonita, mas sua mente estava longe do romance. Eduardo sabia que seus sentimentos por ela eram platônicos.— Foi um prazer, Laura. Estava bom demais para ser só trabalho — respondeu ele, tentando manter o tom leve.Laura hesitou um instante, como se esperasse algo
A semana passou rapidamente e, finalmente, chegou o dia da reunião que definiria o primeiro caso de disputa de propriedade que Sofia estava resolvendo. Ela se sentava em sua mesa, revisando os documentos uma última vez antes de se encontrar com Eduardo. A ansiedade misturada com excitação a envolvia. O esforço que havia dedicado ao caso finalmente começava a dar frutos, e ela estava determinada a apresentar um resultado sólido.Quando o relógio marcou a hora da reunião, Sofia se dirigiu ao escritório de Eduardo. Ao entrar, ele a cumprimentou com um sorriso genuíno.— Sofia! Estou ansioso para saber como você resolveu a questão — disse ele, gesticulando para que ela se sentasse.Ela se acomodou e, enquanto explicava os detalhes do caso, notou que Eduardo ouvia atentamente, seus olhos brilhando de entusiasmo.— Então, basicamente, conseguimos chegar a um acordo que é vantajoso para ambas as partes — finalizou Sofia, sentindo uma onda de alívio.Eduardo sorriu e bateu palmas, animado.—
O dia começou ensolarado, e Eduardo chegou ao escritório com a mente focada no trabalho, mas Laura não tardou a aparecer. Desde o jantar, ela parecia determinada a se aproximar dele, buscando um momento a sós sempre que podiam. Embora Eduardo a visse como uma boa amiga e uma colega de trabalho, ele não podia ignorar a intensidade que ela trazia à conversa, como se houvesse uma expectativa escondida em suas interações.Laura entrou no escritório, com um sorriso que tentava parecer casual, mas que traía sua ansiedade.— Oi, Eduardo! Você tem um minuto? — perguntou, encostando-se na porta, sua voz suave e convidativa.Ele olhou para cima, um pouco surpreso, mas sorriu.— Claro, Laura. O que você precisa?— Eu estava pensando que poderíamos discutir alguns dos nossos projetos futuros. Acha que poderíamos almoçar juntos hoje? — Ela fez uma pausa, um brilho nos olhos que sugeria que ela esperava mais do que uma simples reunião de negócios.Eduardo hesitou, notando a expectativa no rosto del
Observar Gabriel sempre foi algo que me prendeu de uma forma que eu nunca consegui explicar. Até hoje, mesmo depois de tudo, meus olhos buscam os dele instintivamente. Como agora, enquanto ele está sentado no sofá da sala, a alguns metros de mim. Estamos aqui juntos, mas separados por um abismo invisível, o mesmo abismo que se abriu entre nós ao longo dos últimos anos. O som da televisão preenche o ambiente, mas é apenas ruído de fundo. Nem ele está prestando atenção, e eu muito menos.Nosso filho, Davi, de cinco anos, está brincando no chão com seus carrinhos. Ele parece alheio à tensão que permeia o espaço entre Gabriel e eu. Olho para o pequeno, e meu coração se enche de um amor imenso, mas logo depois, como sempre acontece, sinto aquele aperto familiar. O amor que eu ainda sinto por Gabriel é uma ferida que nunca cicatriza. Ele é o pai do meu filho, o homem com quem imaginei envelhecer, e, por mais que eu tente, não consigo deixar de amá-lo. Mesmo que ele já tenha deixado de me am
Sofia sempre foi uma mulher prática. Desde jovem, aprendeu a traçar planos e a se agarrar a eles com determinação. Quando decidiu que queria ser advogada, ninguém a deteve. Enfrentou os anos de faculdade com a mesma disciplina que aplicava a tudo em sua vida: horários controlados, dedicação inquestionável, um foco quase obsessivo em ser bem-sucedida. E foi. Construiu uma carreira sólida, tornou-se uma advogada respeitada e rapidamente subiu na hierarquia do escritório onde trabalhava. Ela tinha tudo planejado, até mesmo a vida pessoal.O casamento com Gabriel parecia encaixar perfeitamente nos seus planos. Ele era estável, atencioso, e eles compartilhavam a mesma visão de construir uma família. Pelo menos no início. Mas com o tempo, enquanto Sofia crescia profissionalmente e enfrentava as demandas de ser mãe, sentia que algo se perdia entre eles. Gabriel, por outro lado, sempre foi mais espontâneo. Nunca teve a mesma pressa que ela para atingir metas, não se importava tanto com o suce
A casa dos meus pais sempre foi o refúgio onde eu podia desligar a cabeça por algumas horas. Sabe, aquele lugar onde a vida parece mais simples? Onde os problemas, mesmo os maiores, se dissipam como poeira no vento? E foi para lá que eu fui depois de ver aquela foto de Gabriel com a outra mulher. Dirigir até a casa deles me deu a sensação de estar voltando para a adolescência, quando qualquer problema parecia menor assim que eu atravessava aquela porta.Minha mãe, claro, percebeu de imediato que algo não estava certo. Ela tem esse talento. Assim que entrei, sem precisar dizer uma palavra, ela me olhou com aquele jeito que só mães têm e já estava me oferecendo café. “Vem, filha, senta aqui. Me conta o que aconteceu.”Eu sentei, e o cheiro familiar de bolo recém-saído do forno me acolheu. Não tinha nem fome, mas só de sentir o calor daquela casa, a vida parecia menos pesada. Meu pai estava lá fora, podando as plantas como fazia todo domingo. Sempre gostei de como ele era simples em suas