Capítulo 4

Naquela manhã, o escritório parecia mais agitado do que o normal. Pilhas de processos se acumulavam sobre a mesa de Sofia, mas ela já estava acostumada com o ritmo. A advocacia sempre foi um ambiente de alta pressão, e Sofia florescia nisso. A lista de clientes era extensa e o volume de trabalho, intenso, mas ela gostava de se perder nos detalhes dos casos, nas complexidades que exigiam que sua mente se mantivesse ocupada. Era assim que ela funcionava — resolvendo problemas. No trabalho, pelo menos, tudo parecia sob controle, ao contrário da bagunça emocional que era sua vida pessoal.

— Sofia, o novo cliente está esperando na sala de reuniões. — A voz de Camila, sua assistente, soou no interfone, tirando Sofia de seus pensamentos. — O nome dele é Eduardo Vasconcelos.

Sofia franziu a testa, tentando lembrar-se do nome, mas não conseguiu associar a ninguém. Ele deveria ser um dos novos casos que o sócio, Paulo, havia mencionado rapidamente durante a última reunião. Um cliente importante, um empresário com uma questão delicada, mas os detalhes ainda estavam nebulosos. Como sempre, Sofia se preparou mentalmente para o que viesse. Estava acostumada a lidar com pessoas poderosas, e sabia como manter o profissionalismo em qualquer situação. Homens ricos e influentes não eram novidade para ela — apenas mais um dia de trabalho.

Ao entrar na sala de reuniões, foi recebida pela figura imponente de Eduardo. Alto, bem vestido e com um ar que misturava confiança e mistério, ele estava de pé, observando a paisagem pela janela com as mãos no bolso do terno. Quando se virou para cumprimentá-la, Sofia percebeu que ele não era apenas o típico empresário. Havia algo nele, uma intensidade nos olhos, uma seriedade no olhar, que fez Sofia parar por um segundo antes de estender a mão.

— Sr. Vasconcelos, prazer conhecê-lo. Eu sou Sofia Brandão — disse ela, com seu tom profissional.

— Eduardo, por favor. O prazer é meu — ele respondeu, apertando sua mão com firmeza, mas sem exageros. O sorriso que seguiu foi discreto, quase imperceptível, e seus olhos mantinham aquela aura de mistério que Sofia notou imediatamente. Não era o tipo de pessoa que demonstrava facilmente o que estava pensando.

Eles se sentaram, e Sofia começou a falar sobre as questões gerais do escritório, mas logo foi interrompida por Eduardo.

— Eu sei que o seu tempo é valioso, Dra. Sofia, então vou direto ao ponto. Eu estou passando por uma situação complexa. Há uma disputa de propriedade envolvendo uma grande incorporação imobiliária que está prestes a ir para a justiça, e a última coisa que preciso é que isso manche minha reputação ou prejudique os negócios que venho construindo nos últimos anos.

O tom de sua voz era calmo, mas havia algo oculto ali. Sofia já havia lidado com muitos casos empresariais, mas a maneira como Eduardo apresentou sua situação sugeria que havia mais do que uma simples disputa legal. E a forma como ele a olhava, direto, sem desvios, fazia parecer que ele estava testando suas reações.

— Certo, me fale mais sobre os detalhes dessa incorporação e o que exatamente estamos lidando — Sofia respondeu, pegando sua caneta para anotar. Ela manteve o foco no trabalho, ignorando qualquer distração que ele pudesse provocar. Eduardo poderia ser intrigante, mas para ela, ele era apenas mais um cliente complicado.

Eduardo começou a explicar o imbróglio. Ele havia adquirido uma área valiosa na zona sul da cidade, com planos de transformar o espaço em um grande condomínio de luxo. O problema? Uma antiga herdeira da propriedade, que alegava irregularidades no processo de venda, estava disposta a ir até as últimas consequências para invalidar o contrato e tomar o terreno de volta. Se o caso fosse a público, haveria uma enxurrada de mídia negativa. O que Sofia percebeu rapidamente era que essa mulher não estava apenas brigando por dinheiro ou por um direito perdido. Havia algo pessoal ali.

— Essa herdeira… — Sofia começou, interrompendo Eduardo no meio da explicação. — Qual é a motivação real dela? Você disse que ela quer a propriedade de volta, mas me parece que pode haver outra coisa em jogo.

Ele parou por um instante, um sorriso quase imperceptível passando por seus lábios. Como se apreciasse o fato de que Sofia não era facilmente enganada.

— Bom, digamos que há uma história antiga entre a família dela e os antigos donos. Resumidamente, ela se sente traída. Não apenas no nível financeiro, mas pessoal. Ela acredita que essa terra deveria ter ficado com a família dela, e eu sou apenas mais um “invasor” na visão dela.

Sofia assentiu, compreendendo a complexidade da situação. Não era apenas uma questão jurídica; havia emoções envolvidas, ressentimentos antigos. Esse tipo de caso exigia um cuidado extra, e uma estratégia inteligente que fosse além dos argumentos técnicos.

— Entendi. Vai ser um caso complicado — ela disse, mais para si mesma do que para ele. — Mas não impossível.

Eles passaram a discutir os detalhes do contrato, as falhas no processo de venda e as estratégias que poderiam adotar. Enquanto Eduardo falava, Sofia sentia que ele era diferente de seus outros clientes. Ele era reservado, quase enigmático. As respostas eram calculadas, nunca revelando demais, mas sempre o suficiente para mantê-la intrigada. Mas, por enquanto, Sofia manteve sua postura firme, sem se deixar abalar pela presença dele. Eduardo Vasconcelos poderia ser bonito, rico e carismático, mas Sofia estava ali para resolver o problema, não para ser envolvida por ele.

Quando a reunião terminou, Eduardo se levantou e lhe estendeu a mão novamente, dessa vez mantendo o contato visual por mais tempo do que o necessário. Sofia retribuiu o gesto sem hesitar, embora sentisse que havia algo mais naquele homem que ainda não conseguia decifrar.

— Eu confio que estou em boas mãos — ele disse, com aquele tom calmo e controlado, antes de sair pela porta.

Assim que ele saiu, Sofia soltou um suspiro, mas não era o tipo de suspiro carregado de tensão ou emoção. Era um alívio temporário por terminar a reunião e, ao mesmo tempo, a consciência de que aquele caso seria um desafio maior do que ela inicialmente imaginara. Eduardo era um cliente complexo, com mais segredos do que estava disposto a revelar. Mas, como sempre, Sofia estava pronta para o que viesse.

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