Capítulo 5

Sofia saiu do escritório com o céu já tingido por tons de laranja e rosa, o fim de tarde caindo suavemente sobre a cidade. A reunião com Eduardo Vasconcelos havia sido longa e cheia de nuances, e ela sabia que o caso iria consumir bastante tempo e energia nas próximas semanas. Enquanto caminhava até o carro, pensava sobre o que ele havia dito — e, mais importante, o que ele não disse. Eduardo parecia ser um homem de muitos segredos, e Sofia tinha certeza de que descobriria todos eles com o tempo.

No entanto, enquanto dirigia pelas ruas movimentadas, sua mente vagou para outra questão: Gabriel. Ou melhor, a ausência do pensamento constante em Gabriel. Nos últimos meses, sua cabeça era um turbilhão de emoções mal resolvidas sobre ele, mas, de algum modo, as coisas estavam diferentes agora. O fato de ele ter encontrado alguém, de ter confessado isso a ela de forma tão aberta, trouxe uma estranha sensação de… alívio.

Claro, ainda havia uma ponta de dor, como uma cicatriz que incomoda de vez em quando. Mas a verdade era que a presença de outra pessoa na vida de Gabriel estava ajudando Sofia a enxergar algo que ela evitava há muito tempo: o fim daquele capítulo. Era como se a aceitação finalmente estivesse alcançando-a. Ela ainda sentia afeto por ele, mas o amor, aquela chama que a prendia ao passado, estava começando a perder força. Gabriel seguir em frente, de fato, a libertava de uma maneira que ela nunca havia imaginado.

Quando estacionou em frente ao prédio, pegou o celular e viu uma mensagem da babá de Davi, Ana, dizendo que ele havia jantado e estava brincando antes de dormir. Ana era uma bênção. Desde a separação, ela tinha se tornado uma figura de confiança para Sofia, garantindo que Davi estivesse sempre bem cuidado enquanto Sofia equilibrava sua carreira e a vida em casa. Não havia um único dia em que Sofia não se sentisse grata por saber que seu filho estava em boas mãos quando ela não podia estar por perto.

Ao entrar no apartamento, foi recebida pela risada de Davi, que estava sentado no chão da sala, cercado pelos carrinhos que tanto amava. Ana estava ao lado dele, sorrindo com paciência enquanto ele corria seus brinquedos por entre as pernas da mesa de café.

— Mamãe! — Davi gritou com entusiasmo assim que a viu, correndo para abraçá-la.

Sofia se abaixou e o apertou contra si, sentindo o calor de seu pequeno corpo e a alegria que ele trazia em cada gesto. Era nesses momentos que tudo parecia certo, que todas as preocupações e o peso do dia desapareciam. Davi era seu porto seguro, e isso a lembrava de que, independentemente do que acontecesse, ela sempre teria aquilo de mais precioso.

— Como ele foi hoje, Ana? — Sofia perguntou, depois de se soltar do abraço de Davi e caminhar até a mesa para pegar seu copo d’água.

— Ótimo, como sempre. Teve um pouco de dificuldade em comer os legumes, mas nada que eu não desse um jeitinho — Ana respondeu, piscando com um sorriso. — Eu já dei banho nele, então agora é só deixá-lo brincar um pouco antes de dormir.

Sofia assentiu, aliviada por mais um dia de rotina tranquila para Davi. Ela se despediu de Ana, que foi para casa após um longo dia, e sentou-se no sofá, observando o filho brincar com tranquilidade. Era nesses momentos que ela refletia sobre o quanto sua vida havia mudado. Antes, a casa parecia vazia sem Gabriel. Mas agora, ela estava se acostumando ao silêncio, à nova rotina, e à sensação de que, finalmente, estava começando a criar um espaço só seu.

Enquanto esses pensamentos circulavam pela sua mente, o celular tocou. Era sua mãe.

— Oi, filha. Como foi o seu dia? Tudo bem por aí? — A voz de sua mãe era suave, mas carregada de preocupação. Desde a separação, ela sempre fazia essas ligações no fim do dia, como se quisesse garantir que Sofia estava bem, mesmo à distância.

— Foi um dia cheio, mas tranquilo, mãe. Peguei um novo cliente, um caso complicado, mas nada que eu não consiga lidar. E o Davi está ótimo — respondeu, tentando soar mais leve do que realmente se sentia.

— Que bom, meu amor. Você sabe que se precisar de qualquer coisa, eu e seu pai estamos aqui, não é? Não gosto de pensar em você sozinha com tantas coisas para resolver.

Sofia sorriu, sabendo que a preocupação de sua mãe era genuína. Mas a verdade era que, ultimamente, ela não se sentia tão sozinha. Estava começando a gostar de sua própria companhia. A aceitação do fim com Gabriel a fazia ver a vida sob uma nova perspectiva. Não era mais sobre o que havia perdido, mas sobre o que poderia construir daqui em diante.

— Eu sei, mãe. Obrigada. Mas estou bem, de verdade. Melhor do que estive em meses, para ser sincera.

— Fico feliz em ouvir isso — sua mãe disse, a alegria evidente em sua voz. — Eu sempre soube que você iria encontrar seu caminho. Só espero que, quando der, você tire um tempo para você. Para relaxar um pouco. Você trabalha demais, Sofia.

— Vou pensar nisso, mãe — Sofia respondeu, rindo. Despediram-se logo depois, com sua mãe prometendo passar no fim de semana para visitar Davi.

Depois da ligação, Sofia deitou-se no sofá, observando Davi começar a se cansar enquanto seus olhos piscavam pesados. Ele logo adormeceria, e Sofia ficaria sozinha novamente, mas agora isso não a incomodava mais. Pela primeira vez em muito tempo, o silêncio da noite era acolhedor.

Enquanto olhava para a janela, uma sensação de calma tomou conta dela. Gabriel seguira em frente, e, de algum modo, isso a estava ajudando a fazer o mesmo. Agora, ela podia olhar para o futuro sem o peso do passado. E, para uma mulher que sempre gostou de ter controle sobre sua vida, essa nova liberdade era algo inesperado, mas bem-vindo.

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