Sofia saiu do escritório com o céu já tingido por tons de laranja e rosa, o fim de tarde caindo suavemente sobre a cidade. A reunião com Eduardo Vasconcelos havia sido longa e cheia de nuances, e ela sabia que o caso iria consumir bastante tempo e energia nas próximas semanas. Enquanto caminhava até o carro, pensava sobre o que ele havia dito — e, mais importante, o que ele não disse. Eduardo parecia ser um homem de muitos segredos, e Sofia tinha certeza de que descobriria todos eles com o tempo.
No entanto, enquanto dirigia pelas ruas movimentadas, sua mente vagou para outra questão: Gabriel. Ou melhor, a ausência do pensamento constante em Gabriel. Nos últimos meses, sua cabeça era um turbilhão de emoções mal resolvidas sobre ele, mas, de algum modo, as coisas estavam diferentes agora. O fato de ele ter encontrado alguém, de ter confessado isso a ela de forma tão aberta, trouxe uma estranha sensação de… alívio. Claro, ainda havia uma ponta de dor, como uma cicatriz que incomoda de vez em quando. Mas a verdade era que a presença de outra pessoa na vida de Gabriel estava ajudando Sofia a enxergar algo que ela evitava há muito tempo: o fim daquele capítulo. Era como se a aceitação finalmente estivesse alcançando-a. Ela ainda sentia afeto por ele, mas o amor, aquela chama que a prendia ao passado, estava começando a perder força. Gabriel seguir em frente, de fato, a libertava de uma maneira que ela nunca havia imaginado. Quando estacionou em frente ao prédio, pegou o celular e viu uma mensagem da babá de Davi, Ana, dizendo que ele havia jantado e estava brincando antes de dormir. Ana era uma bênção. Desde a separação, ela tinha se tornado uma figura de confiança para Sofia, garantindo que Davi estivesse sempre bem cuidado enquanto Sofia equilibrava sua carreira e a vida em casa. Não havia um único dia em que Sofia não se sentisse grata por saber que seu filho estava em boas mãos quando ela não podia estar por perto. Ao entrar no apartamento, foi recebida pela risada de Davi, que estava sentado no chão da sala, cercado pelos carrinhos que tanto amava. Ana estava ao lado dele, sorrindo com paciência enquanto ele corria seus brinquedos por entre as pernas da mesa de café. — Mamãe! — Davi gritou com entusiasmo assim que a viu, correndo para abraçá-la. Sofia se abaixou e o apertou contra si, sentindo o calor de seu pequeno corpo e a alegria que ele trazia em cada gesto. Era nesses momentos que tudo parecia certo, que todas as preocupações e o peso do dia desapareciam. Davi era seu porto seguro, e isso a lembrava de que, independentemente do que acontecesse, ela sempre teria aquilo de mais precioso. — Como ele foi hoje, Ana? — Sofia perguntou, depois de se soltar do abraço de Davi e caminhar até a mesa para pegar seu copo d’água. — Ótimo, como sempre. Teve um pouco de dificuldade em comer os legumes, mas nada que eu não desse um jeitinho — Ana respondeu, piscando com um sorriso. — Eu já dei banho nele, então agora é só deixá-lo brincar um pouco antes de dormir. Sofia assentiu, aliviada por mais um dia de rotina tranquila para Davi. Ela se despediu de Ana, que foi para casa após um longo dia, e sentou-se no sofá, observando o filho brincar com tranquilidade. Era nesses momentos que ela refletia sobre o quanto sua vida havia mudado. Antes, a casa parecia vazia sem Gabriel. Mas agora, ela estava se acostumando ao silêncio, à nova rotina, e à sensação de que, finalmente, estava começando a criar um espaço só seu. Enquanto esses pensamentos circulavam pela sua mente, o celular tocou. Era sua mãe. — Oi, filha. Como foi o seu dia? Tudo bem por aí? — A voz de sua mãe era suave, mas carregada de preocupação. Desde a separação, ela sempre fazia essas ligações no fim do dia, como se quisesse garantir que Sofia estava bem, mesmo à distância. — Foi um dia cheio, mas tranquilo, mãe. Peguei um novo cliente, um caso complicado, mas nada que eu não consiga lidar. E o Davi está ótimo — respondeu, tentando soar mais leve do que realmente se sentia. — Que bom, meu amor. Você sabe que se precisar de qualquer coisa, eu e seu pai estamos aqui, não é? Não gosto de pensar em você sozinha com tantas coisas para resolver. Sofia sorriu, sabendo que a preocupação de sua mãe era genuína. Mas a verdade era que, ultimamente, ela não se sentia tão sozinha. Estava começando a gostar de sua própria companhia. A aceitação do fim com Gabriel a fazia ver a vida sob uma nova perspectiva. Não era mais sobre o que havia perdido, mas sobre o que poderia construir daqui em diante. — Eu sei, mãe. Obrigada. Mas estou bem, de verdade. Melhor do que estive em meses, para ser sincera. — Fico feliz em ouvir isso — sua mãe disse, a alegria evidente em sua voz. — Eu sempre soube que você iria encontrar seu caminho. Só espero que, quando der, você tire um tempo para você. Para relaxar um pouco. Você trabalha demais, Sofia. — Vou pensar nisso, mãe — Sofia respondeu, rindo. Despediram-se logo depois, com sua mãe prometendo passar no fim de semana para visitar Davi. Depois da ligação, Sofia deitou-se no sofá, observando Davi começar a se cansar enquanto seus olhos piscavam pesados. Ele logo adormeceria, e Sofia ficaria sozinha novamente, mas agora isso não a incomodava mais. Pela primeira vez em muito tempo, o silêncio da noite era acolhedor. Enquanto olhava para a janela, uma sensação de calma tomou conta dela. Gabriel seguira em frente, e, de algum modo, isso a estava ajudando a fazer o mesmo. Agora, ela podia olhar para o futuro sem o peso do passado. E, para uma mulher que sempre gostou de ter controle sobre sua vida, essa nova liberdade era algo inesperado, mas bem-vindo.O sábado começou como a maioria dos fins de semana de Sofia: uma tentativa de equilibrar trabalho e vida pessoal. Ela sabia que Davi adorava quando seus avós o visitavam, então isso sempre lhe dava uma janela de tempo para resolver pendências do escritório antes de aproveitar o restante do dia com o filho. Naquela manhã, deixou Davi com Ana, e logo depois dirigiu até o escritório para adiantar algumas questões. Nada muito complexo, apenas revisões de documentos e algumas pendências que não queria arrastar para a semana seguinte.O ambiente silencioso do escritório aos sábados era quase agradável. Sem o tumulto usual, Sofia conseguia se concentrar melhor. Sentada em sua mesa, ela revisava o contrato de um cliente quando seu telefone tocou. Olhando para o visor, viu o nome de Eduardo Vasconcelos. Sentiu uma leve surpresa, pois não esperava uma ligação dele tão cedo — especialmente em um sábado.— Bom dia, Eduardo — atendeu, tentando manter seu tom neutro, mas profissional. — Em que poss
A segunda-feira chegou com a rapidez de um relâmpago. Sofia acordou cedo, sentindo o peso da reunião com a equipe pairar sobre seus ombros. O caso de Eduardo Vasconcelos, um empresário do setor imobiliário, estava se desenrolando rapidamente, e a disputa de propriedade precisava ser abordada com seriedade. O último que ela queria era desapontar seus clientes, especialmente alguém tão enigmático e exigente quanto Eduardo.Enquanto se preparava, ela não conseguia deixar de pensar no encontro casual que teve com ele no domingo. Era um sentimento novo e inquietante — um misto de curiosidade e excitação que a fazia questionar se estava realmente pronta para isso. Com o café na mão, observou Davi brincar enquanto se arrumava. A visão dele sorrindo, totalmente alheio às suas preocupações, a lembrava do que realmente importava em sua vida.— Mamãe, você vai ficar em casa hoje? — Davi perguntou, sua voz doce cortando os pensamentos de Sofia.— Não, meu amor. Vou trabalhar, mas você vai se dive
A noite estava tranquila quando Gabriel chegou à casa de Sofia. O céu se tingia de laranja e roxo, sinalizando o início do crepúsculo, enquanto Davi brincava na sala, imerso em seu mundo de blocos de montar. Sofia estava na cozinha, preparando um lanche rápido quando ouviu a campainha tocar. Com um sorriso involuntário, ela foi até a porta, reconhecendo o som familiar da voz de Gabriel do outro lado.— Oi, Davi! — ele disse, agachando-se para cumprimentar o filho. A alegria no rosto de Davi ao ver o pai era inegável, e isso fez o coração de Sofia se aquecer.— Papai! — Davi exclamou, correndo em direção a Gabriel e envolvendo-o em um abraço apertado. Sofia observou a cena, sentindo uma onda de nostalgia a atingir. Havia algo no jeito como Gabriel interagia com Davi que a fazia lembrar dos momentos bons que tiveram como família.— Estou pronto para o jantar. Você está pronta? — Gabriel perguntou, olhando para Davi, que estava quase pulando de excitação.— Sim! — Davi respondeu, e então
A quarta-feira chegou mais rápido do que Sofia esperava. A manhã começou agitada, com Davi indo para a escola e ela tendo que se preparar para a reunião com Eduardo. Ao longo do dia, sua mente vagava entre as tarefas do trabalho e a expectativa do encontro. Ela tentava se convencer de que não havia nada de especial, que era apenas um jantar de negócios, mas havia uma ansiedade sutil que a acompanhava.Quando o relógio marcou o horário, Sofia se arrumou com cuidado. Optou por um vestido simples, mas elegante, e se olhou no espelho, procurando alguma segurança. “É só um jantar”, repetiu para si mesma. Mas mesmo assim, uma pequena parte dela esperava que o encontro fosse mais do que isso.Ao chegar ao restaurante, Sofia sentiu um frio na barriga ao avistar Eduardo na entrada. Ele estava elegante, como sempre, com um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Mas, ao se aproximar, notou que havia uma mulher ao lado dele — uma mulher alta, com cabelos longos e ondulados, usando um vestido ve
Eduardo dirigia calmamente pelas ruas tranquilas da cidade, a luz dos postes iluminando o caminho à sua frente. O jantar com Sofia e Laura ainda ocupava sua mente. O brilho dos sorrisos de Laura e a energia que ela trazia à mesa eram inegáveis, mas, enquanto pensava nela, uma parte dele sentia-se distante, quase indiferente. Ao chegar à casa de Laura, ele estacionou e virou-se para olhar para ela.— Obrigada pela noite, Eduardo. Você sempre sabe como tornar os jantares interessantes — Laura disse, um brilho nos olhos que indicava algo mais.Ele sorriu, mas não sentiu o mesmo entusiasmo que ela parecia expressar. Na verdade, não tinha certeza se queria que a amizade deles avançasse para algo romântico. Laura era inteligente e bonita, mas sua mente estava longe do romance. Eduardo sabia que seus sentimentos por ela eram platônicos.— Foi um prazer, Laura. Estava bom demais para ser só trabalho — respondeu ele, tentando manter o tom leve.Laura hesitou um instante, como se esperasse algo
A semana passou rapidamente e, finalmente, chegou o dia da reunião que definiria o primeiro caso de disputa de propriedade que Sofia estava resolvendo. Ela se sentava em sua mesa, revisando os documentos uma última vez antes de se encontrar com Eduardo. A ansiedade misturada com excitação a envolvia. O esforço que havia dedicado ao caso finalmente começava a dar frutos, e ela estava determinada a apresentar um resultado sólido.Quando o relógio marcou a hora da reunião, Sofia se dirigiu ao escritório de Eduardo. Ao entrar, ele a cumprimentou com um sorriso genuíno.— Sofia! Estou ansioso para saber como você resolveu a questão — disse ele, gesticulando para que ela se sentasse.Ela se acomodou e, enquanto explicava os detalhes do caso, notou que Eduardo ouvia atentamente, seus olhos brilhando de entusiasmo.— Então, basicamente, conseguimos chegar a um acordo que é vantajoso para ambas as partes — finalizou Sofia, sentindo uma onda de alívio.Eduardo sorriu e bateu palmas, animado.—
O dia começou ensolarado, e Eduardo chegou ao escritório com a mente focada no trabalho, mas Laura não tardou a aparecer. Desde o jantar, ela parecia determinada a se aproximar dele, buscando um momento a sós sempre que podiam. Embora Eduardo a visse como uma boa amiga e uma colega de trabalho, ele não podia ignorar a intensidade que ela trazia à conversa, como se houvesse uma expectativa escondida em suas interações.Laura entrou no escritório, com um sorriso que tentava parecer casual, mas que traía sua ansiedade.— Oi, Eduardo! Você tem um minuto? — perguntou, encostando-se na porta, sua voz suave e convidativa.Ele olhou para cima, um pouco surpreso, mas sorriu.— Claro, Laura. O que você precisa?— Eu estava pensando que poderíamos discutir alguns dos nossos projetos futuros. Acha que poderíamos almoçar juntos hoje? — Ela fez uma pausa, um brilho nos olhos que sugeria que ela esperava mais do que uma simples reunião de negócios.Eduardo hesitou, notando a expectativa no rosto del
Observar Gabriel sempre foi algo que me prendeu de uma forma que eu nunca consegui explicar. Até hoje, mesmo depois de tudo, meus olhos buscam os dele instintivamente. Como agora, enquanto ele está sentado no sofá da sala, a alguns metros de mim. Estamos aqui juntos, mas separados por um abismo invisível, o mesmo abismo que se abriu entre nós ao longo dos últimos anos. O som da televisão preenche o ambiente, mas é apenas ruído de fundo. Nem ele está prestando atenção, e eu muito menos.Nosso filho, Davi, de cinco anos, está brincando no chão com seus carrinhos. Ele parece alheio à tensão que permeia o espaço entre Gabriel e eu. Olho para o pequeno, e meu coração se enche de um amor imenso, mas logo depois, como sempre acontece, sinto aquele aperto familiar. O amor que eu ainda sinto por Gabriel é uma ferida que nunca cicatriza. Ele é o pai do meu filho, o homem com quem imaginei envelhecer, e, por mais que eu tente, não consigo deixar de amá-lo. Mesmo que ele já tenha deixado de me am