O sábado começou como a maioria dos fins de semana de Sofia: uma tentativa de equilibrar trabalho e vida pessoal. Ela sabia que Davi adorava quando seus avós o visitavam, então isso sempre lhe dava uma janela de tempo para resolver pendências do escritório antes de aproveitar o restante do dia com o filho. Naquela manhã, deixou Davi com Ana, e logo depois dirigiu até o escritório para adiantar algumas questões. Nada muito complexo, apenas revisões de documentos e algumas pendências que não queria arrastar para a semana seguinte.
O ambiente silencioso do escritório aos sábados era quase agradável. Sem o tumulto usual, Sofia conseguia se concentrar melhor. Sentada em sua mesa, ela revisava o contrato de um cliente quando seu telefone tocou. Olhando para o visor, viu o nome de Eduardo Vasconcelos. Sentiu uma leve surpresa, pois não esperava uma ligação dele tão cedo — especialmente em um sábado. — Bom dia, Eduardo — atendeu, tentando manter seu tom neutro, mas profissional. — Em que posso te ajudar? — Bom dia, Dra. Sofia — ele respondeu, com a voz firme, mas mantendo aquele tom enigmático de sempre. — Eu queria saber se você já teve algum avanço na questão da disputa de propriedade. A situação está ficando mais… delicada. Sofia percebeu a urgência em suas palavras, mas também notou que ele parecia estar testando-a. Eduardo era um cliente diferente. Ele não pedia ajuda, ele exigia eficiência, sem rodeios. — Estou trabalhando nisso — ela respondeu calmamente. — Já identifiquei algumas falhas no processo de venda e estou revisando as alegações da herdeira. Na segunda-feira, teremos uma reunião com a equipe para definir a estratégia. Prometo que estarei com tudo pronto antes de precisarmos tomar qualquer ação mais incisiva. Houve uma breve pausa do outro lado da linha, e Sofia quase pôde sentir o sorriso discreto de Eduardo. Não era um sorriso de satisfação, mas de reconhecimento. — Eu confio em você para resolver isso — ele disse, em um tom que sugeria mais do que apenas confiança profissional. — Espero que aproveite o fim de semana. Só queria garantir que as coisas estão caminhando. — Estão, pode ficar tranquilo — ela respondeu, mantendo a postura. — Tenha um bom fim de semana. — Você também, Sofia. A ligação se encerrou, e ela ficou olhando para o celular por um instante. Eduardo sempre tinha essa forma de falar que a deixava intrigada. Havia algo naquele homem que ia além dos negócios. Não era apenas a aparência ou a confiança — havia uma profundidade nele que Sofia não conseguia ignorar. Mas, por enquanto, ele era apenas um cliente. E, por mais que estivesse curiosa, ela sabia que precisava manter o foco. Depois de resolver as questões no escritório, Sofia voltou para casa. Seus pais já estavam lá, e Davi corria pelo quintal com seu avô, rindo e gritando de alegria. A visão trouxe um sorriso ao rosto de Sofia. A presença deles sempre a acalmava, especialmente quando sua mente estava cheia de pensamentos sobre trabalho e, ocasionalmente, sobre Gabriel. O restante do sábado passou de forma agradável. Sua mãe ajudou na cozinha, preparando um almoço simples, e a tarde foi recheada de conversas leves e risadas. Era o tipo de dia que fazia Sofia se lembrar de como era bom estar cercada de quem se ama. Com Davi e seus pais por perto, o mundo parecia menos complicado. No domingo de manhã, Gabriel chegou para buscar Davi. Como combinado, ele passaria o dia com o filho, levando-o para passear. Sofia, por outro lado, teria o dia livre, o que era raro. Ela se despediu de Davi com um abraço apertado e viu Gabriel sair com ele, ambos animados com os planos do dia. Com a casa vazia e sem compromissos, Sofia decidiu sair para dar uma volta. Precisava de um tempo para si, para respirar, sem pensar em trabalho ou nas complexidades de sua vida pessoal. Ela dirigiu até uma das praças mais tranquilas da cidade, onde costumava ir para clarear a mente. Enquanto caminhava pelas alamedas arborizadas, absorvendo a calma do lugar, ela avistou uma figura familiar. Eduardo Vasconcelos estava sentado em um dos bancos, lendo um jornal com um ar casual que parecia desconectado do ambiente em volta. Ele não era o tipo de pessoa que Sofia esperava encontrar ali, em um lugar tão simples e informal. Por um momento, ela hesitou. Poderia simplesmente seguir em frente, sem ser notada, mas sua curiosidade venceu. Algo a impulsionou a se aproximar. — Eduardo? — ela chamou, aproximando-se devagar. Ele levantou o olhar do jornal, surpreso por vê-la, mas logo deu aquele pequeno sorriso enigmático que já estava se tornando uma característica dele. — Dra. Sofia — ele disse, dobrando o jornal e indicando o espaço ao seu lado no banco. — Que coincidência. Não esperava te ver por aqui. — Nem eu — ela respondeu, sentando-se ao lado dele. — Costuma vir aqui? — De vez em quando. Gosto do silêncio. É um bom lugar para pensar — ele respondeu, olhando em volta, como se estivesse contemplando algo além do que os olhos podiam ver. Por um momento, ficaram em silêncio, ambos observando o movimento leve da praça. Crianças brincavam ao longe, pássaros cantavam nas árvores, e a brisa era suave. Sofia sentiu uma calma incomum ao lado dele, apesar de seu ar sempre tão misterioso. — Sobre o caso da disputa — ele começou, mas Sofia o interrompeu. — Vamos deixar o trabalho de lado por um momento. Estou aproveitando o domingo sem pensar nisso. Acho que você também deveria — ela disse com um sorriso leve. Eduardo riu baixinho, surpreso com a interrupção. — Você está certa. Trabalho é o que menos precisamos agora. Eles voltaram ao silêncio, mas dessa vez a atmosfera era mais leve. Eduardo parecia menos controlado, menos calculado. Sofia, por sua vez, percebeu que estava mais curiosa do que gostaria de admitir. Havia algo nele que a intrigava, e ela não conseguia decifrar o que era. — E você? O que faz quando não está salvando grandes empresários de problemas legais? — ele perguntou, virando-se para ela, com um olhar mais descontraído. Sofia riu, cruzando os braços de leve enquanto pensava na resposta. — Bom, entre ser mãe, advogada e, de vez em quando, filha dedicada, não sobra muito tempo para mais nada. Mas acho que tento encontrar pequenos momentos como esse. Só um pouco de paz. Eduardo assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer. — Paz. Algo que ando buscando há muito tempo — ele murmurou, olhando para o horizonte, com aquele ar distante novamente. Sofia o observou por um momento. Ele era um homem complicado, mas, ali, naquela praça, ele parecia quase vulnerável, algo que ela não havia visto até então. E isso apenas aumentava sua curiosidade sobre ele. — Talvez você encontre — ela disse suavemente, sem saber exatamente por que sentiu a necessidade de dizer isso. Ele a olhou, e por um instante, o mistério que o cercava pareceu se dissipar. Não havia máscaras ali, apenas dois estranhos que, de alguma forma, estavam se conectando em um nível que ela não esperava. Depois de um tempo, Eduardo se levantou. — Foi bom te encontrar, Sofia. Espero que tenha um bom resto de domingo — ele disse, com aquele meio sorriso característico, antes de se afastar. Sofia o observou partir, sentindo-se estranhamente energizada pelo breve encontro. Eduardo era, sem dúvida, um homem intrigante. E, embora ainda não tivesse certeza do que pensar sobre ele, uma coisa era clara: ele não saía mais facilmente de sua cabeça.A segunda-feira chegou com a rapidez de um relâmpago. Sofia acordou cedo, sentindo o peso da reunião com a equipe pairar sobre seus ombros. O caso de Eduardo Vasconcelos, um empresário do setor imobiliário, estava se desenrolando rapidamente, e a disputa de propriedade precisava ser abordada com seriedade. O último que ela queria era desapontar seus clientes, especialmente alguém tão enigmático e exigente quanto Eduardo.Enquanto se preparava, ela não conseguia deixar de pensar no encontro casual que teve com ele no domingo. Era um sentimento novo e inquietante — um misto de curiosidade e excitação que a fazia questionar se estava realmente pronta para isso. Com o café na mão, observou Davi brincar enquanto se arrumava. A visão dele sorrindo, totalmente alheio às suas preocupações, a lembrava do que realmente importava em sua vida.— Mamãe, você vai ficar em casa hoje? — Davi perguntou, sua voz doce cortando os pensamentos de Sofia.— Não, meu amor. Vou trabalhar, mas você vai se dive
A noite estava tranquila quando Gabriel chegou à casa de Sofia. O céu se tingia de laranja e roxo, sinalizando o início do crepúsculo, enquanto Davi brincava na sala, imerso em seu mundo de blocos de montar. Sofia estava na cozinha, preparando um lanche rápido quando ouviu a campainha tocar. Com um sorriso involuntário, ela foi até a porta, reconhecendo o som familiar da voz de Gabriel do outro lado.— Oi, Davi! — ele disse, agachando-se para cumprimentar o filho. A alegria no rosto de Davi ao ver o pai era inegável, e isso fez o coração de Sofia se aquecer.— Papai! — Davi exclamou, correndo em direção a Gabriel e envolvendo-o em um abraço apertado. Sofia observou a cena, sentindo uma onda de nostalgia a atingir. Havia algo no jeito como Gabriel interagia com Davi que a fazia lembrar dos momentos bons que tiveram como família.— Estou pronto para o jantar. Você está pronta? — Gabriel perguntou, olhando para Davi, que estava quase pulando de excitação.— Sim! — Davi respondeu, e então
A quarta-feira chegou mais rápido do que Sofia esperava. A manhã começou agitada, com Davi indo para a escola e ela tendo que se preparar para a reunião com Eduardo. Ao longo do dia, sua mente vagava entre as tarefas do trabalho e a expectativa do encontro. Ela tentava se convencer de que não havia nada de especial, que era apenas um jantar de negócios, mas havia uma ansiedade sutil que a acompanhava.Quando o relógio marcou o horário, Sofia se arrumou com cuidado. Optou por um vestido simples, mas elegante, e se olhou no espelho, procurando alguma segurança. “É só um jantar”, repetiu para si mesma. Mas mesmo assim, uma pequena parte dela esperava que o encontro fosse mais do que isso.Ao chegar ao restaurante, Sofia sentiu um frio na barriga ao avistar Eduardo na entrada. Ele estava elegante, como sempre, com um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Mas, ao se aproximar, notou que havia uma mulher ao lado dele — uma mulher alta, com cabelos longos e ondulados, usando um vestido ve
Eduardo dirigia calmamente pelas ruas tranquilas da cidade, a luz dos postes iluminando o caminho à sua frente. O jantar com Sofia e Laura ainda ocupava sua mente. O brilho dos sorrisos de Laura e a energia que ela trazia à mesa eram inegáveis, mas, enquanto pensava nela, uma parte dele sentia-se distante, quase indiferente. Ao chegar à casa de Laura, ele estacionou e virou-se para olhar para ela.— Obrigada pela noite, Eduardo. Você sempre sabe como tornar os jantares interessantes — Laura disse, um brilho nos olhos que indicava algo mais.Ele sorriu, mas não sentiu o mesmo entusiasmo que ela parecia expressar. Na verdade, não tinha certeza se queria que a amizade deles avançasse para algo romântico. Laura era inteligente e bonita, mas sua mente estava longe do romance. Eduardo sabia que seus sentimentos por ela eram platônicos.— Foi um prazer, Laura. Estava bom demais para ser só trabalho — respondeu ele, tentando manter o tom leve.Laura hesitou um instante, como se esperasse algo
A semana passou rapidamente e, finalmente, chegou o dia da reunião que definiria o primeiro caso de disputa de propriedade que Sofia estava resolvendo. Ela se sentava em sua mesa, revisando os documentos uma última vez antes de se encontrar com Eduardo. A ansiedade misturada com excitação a envolvia. O esforço que havia dedicado ao caso finalmente começava a dar frutos, e ela estava determinada a apresentar um resultado sólido.Quando o relógio marcou a hora da reunião, Sofia se dirigiu ao escritório de Eduardo. Ao entrar, ele a cumprimentou com um sorriso genuíno.— Sofia! Estou ansioso para saber como você resolveu a questão — disse ele, gesticulando para que ela se sentasse.Ela se acomodou e, enquanto explicava os detalhes do caso, notou que Eduardo ouvia atentamente, seus olhos brilhando de entusiasmo.— Então, basicamente, conseguimos chegar a um acordo que é vantajoso para ambas as partes — finalizou Sofia, sentindo uma onda de alívio.Eduardo sorriu e bateu palmas, animado.—
O dia começou ensolarado, e Eduardo chegou ao escritório com a mente focada no trabalho, mas Laura não tardou a aparecer. Desde o jantar, ela parecia determinada a se aproximar dele, buscando um momento a sós sempre que podiam. Embora Eduardo a visse como uma boa amiga e uma colega de trabalho, ele não podia ignorar a intensidade que ela trazia à conversa, como se houvesse uma expectativa escondida em suas interações.Laura entrou no escritório, com um sorriso que tentava parecer casual, mas que traía sua ansiedade.— Oi, Eduardo! Você tem um minuto? — perguntou, encostando-se na porta, sua voz suave e convidativa.Ele olhou para cima, um pouco surpreso, mas sorriu.— Claro, Laura. O que você precisa?— Eu estava pensando que poderíamos discutir alguns dos nossos projetos futuros. Acha que poderíamos almoçar juntos hoje? — Ela fez uma pausa, um brilho nos olhos que sugeria que ela esperava mais do que uma simples reunião de negócios.Eduardo hesitou, notando a expectativa no rosto del
Observar Gabriel sempre foi algo que me prendeu de uma forma que eu nunca consegui explicar. Até hoje, mesmo depois de tudo, meus olhos buscam os dele instintivamente. Como agora, enquanto ele está sentado no sofá da sala, a alguns metros de mim. Estamos aqui juntos, mas separados por um abismo invisível, o mesmo abismo que se abriu entre nós ao longo dos últimos anos. O som da televisão preenche o ambiente, mas é apenas ruído de fundo. Nem ele está prestando atenção, e eu muito menos.Nosso filho, Davi, de cinco anos, está brincando no chão com seus carrinhos. Ele parece alheio à tensão que permeia o espaço entre Gabriel e eu. Olho para o pequeno, e meu coração se enche de um amor imenso, mas logo depois, como sempre acontece, sinto aquele aperto familiar. O amor que eu ainda sinto por Gabriel é uma ferida que nunca cicatriza. Ele é o pai do meu filho, o homem com quem imaginei envelhecer, e, por mais que eu tente, não consigo deixar de amá-lo. Mesmo que ele já tenha deixado de me am
Sofia sempre foi uma mulher prática. Desde jovem, aprendeu a traçar planos e a se agarrar a eles com determinação. Quando decidiu que queria ser advogada, ninguém a deteve. Enfrentou os anos de faculdade com a mesma disciplina que aplicava a tudo em sua vida: horários controlados, dedicação inquestionável, um foco quase obsessivo em ser bem-sucedida. E foi. Construiu uma carreira sólida, tornou-se uma advogada respeitada e rapidamente subiu na hierarquia do escritório onde trabalhava. Ela tinha tudo planejado, até mesmo a vida pessoal.O casamento com Gabriel parecia encaixar perfeitamente nos seus planos. Ele era estável, atencioso, e eles compartilhavam a mesma visão de construir uma família. Pelo menos no início. Mas com o tempo, enquanto Sofia crescia profissionalmente e enfrentava as demandas de ser mãe, sentia que algo se perdia entre eles. Gabriel, por outro lado, sempre foi mais espontâneo. Nunca teve a mesma pressa que ela para atingir metas, não se importava tanto com o suce