Capítulo 6

O sábado começou como a maioria dos fins de semana de Sofia: uma tentativa de equilibrar trabalho e vida pessoal. Ela sabia que Davi adorava quando seus avós o visitavam, então isso sempre lhe dava uma janela de tempo para resolver pendências do escritório antes de aproveitar o restante do dia com o filho. Naquela manhã, deixou Davi com Ana, e logo depois dirigiu até o escritório para adiantar algumas questões. Nada muito complexo, apenas revisões de documentos e algumas pendências que não queria arrastar para a semana seguinte.

O ambiente silencioso do escritório aos sábados era quase agradável. Sem o tumulto usual, Sofia conseguia se concentrar melhor. Sentada em sua mesa, ela revisava o contrato de um cliente quando seu telefone tocou. Olhando para o visor, viu o nome de Eduardo Vasconcelos. Sentiu uma leve surpresa, pois não esperava uma ligação dele tão cedo — especialmente em um sábado.

— Bom dia, Eduardo — atendeu, tentando manter seu tom neutro, mas profissional. — Em que posso te ajudar?

— Bom dia, Dra. Sofia — ele respondeu, com a voz firme, mas mantendo aquele tom enigmático de sempre. — Eu queria saber se você já teve algum avanço na questão da disputa de propriedade. A situação está ficando mais… delicada.

Sofia percebeu a urgência em suas palavras, mas também notou que ele parecia estar testando-a. Eduardo era um cliente diferente. Ele não pedia ajuda, ele exigia eficiência, sem rodeios.

— Estou trabalhando nisso — ela respondeu calmamente. — Já identifiquei algumas falhas no processo de venda e estou revisando as alegações da herdeira. Na segunda-feira, teremos uma reunião com a equipe para definir a estratégia. Prometo que estarei com tudo pronto antes de precisarmos tomar qualquer ação mais incisiva.

Houve uma breve pausa do outro lado da linha, e Sofia quase pôde sentir o sorriso discreto de Eduardo. Não era um sorriso de satisfação, mas de reconhecimento.

— Eu confio em você para resolver isso — ele disse, em um tom que sugeria mais do que apenas confiança profissional. — Espero que aproveite o fim de semana. Só queria garantir que as coisas estão caminhando.

— Estão, pode ficar tranquilo — ela respondeu, mantendo a postura. — Tenha um bom fim de semana.

— Você também, Sofia.

A ligação se encerrou, e ela ficou olhando para o celular por um instante. Eduardo sempre tinha essa forma de falar que a deixava intrigada. Havia algo naquele homem que ia além dos negócios. Não era apenas a aparência ou a confiança — havia uma profundidade nele que Sofia não conseguia ignorar. Mas, por enquanto, ele era apenas um cliente. E, por mais que estivesse curiosa, ela sabia que precisava manter o foco.

Depois de resolver as questões no escritório, Sofia voltou para casa. Seus pais já estavam lá, e Davi corria pelo quintal com seu avô, rindo e gritando de alegria. A visão trouxe um sorriso ao rosto de Sofia. A presença deles sempre a acalmava, especialmente quando sua mente estava cheia de pensamentos sobre trabalho e, ocasionalmente, sobre Gabriel.

O restante do sábado passou de forma agradável. Sua mãe ajudou na cozinha, preparando um almoço simples, e a tarde foi recheada de conversas leves e risadas. Era o tipo de dia que fazia Sofia se lembrar de como era bom estar cercada de quem se ama. Com Davi e seus pais por perto, o mundo parecia menos complicado.

No domingo de manhã, Gabriel chegou para buscar Davi. Como combinado, ele passaria o dia com o filho, levando-o para passear. Sofia, por outro lado, teria o dia livre, o que era raro. Ela se despediu de Davi com um abraço apertado e viu Gabriel sair com ele, ambos animados com os planos do dia.

Com a casa vazia e sem compromissos, Sofia decidiu sair para dar uma volta. Precisava de um tempo para si, para respirar, sem pensar em trabalho ou nas complexidades de sua vida pessoal. Ela dirigiu até uma das praças mais tranquilas da cidade, onde costumava ir para clarear a mente.

Enquanto caminhava pelas alamedas arborizadas, absorvendo a calma do lugar, ela avistou uma figura familiar. Eduardo Vasconcelos estava sentado em um dos bancos, lendo um jornal com um ar casual que parecia desconectado do ambiente em volta. Ele não era o tipo de pessoa que Sofia esperava encontrar ali, em um lugar tão simples e informal.

Por um momento, ela hesitou. Poderia simplesmente seguir em frente, sem ser notada, mas sua curiosidade venceu. Algo a impulsionou a se aproximar.

— Eduardo? — ela chamou, aproximando-se devagar. Ele levantou o olhar do jornal, surpreso por vê-la, mas logo deu aquele pequeno sorriso enigmático que já estava se tornando uma característica dele.

— Dra. Sofia — ele disse, dobrando o jornal e indicando o espaço ao seu lado no banco. — Que coincidência. Não esperava te ver por aqui.

— Nem eu — ela respondeu, sentando-se ao lado dele. — Costuma vir aqui?

— De vez em quando. Gosto do silêncio. É um bom lugar para pensar — ele respondeu, olhando em volta, como se estivesse contemplando algo além do que os olhos podiam ver.

Por um momento, ficaram em silêncio, ambos observando o movimento leve da praça. Crianças brincavam ao longe, pássaros cantavam nas árvores, e a brisa era suave. Sofia sentiu uma calma incomum ao lado dele, apesar de seu ar sempre tão misterioso.

— Sobre o caso da disputa — ele começou, mas Sofia o interrompeu.

— Vamos deixar o trabalho de lado por um momento. Estou aproveitando o domingo sem pensar nisso. Acho que você também deveria — ela disse com um sorriso leve.

Eduardo riu baixinho, surpreso com a interrupção.

— Você está certa. Trabalho é o que menos precisamos agora.

Eles voltaram ao silêncio, mas dessa vez a atmosfera era mais leve. Eduardo parecia menos controlado, menos calculado. Sofia, por sua vez, percebeu que estava mais curiosa do que gostaria de admitir. Havia algo nele que a intrigava, e ela não conseguia decifrar o que era.

— E você? O que faz quando não está salvando grandes empresários de problemas legais? — ele perguntou, virando-se para ela, com um olhar mais descontraído.

Sofia riu, cruzando os braços de leve enquanto pensava na resposta.

— Bom, entre ser mãe, advogada e, de vez em quando, filha dedicada, não sobra muito tempo para mais nada. Mas acho que tento encontrar pequenos momentos como esse. Só um pouco de paz.

Eduardo assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer.

— Paz. Algo que ando buscando há muito tempo — ele murmurou, olhando para o horizonte, com aquele ar distante novamente.

Sofia o observou por um momento. Ele era um homem complicado, mas, ali, naquela praça, ele parecia quase vulnerável, algo que ela não havia visto até então. E isso apenas aumentava sua curiosidade sobre ele.

— Talvez você encontre — ela disse suavemente, sem saber exatamente por que sentiu a necessidade de dizer isso.

Ele a olhou, e por um instante, o mistério que o cercava pareceu se dissipar. Não havia máscaras ali, apenas dois estranhos que, de alguma forma, estavam se conectando em um nível que ela não esperava.

Depois de um tempo, Eduardo se levantou.

— Foi bom te encontrar, Sofia. Espero que tenha um bom resto de domingo — ele disse, com aquele meio sorriso característico, antes de se afastar.

Sofia o observou partir, sentindo-se estranhamente energizada pelo breve encontro. Eduardo era, sem dúvida, um homem intrigante. E, embora ainda não tivesse certeza do que pensar sobre ele, uma coisa era clara: ele não saía mais facilmente de sua cabeça.

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