Sofia sempre foi uma mulher prática. Desde jovem, aprendeu a traçar planos e a se agarrar a eles com determinação. Quando decidiu que queria ser advogada, ninguém a deteve. Enfrentou os anos de faculdade com a mesma disciplina que aplicava a tudo em sua vida: horários controlados, dedicação inquestionável, um foco quase obsessivo em ser bem-sucedida. E foi. Construiu uma carreira sólida, tornou-se uma advogada respeitada e rapidamente subiu na hierarquia do escritório onde trabalhava. Ela tinha tudo planejado, até mesmo a vida pessoal.
O casamento com Gabriel parecia encaixar perfeitamente nos seus planos. Ele era estável, atencioso, e eles compartilhavam a mesma visão de construir uma família. Pelo menos no início. Mas com o tempo, enquanto Sofia crescia profissionalmente e enfrentava as demandas de ser mãe, sentia que algo se perdia entre eles. Gabriel, por outro lado, sempre foi mais espontâneo. Nunca teve a mesma pressa que ela para atingir metas, não se importava tanto com o sucesso no trabalho. Ele gostava de viver o presente, algo que Sofia admirava, mas que também a frustrava. Após o nascimento de Davi, o fosso entre eles começou a crescer de forma mais evidente. Sofia se jogou no trabalho, buscando um equilíbrio entre ser mãe e não perder o controle de sua carreira. Gabriel, no entanto, parecia cada vez mais distante, ocupado com pequenas coisas, passatempos, algo que Sofia enxergava como falta de ambição. Eles ainda compartilhavam o espaço físico, mas emocionalmente, já estavam em universos diferentes. Ela sabia que parte da culpa era sua. As longas horas no escritório, as noites em que preferia revisar contratos a discutir os problemas do casamento. Gabriel dizia que ela vivia em um ritmo que não dava espaço para o inesperado, que a vida não era uma linha reta. E ela sabia que, de certa forma, ele estava certo, mas nunca admitiu. Não até que fosse tarde demais. Agora, separada há mais de um ano, Sofia continuava agarrada ao pouco que restava da vida que eles tinham construído. Davi era seu laço com Gabriel, e os momentos que compartilhavam como pais eram a única maneira de ela permanecer ligada a ele. O amor por Gabriel, embora escondido, ainda estava lá, como um fantasma que a seguia em cada canto de sua vida. E, apesar de tentar focar em seu trabalho e em seu filho, não conseguia deixar de pensar que, talvez, houvesse uma chance de reconciliação, por mais improvável que fosse. Naquela tarde, no entanto, algo quebrou suas ilusões. Ela estava no escritório, terminando de revisar um processo importante, quando uma mensagem de uma amiga apareceu em seu telefone. Era uma foto, aparentemente casual, de Gabriel sentado em um café com uma mulher. Eles estavam rindo, próximos demais para serem apenas conhecidos. O coração de Sofia deu um salto. Ela abriu a foto e a olhou fixamente, como se esperasse que, se analisasse bem, descobriria que era um mal-entendido. Mas não era. A legenda de sua amiga era clara: “Parece que o Gabriel está conhecendo alguém.” Sofia sentiu um frio na espinha. Era como se o ar tivesse sido sugado da sala. Ela olhou para a imagem novamente, procurando algo que negasse o óbvio, mas tudo estava ali. A maneira como ele sorria, um sorriso que ela conhecia tão bem, que já tinha sido só dela. E a mulher, com seus cabelos curtos e modernos, estava inclinada para ele, como se já houvesse uma intimidade entre os dois. Era uma imagem comum, mas para Sofia, aquilo era devastador. Ela tentou focar no trabalho, nos papéis à sua frente, mas tudo parecia desmoronar ao redor. Por mais que soubesse que Gabriel já havia se distanciado há tempos, ver aquilo concretamente, ver a possibilidade de ele estar com outra pessoa, era uma dor que ela não esperava. Durante meses, ela se agarrara à ideia de que, mesmo separados, ainda havia algo entre eles. Mas ali, diante daquela imagem, Sofia percebeu o quanto estava enganada. Gabriel estava seguindo em frente. E ela? No caminho para casa, as ruas pareciam borradas, e as vozes ao seu redor eram abafadas, como se ela estivesse envolta em uma bolha de pensamentos. O mundo estava seguindo em frente, e Sofia estava presa. Era como se, enquanto Gabriel abria novas portas, ela estivesse trancada em uma casa vazia, revivendo memórias de algo que já havia terminado. Quando chegou em casa, Davi estava na sala brincando com os mesmos carrinhos de sempre. Ela sorriu para ele, tentando esconder o turbilhão dentro de si. Sabia que, por mais que quisesse se entregar à tristeza, precisava ser forte para o filho. Sentou-se ao lado dele e o observou brincar, sem conseguir deixar de pensar no que viria depois. Como seguir em frente quando o amor que ainda sentia estava destinado a permanecer no passado? Sofia sabia que teria de se reinventar, de aprender a viver sem a sombra de Gabriel pairando sobre cada decisão sua. E, pela primeira vez em muito tempo, começou a pensar que talvez fosse a hora de deixar esse amor ir.A casa dos meus pais sempre foi o refúgio onde eu podia desligar a cabeça por algumas horas. Sabe, aquele lugar onde a vida parece mais simples? Onde os problemas, mesmo os maiores, se dissipam como poeira no vento? E foi para lá que eu fui depois de ver aquela foto de Gabriel com a outra mulher. Dirigir até a casa deles me deu a sensação de estar voltando para a adolescência, quando qualquer problema parecia menor assim que eu atravessava aquela porta.Minha mãe, claro, percebeu de imediato que algo não estava certo. Ela tem esse talento. Assim que entrei, sem precisar dizer uma palavra, ela me olhou com aquele jeito que só mães têm e já estava me oferecendo café. “Vem, filha, senta aqui. Me conta o que aconteceu.”Eu sentei, e o cheiro familiar de bolo recém-saído do forno me acolheu. Não tinha nem fome, mas só de sentir o calor daquela casa, a vida parecia menos pesada. Meu pai estava lá fora, podando as plantas como fazia todo domingo. Sempre gostei de como ele era simples em suas
Naquela manhã, o escritório parecia mais agitado do que o normal. Pilhas de processos se acumulavam sobre a mesa de Sofia, mas ela já estava acostumada com o ritmo. A advocacia sempre foi um ambiente de alta pressão, e Sofia florescia nisso. A lista de clientes era extensa e o volume de trabalho, intenso, mas ela gostava de se perder nos detalhes dos casos, nas complexidades que exigiam que sua mente se mantivesse ocupada. Era assim que ela funcionava — resolvendo problemas. No trabalho, pelo menos, tudo parecia sob controle, ao contrário da bagunça emocional que era sua vida pessoal.— Sofia, o novo cliente está esperando na sala de reuniões. — A voz de Camila, sua assistente, soou no interfone, tirando Sofia de seus pensamentos. — O nome dele é Eduardo Vasconcelos.Sofia franziu a testa, tentando lembrar-se do nome, mas não conseguiu associar a ninguém. Ele deveria ser um dos novos casos que o sócio, Paulo, havia mencionado rapidamente durante a última reunião. Um cliente importante
Sofia saiu do escritório com o céu já tingido por tons de laranja e rosa, o fim de tarde caindo suavemente sobre a cidade. A reunião com Eduardo Vasconcelos havia sido longa e cheia de nuances, e ela sabia que o caso iria consumir bastante tempo e energia nas próximas semanas. Enquanto caminhava até o carro, pensava sobre o que ele havia dito — e, mais importante, o que ele não disse. Eduardo parecia ser um homem de muitos segredos, e Sofia tinha certeza de que descobriria todos eles com o tempo.No entanto, enquanto dirigia pelas ruas movimentadas, sua mente vagou para outra questão: Gabriel. Ou melhor, a ausência do pensamento constante em Gabriel. Nos últimos meses, sua cabeça era um turbilhão de emoções mal resolvidas sobre ele, mas, de algum modo, as coisas estavam diferentes agora. O fato de ele ter encontrado alguém, de ter confessado isso a ela de forma tão aberta, trouxe uma estranha sensação de… alívio.Claro, ainda havia uma ponta de dor, como uma cicatriz que incomoda de v
O sábado começou como a maioria dos fins de semana de Sofia: uma tentativa de equilibrar trabalho e vida pessoal. Ela sabia que Davi adorava quando seus avós o visitavam, então isso sempre lhe dava uma janela de tempo para resolver pendências do escritório antes de aproveitar o restante do dia com o filho. Naquela manhã, deixou Davi com Ana, e logo depois dirigiu até o escritório para adiantar algumas questões. Nada muito complexo, apenas revisões de documentos e algumas pendências que não queria arrastar para a semana seguinte.O ambiente silencioso do escritório aos sábados era quase agradável. Sem o tumulto usual, Sofia conseguia se concentrar melhor. Sentada em sua mesa, ela revisava o contrato de um cliente quando seu telefone tocou. Olhando para o visor, viu o nome de Eduardo Vasconcelos. Sentiu uma leve surpresa, pois não esperava uma ligação dele tão cedo — especialmente em um sábado.— Bom dia, Eduardo — atendeu, tentando manter seu tom neutro, mas profissional. — Em que poss
A segunda-feira chegou com a rapidez de um relâmpago. Sofia acordou cedo, sentindo o peso da reunião com a equipe pairar sobre seus ombros. O caso de Eduardo Vasconcelos, um empresário do setor imobiliário, estava se desenrolando rapidamente, e a disputa de propriedade precisava ser abordada com seriedade. O último que ela queria era desapontar seus clientes, especialmente alguém tão enigmático e exigente quanto Eduardo.Enquanto se preparava, ela não conseguia deixar de pensar no encontro casual que teve com ele no domingo. Era um sentimento novo e inquietante — um misto de curiosidade e excitação que a fazia questionar se estava realmente pronta para isso. Com o café na mão, observou Davi brincar enquanto se arrumava. A visão dele sorrindo, totalmente alheio às suas preocupações, a lembrava do que realmente importava em sua vida.— Mamãe, você vai ficar em casa hoje? — Davi perguntou, sua voz doce cortando os pensamentos de Sofia.— Não, meu amor. Vou trabalhar, mas você vai se dive
A noite estava tranquila quando Gabriel chegou à casa de Sofia. O céu se tingia de laranja e roxo, sinalizando o início do crepúsculo, enquanto Davi brincava na sala, imerso em seu mundo de blocos de montar. Sofia estava na cozinha, preparando um lanche rápido quando ouviu a campainha tocar. Com um sorriso involuntário, ela foi até a porta, reconhecendo o som familiar da voz de Gabriel do outro lado.— Oi, Davi! — ele disse, agachando-se para cumprimentar o filho. A alegria no rosto de Davi ao ver o pai era inegável, e isso fez o coração de Sofia se aquecer.— Papai! — Davi exclamou, correndo em direção a Gabriel e envolvendo-o em um abraço apertado. Sofia observou a cena, sentindo uma onda de nostalgia a atingir. Havia algo no jeito como Gabriel interagia com Davi que a fazia lembrar dos momentos bons que tiveram como família.— Estou pronto para o jantar. Você está pronta? — Gabriel perguntou, olhando para Davi, que estava quase pulando de excitação.— Sim! — Davi respondeu, e então
A quarta-feira chegou mais rápido do que Sofia esperava. A manhã começou agitada, com Davi indo para a escola e ela tendo que se preparar para a reunião com Eduardo. Ao longo do dia, sua mente vagava entre as tarefas do trabalho e a expectativa do encontro. Ela tentava se convencer de que não havia nada de especial, que era apenas um jantar de negócios, mas havia uma ansiedade sutil que a acompanhava.Quando o relógio marcou o horário, Sofia se arrumou com cuidado. Optou por um vestido simples, mas elegante, e se olhou no espelho, procurando alguma segurança. “É só um jantar”, repetiu para si mesma. Mas mesmo assim, uma pequena parte dela esperava que o encontro fosse mais do que isso.Ao chegar ao restaurante, Sofia sentiu um frio na barriga ao avistar Eduardo na entrada. Ele estava elegante, como sempre, com um sorriso que parecia iluminar o ambiente. Mas, ao se aproximar, notou que havia uma mulher ao lado dele — uma mulher alta, com cabelos longos e ondulados, usando um vestido ve
Eduardo dirigia calmamente pelas ruas tranquilas da cidade, a luz dos postes iluminando o caminho à sua frente. O jantar com Sofia e Laura ainda ocupava sua mente. O brilho dos sorrisos de Laura e a energia que ela trazia à mesa eram inegáveis, mas, enquanto pensava nela, uma parte dele sentia-se distante, quase indiferente. Ao chegar à casa de Laura, ele estacionou e virou-se para olhar para ela.— Obrigada pela noite, Eduardo. Você sempre sabe como tornar os jantares interessantes — Laura disse, um brilho nos olhos que indicava algo mais.Ele sorriu, mas não sentiu o mesmo entusiasmo que ela parecia expressar. Na verdade, não tinha certeza se queria que a amizade deles avançasse para algo romântico. Laura era inteligente e bonita, mas sua mente estava longe do romance. Eduardo sabia que seus sentimentos por ela eram platônicos.— Foi um prazer, Laura. Estava bom demais para ser só trabalho — respondeu ele, tentando manter o tom leve.Laura hesitou um instante, como se esperasse algo