Capítulo 2

Sofia sempre foi uma mulher prática. Desde jovem, aprendeu a traçar planos e a se agarrar a eles com determinação. Quando decidiu que queria ser advogada, ninguém a deteve. Enfrentou os anos de faculdade com a mesma disciplina que aplicava a tudo em sua vida: horários controlados, dedicação inquestionável, um foco quase obsessivo em ser bem-sucedida. E foi. Construiu uma carreira sólida, tornou-se uma advogada respeitada e rapidamente subiu na hierarquia do escritório onde trabalhava. Ela tinha tudo planejado, até mesmo a vida pessoal.

O casamento com Gabriel parecia encaixar perfeitamente nos seus planos. Ele era estável, atencioso, e eles compartilhavam a mesma visão de construir uma família. Pelo menos no início. Mas com o tempo, enquanto Sofia crescia profissionalmente e enfrentava as demandas de ser mãe, sentia que algo se perdia entre eles. Gabriel, por outro lado, sempre foi mais espontâneo. Nunca teve a mesma pressa que ela para atingir metas, não se importava tanto com o sucesso no trabalho. Ele gostava de viver o presente, algo que Sofia admirava, mas que também a frustrava.

Após o nascimento de Davi, o fosso entre eles começou a crescer de forma mais evidente. Sofia se jogou no trabalho, buscando um equilíbrio entre ser mãe e não perder o controle de sua carreira. Gabriel, no entanto, parecia cada vez mais distante, ocupado com pequenas coisas, passatempos, algo que Sofia enxergava como falta de ambição. Eles ainda compartilhavam o espaço físico, mas emocionalmente, já estavam em universos diferentes.

Ela sabia que parte da culpa era sua. As longas horas no escritório, as noites em que preferia revisar contratos a discutir os problemas do casamento. Gabriel dizia que ela vivia em um ritmo que não dava espaço para o inesperado, que a vida não era uma linha reta. E ela sabia que, de certa forma, ele estava certo, mas nunca admitiu. Não até que fosse tarde demais.

Agora, separada há mais de um ano, Sofia continuava agarrada ao pouco que restava da vida que eles tinham construído. Davi era seu laço com Gabriel, e os momentos que compartilhavam como pais eram a única maneira de ela permanecer ligada a ele. O amor por Gabriel, embora escondido, ainda estava lá, como um fantasma que a seguia em cada canto de sua vida. E, apesar de tentar focar em seu trabalho e em seu filho, não conseguia deixar de pensar que, talvez, houvesse uma chance de reconciliação, por mais improvável que fosse.

Naquela tarde, no entanto, algo quebrou suas ilusões. Ela estava no escritório, terminando de revisar um processo importante, quando uma mensagem de uma amiga apareceu em seu telefone. Era uma foto, aparentemente casual, de Gabriel sentado em um café com uma mulher. Eles estavam rindo, próximos demais para serem apenas conhecidos. O coração de Sofia deu um salto. Ela abriu a foto e a olhou fixamente, como se esperasse que, se analisasse bem, descobriria que era um mal-entendido. Mas não era. A legenda de sua amiga era clara: “Parece que o Gabriel está conhecendo alguém.”

Sofia sentiu um frio na espinha. Era como se o ar tivesse sido sugado da sala. Ela olhou para a imagem novamente, procurando algo que negasse o óbvio, mas tudo estava ali. A maneira como ele sorria, um sorriso que ela conhecia tão bem, que já tinha sido só dela. E a mulher, com seus cabelos curtos e modernos, estava inclinada para ele, como se já houvesse uma intimidade entre os dois. Era uma imagem comum, mas para Sofia, aquilo era devastador.

Ela tentou focar no trabalho, nos papéis à sua frente, mas tudo parecia desmoronar ao redor. Por mais que soubesse que Gabriel já havia se distanciado há tempos, ver aquilo concretamente, ver a possibilidade de ele estar com outra pessoa, era uma dor que ela não esperava. Durante meses, ela se agarrara à ideia de que, mesmo separados, ainda havia algo entre eles. Mas ali, diante daquela imagem, Sofia percebeu o quanto estava enganada. Gabriel estava seguindo em frente. E ela?

No caminho para casa, as ruas pareciam borradas, e as vozes ao seu redor eram abafadas, como se ela estivesse envolta em uma bolha de pensamentos. O mundo estava seguindo em frente, e Sofia estava presa. Era como se, enquanto Gabriel abria novas portas, ela estivesse trancada em uma casa vazia, revivendo memórias de algo que já havia terminado.

Quando chegou em casa, Davi estava na sala brincando com os mesmos carrinhos de sempre. Ela sorriu para ele, tentando esconder o turbilhão dentro de si. Sabia que, por mais que quisesse se entregar à tristeza, precisava ser forte para o filho. Sentou-se ao lado dele e o observou brincar, sem conseguir deixar de pensar no que viria depois. Como seguir em frente quando o amor que ainda sentia estava destinado a permanecer no passado?

Sofia sabia que teria de se reinventar, de aprender a viver sem a sombra de Gabriel pairando sobre cada decisão sua. E, pela primeira vez em muito tempo, começou a pensar que talvez fosse a hora de deixar esse amor ir.

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