Depois de mais uma noite cansativa no hospital municipal, Raphael contava as horas para ir para casa. Independente como sempre foi, ele aprendeu cedo a cuidar de si mesmo e dos outros. No orfanato onde cresceu, enfrentou a difícil situação de não ser adotado e sabendo que precisaria se virar sozinho na vida, tratou de aprender tudo o que poderia aprender.
Aos dez anos começou a trabalhar como auxiliar da enfermeira do orfanato, onde aprendeu a amar o ofício, e agora, aos dezoito anos, era técnico em enfermagem no hospital municipal da cidade.
Seu plantão ia até às seis da manhã, mas olhando para a programação diária percebeu que já tinha feito quase tudo, e mesmo ainda faltando pouco mais de uma hora e meia para ir embora, faltava apenas a última ronda nos leitos. Então com a força revigorada de quem está prestes a terminar um cansativo dia de serviço, revisou os prontuários, separou os medicamentos respectivos, e seguiu para os leitos.
Um a um, ele foi recebido com sorrisos dos pacientes que estavam acordados, e após os procedimentos despediu-se sob os protestos de quem preferia seus cuidados aos de outros enfermeiros.
— ¡Mis pacientes siguen preguntando por ti, Rapha! — disse um enfermeiro, entrando no posto de enfermagem e servindo-se de um copo de café, enquanto ele conferia as fichas dos pacientes — Se quiser pode ficar com todos eles, estou louco para ir pra casa ver Enrico.
— El amor es realmente hermoso, Ramon — Raphael disse sorrindo —, mas sei que você não está falando sério.
— Realmente é só da boca para fora, amigo — Ramon respondeu, após dar um gole na bebida quente —, mas dá uma pontinha de ciúmes quando eles perguntam onde você está. Você devia dar um curso de como cativar os pacientes.
— Não seja exagerado — ele respondeu após dar uma gargalhada —, eu só faço o meu trabalho. Aliás tenho que terminá-lo, então, até mais!
Raphael deixou a sala com algumas fichas na mão, mas uma em especial chamou sua atenção, era do professor Wilson Thomas, um escritor muito famoso, de quem ele era fã desde criança. Passando em seu armário, Raphael pegou um de seus livros preferidos, de autoria de Thomas, e o levou consigo a fim de pedir um autógrafo do paciente ilustre.
— Bom dia, professor Thomas — disse ele, adentrando o leito, e colocando a bandeja em cima de uma mesa, dirigiu-se até o paciente —, que bom que está acordado.
— Oh, se não é o Raphael, meu enfermeiro favorito! — disse o professor, sorridente — Vejo que trouxe o livro de que falou!
— Pois é, Professor — disse, estendendo o livro para o homem —, o senhor terá alta hoje e esta é minha última oportunidade para isso.
— Então vamos a isso — respondeu o professor, abrindo o livro e escrevendo uma dedicatória na primeira página —, apesar de que receber alta não é o mesmo que morrer.
O jovem sorriu e pegando o livro de volta, sentiu-se emocionado ao ler acima do autógrafo as palavras:
"Como um anjo, cuidaste dos feridos, és digno do nome Raphael."
— Obrigado, professor! — disse ele, refreando a emoção — Agora preciso aferir sua pressão e te dar o último comprimido.
Enquanto fixava o aparelho no braço do professor, Raphael escutou uma trombeta, e uma rajada de vento invadiu a sala junto a uma luz ofuscante, que fez todos aparelhos apitarem ao mesmo tempo. Por impulso, ele segurou o braço do paciente firmemente, mas sentiu uma pressão que o fez soltar e o arremessou alguns metros contra a parede, fazendo-o chocar-se violentamente, mas sua preocupação com o enfermo não o deixou perder o foco.
Antes de desmaiar, ele pôde ver o momento em que asas brilhantes, envolveram o professor e o fizeram desintegrar-se completamente, como se uma chama de luz o tivesse consumido, e então não viu mais nada.
Sem saber por onde começar, Raguel saiu à procura de outros funcionários do laboratório, sendo que a dor de saber que poderia nunca mais ver sua mãe, ainda martelava em seu peito.Saber que alguém como Gabriel, que estava passando pela mesma situação, estava a caminho para ajudá-la a entender aquilo tudo a confortava, e mesmo não o conhecendo, algo em sua voz dizia que podia confiar nele.Passou por várias salas e olhando dentro delas, avistou mais jalecos e crachás espalhados pelo chão, além de vários armários de arquivos e alguns computadores, mas nenhum funcionário.Chegando a um pátio com janelas, pode ver que a escuridão ainda reinava lá fora e então, sentando-se, sentiu o
A Igreja Da Consolação Divina ficava no centro de Miraculous Clearing, e em meio a escuridão que pairava no local, suas luzes iluminavam todo o perímetro da grande praça central, que em um domingo como esse, se o sol estivesse aparecido, estaria tomada de crianças, idosos e jovens namorados, mas agora estava deserta e sem vida.Mikael deixou a moto em frente à grande escadaria da igreja, e seguiu para dentro. Da entrada do grande salão pode avistar o altar e lá estava seu pai, sentado nos degraus sozinho. Ao se aproximar, o jovem viu que ao lado do pastor, tinha uma garrafa de uísque com mais da metade do conteúdo faltando.A cena lhe trouxe a lembrança de dias ruins, quando sua mãe descobriu o câncer. Seu pai, que já era pastor, passou por um grave momento
Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.Era o li
A placa indicando os limites de Miraculous Clearing já havia ficado para trás a alguns quilômetros, mas agora que ela estava tão perto, já não sabia se seguia em frente ou desistia. Atrás da montanha que ela agora subia em sua moto através da rodovia estadual, estava a cidade que um dia foi sua casa, e tinha sido obrigada a abandonar.Há oito anos, quando ainda era apenas uma criança de dez anos, ela foi levada da cidade por sua mãe, que decidiu separar-se de seu pai, para aceitar a proposta de ser curadora de um famoso museu em Londres. Não podia culpar seus pais pela separação, pois ambos eram apaixonados pelas respectivas profissões, mas nunca os perdoou por fazê-la escolher com quem ficaria.Ela amava muito os dois, desde que a adotaram, e ela optou por
Gabriel guiou Raguel até a sala de monitoramento. Ele nunca se interessou pela profissão do pai, mas, simpático como era, nunca recusou um convite para visitar o laboratório e conhecia bem suas dependências. Sempre fora mais inclinado para a matemática da mãe que para a química do pai, mas nunca disse nada, para não correr o risco de magoá-lo.O doutor Rashford, era conhecido mundialmente por seu trabalho com química quântica, e se tornou notável por suas descobertas nos campos da Química Nuclear, Astroquímica, Sonoquímica e Hidrodinâmica quântica, e era procurado por físicos do mundo todo para ministrar palestras e seminários.Miraculous Clearing era um campo muito fértil de grandes mentes, e havia exportado para o mundo muitos “gênios” em diversas áreas di
Mikael passou apressadamente pela entrada do hospital carregando seu pai nos braços. A mancha crescente e úmida na faixa improvisada mostrava que a hemorragia aumentava e ele precisava urgente de auxílio médico.A recepção e os corredores estavam vazios. Cadeiras, vasos de planta e papéis revirados e espalhados por todos os lados, davam a impressão de que um furacão ou algo parecido tinha passado por ali.— Alguém me ajude! — o jovem gritou desesperado, e desesperou-se ainda mais por receber em retorno apenas o eco de sua voz pelos corredores desertos.Colocando o pastor cuidadosamente no chão, ele retirou sua jaqueta suja de sangue e improvisou uma almofada, onde pousou a cabeç
Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?Haviam muitas perguntas sem respostas ainda e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.
Raphael se sentiu revigorado após dormir algumas horas e agora o sol já se punha novamente. Ele levantou-se e seguiu até o quarto onde o Pastor Higgins estava se recuperando da cirurgia.Da porta, viu que Mikael olhava atento para a tela de um notebook que haviam encontrado em uma das salas. Ficou um tempo parado ali, observando e pensando nas circunstâncias em que seus caminhos se cruzaram. Enquanto cuidava do pastor, ele havia notado alguns olhares, mas preferiu ignorar. Mikael não parecia ser gay, e se fosse, com certeza Raphael saberia. Ali, sem ser notado, ele podia admirá-lo sem ser deselegante ou inconveniente. Já havia reparado pelo seu porte físico, que era um atleta e, que possivelmente, tinha músculos bem definidos em sua pele negra.— Pare com is