Sem saber por onde começar, Raguel saiu à procura de outros funcionários do laboratório, sendo que a dor de saber que poderia nunca mais ver sua mãe, ainda martelava em seu peito.
Saber que alguém como Gabriel, que estava passando pela mesma situação, estava a caminho para ajudá-la a entender aquilo tudo a confortava, e mesmo não o conhecendo, algo em sua voz dizia que podia confiar nele.
Passou por várias salas e olhando dentro delas, avistou mais jalecos e crachás espalhados pelo chão, além de vários armários de arquivos e alguns computadores, mas nenhum funcionário.
Chegando a um pátio com janelas, pode ver que a escuridão ainda reinava lá fora e então, sentando-se, sentiu o peso da situação cair sobre os ombros e, tomada pelo desespero, chorou.
Após passar algum tempo chorando, com o rosto enterrado nas mãos, Raguel escutou um barulho de passos apressados no corredor, levantou-se enxugando as lágrimas e seguiu de encontro ao som.
Chegando a uma plataforma de observação, pode ver um jovem, que aparentemente tinha a sua idade. Era um jovem bonito, que não tinha porte atlético, mas tinha uma atitude altiva e confiante, que contrastava com os óculos de grau que usava. Não parecia ser nerd, mas aparentava ter uma inteligência diferenciada.
— Deve ser ele — pensou, sentindo um estranho alívio da angústia que havia se instalado minutos antes —, não quero aparentar fraqueza.
Mesmo sem saber por que fazia aquilo, ela pegou em sua bolsa um pequeno espelho e com o auxílio de um lenço, retirou a maquiagem borrada. A fim de eliminar qualquer vestígio de choro e cansaço de seu rosto, ela aplicou uma base leve e um rímel que destacou seus olhos cor de esmeralda.
Enquanto guardava os objetos em sua bolsa, ela ouviu seu nome, e pela voz que a chamava constatou que era realmente Gabriel, e se virou para vê-lo se aproximar.
— Gabriel — ela disse, visivelmente aliviada por estar conversando com ele —, que bom que você chegou, não encontrei funcionário algum.
— Tudo bem — ele respondeu —, vamos procurar uma explicação para isso juntos.
— Não foi só aqui que aconteceu — continuou ele —, estão falando em todas as mídias que é um fenômeno de escala global. Minha mãe também desapareceu deixando as roupas pra trás.
— Eu sinto muito — ela disse, sentindo a angústia apertar a garganta e o desespero querendo voltar —, eu só... Eu não sei se consigo. Vivi dependente de minha mãe todo esse tempo. Não sei o que fazer sem ela.
— Escute Raguel — disse o garoto, pegando a mão dela e olhando em seus olhos azuis —, isto de ser independente e forte também é novo pra mim. Mas podemos contar um com o outro.
— Tudo bem — respondeu com um leve sorriso, sentindo-se confortada com a presença e o olhar sincero dele —, vamos fazer isso, mas por onde começamos?
— Acho que temos que traçar um padrão dos desaparecimentos — disse ele retirando da bolsa um tablet — Este tablet era da minha mãe, E nele tem um programa de cruzamentos estatísticos criado por ela. Ela me ensinou a usá-lo.
— Pode ser uma boa idéia! — ela disse empolgada. — Se cruzarmos as características dos desaparecidos, vamos ter um padrão, e consequentemente, poderemos saber o que causou esse fenômeno.
— Minha mãe sempre dizia, — disse ele ligando o aparelho — que todo problema tem uma equação, cujas raízes às vezes são incógnitas…
— E nesse caso — interrompeu ela, completando o raciocínio —, o problema são os desaparecimentos, as equações são os possíveis padrões…
— E as incógnitas — Agora foi a vez de ele interromper completando—, são quem e quantos desapareceram.
Era visível a química da interação deles, e ambos percebiam isso. Suas mentes pareciam trabalhar em perfeita harmonia. Permaneceram buscando Informações em sites de telejornais, criando suposições e possíveis argumentos, sozinhos naquele enorme laboratório, até que uma luz irrompeu tímida pelas janelas e lhes chamou a atenção. Olhando com mais atenção para o céu, puderam ver a silhueta do sol, como se um véu de escuridão o estivesse cobrindo e agora se esvaísse lentamente.
A escuridão estava se dissipando, e um estranho sentimento de esperança se apossou de Raguel.
— E se todo esse pesadelo estiver se desfazendo? — pensou ela — Se a luz do sol foi restaurada, talvez as pessoas também, e sua mãe…
Sem pensar mais, ela saiu correndo para a sala onde encontrou o crachá e o uniforme de sua mãe, mas ao entrar na sala, nada havia mudado. Com um sentimento de esperança frustrada, ela se lançou ao chão, junto às coisas de sua mãe, e chorou mais uma vez.
— Eu pensei que — ela disse entre soluços, vendo que Gabriel a seguira até ali —, talvez… já que o sol voltou… eles também…
Ela se calou quando sentiu o toque de Gabriel, que se ajoelhando também a abraçou e sem hesitar, retribuiu o abraço. Durante algum tempo que pareceu uma eternidade, eles ficaram ali abraçados e ela pode chorar, sentindo-se segura e amparada. O toque dele a acalmava, e ela sentia que tinha o mesmo efeito nele.
— Circuito interno! — ele exclamou, quebrando o silêncio e o clima — Talvez tenha filmado o que aconteceu com eles. Precisamos encontrar a sala de monitoramento.
A Igreja Da Consolação Divina ficava no centro de Miraculous Clearing, e em meio a escuridão que pairava no local, suas luzes iluminavam todo o perímetro da grande praça central, que em um domingo como esse, se o sol estivesse aparecido, estaria tomada de crianças, idosos e jovens namorados, mas agora estava deserta e sem vida.Mikael deixou a moto em frente à grande escadaria da igreja, e seguiu para dentro. Da entrada do grande salão pode avistar o altar e lá estava seu pai, sentado nos degraus sozinho. Ao se aproximar, o jovem viu que ao lado do pastor, tinha uma garrafa de uísque com mais da metade do conteúdo faltando.A cena lhe trouxe a lembrança de dias ruins, quando sua mãe descobriu o câncer. Seu pai, que já era pastor, passou por um grave momento
Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.Era o li
A placa indicando os limites de Miraculous Clearing já havia ficado para trás a alguns quilômetros, mas agora que ela estava tão perto, já não sabia se seguia em frente ou desistia. Atrás da montanha que ela agora subia em sua moto através da rodovia estadual, estava a cidade que um dia foi sua casa, e tinha sido obrigada a abandonar.Há oito anos, quando ainda era apenas uma criança de dez anos, ela foi levada da cidade por sua mãe, que decidiu separar-se de seu pai, para aceitar a proposta de ser curadora de um famoso museu em Londres. Não podia culpar seus pais pela separação, pois ambos eram apaixonados pelas respectivas profissões, mas nunca os perdoou por fazê-la escolher com quem ficaria.Ela amava muito os dois, desde que a adotaram, e ela optou por
Gabriel guiou Raguel até a sala de monitoramento. Ele nunca se interessou pela profissão do pai, mas, simpático como era, nunca recusou um convite para visitar o laboratório e conhecia bem suas dependências. Sempre fora mais inclinado para a matemática da mãe que para a química do pai, mas nunca disse nada, para não correr o risco de magoá-lo.O doutor Rashford, era conhecido mundialmente por seu trabalho com química quântica, e se tornou notável por suas descobertas nos campos da Química Nuclear, Astroquímica, Sonoquímica e Hidrodinâmica quântica, e era procurado por físicos do mundo todo para ministrar palestras e seminários.Miraculous Clearing era um campo muito fértil de grandes mentes, e havia exportado para o mundo muitos “gênios” em diversas áreas di
Mikael passou apressadamente pela entrada do hospital carregando seu pai nos braços. A mancha crescente e úmida na faixa improvisada mostrava que a hemorragia aumentava e ele precisava urgente de auxílio médico.A recepção e os corredores estavam vazios. Cadeiras, vasos de planta e papéis revirados e espalhados por todos os lados, davam a impressão de que um furacão ou algo parecido tinha passado por ali.— Alguém me ajude! — o jovem gritou desesperado, e desesperou-se ainda mais por receber em retorno apenas o eco de sua voz pelos corredores desertos.Colocando o pastor cuidadosamente no chão, ele retirou sua jaqueta suja de sangue e improvisou uma almofada, onde pousou a cabeç
Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?Haviam muitas perguntas sem respostas ainda e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.
Raphael se sentiu revigorado após dormir algumas horas e agora o sol já se punha novamente. Ele levantou-se e seguiu até o quarto onde o Pastor Higgins estava se recuperando da cirurgia.Da porta, viu que Mikael olhava atento para a tela de um notebook que haviam encontrado em uma das salas. Ficou um tempo parado ali, observando e pensando nas circunstâncias em que seus caminhos se cruzaram. Enquanto cuidava do pastor, ele havia notado alguns olhares, mas preferiu ignorar. Mikael não parecia ser gay, e se fosse, com certeza Raphael saberia. Ali, sem ser notado, ele podia admirá-lo sem ser deselegante ou inconveniente. Já havia reparado pelo seu porte físico, que era um atleta e, que possivelmente, tinha músculos bem definidos em sua pele negra.— Pare com is
Nick olhou ao redor, e estranhou ao ver onde estava. O quarto estava exatamente como era quando tinha seus dez anos e ainda morava com seu pai em Miraculous Clearing. Cada boneca, cada bichinho de pelúcia, seus livros nas prateleiras, seu laptop rosa com adesivos de unicórnio e todos os móveis, estavam exatamente como deixava naquela época. Examinou o quarto minuciosamente com o olhar e até começou a tatear alguns objetos, como se desconfiasse que não fossem reais, até que uma rajada de vento entrou pelo vão debaixo da porta, deixando-a curiosa.Ela caminhou até a porta e a abriu, mas se conteve ao ver que a porta dava para o exterior e que o quarto onde estava se encontrava no topo de um prédio que parecia ser o da prefeitura, pois ficava no centro da cidade e era o prédio mais alto dali. Arriscou mais um passo, e ficou bem na beirada,