Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.
Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.
Era o livro que o professor Thomas Wilson autografou, minutos antes de desaparecer consumido por aquela luz em forma de asas. Luz essa que o arremessou como se tivesse sido atingido por uma descarga elétrica.
Essa mesma luz, parece ter acabado com a energia do hospital que estava sendo iluminado pelas luzes de emergência. Tudo aquilo parecia loucura e abrindo o livro leu novamente a dedicatória no autógrafo, como que para ajudar a acreditar que o professor esteve ali.
"Como um anjo, cuidaste dos feridos, és digno do nome Raphael"
Reler aquelas palavras o fez sentir novamente a emoção que sentiu na primeira vez, mas também serviu como confirmação de que não estava ficando louco.
Olhando para o relógio, viu que eram quase nove horas da manhã, ou seja, ficou desacordado por quase cinco horas.
— Como ninguém me encontrou desacordado? — perguntou a si mesmo e olhando para o corredor viu que estava deserto. O hospital parecia abandonado — Que diabos aconteceu aqui?
Olhou ao redor mais uma vez, como se não soubesse o que fazer em seguida e se lembrou de que a sala tinha câmeras de segurança que poderiam ser mais uma confirmação, então seguiu pelo corredor em direção à escada, já que provavelmente os elevadores não estariam funcionando.
O gerador de emergência era suficiente apenas para serviços essenciais, como manter aparelhos ligados e sala de monitoramento ficava no terceiro andar, e funcionava com energia auxiliar, proveniente de baterias de emergência usadas para não se perder nenhum registro, então não teria problemas em rever o que aconteceu devido à falta de energia.
O segundo andar do hospital, era onde ficava o centro de tratamento intensivo do hospital, e alocava os pacientes que se encontravam em estado grave e necessitavam de atenção e aparelhos especiais e para acessar as escadas que levavam ao terceiro andar, Raphael teve que atravessar mais um corredor.
Passando pelos leitos viu algo que o aterrorizou de vez. Os pacientes do CTI foram abandonados, e jaziam mortos. Os aparelhos deveriam ter sido religados manualmente após o retorno da energia, mas não foram. Precisava mais do que nunca saber o que tinha acontecido, para que todos fugissem assim.
Ao passar em frente a uma janela, mais uma surpresa — lá fora, a escuridão tomava o céu, como se ainda fosse noite. Olhou para um relógio em uma parede próxima, confirmando que eram mesmo nove da manhã, e então sentiu o terror crescendo dentro de si. Tudo parecia um pesadelo, o mundo imerso na escuridão, pacientes abandonados no hospital e mortos, espectros de luz que desintegram pessoas.
Se apressando, subiu as escadas com passos rápidos e decididos, mas antes de entrar na sala de monitoramento, seguiu para a sala do Dr Abraham Hill. O Dr Hill era proprietário e diretor do hospital e era um dos cirurgiões mais importantes do mundo.
— O Dr Hill jamais abandonaria seus pacientes — pensou, dirigindo-se para a sala do diretor, mas ao entrar viu que não havia ninguém.
Aproximando-se da mesa, algo chamou sua atenção; roupas jaziam no chão, entre a cadeira e a mesa, e pegando-as viu que se tratava das roupas do doutor, pois no bolso havia um relógio antigo com a inscrição Dr. A. Hill, um presente de sua filha, que ele carregava sempre consigo.
— Preciso saber o que aconteceu— disse o jovem guardando o objeto em seu bolso e virando-se seguiu para a sala de monitoramento.
Abrindo o sistema de monitoramento, buscou primeiramente o leito onde o professor estava, e digitou o horário de quatro e trinta da manhã como início da reprodução. Avançando alguns minutos, lá estava ele, entregando o livro nas mãos do professor, que o autografou e devolveu. Em seguida, pegando o esfigmomanômetro, colocou-o no braço do professor e então vieram o clarão e o golpe que o arremessou contra a parede e desligou as luzes e aparelhos do hospital, enquanto a sala parecia tremer.
Focando no professor, o viu desaparecendo, consumido por aquela luz. Viu e reviu algumas vezes, aproximando a imagem e, colocando em câmera lenta, teve certeza de que aquela luz que consumia o professor tinha o formato de asas.
Voltando o foco para sua queda, no outro canto do vídeo, viu o momento que seu joelho chocou-se contra a mesa e seu osso se partiu e se expôs, rasgando-lhe a pele e a calça. Sua cabeça também se partiu no choque contra a parede, e mesmo antes de perder os sentidos seu sangue já devia ter escorrido quase pela metade.
Sem acreditar no que estava vendo, pulou duas horas no vídeo e viu que não havia mais ferimentos em seu corpo. Retrocedendo o vídeo cuidadosamente, viu o momento em que os seus ferimentos se curaram.
Em câmera lenta, viu admirado o osso do seu joelho se reconstruir, seguido do restante dos tecidos subcutâneos e por fim a pele, sem deixar nenhuma cicatriz sequer. A cabeça seguiu a mesma sequência e se reconstruiu. Era difícil de acreditar, mesmo assistindo ao vídeo várias vezes.
Decidiu ver o que aconteceu no hospital enquanto estava desacordado, e clicou na opção que abria multijanelas no monitor e vários quadros se abriram na tela, cada um com os registros da câmera de monitoramento de um setor específico do hospital.
Destacando a câmera da sala do Dr Hill, ele viu o momento que ele foi consumido sobrando somente suas roupas. Em outros vídeos viu outros médicos desaparecendo tbm, todos no mesmo horário, inclusive o Dr Hill e o Professor Thomas.
Viu que o tremor aconteceu em todo hospital, ao mesmo tempo, e os funcionários saíram desesperados do prédio seguidos dos pacientes que conseguiam se mover sozinhos. Os pacientes que precisavam dos aparelhos, não tiveram chances e morreram lentamente.
Era muito para digerir. Tudo parecia um filme de ficção do Spielberg. O terremoto, as asas de luz, as pessoas sendo consumidas, o seu corpo se regenerando, tudo era muita loucura.
Viu e reviu diversas vezes os vídeos, pelo que pareceu ser umas duas horas, sozinho naquela sala e naquele hospital abandonado, até que um movimento na câmera da entrada do hospital chamou sua atenção: Um carro freou bruscamente, parando em frente à entrada. Da porta do motorista irrompeu apressadamente um jovem, que abrindo a porta traseira do veículo, pegou nos braços um homem mais velho, desacordado.
O homem tinha uma faixa em volta do peito, manchada de sangue e havia urgência nos olhos do rapaz, então, o instinto de enfermeiro de Raphael o fez querer ajudar. E sem pensar mais, se levantou e seguiu apressadamente ao encontro dos recém-chegados.
A placa indicando os limites de Miraculous Clearing já havia ficado para trás a alguns quilômetros, mas agora que ela estava tão perto, já não sabia se seguia em frente ou desistia. Atrás da montanha que ela agora subia em sua moto através da rodovia estadual, estava a cidade que um dia foi sua casa, e tinha sido obrigada a abandonar.Há oito anos, quando ainda era apenas uma criança de dez anos, ela foi levada da cidade por sua mãe, que decidiu separar-se de seu pai, para aceitar a proposta de ser curadora de um famoso museu em Londres. Não podia culpar seus pais pela separação, pois ambos eram apaixonados pelas respectivas profissões, mas nunca os perdoou por fazê-la escolher com quem ficaria.Ela amava muito os dois, desde que a adotaram, e ela optou por
Gabriel guiou Raguel até a sala de monitoramento. Ele nunca se interessou pela profissão do pai, mas, simpático como era, nunca recusou um convite para visitar o laboratório e conhecia bem suas dependências. Sempre fora mais inclinado para a matemática da mãe que para a química do pai, mas nunca disse nada, para não correr o risco de magoá-lo.O doutor Rashford, era conhecido mundialmente por seu trabalho com química quântica, e se tornou notável por suas descobertas nos campos da Química Nuclear, Astroquímica, Sonoquímica e Hidrodinâmica quântica, e era procurado por físicos do mundo todo para ministrar palestras e seminários.Miraculous Clearing era um campo muito fértil de grandes mentes, e havia exportado para o mundo muitos “gênios” em diversas áreas di
Mikael passou apressadamente pela entrada do hospital carregando seu pai nos braços. A mancha crescente e úmida na faixa improvisada mostrava que a hemorragia aumentava e ele precisava urgente de auxílio médico.A recepção e os corredores estavam vazios. Cadeiras, vasos de planta e papéis revirados e espalhados por todos os lados, davam a impressão de que um furacão ou algo parecido tinha passado por ali.— Alguém me ajude! — o jovem gritou desesperado, e desesperou-se ainda mais por receber em retorno apenas o eco de sua voz pelos corredores desertos.Colocando o pastor cuidadosamente no chão, ele retirou sua jaqueta suja de sangue e improvisou uma almofada, onde pousou a cabeç
Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?Haviam muitas perguntas sem respostas ainda e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.
Raphael se sentiu revigorado após dormir algumas horas e agora o sol já se punha novamente. Ele levantou-se e seguiu até o quarto onde o Pastor Higgins estava se recuperando da cirurgia.Da porta, viu que Mikael olhava atento para a tela de um notebook que haviam encontrado em uma das salas. Ficou um tempo parado ali, observando e pensando nas circunstâncias em que seus caminhos se cruzaram. Enquanto cuidava do pastor, ele havia notado alguns olhares, mas preferiu ignorar. Mikael não parecia ser gay, e se fosse, com certeza Raphael saberia. Ali, sem ser notado, ele podia admirá-lo sem ser deselegante ou inconveniente. Já havia reparado pelo seu porte físico, que era um atleta e, que possivelmente, tinha músculos bem definidos em sua pele negra.— Pare com is
Nick olhou ao redor, e estranhou ao ver onde estava. O quarto estava exatamente como era quando tinha seus dez anos e ainda morava com seu pai em Miraculous Clearing. Cada boneca, cada bichinho de pelúcia, seus livros nas prateleiras, seu laptop rosa com adesivos de unicórnio e todos os móveis, estavam exatamente como deixava naquela época. Examinou o quarto minuciosamente com o olhar e até começou a tatear alguns objetos, como se desconfiasse que não fossem reais, até que uma rajada de vento entrou pelo vão debaixo da porta, deixando-a curiosa.Ela caminhou até a porta e a abriu, mas se conteve ao ver que a porta dava para o exterior e que o quarto onde estava se encontrava no topo de um prédio que parecia ser o da prefeitura, pois ficava no centro da cidade e era o prédio mais alto dali. Arriscou mais um passo, e ficou bem na beirada,
Gabriel sentiu o terror congelar-lhe os órgãos internos ao ouvir o que o detetive Simpson lhe disse.— Quem será aquela garota então?— ele perguntou a si mesmo — Será que foi ela que fez aquilo?Tratou de afastar esse pensamento da cabeça. Era absurdo pensar que uma garotinha de dez anos conseguiria fazer uma brutalidade daquelas com dois adultos, ainda mais um deles sendo um delegado treinado.Percebeu que Raguel não estava mais na sala e voltando a sala de espera da delegacia a encontrou estática olhando para o local onde haviam deixado a garotinha sentada, ao entrarem na delegacia.— Você viu par
Mikael programou o GPS com as coordenadas que o professor Vecchio deixou no email e deu a partida. Ao seu lado como um copiloto, Raphael segurava o aparelho celular com o cronômetro continuando a contagem de tempo iniciada por Louise assim que ligou o oxigênio do professor.— Quanto tempo ainda temos? — Mikael perguntou, sem tirar os olhos da pista — São cinquenta quilômetros até lá, na rota mais curta.— Temos pouco mais de uma hora — Raphael respondeu, enquanto colocava o cinto de segurança —, tempo de sobra, se nada nos atrapalhar.Seguiram para a avenida principal, em direção à zona sul da cidade. Era de se imaginar que o professor Jeremias Vecchio, sendo um historiador, ant