A Igreja Da Consolação Divina ficava no centro de Miraculous Clearing, e em meio a escuridão que pairava no local, suas luzes iluminavam todo o perímetro da grande praça central, que em um domingo como esse, se o sol estivesse aparecido, estaria tomada de crianças, idosos e jovens namorados, mas agora estava deserta e sem vida.
Mikael deixou a moto em frente à grande escadaria da igreja, e seguiu para dentro. Da entrada do grande salão pode avistar o altar e lá estava seu pai, sentado nos degraus sozinho. Ao se aproximar, o jovem viu que ao lado do pastor, tinha uma garrafa de uísque com mais da metade do conteúdo faltando.
A cena lhe trouxe a lembrança de dias ruins, quando sua mãe descobriu o câncer. Seu pai, que já era pastor, passou por um grave momento de abalo em sua fé e voltou a beber, chegando até a cogitar abandonar a igreja e os fiéis, mas sua mãe não deixou.
Toda a batalha que se seguiu desde a descoberta da doença até a morte dela, serviu para fortalecer a fé de seu pai, que vendo a perseverança de sua mãe, percebeu que a fé dela, fornecia todo conforto e força que precisava. Isso o fortaleceu também, e ele passou a se dedicar ainda mais à igreja e à chamada obra de Deus.
Ver seu pai ali, visivelmente bêbado e desesperado, o fez pensar no que deveria estar acontecendo. O que teria gerado toda essa revolta nas pessoas, e estaria frustrando o Pastor Higgins ao ponto de deixá-lo sem esperanças novamente?
— Pai — disse Mikael ao se aproximar—, o que está acontecendo? Acordei com a casa sendo apedrejada, por pessoas furiosas atrás do senhor.
— Você não devia ter vindo aqui Mikael! — disse o Pastor Benedict Higgins, enquanto pegava a garrafa para mais um gole — Eu saí de casa para que não pegassem você também. Você não precisa pagar pelo meu fracasso.
— Do que está falando Pai? — perguntou, aproximando-se e assentando-se ao lado do pastor — O que está acontecendo? Tem a ver com essa escuridão?
— Joel nos alertou sobre isso quando disse: — disse o Pastor — “O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor."
— Capítulo dois, versículo trinta e um — completou Mikael, demonstrando que conhecia as escrituras tão bem quanto seu pai —, mas o que isso quer dizer?
— O arrebatamento filho — respondeu, jogando a Bíblia ao chão, num rompante de impaciência —, o tão esperado arrebatamento, pelo qual nós cristãos nos preparamos tanto!
— Mas pai — protestou o jovem —, tudo isso porque o sol ainda não apareceu? Deve ser algum fenômeno meteorológico!
— Você não está entendendo filho! — insistiu ele, entregando-lhe um tablet com estatísticas atualizadas em tempo real de vários desaparecimentos misteriosos de pessoas pelo mundo — Ele veio, como um ladrão na noite, arrebatou os escolhidos e nos deixou para trás, junto com todos os meus fiéis. E levou também o sol!
— Nos deixou nas trevas — continuou o Pastor, caminhando em círculos cambaleando, pelo efeito do uísque —, justo nós, que seguimos suas instruções tão cegamente.
— O senhor precisa se acalmar — disse, recolhendo a bíblia do chão —, tenho certeza que, de cabeça fria, nós podemos encontrar explicação para isso.
O pastor Higgins não respondeu, apenas encostou-se novamente no altar, ficando em silêncio e quando Mikael se aproximou, percebeu que ele havia cochilado, provavelmente por causa do álcool.
Utilizando o Tablet que seu pai o entregou minutos atrás, ele viu as notícias sobre o apagão do sol e o desaparecimento de pessoas ao redor do mundo. Havia uma lista em um site sensacionalista que tinha nomes de pessoas dadas como desaparecidas durante esse fenômeno que chamavam de abdução alienígena. Nessa lista, Mikael notou uma coincidência entre os nomes: A maioria dos nomes vinha com um título acadêmico. Ora doutor, ora professor.
Lendo o artigo, ele viu que não era só ele que havia percebido isso. O autor da postagem dizia em uma das teorias que os "alienígenas" levaram as mentes mais brilhantes da terra para estudos e testes para saberem o quanto tínhamos evoluído. Já em outra teoria, ele dizia que levaram os cientistas e pensadores mais brilhantes para que não pudéssemos nos defender de um possível ataque que estavam tramando.
Mikael não acreditava naquilo, ele mal acreditava em Deus, já que apesar de ter sido criado dentro de uma igreja evangélica, seus pais nunca o impuseram nada, apenas o ensinaram suas crenças e sempre o deixaram à vontade para decidir o que acreditar e o que fazer de sua vida.
Porém, mesmo sem acreditar plenamente em Deus e em seus planos e desígnios, a teoria do arrebatamento que seu pai acreditava, parecia mais provável e convincente para ele naquele momento. A pergunta que não queria calar, era: Porque Deus levaria professores, doutores, cientistas e demais mentes brilhantes que costumam ser conhecidos por serem ateus e deixariam seu pai e toda sua igreja?
Isso não fazia sentido pra Mikael. Ele foi adotado aos três anos de idade, e nesses quinze anos de convivência com o pai, não conseguia pensar em alguém mais apto a ser arrebatado segundo os requisitos bíblicos do que ele.
— Nós fizemos tudo certo Senhor! — resmungou o Pastor ainda recostado e desfalecido, como se estivesse delirando ou dormindo — Por que nos abandonou? Por que levastes ateus e hereges e me fez de idiota perante minhas ovelhas.
Mikael pensou em despertá-lo daquela agonia, mas antes que pudesse agir ouviu o som de um motor a se aproximar, e instintivamente se escondeu sem tempo de esconder também o pai, que permanecia desacordado.
De onde ele estava, pôde ver duas pessoas passando pela entrada do salão e se aproximando do pastor inerte e indefeso lentamente, como predadores fiscalizando uma presa que se finge de morta. Eram dois homens, um de meia idade e um jovem que Mikael conhecia muito bem. Tratava-se do Diácono Jim Saunders e seu filho Scott, que era o líder de jovens da igreja e eram homens de confiança de seu pai nos trabalhos evangelísticos.
Ver rostos familiares gerou uma espécie de alívio no jovem que segurava firmemente seu bastão em estado de alerta, mas por algum motivo, ele preferiu não abandonar o esconderijo e continuar observando a cena das sombras.
— Parece estar dormindo, pai — disse Scott, olhando o pastor mais de perto. Acordamos ele?
— Não filho — advertiu Jim, enquanto retirava um aparelho celular do bolso —, nós combinamos que quem o encontrasse deveria ligar para os demais!
— Mas Pai — protestou o jovem —, se matarmos ele assim, ele nem vai sofrer!
— E quem disse que não é para ele sofrer? — respondeu o diácono, aproximando do indefeso pastor Higgins, dando lhe chutes na perna, como quem quer despertar um vadio que adormeceu em sua calçada — Nós não sofremos? Não o seguimos cegamente esse tempo todo? Sim, ele deve sofrer! Por ter nos enganado ele deve morrer, e talvez assim ele encontre essa eternidade de merda que nos ofereceu.
Mas pai — insistiu o jovem.
— Isso não está aberto a discussões Scott! — arbitrou o homem enquanto tentava fazer a ligação sem sucesso — Droga de sinal! Fique de olho nesse filho da puta, eu vou lá fora ver se melhora a recepção.
Mikael já havia se alarmado após ouvir o jovem falar em matar o seu pai, mas agora estava em pânico. O diácono Jim, que até ontem era amigo de seu pai, agora queria matá-lo e ainda por cima com requintes de crueldade. As coisas estavam piores do que ele imaginava, e ele tinha que agir. Mas não podia ser incauto, pois, enquanto pensava em como agir, observou que Scott tinha uma pistola semiautomática nas mãos e qualquer movimento equivocado resultaria na morte de seu pai, e provavelmente a sua também.
Mesmo sem saber o que fazer, ele esperou até que Jim saísse e deu a volta sorrateiramente pelos fundos da igreja. Ao se aproximar do algoz, ele escutou a voz dele, que dizia que o alvo estava sob custódia, e que estavam esperando na igreja.
Ouvir as palavras “alvo” e “custódia” saindo da boca de um diácono, referindo-se ao pastor, pareceu surreal aos ouvidos de Mikael. Até a semana passada, o Pastor Benedict Higgins congregava com essas pessoas, e os amava incondicionalmente. Sua palavra como pastor era lei e seus conselhos eram considerados como preciosidades, mas agora ele era o “alvo” e queriam torturá-lo em praça pública, como faziam com o boneco de Judas em toda cerimônia de páscoa.
Ele era Mikael Higgins, um jovem exemplar, excelente filho, aluno e desportista. Não faltava às aulas, quebrava regras, usava drogas ou desobedecia ao pai. Mas a ira que crescia em seu peito agora, o deixava cego.
Por um momento ele perdeu a consciência e quando voltou a si, estava segurando um bastão sujo de sangue, ao lado de um corpo inerte.
Jim jazia aos seus pés, com a cabeça partida, sobre uma poça de sangue e massa encefálica. Fôra um golpe certeiro e fatal, sem dar chances de reação ao alvo. Suas mãos estavam trêmulas, seu corpo tremia compulsivamente e ele não conseguiu segurar o bastão que caiu no chão com um som metálico.
Na porta da igreja, Scott o observava aparentemente em choque e quando se moveu, foi para correr na direção onde o pastor Higgins permanecia. Instintivamente, Mikael o seguiu e o viu engatilhar a pistola e apontá-la para seu pai.
— Scott — gritou Mikael, entrando pelo salão —, você não precisa fazer isso, podemos encontrar uma solução!
— Fique onde está seu desgraçado! — bravejou Scott, voltando-se para ele, visivelmente transtornado apontando a arma em sua direção — Eu poderia atirar em você primeiro, mas quero que sinta o que eu estou sentindo, e veja os miolos de seu pai espalhados por esse altar!
— Eu não entendo cara! — continuou Mikael, tentando ganhar tempo para pensar num meio de salvar o pastor — Até ontem vocês oravam juntos, partilhavam a santa ceia nos cultos, mas hoje querem matá-lo?
— Oramos, louvamos e jejuamos. Para quê? — disse Scott, como se falasse com o Pastor, que ainda estava desacordado — Para sermos abandonados aqui, nas trevas? Tudo por que seguimos as palavras de um falso sacerdote! De um pastor de araque!
— As palavras não eram dele! — disse Mikael, tentando se aproximar cuidadosamente, para não provocar a reação de Scott que tremia compulsivamente e poderia pressionar o gatilho a qualquer momento — Estava tudo na Bíblia, então, se o que estava lá não era verdade, ele também foi enganado!
— Pode até ser, Mick — disse o jovem armado, olhando na sua direção com o olhar vazio —, mas agora já era! Meu pai está morto, eu com certeza não quero viver o sofrimento que está por vir e não tenho mais nada a perder. Talvez matar o falso sacerdote me dê um lugar na nova Jerusalém.
De onde estava Mikael viu Scott puxar o gatilho, mas tudo parecia estar em câmera lenta. O que se seguiu foi outro apagão e ao voltar a si, não estava mais no centro do salão da igreja, mas sim no fundo da mesma, a uns cinco metros atrás do altar.
Olhando para as suas mãos e para o seu corpo viu que estavam cobertos de sangue, mas sabia que não era seu. A parede à sua frente e o chão ao redor de onde estava também estavam manchados com sangue e olhando para a outra extremidade do altar, a uns sete metros de onde estava, avistou o corpo de Scott, ou o que sobrara dele.
Mikael não fazia ideia do que havia feito, e nem como o fez. Ele só se lembra de estar a uns quatro metros de Scott, que estava prestes a atirar em seu pai, e então aparecer ali, banhado no sangue dele, enquanto seu corpo estava na outra extremidade do altar, totalmente destruído.
Ele não sabia como, mas tinha feito aquilo. Já havia ouvido falar sobre o aumento da força e velocidade de um ser humano em situações de crise, mas aquilo era impossível. Primeiro o que fez ao diácono Jim, e agora Scott também estava morto por suas mãos. Mikael não era um assassino, mas estavam ameaçando a vida de seu pai e, mesmo que tenha sido involuntário, ele precisou fazer aquilo.
Lembrar-se de seu pai o tirou de seus pensamentos e voltando-se para o altar, o viu ainda desacordado. Lembrou-se também que Jim falava com alguém ao telefone e disse que estavam na igreja, então à essa hora já deviam estar quase chegando.
— Pai, precisamos sair daqui! — gritou ele, enquanto se apressava em direção ao lugar onde o pastor estava caído, mas quando se aproximou, viu que havia sangue pelo chão. Vasculhando o corpo inerte, viu que o disparo de Scott tinha lhe acertado em cheio o lado direito do peito.
Retirando o terno do pai, Mikael o dobrou e colocou-lhe sob a cabeça, acomodando-o no chão, e rasgando a camisa ensopada de sangue, viu o ferimento, que pulsava um sangue denso de um tom vermelho escuro e usando um pano que geralmente cobria o altar improvisou uma faixa ao redor de seu peito, para estancar a hemorragia.
— Filho... — tentou falar o pastor, mas a voz lhe falhou e o sangue quase o engasgou tendo que ser virado de lado.
— Não fale nada pai! — advertiu-o o garoto — Apenas descanse! Vou tirá-lo daqui e levá-lo ao hospital!
Pegando o pai nos braços, Mikael saiu apressadamente em direção à entrada da igreja, mas o som de carros se aproximando ao longe, o fez recuar. Decidiu então fazer todo o caminho de volta e sair pelos fundos. A caminhonete do pastor estava estacionada na rua de trás da igreja, mas ele preferiu não usá-la, pois seria facilmente identificada. Ao invés disso, seguiu a pé até a próxima rua, onde encontrou um carro estacionado na entrada de uma casa. Vendo que ninguém o observava, ele colocou o pai no banco de trás do veículo, e vasculhando o painel e porta luvas, encontrou as chaves.
— Até que enfim um pouco de sorte! — disse para si mesmo, referindo-se ao fato de deixarem as chaves dentro do veículo e, ligando o carro, seguiu para o hospital.
Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.Era o li
A placa indicando os limites de Miraculous Clearing já havia ficado para trás a alguns quilômetros, mas agora que ela estava tão perto, já não sabia se seguia em frente ou desistia. Atrás da montanha que ela agora subia em sua moto através da rodovia estadual, estava a cidade que um dia foi sua casa, e tinha sido obrigada a abandonar.Há oito anos, quando ainda era apenas uma criança de dez anos, ela foi levada da cidade por sua mãe, que decidiu separar-se de seu pai, para aceitar a proposta de ser curadora de um famoso museu em Londres. Não podia culpar seus pais pela separação, pois ambos eram apaixonados pelas respectivas profissões, mas nunca os perdoou por fazê-la escolher com quem ficaria.Ela amava muito os dois, desde que a adotaram, e ela optou por
Gabriel guiou Raguel até a sala de monitoramento. Ele nunca se interessou pela profissão do pai, mas, simpático como era, nunca recusou um convite para visitar o laboratório e conhecia bem suas dependências. Sempre fora mais inclinado para a matemática da mãe que para a química do pai, mas nunca disse nada, para não correr o risco de magoá-lo.O doutor Rashford, era conhecido mundialmente por seu trabalho com química quântica, e se tornou notável por suas descobertas nos campos da Química Nuclear, Astroquímica, Sonoquímica e Hidrodinâmica quântica, e era procurado por físicos do mundo todo para ministrar palestras e seminários.Miraculous Clearing era um campo muito fértil de grandes mentes, e havia exportado para o mundo muitos “gênios” em diversas áreas di
Mikael passou apressadamente pela entrada do hospital carregando seu pai nos braços. A mancha crescente e úmida na faixa improvisada mostrava que a hemorragia aumentava e ele precisava urgente de auxílio médico.A recepção e os corredores estavam vazios. Cadeiras, vasos de planta e papéis revirados e espalhados por todos os lados, davam a impressão de que um furacão ou algo parecido tinha passado por ali.— Alguém me ajude! — o jovem gritou desesperado, e desesperou-se ainda mais por receber em retorno apenas o eco de sua voz pelos corredores desertos.Colocando o pastor cuidadosamente no chão, ele retirou sua jaqueta suja de sangue e improvisou uma almofada, onde pousou a cabeç
Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?Haviam muitas perguntas sem respostas ainda e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.
Raphael se sentiu revigorado após dormir algumas horas e agora o sol já se punha novamente. Ele levantou-se e seguiu até o quarto onde o Pastor Higgins estava se recuperando da cirurgia.Da porta, viu que Mikael olhava atento para a tela de um notebook que haviam encontrado em uma das salas. Ficou um tempo parado ali, observando e pensando nas circunstâncias em que seus caminhos se cruzaram. Enquanto cuidava do pastor, ele havia notado alguns olhares, mas preferiu ignorar. Mikael não parecia ser gay, e se fosse, com certeza Raphael saberia. Ali, sem ser notado, ele podia admirá-lo sem ser deselegante ou inconveniente. Já havia reparado pelo seu porte físico, que era um atleta e, que possivelmente, tinha músculos bem definidos em sua pele negra.— Pare com is
Nick olhou ao redor, e estranhou ao ver onde estava. O quarto estava exatamente como era quando tinha seus dez anos e ainda morava com seu pai em Miraculous Clearing. Cada boneca, cada bichinho de pelúcia, seus livros nas prateleiras, seu laptop rosa com adesivos de unicórnio e todos os móveis, estavam exatamente como deixava naquela época. Examinou o quarto minuciosamente com o olhar e até começou a tatear alguns objetos, como se desconfiasse que não fossem reais, até que uma rajada de vento entrou pelo vão debaixo da porta, deixando-a curiosa.Ela caminhou até a porta e a abriu, mas se conteve ao ver que a porta dava para o exterior e que o quarto onde estava se encontrava no topo de um prédio que parecia ser o da prefeitura, pois ficava no centro da cidade e era o prédio mais alto dali. Arriscou mais um passo, e ficou bem na beirada,
Gabriel sentiu o terror congelar-lhe os órgãos internos ao ouvir o que o detetive Simpson lhe disse.— Quem será aquela garota então?— ele perguntou a si mesmo — Será que foi ela que fez aquilo?Tratou de afastar esse pensamento da cabeça. Era absurdo pensar que uma garotinha de dez anos conseguiria fazer uma brutalidade daquelas com dois adultos, ainda mais um deles sendo um delegado treinado.Percebeu que Raguel não estava mais na sala e voltando a sala de espera da delegacia a encontrou estática olhando para o local onde haviam deixado a garotinha sentada, ao entrarem na delegacia.— Você viu par