Mikael acordou abruptamente com o barulho de vidraças se quebrando, e ainda sonolento sentou-se na cama, perguntando-se que diabo estava acontecendo. Um segundo som, agora mais próximo, o despertou de vez e o pôs em estado de alerta, uma vez que lá fora ainda era noite, e a escuridão o impedia de ver através do vidro.
Levantou-se, pegou o taco de baseball atrás da porta e seguiu silenciosamente em direção à sala, de onde havia vindo o barulho.
Enquanto descia as escadas, precisou proteger-se quando uma pedra atravessou o vidro da sala, seguida de várias outras pedras que destruíram todos os vidros do cômodo, como se fosse uma chuva horizontal de pedras.
Assustado ouviu vidros sendo quebrados também no andar de cima, mais precisamente no quarto de seu pai. Prontamente ele subiu novamente as escadas e abriu a porta, mas no quarto viu apenas vidro quebrado e pedras por todos os lados.
Mais calmo, vendo que seu pai não se encontrava ali, ele adentrou no cômodo hesitante, com medo de que a chuva de pedras recomeçasse.
Abaixando-se, tomou nas mãos uma das pedras, que estava embrulhada, e abrindo o papel que a envolvia, pode ler a frase:
"Pastor de merda, destruímos sua casa e destruiremos também a sua igreja.”
A frase estava escrita em letras grandes, com tinta vermelha, expressando um ódio verbal que já tinha sido demonstrado fisicamente aos vidros.
O Pastor Benedict Higgins, sempre fora respeitado por todos moradores da cidade, e os fiéis o viam como um exemplo incontestável de fé e retidão no desempenho da obra de Deus, e desde que perdera sua esposa para um câncer, havia intensificado seus esforços no resgate de almas e nas ações sociais comunitárias, por isso Mikael não entendia porque estavam atacando seu pai daquela maneira.
Passada a adrenalina após os ataques cessarem, o jovem pensou: — Se ainda havia penumbra lá fora, por que seu pai não estava em casa? — e só então, olhando para o relógio danificado na parede, viu que na verdade, já eram nove horas da manhã.
Chegando da janela, viu que a escuridão tomava o céu, como se ainda fosse noite.
— O que será que aconteceu com meu pai? — perguntou-se tentando não pensar no pior, e concluiu que, se o sol não apareceu, o Pastor só poderia estar em sua igreja, perguntando a Deus o que estava acontecendo.
Mais uma vez alarmou-se, lembrando-se do bilhete embrulhado na pedra, e correndo para o seu quarto, vestiu a primeira roupa que encontrou e saiu apressadamente para acudir seu pai.
Do lado de fora, viu mais vandalismo e ódio estampado na parede exterior de sua casa. Com spray vermelho cor de sangue, os vândalos escreveram insultos e ameaças, mas a frase que mais chamou sua atenção foi uma que dizia:
“Guiaste tuas ovelhas à perdição, para o inferno, Pastor de merda!"
Todo esse ódio não tinha fundamentos. Não direcionado ao seu pai, que viveu sua vida por suas ovelhas e seguia à risca o que estava escrito nas escrituras.
Em sua moto, acelerando o máximo que a auto-preservação permitia, ele só pensava em seu pai e em chegar a tempo à igreja onde ele provavelmente estaria. Pelo caminho avistou pessoas desesperadas com roupas nas mãos, e pessoas colocando malas em seus carros e saindo às pressas. Que loucura era essa?
Para sua segurança, trouxe seu bastão de baseball que lhe rendera vários troféus e medalhas ao longo da vida. Sempre fora atlético e musculoso, mas nunca fora de briga, porém, sabia se defender e sabia que passaria por cima de tudo e de todos para defender o pai.
Depois de mais uma noite cansativa no hospital municipal, Raphael contava as horas para ir para casa. Independente como sempre foi, ele aprendeu cedo a cuidar de si mesmo e dos outros. No orfanato onde cresceu, enfrentou a difícil situação de não ser adotado e sabendo que precisaria se virar sozinho na vida, tratou de aprender tudo o que poderia aprender.Aos dez anos começou a trabalhar como auxiliar da enfermeira do orfanato, onde aprendeu a amar o ofício, e agora, aos dezoito anos, era técnico em enfermagem no hospital municipal da cidade.Seu plantão ia até às seis da manhã, mas olhando para a programação diária percebeu que já tinha feito quase tudo, e mesmo ainda faltando pouco mais de uma hora e meia para ir embora, faltava apenas a última ronda nos l
Sem saber por onde começar, Raguel saiu à procura de outros funcionários do laboratório, sendo que a dor de saber que poderia nunca mais ver sua mãe, ainda martelava em seu peito.Saber que alguém como Gabriel, que estava passando pela mesma situação, estava a caminho para ajudá-la a entender aquilo tudo a confortava, e mesmo não o conhecendo, algo em sua voz dizia que podia confiar nele.Passou por várias salas e olhando dentro delas, avistou mais jalecos e crachás espalhados pelo chão, além de vários armários de arquivos e alguns computadores, mas nenhum funcionário.Chegando a um pátio com janelas, pode ver que a escuridão ainda reinava lá fora e então, sentando-se, sentiu o
A Igreja Da Consolação Divina ficava no centro de Miraculous Clearing, e em meio a escuridão que pairava no local, suas luzes iluminavam todo o perímetro da grande praça central, que em um domingo como esse, se o sol estivesse aparecido, estaria tomada de crianças, idosos e jovens namorados, mas agora estava deserta e sem vida.Mikael deixou a moto em frente à grande escadaria da igreja, e seguiu para dentro. Da entrada do grande salão pode avistar o altar e lá estava seu pai, sentado nos degraus sozinho. Ao se aproximar, o jovem viu que ao lado do pastor, tinha uma garrafa de uísque com mais da metade do conteúdo faltando.A cena lhe trouxe a lembrança de dias ruins, quando sua mãe descobriu o câncer. Seu pai, que já era pastor, passou por um grave momento
Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.Era o li
A placa indicando os limites de Miraculous Clearing já havia ficado para trás a alguns quilômetros, mas agora que ela estava tão perto, já não sabia se seguia em frente ou desistia. Atrás da montanha que ela agora subia em sua moto através da rodovia estadual, estava a cidade que um dia foi sua casa, e tinha sido obrigada a abandonar.Há oito anos, quando ainda era apenas uma criança de dez anos, ela foi levada da cidade por sua mãe, que decidiu separar-se de seu pai, para aceitar a proposta de ser curadora de um famoso museu em Londres. Não podia culpar seus pais pela separação, pois ambos eram apaixonados pelas respectivas profissões, mas nunca os perdoou por fazê-la escolher com quem ficaria.Ela amava muito os dois, desde que a adotaram, e ela optou por
Gabriel guiou Raguel até a sala de monitoramento. Ele nunca se interessou pela profissão do pai, mas, simpático como era, nunca recusou um convite para visitar o laboratório e conhecia bem suas dependências. Sempre fora mais inclinado para a matemática da mãe que para a química do pai, mas nunca disse nada, para não correr o risco de magoá-lo.O doutor Rashford, era conhecido mundialmente por seu trabalho com química quântica, e se tornou notável por suas descobertas nos campos da Química Nuclear, Astroquímica, Sonoquímica e Hidrodinâmica quântica, e era procurado por físicos do mundo todo para ministrar palestras e seminários.Miraculous Clearing era um campo muito fértil de grandes mentes, e havia exportado para o mundo muitos “gênios” em diversas áreas di
Mikael passou apressadamente pela entrada do hospital carregando seu pai nos braços. A mancha crescente e úmida na faixa improvisada mostrava que a hemorragia aumentava e ele precisava urgente de auxílio médico.A recepção e os corredores estavam vazios. Cadeiras, vasos de planta e papéis revirados e espalhados por todos os lados, davam a impressão de que um furacão ou algo parecido tinha passado por ali.— Alguém me ajude! — o jovem gritou desesperado, e desesperou-se ainda mais por receber em retorno apenas o eco de sua voz pelos corredores desertos.Colocando o pastor cuidadosamente no chão, ele retirou sua jaqueta suja de sangue e improvisou uma almofada, onde pousou a cabeç
Estava sendo doloroso para ela rever em câmera lenta o momento em que a mãe estava sendo consumida por aquela luz, mas precisava saber o que tinha acontecido de fato.As figuras humanóides que viram ao pausar a imagem no momento exato do ataque assemelhavam-se mais a anjos que a ETs. Será então que o que houve foi um arrebatamento e não uma abdução?Haviam muitas perguntas sem respostas ainda e ela estava grata por ter Gabriel ao seu lado. Apesar de conhecê-lo há tão pouco tempo, ela sentia que tinham uma ligação. Sem contar que ele era uma graça. Ela desviou a atenção do vídeo e de todo o resto por um instante, e se viu viajando no jovem, que por sua vez estava concentrado em encontrar mais indícios sobre o que estava acontecendo.