Val
O PASSADO ME ATORMENTA.
…
— Val, onde você está menina? — Escuto minha mãe me chamar e imediatamente corro para as escadas, antes que ela se aborreça e me bata. Mariana bebeu a noite toda e quando voltou para casa, já era madrugada e como sempre, estava acompanhada de um "amigo".
Desde que o meu pai morreu, há cinco anos e meio, ela tem vivido de farras e sempre volta com uma companhia diferente. Desde os meus treze anos, tenho que aguentar suas bebedeiras e a violência contra mim.
Toda essa raiva é porque Mariana me culpa pela morte do meu pai.
— Valquíria, onde você se meteu? Se não aparecer aqui agora, já sabe o que vai receber! — grita.
Abro a porta do porão e a vejo em pé na sala. Seus olhos avermelhados indicam que se drogou. Respiro fundo, porque sei que não será nada fácil li dar conta da sua bebedeira es efeitos da drogada ao mesmo tempo.
— Estou aqui mamãe. — Forço-me a responder e apareço em seu campo de visão.
Ela me olha irritada e anda em minha direção com passos vacilantes e quando se aproxima, segura firme os meus cabelos, puxando-os com força.
— Onde está o meu café da manhã, sua vadiazinha de merda? — pergunta bem próximo do meu rosto. O cheiro forte da bebida me sufoca no mesmo instante. Meus olhos queimam com as lágrimas querendo se formar devido à dor em minha cabeça. — Estou com fome, vá fazer a minha comida agora!
Mariana me empurra com força, e caio no chão, o impacto me faz bater a cabeça no pé da mesa de centro. Um homem entra na sala segundos depois. Inevitavelmente observo a sua barba espeça, os cabelos compridos e cacheados. Ele é alto e tem uma barriga protuberante. Seus olhos azuis também estão vermelhos como os da minha mãe.
Atordoada, forço a levantar-me do chão e sigo apressada para cozinha.
— Sua filha é uma delícia Mariana! — Escuto-o dizer e sinto um arrepio na minha espinha dorsal.
…
— Val? Val, acorda! — Sobressalto ao escutar a voz da Sil me chamando e respirando com dificuldade, me sento na cama. No mesmo instante sinto os seus braços me envolver e uma mão desliza suavemente pelas minhas costas.
Sil é minha amiga de quarto faz um bom tem. Dividimos um pequeno apartamento de um quarto, bem próximo ao centro do Rio de Janeiro. Quando cheguei aqui no Rio, a família de Sil me ajudou bastante. Eles pagaram alguns cursos e supletivos para eu terminar meus estudos, para que eu não precisasse da minha mãe para nada.
— Acordei você outra vez? — indago assim que me sinto mais calma. — Eu gritei muito?
— Não. Na verdade, eu estava indo beber água quando percebi que você estava tendo mais um pesadelo. Solto um suspiro.
— Obrigada, Sil! — digo e engulo em seco. — Que horas são? Ela olha o relógio em seu pulso.
— Falta uma hora e meia para seu horário de trabalho. — Merda! Xingo mentalmente, sentindo-me frustrada.
— Nesse caso, vou tomar um banho e preparar algo para comermos. Está de folga hoje?
— Estou. Acho que vou aproveitar para fazer umas compras de roupas para mim, estou precisando. Quer que eu traga algo para você? — Forço um sorriso para a minha amiga.
— Não, obrigada!
Vou até uma cômoda, no canto do quarto e tiro o meu uniforme e o arrumo com cuidado em cima da minha cama e em seguida, entro no banheiro. Tomo um banho rápido e me arrumo sem muita pressa. Em meia hora irei para empresa de exportação Village. Sou assistente do senhor Alberto Village. Um emprego maravilho que o pai de Sil conseguiu para mim. Eu tinha dezoito anos quando comecei a trabalhar na empresa e já tem quatro anos que trabalho para o grupo Village. Alberto é um ótimo patrão! Ele me ensinou tudo o que sei sobre exportação e contratos. E não posso negar que é um homem muito bonito, além de sério e focado em seu trabalho. Admiro a sua dedicação e tudo que faz com muita excelência.
Apesar de o seu trabalho ser algo muito sério, ele ainda exigir muito si, mas sem se desfazer do seu humor extraordinário. E se tem algo me deixa fascinada é o fato de Alberto Village trata bem os seus funcionários. Deu para perceber que sou sua fã número um, não é?
Como ainda é muito cedo, abro o meu notebook e a minha caixa de e-mails em seguida, encontrando inúmeras mensagens de clientes da empresa, da tia Júlia, a mãe da Sil e uma do meu chefe. Curiosa, clico para abrir sua mensagem.
Alberto Village.
CEO da Village Exportation Ltda.
Bom dia, Val!
Estou saindo de viagem para França,
e não tenho dia para voltar.
Meu irmão, Alexander assumirá o meu lugar.
Por favor, ajude-o no que precisar.
Respiro fundo.
Alex é um bom rapaz, mas estou me perguntando como ele dará cabo daquilo tudo? A final a Village é um monstro da exportação e para domá-lo exige esforço e tempo. Espero saber lidar com ele. Penso. Saio do meu quarto e encontro Sil na cozinha.
— Já está de pé? — pergunto, mas ela dá de ombros e me abre um meio sorriso.
— Perdi o sono, então preparei alguns sanduíches naturais e suco de laranja para nós duas. — Sorrio abraçando apertado a minha amiga.
— Obrigada, Sil! Se eu tivesse uma irmã, gostaria que fosse igual a você! — falo assim que me afasto. Seu sorriso se amplia e ela vem para mais perto, para outro abraço carinhoso.
— Faz tempo que não tem pesadelos como o de hoje. O que houve? — questiona preocupada. Dou de ombros.
— Não sei. Ontem no centro, vi uma mulher muito parecida com a Mariana. Talvez tenha desencadeado algo em mim.
— É, talvez. Amanhã é o aniversário de Alisson, quer ir comigo?
— Acho que não, Sil. — Ela revira os olhos.
— Val, você precisa sair um pouco. Como vai arrumar um namorado trancada nesse apartamento? _ Solto o ar de modo audível.
— Não sei se quero arrumar um namorado agora.
— Vamos, você pode dançar um pouco, beber algo, se distrair. — Ela insiste.
— Prometo que pensarei no seu convite.
— Você sempre diz isso e nunca vai — resmunga. Termino o meu café da manhã e me levanto da cadeira, levando o prato e o copo para pia.
— Se já sabe, não sei por que insiste — ralho.
— Por minha meta é fazê-la se divertir e encontrar alguém para chamar de seu. — Minha amiga cantarola e eu solto uma lufada de ar. Após lavar a louça e ponho para escorrer.
— Já parou para pensar que pode não ser isso que quero no momento?
— Claro que você quer! Toda garota quer isso para a sua vida, Val.
Quando conheci a Sil, havia acabado de fazer dezoito anos. Eu fugi de casa e estava nervosa, com fome, suja e perdida, sem saber para onde ir e nem o que fazer.
Sil apareceu no lugar certo e na hora certa. Tia Júlia e tio Paulo faziam projetos sociais para ajudar crianças carentes que viviam nas ruas e aos poucos, foram se aproximando de mim e me ajudaram. Sua primeira atitude, foi me incentivar a terminar os meus estudos, a fazer alguns cursos e o resto vocês já sabem…
— Estou saindo — aviso, enquanto seco as minhas mãos.
— Você ainda tem uma hora. Não é muito cedo?
— Doutor Alberto Village vai se ausentar da empresa por tempo indeterminado e seu irmão mais novo ficará no seu lugar. Tenho que ir mais cedo para ajudá-lo no que precisar — explico, enquanto pego as minhas coisas e as ponho na bolsa.
— Aquele Alberto Village é um gato! Lindo não, é a molesta! Imagino como seria o irmão daquela perdição. — Ela comenta sonhadora, abrindo um par de olhos pidões, me fazendo rir e menear a cabeça negativamente. — O quê? Vai me dizer que você nunca olhou para o seu chefe como eu olhei?
— Ele é um homem muito bonito mesmo, seria cega se não reparasse nisso — retruco.
— Bonito? Bonito? — Sil ralha exasperada. — Ah Val, por favor, o homem é um tesão de lindo!
— É você quem está dizendo! — retruco, levando a minha bolsa ao ombro e sigo para a saída.
— Sério, Val, você é lésbica? — indaga com sarcasmo e com humor, lhe mostro o meu dedo do meio.
— Não me espere para almoçar. Não sei como será o meu dia hoje no escritório — aviso e fecho a porta atrás de mim.
ValComo havia previsto, tudo na empresa está uma loucura. Os acionistas não param de ligar, alguns associados já chegaram para a reunião com o novo CEO e Alex está uma pilha de nervos e muito desatento também. Preparo a sala de reuniões e peço para Mag, que prepare um café para ser servido durante a reunião. Separo algumas pastas com os documentos necessários para Alex levar a pauta e caminho para a sua sala. Bato na porta de leve e entro no escritório logo em seguida. Alex parece distante e sinto que algo o incomoda. Ele para o que está fazendo e me olha com as pastas nas mãos.— A reunião começa em alguns minutos — aviso com o meu melhor tom profissional. — Trouxe os documentos para dá uma olhadinha antes de ir.— E se eu não conseguir? — fala nervoso. Abro-lhe um sorriso encorajador.— Se Alberto escolheu você, é porque sabe que é capaz, Alex. — Ele puxa a respiração e pega os papéis em sua mesa e juntos seguimos para a reunião. Mesmo estando uma pilha de nervos, surpreendemente
AlbertoVOLTANDO AO PONTO.…— Tenho que desligar, Bel.— Espera! Eu… posso te fazer uma pergunta?— Claro!— Como você e a Ângela se conheceram? — Ele faz um incômodo silêncio do outro lado da linha, depois puxou a respiração.— Você tem certeza de que quer falar sobre isso?— Eu preciso saber, Alex. Eu quero entender o que realmente aconteceu.— Tudo bem! Eu estava me divertindo em um clube de piscina com alguns amigos, estava bebendo e jogando frescobol, em algum momento tive que correr parar ir pegar a bola que saiu do nosso controle e Ângela esbarrou em mim. — Fecho os meus olhos. A ordinária usava a tática do esbarrão com todos os idiotas! Pensei revoltado. — Então, depois de um bom papo e de trocarmos telefonemas e e-mails, começamos a ter encontros esporádicos. Até que ela inventou uma viagem de última e acabou o nosso namoro.— Ok! Ok! Ok, o resto eu já sei! — ralho irritado.— Você está bem? — Trabalho a minha respiração, tentando não explodir com ele.— Preciso ir, Alex. Voc
Alberto— Bom, eu ficaria feliz se providenciasse um sobrinho para mim quanto antes.— Não seja apressado, Alberto, ainda queremos curtir a vida!— Acha que um bebê atrapalharia vocês?— Não é isso. Eu tenho alguns planos, quero crescer profissionalmente, viajar com o meu marido, praticar esportes radicais que amo e quem sabe, pensar em ter um filho.— Um filho? Terei que esperar uma eternidade pela vinda do meu primeiro sobrinho e vocês só querem ter um filho? — ralho, fingindo indignação. — Qual é, Alex? Tenho certeza de que você tem mais gás que isso, cara! Quero pelo menos três sobrinhos.— TRÊS! — Amanda grita, se engasgando e todos rimos do seu desespero. Alguns minutos depois eu e Alex estamos trancados na biblioteca da casa, analisando alguns papéis e conversando sobre as estimativas de lucro da empresa.— Isso foi um golpe de mestre, Alexander Village! Parabéns, você fez pela empresa em três meses o que eu não consegui em anos — digo admirado.— Ah, deixa de onda vai! Você sab
ValPOR ESSA EU NÃO ESPERAVA.Não sei quanto tempo se passou depois que saí da empresa, só sei que caminhei por horas pelas ruas do Rio e em algum momento, parei em uma praça no centro e me sentei em um banco de concreto.Eu não entendo, há mais de dois anos não tenho pesadelos, por que eles estão voltando a me atormentar dessa forma?As lágrimas voltaram com força total e chego a soluçar chamando a atenção de algumas pessoas que passam e me olham com pena, entretanto, eu não consigo parar. Após longos minutos, seco as lágrimas e passo em uma farmácia no caminho de casa. Antidepressivos, droga não queria ter que precisar deles de novo, mas pelo visto, só conseguirei dormir essa noite com a ajuda deles. Faz mais de duas semanas que não durmo direito e evitei o máximo o uso dos medicamentos, mas passar outra noite em claro sei que não aguentaria.Quando chego em casa, encontro Sil na cozinha. Ela adora cozinhar e é por isso que se dedica a faculdade de gastronomia. Sil tem planos de faze
Val— Não, não me esqueci. É bom para curar o efeito da bebida, você vai me agradecer depois — ralho.Ele termina o seu café e me devolve a xícara.— Agora, vá tomar um banho, eu vou providenciar uma muda de roupa pra você. — Ele assente, caminhando sem muita disposição para o banheiro.Portanto, vou até um pequeno closet que Alberto mantém aqui em seu escritório e escolho um conjunto de terno preto, uma camisa azul-claro, uma gravata cor de chumbo, uma box azul escura, um par de meias limpas, e levo tudo para sala.No entanto, paro impactada ao vê-lo sair do banheiro enrolado apenas com uma mini toalha branca na cintura. Sem perceber, meus olhos paralisam na pele morena e úmida, desceram pela barriga tanquinho e depois, no V no pé da barriga.Sim, estou hipnotizada com a sua visão. O observo secar os cabelos com o auxílio de outra toalha e suspiro sem saber o que fazer realmente. Eu deveria estar em pânico e sair correndo daqui, mas surpreendentemente não estou. Pelo contrário, estou
AlbertoMEU PAR PERFEITO!Alguns dias depois…Depois daquela manhã absurdamente catastrófica no meu escritório…Ou deveria dizer maravilhosa?Talvez os dois.As minhas noites não têm as melhores, meus pensamentos estão sempre retornando ao beijo que dei em Valquíria Drummond bem no meio da minha sala. Ainda consigo sentir os seus braços me envolverem, o toque das pontas dos seus dedos nos meus cabelos, o seu perfume de rosas. Saio da cama revigorado. Até dois dias atrás eu não tinha a menor perspectiva de me envolver intimamente com qualquer mulher, o sexo casual tem sido o meu lema durante esses três meses, e depois daquela festinha muito íntima na despedida de solteiro de Alex, saí acompanhado de duas dançarinas.E acreditem, fizemos uma farrinha particular aqui mesmo no escritório.Secamos algumas garrafas e transamos feito coelhos por cada parte que se possa imaginar desse lugar. Depois as dispensei, pagando um bom dinheiro pela noitada e adormeci ali mesmo no tapete do meu escr
AlbertoEU VOU, OU NÃO VOU?A festa de despedida de solteiro do meu irmão deu muito o que falar entre a macharada e, diga-se de passagem, as garotas contratadas para esse evento eram simplesmente fabulosas e combinavam exatamente com o meu estado de espírito naquele exato momento. Desde aquela m*****a noite, eu não tinha a menor perspectiva de me envolver alguém e sexo casual tem sido o meu lema desde então.No final da nossa farra, saí acompanhado de duas dançarinas pra lá de gostosas e fizemos uma festinha particular aqui mesmo no meu escritório. Secamos algumas garrafas e transamos feito coelhos boa parte da madrugada, em cada canto que foi possível. No final, as dispensei lhes dando algum dinheiro pela noitada e adormeci cansado e saciado no tapete do escritório. A parte mais estranha disso tudo, foi ter os meus sonhos invadidos por uma cena que pensei ter apagado completamente.Um abraço de resgate, o seu perfume me envolvendo, o seu calor se misturando ao meu. Seus lindos olhos a
Alberto— Meu pai. — Ela dá de ombros. — Ele era veterinário e tinha paixão pelo seu trabalho. Lembro-me que quando eu era pequena ele me levava para o seu consultório e me ensinava a alimentar os animais enfermos. Eu amava ficar perto e cuidar deles! — Me pego maravilhado com isso e juro que chego a imaginar essa linda cena.— Isso é lindo, Val! — sussurro. Ela beberica o seu café e me mostra um sorriso pequeno e de boca fechada. Não é o sorriso que aprendi a amar, mas ainda assim, é tão lindo quanto o outro.— Um dia encontramos uma cadelinha na rua, sabe? Ela estava muito maltratada e suja. Quando a mostrei para o meu pai e quase implorei que a ajudasse, ele não pensou duas vezes. Parou o carro no meio do trânsito e a pegou em seus braços. Ajeitou o banco traseiro e a colocou lá.Não voltamos para casa, com havíamos planejado. Ele fez questão de voltar para clínica e cuidou dela. Cada cantinho dela foi examinado. Eu sabia que ele estava cansado do dia corrido, mas o amor que ele tin