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Alberto

— Bom, eu ficaria feliz se providenciasse um sobrinho para mim quanto antes.

— Não seja apressado, Alberto, ainda queremos curtir a vida!

— Acha que um bebê atrapalharia vocês?

— Não é isso. Eu tenho alguns planos, quero crescer profissionalmente, viajar com o meu marido, praticar esportes radicais que amo e quem sabe, pensar em ter um filho.

— Um filho? Terei que esperar uma eternidade pela vinda do meu primeiro sobrinho e vocês só querem ter um filho? — ralho, fingindo indignação. — Qual é, Alex? Tenho certeza de que você tem mais gás que isso, cara! Quero pelo menos três sobrinhos.

— TRÊS! — Amanda grita, se engasgando e todos rimos do seu desespero. Alguns minutos depois eu e Alex estamos trancados na biblioteca da casa, analisando alguns papéis e conversando sobre as estimativas de lucro da empresa.

— Isso foi um golpe de mestre, Alexander Village! Parabéns, você fez pela empresa em três meses o que eu não consegui em anos — digo admirado.

— Ah, deixa de onda vai! Você sabe que faria o mesmo, esse era o seu próximo passo. — Sorrio.

— Quando sairá de lua de mel, pretendo retornar a empresa assim que você se afastar.

— Boa, Alberto, adorei! Então, você veio para ficar? — Meu irmão pergunta expressando a sua alegria.

— Sim, decidi que não é fugindo dessa situação que resolverei as coisas, então se você não se importar, quero o meu cargo de volta. — Seu sorriso se alarga.

— Ele é todo seu, mano! Ficarei superfeliz se eu voltar a ser o simples vice-presidente da empresa. — Rio da sua falta de modéstia.

— Simples? Seu cargo não tem nada de simples, Alex Village. — Ele dá de ombros.

— Pelo menos não é tão exigente como o seu!

— Exigente? Cara, você vai se casar, aí conhecerá o que é ser exigente! — retruco debochado e ele fica sério de repente.

— Bel, sério, não me assusta que desisto de casar-se ainda hoje! — resmunga, me fazendo gargalhar.

— Não seja frouxo, Alex! Você vai amar cada exigência da sua esposa, dos seus filhos… E falando em casamento, decidiu onde será a sua despedida de solteiro? — Mudo de assunto e ele olha para a porta fechada, provavelmente para se certificar de que estamos sozinhos.

— Nem me fale nisso! Tenho até medo do que o Nick e Guilherme estão aprontando — fala baixo demais.

— Qual é, Alex? É uma despedida de solteiro, tem que se entregar a esse momento, homem. Se divertir como se não houvesse amanhã!

— Sei! Você fala isso porque não está na minha pele. Amanda me mata se sonhar que terá mulheres nessa festa, Bel. — Alex cochicha, como se me confidenciasse um segredo. Dou de ombros

— Ela não precisa saber, certo? — Devolvo o sussurro.

— Ok, diz isso para o maldito detector que tem dentro dela. A mulher tem um faro para essas coisas, Bel, acredite em mim!

Sério isso? Pergunto-me embasbacado e solto mais uma gargalhada. Faz tempo que não dou boas risadas assim. Custa acreditar que Alex virou esse cordeirinho nas mãos de Amanda Albuquerque.

— Bom, já que você está se divertindo muito as minhas custas, eu tenho que sair com Ulisses para ver algumas coisas do casamento. Será que pode assumir a empresa por hoje? Deixei um recado com Val dispensando-a por hoje, mas não sei se ela chegou a ver. Não tem muito o que fazer por lá hoje, mas…

— Tudo bem, eu vou sim! Estou louco de saudades daquilo tudo! — Alex sorri satisfeito.

— Bem-vindo de volta, mano!

— Valeu por assumir tudo enquanto estive fora! Agora vai cuidar no que precisa, que estou indo para a empresa. — Esvazio o meu copo de uísque, me levanto da cadeira e abraçar o meu irmão. De volta a sala abraço a minha cunhada e pôr fim a Alzira, e com ela, demoro um pouco mais. Aguardo Alex se despedir demoradamente da sua bruxinha e saímos juntos da casa. Ele vai para o seu carro e eu, para o meu.

Pego o trânsito do Rio que a esta hora está bem tranquilo e chego à empresa em menos de meia hora. Como sempre, cumprimento o porteiro na entrada do prédio e alguns funcionários que passam por mim no hall. Entro no elevador privativo e aperto o botão do último andar. Não demora muito e as portas duplas se abrem, e quando entro no longo corredor, vejo a minha secretária debruçada e adormecida em sua mesa. Meus olhos percorrem seus cabelos loiros e curtos, espalhados pela madeira e em seu rosto também.

Nossa, ela parece bem cansada, nunca a vi assim antes!

Talvez o fato de me afastar a tenha sobrecarregado. Penso e aproximo mais, e percebo seu computador ligado em um curso de inglês. Um movimento seu me chama a atenção. Val segura um lápis que está quase caindo de sua mão sobre um pequeno caderno de folhas decoradas com pequenas flores cor de rosa. De repente ela se agita, então penso que acordou e me afasto imediatamente. A última coisa que eu quero é que a minha secretária pense que estou bisbilhotando a sua vida.

No entanto, ela ainda dorme e… seu rosto lindo e sereno muda para uma forma dolorida. É como se ela sentisse uma dor muito forte, profunda, na verdade. E, no instante seguinte, ela começa a gritar, pedindo com todas as suas forças que pare, e depois disso, começa a chorar. Engulo em seco.

Mas, que merda, o que eu faço?

Agoniado, resolvo despertá-la desse sono desesperador e ela abre um par de olhos claros e molhados de lágrimas. Por mais que se esforce em esconder a sua dor, Val soluça e eu me pego segurando a garota em meus braços, e acariciando as suas costas com suavidade, enquanto sussurro que tudo ficará bem.

— Calma, querida, estou aqui com você! — peço docemente e inexplicavelmente, me sinto tão bem assim perto dela! Valquíria parece ter algo especial, uma luz, uma paz que me atrai.

Val se afasta repentina e sem me olhar nos olhos. Eu ergo o meu corpo e em silêncio a observo pegar a sua bolsa. Ela sibila algo que não entendo e sai apressada para o elevador. Sem ação, eu apenas fico parado e olhando-a se afastar e ir para longe de mim. Se sequer ela olhar para trás. Não sei ao certo o que estou sentindo agora, só sei que me sinto confuso.

Conheço Valquíria a quatro anos e ela sempre trabalhou para mim, mas nunca, em momento algum, tivemos qualquer tipo de envolvimento, nem mesmo como esse de hoje. Sempre a vi como uma boa profissional e eu mesmo ensinei tudo o que ela sabe sobre exportação, contratos e formulários. Sempre a incentivei a se aprimorar, crescer e não ficar parada no tempo da sua profissão.

Volto o meu olhar para a tela do seu PC e resolvo desligá-lo. Sigo para minha sala e fito o ambiente calmo e silencioso por um tempo. Respiro fundo, sentindo o aroma familiar dos moveis e de papéis do meu escritório. Aproximo de um janelão de vidro e olho o mundo lá fora. Sorrio. Finalmente estou em casa! Passo o resto do meu dia concentrado em pesquisas, estudando estratégias e respondo alguns e-mails. Ligo para algumas fontes e… caramba, como senti falta disso!

Já é quase de noite quando recebo uma mensagem de Guilherme Albuquerque e resolvo que é horar de parar e pela primeira vez quero sair para curtir na rode amigos.

Guilherme Albuquerque

Despedida de solteiro do Alex e Ulisses

na boate Beijo Quente daqui a uma hora.

Sorrio, olhando para a tela do celular. Hoje Alex enfarta! Penso. A última despedida de solteiro que Guilherme fez foi para um dos seus funcionários da empresa. Alex não faz ideia do que estar por vir!

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