Val
Como havia previsto, tudo na empresa está uma loucura. Os acionistas não param de ligar, alguns associados já chegaram para a reunião com o novo CEO e Alex está uma pilha de nervos e muito desatento também. Preparo a sala de reuniões e peço para Mag, que prepare um café para ser servido durante a reunião. Separo algumas pastas com os documentos necessários para Alex levar a pauta e caminho para a sua sala. Bato na porta de leve e entro no escritório logo em seguida. Alex parece distante e sinto que algo o incomoda. Ele para o que está fazendo e me olha com as pastas nas mãos.
— A reunião começa em alguns minutos — aviso com o meu melhor tom profissional. — Trouxe os documentos para dá uma olhadinha antes de ir.
— E se eu não conseguir? — fala nervoso. Abro-lhe um sorriso encorajador.
— Se Alberto escolheu você, é porque sabe que é capaz, Alex. — Ele puxa a respiração e pega os papéis em sua mesa e juntos seguimos para a reunião.
Mesmo estando uma pilha de nervos, surpreendemente, Alex ministrou a reunião com a destreza de um presidente e no final, ele riu da sua capacidade e inteligência.
O resto do dia não tive muito o que fazer, pois, meu chefe interino ficou horas trancado em sua sala e aproveitei o meu tempo para estudar meu curso de inglês online.
Quero ser uma das melhores assistentes que o grupo Village já teve. Como dizia o meu pai: Você tem que fazê-los ver que é insubstituível, que precisam de você!
E falando nele, tenho poucas lembranças do meu pai. Me lembro de algumas brincadeiras, de alguns poucos conselhos, de passeios, mas tudo muito vago. Muita coisa se perdeu naquele maldito acidente que o tirou de mim e virou o meu mundo infantil de cabeça para baixo.
Olho o meu relógio de pulso e bufo baixinho. Já são pouco mais das cinco da tarde, mais um pouquinho e é hora de ir para casa. Confesso que não fico muito animada com isso. Hoje Sil está de folga e com certeza dormirá na casa do Alisson, seu ficante de longa data e não gosto de ficar sozinha naquele apartamento.
— Val, estou de saída. Acho que deveria ir também. — Alex avisa saindo da sala.
— Certo, Alex. Envio para o seu e-mail o resultado da contabilidade que a equipe me mandou.
— Faça isso. Darei uma olhada em casa. — Assinto e ele sai. Assim que as portas do elevador se fecham, começo a arrumar as minhas coisas para sair da empresa.
***
Por incrível que pareça, as semanas passaram tranquilas na empresa. Alex Village, apesar de ser muito jovem é bastante perspicaz e persuasivo, assim como seu irmão.
Seguindo a orientação de Alberto, o rapaz alavancou com as exportações no Canadá, China e Alemanha.
Daqui a alguns dias ele se casará e acredito que por esse motivo, anda transpirando tanta felicidade por todos os seus poros. Houve um tempo que eu sonhava com príncipes encantados. Quando o meu pai era vivo e eu via em seus olhos e da minha mãe a felicidade plena, o amor verdadeiro. Lembro-me que quando tinha meus doze anos, cheguei a me apaixonar por Cristian, um garoto de quinze anos, do oitavo ano. Ele era o garoto mais bonito da escola. Às vezes me pegava sonhando em me casar com ele e que teríamos lindos filhos, mas todos os meus sonhos morreram quando eu fiz quinze anos.
Entro na empresa e como de costume, agilizo algumas coisas para o nosso dia de trabalho. Abro minha gaveta para guardar as minhas coisas e vejo um envelope dourado, atado com delicadas fitas de seda vermelha e duas iniciais gravadas com letras pretas bem desenhadas A&A. Abro o envelope delicado e percebo que se trata do convite de casamento de Alex e Amanda.
Suspiro.
Não sei se irei a esse casamento. Não sei se consigo.
Consternada, guardo o envelope na minha bolsa e só então percebo um bilhete em papel branco escrito a mão.
Para Valquíria.
Val, não irei a empresa hoje. É minha despedida de solteiro. Você pode por favor cancelar a agenda de hoje? E se não tiver nada para fazer, pode ir para casa.
Alexander Village.
Esse é o seu convite, quero vê-la em meu casamento.
Ir para casa não é uma boa opção. Penso, me acomodando em minha cadeira e olho a agenda do dia. Desanimo quando vejo não haver muito o que fazer. Apenas alguns contratos e uma reunião. Consigo fazer isso. Penso determinada. Quando Albert e Alex precisaram ir para Michigan dei conta direitinho por duas semanas inteiras da empresa.
Depois do almoço, resolvo tirar meu horário de descanso, abro a tela do computador e começo a ler alguns contratos, mas logo os meus olhos começam a arder e pesam, e vencida pelo cansaço, adormeço.
…
— Onde está a sua mãe, bonitinha? — Viro-me em um rompante, para o homem em pé na porta da sala. Engulo em seco e lhe respondo num fio de voz.
— Ela não está. — Ele sorri maliciosamente, entra e fecha a porta. Na sequência, dá um passo em minha direção, e imediatamente recuo um passo pata traz.
— Onde ela está? — pergunta. Rique tem suas mãos no bolso da calça jeans suja e desbotada.
— Eu não sei. — Ele fica sério e me olha da cabeça aos pés. O observo passar a língua nos seus lábios ressecados e dá mais um passo à frente. Automaticamente recuo mais um passo.
— Está com medo de mi, bonitinha? — Abre mais um sorriso nojento.
— Não — minto, pois, estou apavorada.
— Então vem aqui — pede. O meu sangue gela em minhas veias no instante que se senta na ponta do sofá e estende uma mão para mim.
— É melhor você voltar depois, minha mãe saiu, e ela… — Tudo acontece rápido demais. Rique me segura pelos braços e me j**a com violência no velho sofá da sala. Desesperada, começo a gritar e a bater nele, mas ele é mais forte que eu.
— Não! Não! Por favor!
…
— Val? Val, acorda! — Sinto Alguém balançar o meu corpo e abro os olhos, encontrando os olhos escuros de Alberto. — Você está bem? — Ele pergunta em um sussurro. Por mais que eu quisesse, não consegui conter as lágrimas e em soluços, faço sim, para ele. — Droga, vem cá! — pede com suavidade na voz e inesperadamente Alberto me puxa para seus braços. E não sei o porquê, mas me senti segura neles. Ele me aperta e acaricia as minhas costas, me acalentando por um curto espaço de tempo. Depois, se afasta e olha em meu rosto. Seu polegar se arrasta lentamente pela pele molhada, enxugando as minhas lágrimas. — Você teve um pesadelo — diz o óbvio. Engulo em seco, pois, não quero falar sobre isso com ele.
— Tenho que ir — falo de repente, cortando nosso contato visual e pego a minha bolsa em cima da minha mesa. Saio apressada para o elevador. Alberto parece estático com a minha reação, pois, ele não diz nada e nem se mexe do seu lugar. Não me importa, ele viu o que lutei durante anos para esconder das pessoas e eu não tenho condições psicológicas para encará-lo agora, tão pouco para dar-lhe uma desculpa plausível para o que acabou de assistir.
AlbertoVOLTANDO AO PONTO.…— Tenho que desligar, Bel.— Espera! Eu… posso te fazer uma pergunta?— Claro!— Como você e a Ângela se conheceram? — Ele faz um incômodo silêncio do outro lado da linha, depois puxou a respiração.— Você tem certeza de que quer falar sobre isso?— Eu preciso saber, Alex. Eu quero entender o que realmente aconteceu.— Tudo bem! Eu estava me divertindo em um clube de piscina com alguns amigos, estava bebendo e jogando frescobol, em algum momento tive que correr parar ir pegar a bola que saiu do nosso controle e Ângela esbarrou em mim. — Fecho os meus olhos. A ordinária usava a tática do esbarrão com todos os idiotas! Pensei revoltado. — Então, depois de um bom papo e de trocarmos telefonemas e e-mails, começamos a ter encontros esporádicos. Até que ela inventou uma viagem de última e acabou o nosso namoro.— Ok! Ok! Ok, o resto eu já sei! — ralho irritado.— Você está bem? — Trabalho a minha respiração, tentando não explodir com ele.— Preciso ir, Alex. Voc
Alberto— Bom, eu ficaria feliz se providenciasse um sobrinho para mim quanto antes.— Não seja apressado, Alberto, ainda queremos curtir a vida!— Acha que um bebê atrapalharia vocês?— Não é isso. Eu tenho alguns planos, quero crescer profissionalmente, viajar com o meu marido, praticar esportes radicais que amo e quem sabe, pensar em ter um filho.— Um filho? Terei que esperar uma eternidade pela vinda do meu primeiro sobrinho e vocês só querem ter um filho? — ralho, fingindo indignação. — Qual é, Alex? Tenho certeza de que você tem mais gás que isso, cara! Quero pelo menos três sobrinhos.— TRÊS! — Amanda grita, se engasgando e todos rimos do seu desespero. Alguns minutos depois eu e Alex estamos trancados na biblioteca da casa, analisando alguns papéis e conversando sobre as estimativas de lucro da empresa.— Isso foi um golpe de mestre, Alexander Village! Parabéns, você fez pela empresa em três meses o que eu não consegui em anos — digo admirado.— Ah, deixa de onda vai! Você sab
ValPOR ESSA EU NÃO ESPERAVA.Não sei quanto tempo se passou depois que saí da empresa, só sei que caminhei por horas pelas ruas do Rio e em algum momento, parei em uma praça no centro e me sentei em um banco de concreto.Eu não entendo, há mais de dois anos não tenho pesadelos, por que eles estão voltando a me atormentar dessa forma?As lágrimas voltaram com força total e chego a soluçar chamando a atenção de algumas pessoas que passam e me olham com pena, entretanto, eu não consigo parar. Após longos minutos, seco as lágrimas e passo em uma farmácia no caminho de casa. Antidepressivos, droga não queria ter que precisar deles de novo, mas pelo visto, só conseguirei dormir essa noite com a ajuda deles. Faz mais de duas semanas que não durmo direito e evitei o máximo o uso dos medicamentos, mas passar outra noite em claro sei que não aguentaria.Quando chego em casa, encontro Sil na cozinha. Ela adora cozinhar e é por isso que se dedica a faculdade de gastronomia. Sil tem planos de faze
Val— Não, não me esqueci. É bom para curar o efeito da bebida, você vai me agradecer depois — ralho.Ele termina o seu café e me devolve a xícara.— Agora, vá tomar um banho, eu vou providenciar uma muda de roupa pra você. — Ele assente, caminhando sem muita disposição para o banheiro.Portanto, vou até um pequeno closet que Alberto mantém aqui em seu escritório e escolho um conjunto de terno preto, uma camisa azul-claro, uma gravata cor de chumbo, uma box azul escura, um par de meias limpas, e levo tudo para sala.No entanto, paro impactada ao vê-lo sair do banheiro enrolado apenas com uma mini toalha branca na cintura. Sem perceber, meus olhos paralisam na pele morena e úmida, desceram pela barriga tanquinho e depois, no V no pé da barriga.Sim, estou hipnotizada com a sua visão. O observo secar os cabelos com o auxílio de outra toalha e suspiro sem saber o que fazer realmente. Eu deveria estar em pânico e sair correndo daqui, mas surpreendentemente não estou. Pelo contrário, estou
AlbertoMEU PAR PERFEITO!Alguns dias depois…Depois daquela manhã absurdamente catastrófica no meu escritório…Ou deveria dizer maravilhosa?Talvez os dois.As minhas noites não têm as melhores, meus pensamentos estão sempre retornando ao beijo que dei em Valquíria Drummond bem no meio da minha sala. Ainda consigo sentir os seus braços me envolverem, o toque das pontas dos seus dedos nos meus cabelos, o seu perfume de rosas. Saio da cama revigorado. Até dois dias atrás eu não tinha a menor perspectiva de me envolver intimamente com qualquer mulher, o sexo casual tem sido o meu lema durante esses três meses, e depois daquela festinha muito íntima na despedida de solteiro de Alex, saí acompanhado de duas dançarinas.E acreditem, fizemos uma farrinha particular aqui mesmo no escritório.Secamos algumas garrafas e transamos feito coelhos por cada parte que se possa imaginar desse lugar. Depois as dispensei, pagando um bom dinheiro pela noitada e adormeci ali mesmo no tapete do meu escr
AlbertoEU VOU, OU NÃO VOU?A festa de despedida de solteiro do meu irmão deu muito o que falar entre a macharada e, diga-se de passagem, as garotas contratadas para esse evento eram simplesmente fabulosas e combinavam exatamente com o meu estado de espírito naquele exato momento. Desde aquela m*****a noite, eu não tinha a menor perspectiva de me envolver alguém e sexo casual tem sido o meu lema desde então.No final da nossa farra, saí acompanhado de duas dançarinas pra lá de gostosas e fizemos uma festinha particular aqui mesmo no meu escritório. Secamos algumas garrafas e transamos feito coelhos boa parte da madrugada, em cada canto que foi possível. No final, as dispensei lhes dando algum dinheiro pela noitada e adormeci cansado e saciado no tapete do escritório. A parte mais estranha disso tudo, foi ter os meus sonhos invadidos por uma cena que pensei ter apagado completamente.Um abraço de resgate, o seu perfume me envolvendo, o seu calor se misturando ao meu. Seus lindos olhos a
Alberto— Meu pai. — Ela dá de ombros. — Ele era veterinário e tinha paixão pelo seu trabalho. Lembro-me que quando eu era pequena ele me levava para o seu consultório e me ensinava a alimentar os animais enfermos. Eu amava ficar perto e cuidar deles! — Me pego maravilhado com isso e juro que chego a imaginar essa linda cena.— Isso é lindo, Val! — sussurro. Ela beberica o seu café e me mostra um sorriso pequeno e de boca fechada. Não é o sorriso que aprendi a amar, mas ainda assim, é tão lindo quanto o outro.— Um dia encontramos uma cadelinha na rua, sabe? Ela estava muito maltratada e suja. Quando a mostrei para o meu pai e quase implorei que a ajudasse, ele não pensou duas vezes. Parou o carro no meio do trânsito e a pegou em seus braços. Ajeitou o banco traseiro e a colocou lá.Não voltamos para casa, com havíamos planejado. Ele fez questão de voltar para clínica e cuidou dela. Cada cantinho dela foi examinado. Eu sabia que ele estava cansado do dia corrido, mas o amor que ele tin
AlbertoTINHA TUDO PARA SER MÁGICO.Quando a música, I live life for you começa a tocar eu não perco tempo e levo Val para pista de dança. Pode até ser bobo da minha parte, mas, seus braços me envolvendo o meu pescoço é o paraíso! Aproveitei essa doce aproximação para inalar sutilmente o seu perfume suave, e este invadiu imediatamente os meus sentidos.No mesmo instante, acariciei sua pele macia com a minha barba por fazer e seguro em sua cintura, mexendo-me em seguida. Eu podia ouvir o som da sua respiração e música já não tinha mais sentido.As pontas dos seus dedos acariciaram inocentemente os fios de cabelos na minha nuca, fazendo meu coração mudar o seu ritmo. Imaginei minha boca tomando a sua, causando-me sensações que não consigo descrever. Meu subconsciente questiona… Por que ela? Procurei uma resposta, mas ela simplesmente não existia. Eu não sei o porquê, só sei que ela precisa de mim e que perto dela, as minhas trevas não me cercam, a minha dor se afasta, e me sinto eu de no