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Alberto

Já são quase duas da tarde e bufo, olhando para o cômodo quase vazio, sem saber ao certo o que fazer. Vou até o bar de canto e me sirvo uma dose generosa de uísque. Bebo cada dose observando a grande Paris através dos vidros transparentes das paredes do enorme quarto de hotel. O líquido amargo parece adoçar a minha alma amargurada. Tomo mais um gole e caminho pelo ambiente ansioso demais.

Algumas horas depois, estou sentado em uma poltrona, com a garrafa de uísque vazia em uma mão e um copo menos da metade da bebida na outra. Tomo o resquício do meu copo e sinto o meu estômago reclamar. Droga, não comi nada desde ontem a noite e confesso que não sinto fome. Não quero nada, eu só quero que a porra dessa dor passe logo.

— Você é muito linda, Ângela, e muito gostosa também! — sussurro. E droga, eu não consigo não me maravilhar com esse sorriso lindo que insiste em abrir para mim! Meus olhos passeiam ávidos por seu corpo nu, deitado em minha cama e em meus braços. Estamos suados e ofegantes, pois acabamos de fazer um sexo extremamente gostoso, quente e selvagem.

Ângela é uma felina na cama.

Começo a deixar beijos cálidos em sua pele, deixando minha mão passear deliberadamente por seu corpo nu.

— Hum! E você também não é nada mal… — cantarola com a voz arrastada, acariciando o meu peitoral, passando as suas unhas vermelho-escarlate em minha pele. Pego a sua mão e beijo a sua palma.

— Está com fome? — Ela faz um sim, com a cabeça. Deslizo o meu corpo por cima do seu e pego o telefone do outro, em cima do criado mudo. Ligo para o restaurante do hotel e peço algo especial para nós dois e um bom vinho para acompanhar.

— Que tal me dá um pouco mais de você, enquanto o nosso pedido chega? — sugere, levando a sua mão para as minhas partes íntimas, me fazendo rosnar imediatamente. Sorrio safado e tomo a sua boca em seguida, acariciando seus seios grandes e macios nas minhas mãos.

— Merda! — Acordo sobressaltado e com uma respiração pesada. Percebo que ainda estou na poltrona e me levanto. Em um surto de raiva jogo o copo contra uma parede e ele se quebra em mil pedaços.

Porra de mulher que não sai da minha cabeça!

 Grito mentalmente volto para o bar de canto. Pego outro copo e encho até a borda. Bebo como se fosse água, largando o objeto em cima do balcão do bar em seguida, e sigo para um banho, sentindo a minha cabeça girar. Livro-me das roupas e as deixo caídas pelo chão, e entro com pressa debaixo do chuveiro frio, passando horas no banho, tentando lavá-la do meu sistema. É inútil! Penso. Quando saio do banheiro vejo que já é fim de tarde e resolvo ligar para o Alex.

— Como você está? — pergunta assim que atende o telefone. Bufo internamente. 

— Estou bem, Alex! Estou ligando apenas para avisar que já cheguei. 

— Tá! 

— Tudo bem… eu vou…

— Bel, promete que não ficar trancado nesse quarto? — pede. Levo uma mão aos cabelos e deslizo pelos fios. — Procure manter a sua mente ocupada e… sei lá… saia um pouco.

Tenho vontade de perguntar se ela apareceu, se perguntou por mim, mas desisto.

É melhor não ter notícias, é melhor ficar longe. Será mais fácil esquecê-la, eu acho.

— Bel? 

— Ok, eu prometo!

Como meu irmão sugeriu, decido sair um pouco, respirar um ar puro e quem sabe assim, consigo me livrar do seu fantasma. Às ruas de Paris a noite inspira romance.  Suas luzes brancas, suas praças. E agora me lembro do porquê comprei essas malditas passagens. Eu tinha planos de curtir cada cantinho desse lugar com ela. Andar de charrete, enquanto a beijaria por todo o tráfego. Levá-la a ponte dos desejos. Nos abraçar enquanto caminhamos por alguma praça.

— Porra, Alberto, você não está ajudando em nada, caralho!

Bufo audivelmente. 

Já escureceu e continuo minha caminhada pelas ruas parisienses, até encontrar um lugar para me distrair. Entro em uma boate que está lotada para um início de noite e vou direto para o balcão. Peço uma bebida e quando estou no meu terceiro copo, uma loira se senta no balcão ao lado. Ela sorri e me lança olhares.

— Oi, posso me sentar aqui? — pergunta. Dou de ombros e tomo um gole do meu uísque, tirando os meus olhos dos seus, e fito o outro lado do balcão. 

— Claro, fique à vontade! — digo sem emoção.

Quase como um homem de gelo. Penso. Foi nisso que ela me transformou.

Ela pede uma daquelas bebidas coloridas com canudinho de guarda-chuva, suga um ou dois goles e me olha com um sorriso tímido.

— Está sozinho? — Insiste em puxar uma conversa. Assinto sem muito interesse.

— Como você ver — ralho seco.

— Você não é muito de falar, não é?

— Só não estou interessado. Me desculpe! — rebato ríspido e seu sorriso morre.

— Hum, deixe-me ver. Ela te deu uma rasteira e você decidiu que o mundo não presta e que vai beber até morrer.

— Ela? — A garota dá de ombros.

— Só pode ter sido uma mulher.

— Quer saber?

— Olha, cara, se ela te deu um pé na bunda, dar a volta por cima. Se entrega a diversão, viva um dia de cada vez. Acredite, não é assim que vai esquecê-la. — Porra!

— Para o seu governo, eu a mandei embora e quanto a me divertir… O que você sugere? — pergunto cheio de insinuações e ela sorri maliciosamente.

— Primeiro, vamos encher a cara. Segundo, vamos dançar a noite toda e terceiro, se você quiser é claro, vamos transar até o dia amanhecer.

Direto ao ponto. Talvez ela esteja certa. Sorrio.

— Você é maluca, menina! Você não me conhece e já fez todas as propostas possíveis.

— Não se preocupe. Eu sei ler as pessoas e nunca erro! — diz com um piscar de olhos. Eu só consigo pensar que ela acabou de foder tudo apenas com essa m*****a frase! Meu sorriso morre no mesmo instante e me levanto do banco, jogando uma nota de 100$ no balcão.

— Não vai rolar! — digo carrancudo. Ela fica séria e faz cara de quem não entendeu nada.

— Ou! Eu disse alguma coisa errada?

— Não. Eu é que sou a pessoa errada e no lugar errado — resmungo me afastando da garota.

Até que era bonitinha e eu estava disposto a aceitar a sua proposta. Mas ela fala demais!

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