RafaelEu saio de casa carregando um peso no peito que parece impossível de suportar. Preciso de ar, de alguma coisa que me distraia, mas tudo ao meu redor só me lembra dela. Beatriz. Encontro Marcos, André, Ramiro e Liam na área comum do outro condomínio. Eles me recebem com olhares preocupados, já percebendo que algo não está certo.— Você está um lixo, Rafael. O que houve? — André pergunta direto, sem rodeios.Eu respiro fundo, tentando organizar os pensamentos, mas a verdade vem à tona antes que eu consiga me segurar.— Beatriz pediu o divórcio. E Othon... aquele filho da putta escr0to, deu abrigo para ela em Denver.O silêncio que se segue é pesado. Todos trocam olhares tensos, tentando entender o que dizer. Marcos é o primeiro a romper a quietude.— Isso não faz sentido, cara. Vocês dois... Vocês sempre foram fodah juntos, que merda Rafa...— Foram — eu digo, amargo. — Mas depois do que aconteceu na Luxor... Depois daquele malldito beijo... Ela não consegue nem olhar para mim
Rafael— Vivian tá em paz porque sabe que não tem nada de errado com Felipe. Agora, você... um homem velho, querendo fazer besteira por ciúme...— Velho?! — rosno, tentando desviar do peso do que ele disse.— Velho. E cego. Para de pensar como um moleque, Rafael. A Beatriz está magoada, Felipe hoje é marido da Vivian e só está tentando ajudá-la.Engulo a raiva e deixo cair no silêncio. Sei que eles estão certos, mas isso não diminui a tempestade dentro de mim. Ficar parado, sem poder fazer nada, é o pior castigo de todos.Estou ainda remoendo a conversa com os caras, tentando digerir tudo, mas algo não me deixa em paz. A cena de Felipe abraçando Beatriz não sai da minha cabeça. Não consigo controlar a sensação de que há algo a mais, algo que estou perdendo. Contra o melhor conselho que recebi hoje, abro o aplicativo de espionagem.Localizo Beatriz imediatamente. Ela está num restaurante, bem conhecido nosso e lá tem sala privativa. Meu coração acelera, e a raiva lateja em minhas têmpo
Rafael— E então, ficou mais tranquilo? — Marcos pergunta, a voz cautelosa.— Ela desabafou com Felipe. Ele... ele disse coisas que eu jamais esperaria ouvir. Defendeu o nosso casamento. Disse que eu sou um bom marido. — Minha voz é baixa, quase sussurrada.André assente, todos nós já imaginávamos porque eles estão juntos agora, as imagens apenas confirmaram.— Felipe tá certo, Rafael. Ele está fazendo ela pensar. Foi duro com ela em alguns momentos, mas tudo que ele disse foi real, ela precisa desse choque de realidade. Dá um tempo pra ela. Você não vai consertar tudo de uma hora para outra, mas com ele por perto, ela vai reconsiderar.— Se não por você, por Giulia — Liam completa, o tom direto.— Beatriz não vai querer entrar numa disputa judicial com Felipe, seria doloroso e poderia respingar na Giulia.— Com certeza ele está apenas amedrontando ela e evitando que você passe por tudo que ele já passou.Eu respiro fundo, tentando processar tudo. Ainda sinto o ciúme me corroendo, ma
BeatrizAssim que saio de casa, vejo Felipe e Vivian conversando perto do carro. Meus olhos estão inchados, e mesmo que eu tente disfarçar, a dor transparece. Eles notam de imediato.Felipe troca um olhar rápido com Vivian, aquele tipo de olhar que dispensa palavras. Ela entende a mensagem e, com um sorriso tranquilo, diz:— Acho que vou dar uma volta no quarteirão. Preciso de ar fresco.Ela me dá um beijo no rosto, delicada, e se afasta, me deixando a sós com Felipe.— Bia — ele começa, a voz suave, mas carregada de preocupação. — Você está bem?Tento responder, mas minha garganta trava. Ele dá um passo à frente, me olhando com aquela atenção que só ele tem.— Foi horrível, Lipe. Horrível. Eu... — Minha voz falha, e as lágrimas começam a descer.Felipe não pensa duas vezes. Ele me puxa para um abraço firme, e eu não resisto. Me deixo ser amparada, as mãos dele acariciando minhas costas, como se dissesse que está tudo bem deixar a máscara cair por um momento.— Tá tudo bem, Bia. — ele
RafaelEstamos voltando para casa, eu e Marcos. O silêncio no carro é pesado, carregado pela tensão que não me deixa desde aquela maldita operação. Quando estamos nos aproximando do portão, vejo o carro de Beatriz entrando. Mas o que me faz gelar é quem está com ela, o Felipe.Estão no carro dela, lado a lado, conversando. O jeito como ele se inclina levemente em direção a ela, o olhar cuidadoso que ele lança, o sorriso contido dela... É demais. Meus punhos cerram automaticamente, e sinto o sangue ferver nas veias.— Para o carro, Marcos.— Nem pense nisso, Rafael. — A voz dele é firme, quase autoritária, mas eu já abro a porta antes que ele termine de falar.— Ela está voltando com ele. No meu carro. No carro dela. Eles acham que podem...— Rafael! — Ele me agarra pelo braço, a força dele me puxando de volta para dentro do carro. — Para com isso agora.— Me solta, Marcos!— Não vou soltar! — Ele acelera, sem me dar chance de reagir. — Você vai acabar fazendo uma besteira e, se fize
Don FalconeA manhã começa cedo para mim, mas a sombra de uma noite inquieta ainda repousa nos meus olhos. O silêncio de Palermo, lá fora, só interrompido pelos ecos distantes dos passos dos meus homens, me acompanha enquanto dou as ordens para a preparação da viagem. O que deveria ser uma simples ida ao Brasil, em busca de estabilidade e controle, agora parece um movimento calculado, um jogo de xadrez onde os riscos são altos demais para se ignorar. Eu não sou homem de adiar decisões, mas algo me diz que este será o maior movimento de todos, e eu não posso me dar ao luxo de errar.A sede da máfia, com suas paredes frias e sombrias, começa a se aquecer com a movimentação das equipes. Os homens estão atentos, verificando os estoques de armas, os suprimentos e a logística necessária para garantir que nossa presença no Brasil seja marcada pela força, pelo poder. Já está claro: precisamos enviar uma mensagem aos americanos de que, se a nossa aliança vai ser respeitada, eles terão que se a
BeatrizChego na casa da Stefany e o cansaço pesa sobre meus ombros, pego as crianças e agradeço por todos esses dias e vou direto para casa. Rafael está na sala, com uma aparência péssima, como se o mundo tivesse desabado sobre ele. Cumprimento-o secamente, sem emoção.— Oi.— Oi — ele responde baixinho, quase como se estivesse com medo da minha reação.Vou direto pra cozinha e começo a organizar as coisas, mas vejo pelo canto do olho quando ele pega Giulia e o Rafa. Ele se abaixa e começa a brincar com os dois no tapete da sala. Ouço as risadas deles ecoando pela casa, aquele som tão familiar e querido que faz meu coração apertar.— Fiz o jantar. — A voz dele rompe o silêncio e me faz virar. Rafael me encara como quem procura alguma resposta no meu rosto.— Eu coloco a mesa. — Respondo de forma prática, desviando o olhar antes que ele veja a fraqueza na minha expressão.Ele assente, e cada um cumpre sua parte sem trocar palavras desnecessárias. A mesa fica pronta, e nós quatro nos
PriscilaEntro na casa de Beatriz logo após Rafael sair com as crianças. O silêncio do lugar me atinge com força. É estranho ver o lar deles, normalmente cheio de risos e vida, tão vazio. Beatriz está sentada no sofá, com uma xícara de café na mão e os olhos fixos em um ponto qualquer. Quando ela me vê, força um sorriso, mas é fraco, sem vida.— Oi, Pri. — A voz dela soa rouca, cansada.— Oi, Bia. — Me aproximo devagar e me sento ao lado dela. Não quero que pareça uma invasão, mas vim com um propósito. Como amiga e, se necessário, como psicóloga. Ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer.— Veio para dar bronca? — Ela me pergunta, quase amarga.— Não. Vim falar com você como sua amiga e bom, talvez um pouco como psicóloga também.Ela suspira, olhando para o café, mas não diz nada. Vejo isso como um sinal para continuar.— Olha, Bia, eu sei o que aconteceu naquela boate. Eu vi tudo. Todo mundo viu, pra falar a verdade. — Beatriz fecha os olhos e respira fundo, como se a lembrança fosse