BeatrizRafael chega em casa para o almoço pontualmente, como tem feito nos últimos dias. Ouço o som da porta se abrindo e os passos pesados dele ecoando pelo corredor. Quando ele entra na cozinha, carrega uma expressão cansada, com olheiras profundas e os ombros caídos. Meu peito aperta ao vê-lo assim. Não sei se é culpa, tristeza ou as duas coisas juntas.— Oi. — Ele diz, com a voz baixa, quase hesitante.— Oi. — Respondo, tentando parecer indiferente, mas não consigo evitar que minha voz saia mais suave do que pretendia.Ele lava as mãos na pia e se senta à mesa, esperando silenciosamente enquanto eu termine de servir a comida. O silêncio entre nós é pesado, quase insuportável. Coloco o prato na frente dele e me sento do outro lado da mesa, sem dizer nada.Rafael começa a comer, mas com movimentos lentos, quase automáticos. Ele mal levanta o olhar, fixando os olhos no prato, mas noto que ele está comendo menos do que o habitual. Isso não passa despercebido.— Você não está comendo
RafaelSentado à mesa, com o cheiro do café fresco invadindo a cozinha, observo Beatriz colocar frutas no prato da Giulia enquanto Rafa brinca com o suco na caneca. É uma cena tão comum, tão pacífica, que por um segundo penso que o pior já passou, que tudo pode realmente voltar ao normal.Meu celular vibra sobre a mesa, tirando-me daquele pequeno devaneio. Quando vejo o número, meu estômago afunda. É o Hospital São Miguel.— Senhor Rafael, estamos ligando para confirmar sua consulta com o oncologista às 10 horas de hoje. — a voz formal do outro lado da linha me aperta o peito.— Certo… confirmado — respondo, a voz mais baixa do que eu gostaria.Beatriz para de cortar a maçã e me encara. Seus olhos, atentos, vão do meu rosto para o celular.— É hoje? — ela pergunta, com aquele tom suave que só ela sabe usar quando algo realmente a preocupa.— Sim. Eles estão confirmando.— Então confirme, Rafael. Eu vou com você. — A firmeza dela não permite discussão. Apenas balanço a cabeça, concorda
Uma semana depoisBeatrizO que fiz de mais difícil na vida, foi hoje, entreguei Giulia a Lipe e Vivian, eles vão ficar com ela uns dias, talvez meses, a essa hora já estão no Rio de Janeiro, meu coração apertado, me sinto incompleta.Giulia foi para o Rio de Janeiro. Não foi uma decisão fácil, mas foi a certa. Ela está se aproximando do pai biológico, Felipe. Por mais que ele tenha chegado depois de tudo, ela merece conhecê-lo, merece o carinho dele. Além disso, a Giulia é esperta demais. Ela percebe as coisas, as lágrimas escondidas, os abraços demorados, o silêncio ao redor da casa. Ela entende que algo grave está acontecendo.Eu quero protegê-la, ao menos por enquanto. Quero que ela tenha a leveza de uma criança, mesmo que temporariamente. Felipe entende. Ele me prometeu que cuidaria dela, e eu confio nele para isso.Já o Rafa está comigo. Na verdade, está com Priscila e Lucas desde ontem. Lucas trouxe o Luan, e os dois têm brincado tanto que o Rafa nem notou as ausências ou a ten
Don FalconeA faca corta a carne com a precisão que um homem de poder sabe dominar, e eu observo o meu filho Marco, sentado à mesa, enquanto ele empurra o prato em direção a si sem realmente tocar nele. O silêncio entre nós é pesado, como se o tempo tivesse parado ali, no centro da sala, esperando pela inevitável conversa que se desenrolaria. Eu já tinha esperado o suficiente, aguardado pacientemente até o momento em que ele não pudesse mais fugir. A máfia, o império que construí, não é apenas sobre força e poder, é sobre legado. E Marco, meu único filho, está sendo testado de formas que ele ainda não compreende. Não posso mais tolerar suas hesitações. O jantar, que deveria ser uma simples refeição, se torna um palco para uma decisão que definirá não apenas o futuro dele, mas de toda a nossa família.— Marco, está na hora de você se comportar como um homem da nossa família — digo, a voz firme e sem emoção, como sempre faço quando dou uma ordem. O olhar dele se ergue, seus olhos ainda
BeatrizAs horas parecem dias. O relógio na parede da sala de espera marca os minutos em um ritmo lento e cruel. Cada segundo ecoa na minha mente como um martelo batendo sem parar. Marcos e Teresa estão comigo o tempo todo, me oferecendo apoio silencioso. Ainda assim, é como se eu estivesse sozinha. O vazio ao meu redor é enorme.Minha mente não consegue parar de pensar em Rafael. Ele está ali, em uma sala fria, cercado por médicos, bisturis, monitores que apitam. O coração aperta. Uma parte de mim quer levantar e correr para lá, arrancá-lo da mesa e levá-lo de volta para casa, onde ele estaria seguro.— Vai dar tudo certo, Bia. — Teresa repete pela milésima vez, como se tentasse acalmar uma criança.Eu respiro fundo e concordo com a cabeça, mas é mentira. Não tenho certeza de nada. Não sei se vai dar certo. Não sei se ele vai sair dali sorrindo ou... não.As lágrimas ameaçam cair de novo, mas eu engulo o choro. Minha cabeça dói, meu corpo está exausto. Não consegui dormir nem comer d
BeatrizAs horas parecem dias. O relógio na parede da sala de espera marca os minutos em um ritmo lento e cruel. Cada segundo ecoa na minha mente como um martelo batendo sem parar. Marcos e Teresa estão comigo o tempo todo, me oferecendo apoio silencioso. Ainda assim, é como se eu estivesse sozinha. O vazio ao meu redor é enorme.Minha mente não consegue parar de pensar em Rafael. Ele está ali, em uma sala fria, cercado por médicos, bisturis, monitores que apitam. O coração aperta. Uma parte de mim quer levantar e correr para lá, arrancá-lo da mesa e levá-lo de volta para casa, onde ele estaria seguro.— Vai dar tudo certo, Bia. — Teresa repete pela milésima vez, como se tentasse acalmar uma criança.Eu respiro fundo e concordo com a cabeça, mas é mentira. Não tenho certeza de nada. Não sei se vai dar certo. Não sei se ele vai sair dali sorrindo ou... não.As lágrimas ameaçam cair de novo, mas eu engulo o choro. Minha cabeça dói, meu corpo está exausto. Não consegui dormir nem comer d
Beatriz As horas seguintes são as mais longas da minha vida. Sinto como se estivesse flutuando em um limbo, onde o tempo simplesmente parou e o ar ficou pesado demais para respirar. Teresa adormeceu encostada no ombro de Marcos, o cansaço finalmente a vencendo, mas eu não consigo fechar os olhos nem por um segundo. Minha mente não me dá trégua, voltando sempre à imagem de Rafael naquela maca, inconsciente, dependente de máquinas para viver.André chega pouco tempo depois, entrando na sala de espera com uma expressão preocupada. Assim que ele me vê, se aproxima e me abraça, apertado, como um irmão que tenta me dar forças.— Alguma notícia? — ele pergunta baixinho a Marcos.— Estabilizaram ele e levaram para a UTI — Marcos responde, suspirando. — Agora é esperar as próximas horas.André me olha com aquele jeito sério e firme que sempre teve, mas vejo a tristeza nos olhos dele. Ele toca meu ombro com gentileza.— Ele vai sair dessa, Bia. O Rafael é forte, ele sempre foi.Quero acredita
FelipeO sol bate forte na minha pele, mas é a risada da Giulia que faz o calor parecer insignificante. A brisa do mar sopra suavemente, e eu observo Vivian e a minha filha se divertindo na areia. Vivian sorri para mim com aquele olhar que só ela tem, um misto de cumplicidade e de felicidade absoluta. Ao nosso redor, a vida parece mais tranquila, mais fácil. É impressionante como um simples dia de praia pode fazer o mundo lá fora desaparecer, deixando só nós três, uma família improvável, mas ainda assim perfeita. O tempo parece suspenso, e a ideia de que, pela primeira vez, estou realmente vendo a minha filha crescer me faz esquecer das turbulências que marcaram a nossa história, mas infelizmente isso tudo se deu por causa da doença do Antonelli, espero que a Beatriz se mantenha firme.Passamos a tarde ali, despreocupados, no calor do sol e na liberdade do mar. Mas ao voltarmos para a mansão, algo se rompe. A casa está estranhamente silenciosa. Não há risadas, nem o barulho típico de