BeatrizAssim que saio de casa, vejo Felipe e Vivian conversando perto do carro. Meus olhos estão inchados, e mesmo que eu tente disfarçar, a dor transparece. Eles notam de imediato.Felipe troca um olhar rápido com Vivian, aquele tipo de olhar que dispensa palavras. Ela entende a mensagem e, com um sorriso tranquilo, diz:— Acho que vou dar uma volta no quarteirão. Preciso de ar fresco.Ela me dá um beijo no rosto, delicada, e se afasta, me deixando a sós com Felipe.— Bia — ele começa, a voz suave, mas carregada de preocupação. — Você está bem?Tento responder, mas minha garganta trava. Ele dá um passo à frente, me olhando com aquela atenção que só ele tem.— Foi horrível, Lipe. Horrível. Eu... — Minha voz falha, e as lágrimas começam a descer.Felipe não pensa duas vezes. Ele me puxa para um abraço firme, e eu não resisto. Me deixo ser amparada, as mãos dele acariciando minhas costas, como se dissesse que está tudo bem deixar a máscara cair por um momento.— Tá tudo bem, Bia. — ele
RafaelEstamos voltando para casa, eu e Marcos. O silêncio no carro é pesado, carregado pela tensão que não me deixa desde aquela maldita operação. Quando estamos nos aproximando do portão, vejo o carro de Beatriz entrando. Mas o que me faz gelar é quem está com ela, o Felipe.Estão no carro dela, lado a lado, conversando. O jeito como ele se inclina levemente em direção a ela, o olhar cuidadoso que ele lança, o sorriso contido dela... É demais. Meus punhos cerram automaticamente, e sinto o sangue ferver nas veias.— Para o carro, Marcos.— Nem pense nisso, Rafael. — A voz dele é firme, quase autoritária, mas eu já abro a porta antes que ele termine de falar.— Ela está voltando com ele. No meu carro. No carro dela. Eles acham que podem...— Rafael! — Ele me agarra pelo braço, a força dele me puxando de volta para dentro do carro. — Para com isso agora.— Me solta, Marcos!— Não vou soltar! — Ele acelera, sem me dar chance de reagir. — Você vai acabar fazendo uma besteira e, se fize
Don FalconeA manhã começa cedo para mim, mas a sombra de uma noite inquieta ainda repousa nos meus olhos. O silêncio de Palermo, lá fora, só interrompido pelos ecos distantes dos passos dos meus homens, me acompanha enquanto dou as ordens para a preparação da viagem. O que deveria ser uma simples ida ao Brasil, em busca de estabilidade e controle, agora parece um movimento calculado, um jogo de xadrez onde os riscos são altos demais para se ignorar. Eu não sou homem de adiar decisões, mas algo me diz que este será o maior movimento de todos, e eu não posso me dar ao luxo de errar.A sede da máfia, com suas paredes frias e sombrias, começa a se aquecer com a movimentação das equipes. Os homens estão atentos, verificando os estoques de armas, os suprimentos e a logística necessária para garantir que nossa presença no Brasil seja marcada pela força, pelo poder. Já está claro: precisamos enviar uma mensagem aos americanos de que, se a nossa aliança vai ser respeitada, eles terão que se a
BeatrizChego na casa da Stefany e o cansaço pesa sobre meus ombros, pego as crianças e agradeço por todos esses dias e vou direto para casa. Rafael está na sala, com uma aparência péssima, como se o mundo tivesse desabado sobre ele. Cumprimento-o secamente, sem emoção.— Oi.— Oi — ele responde baixinho, quase como se estivesse com medo da minha reação.Vou direto pra cozinha e começo a organizar as coisas, mas vejo pelo canto do olho quando ele pega Giulia e o Rafa. Ele se abaixa e começa a brincar com os dois no tapete da sala. Ouço as risadas deles ecoando pela casa, aquele som tão familiar e querido que faz meu coração apertar.— Fiz o jantar. — A voz dele rompe o silêncio e me faz virar. Rafael me encara como quem procura alguma resposta no meu rosto.— Eu coloco a mesa. — Respondo de forma prática, desviando o olhar antes que ele veja a fraqueza na minha expressão.Ele assente, e cada um cumpre sua parte sem trocar palavras desnecessárias. A mesa fica pronta, e nós quatro nos
PriscilaEntro na casa de Beatriz logo após Rafael sair com as crianças. O silêncio do lugar me atinge com força. É estranho ver o lar deles, normalmente cheio de risos e vida, tão vazio. Beatriz está sentada no sofá, com uma xícara de café na mão e os olhos fixos em um ponto qualquer. Quando ela me vê, força um sorriso, mas é fraco, sem vida.— Oi, Pri. — A voz dela soa rouca, cansada.— Oi, Bia. — Me aproximo devagar e me sento ao lado dela. Não quero que pareça uma invasão, mas vim com um propósito. Como amiga e, se necessário, como psicóloga. Ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer.— Veio para dar bronca? — Ela me pergunta, quase amarga.— Não. Vim falar com você como sua amiga e bom, talvez um pouco como psicóloga também.Ela suspira, olhando para o café, mas não diz nada. Vejo isso como um sinal para continuar.— Olha, Bia, eu sei o que aconteceu naquela boate. Eu vi tudo. Todo mundo viu, pra falar a verdade. — Beatriz fecha os olhos e respira fundo, como se a lembrança fosse
BeatrizRafael chega em casa para o almoço pontualmente, como tem feito nos últimos dias. Ouço o som da porta se abrindo e os passos pesados dele ecoando pelo corredor. Quando ele entra na cozinha, carrega uma expressão cansada, com olheiras profundas e os ombros caídos. Meu peito aperta ao vê-lo assim. Não sei se é culpa, tristeza ou as duas coisas juntas.— Oi. — Ele diz, com a voz baixa, quase hesitante.— Oi. — Respondo, tentando parecer indiferente, mas não consigo evitar que minha voz saia mais suave do que pretendia.Ele lava as mãos na pia e se senta à mesa, esperando silenciosamente enquanto eu termine de servir a comida. O silêncio entre nós é pesado, quase insuportável. Coloco o prato na frente dele e me sento do outro lado da mesa, sem dizer nada.Rafael começa a comer, mas com movimentos lentos, quase automáticos. Ele mal levanta o olhar, fixando os olhos no prato, mas noto que ele está comendo menos do que o habitual. Isso não passa despercebido.— Você não está comendo
RafaelSentado à mesa, com o cheiro do café fresco invadindo a cozinha, observo Beatriz colocar frutas no prato da Giulia enquanto Rafa brinca com o suco na caneca. É uma cena tão comum, tão pacífica, que por um segundo penso que o pior já passou, que tudo pode realmente voltar ao normal.Meu celular vibra sobre a mesa, tirando-me daquele pequeno devaneio. Quando vejo o número, meu estômago afunda. É o Hospital São Miguel.— Senhor Rafael, estamos ligando para confirmar sua consulta com o oncologista às 10 horas de hoje. — a voz formal do outro lado da linha me aperta o peito.— Certo… confirmado — respondo, a voz mais baixa do que eu gostaria.Beatriz para de cortar a maçã e me encara. Seus olhos, atentos, vão do meu rosto para o celular.— É hoje? — ela pergunta, com aquele tom suave que só ela sabe usar quando algo realmente a preocupa.— Sim. Eles estão confirmando.— Então confirme, Rafael. Eu vou com você. — A firmeza dela não permite discussão. Apenas balanço a cabeça, concorda
Uma semana depoisBeatrizO que fiz de mais difícil na vida, foi hoje, entreguei Giulia a Lipe e Vivian, eles vão ficar com ela uns dias, talvez meses, a essa hora já estão no Rio de Janeiro, meu coração apertado, me sinto incompleta.Giulia foi para o Rio de Janeiro. Não foi uma decisão fácil, mas foi a certa. Ela está se aproximando do pai biológico, Felipe. Por mais que ele tenha chegado depois de tudo, ela merece conhecê-lo, merece o carinho dele. Além disso, a Giulia é esperta demais. Ela percebe as coisas, as lágrimas escondidas, os abraços demorados, o silêncio ao redor da casa. Ela entende que algo grave está acontecendo.Eu quero protegê-la, ao menos por enquanto. Quero que ela tenha a leveza de uma criança, mesmo que temporariamente. Felipe entende. Ele me prometeu que cuidaria dela, e eu confio nele para isso.Já o Rafa está comigo. Na verdade, está com Priscila e Lucas desde ontem. Lucas trouxe o Luan, e os dois têm brincado tanto que o Rafa nem notou as ausências ou a ten