Don FalconeA manhã começa cedo para mim, mas a sombra de uma noite inquieta ainda repousa nos meus olhos. O silêncio de Palermo, lá fora, só interrompido pelos ecos distantes dos passos dos meus homens, me acompanha enquanto dou as ordens para a preparação da viagem. O que deveria ser uma simples ida ao Brasil, em busca de estabilidade e controle, agora parece um movimento calculado, um jogo de xadrez onde os riscos são altos demais para se ignorar. Eu não sou homem de adiar decisões, mas algo me diz que este será o maior movimento de todos, e eu não posso me dar ao luxo de errar.A sede da máfia, com suas paredes frias e sombrias, começa a se aquecer com a movimentação das equipes. Os homens estão atentos, verificando os estoques de armas, os suprimentos e a logística necessária para garantir que nossa presença no Brasil seja marcada pela força, pelo poder. Já está claro: precisamos enviar uma mensagem aos americanos de que, se a nossa aliança vai ser respeitada, eles terão que se a
BeatrizChego na casa da Stefany e o cansaço pesa sobre meus ombros, pego as crianças e agradeço por todos esses dias e vou direto para casa. Rafael está na sala, com uma aparência péssima, como se o mundo tivesse desabado sobre ele. Cumprimento-o secamente, sem emoção.— Oi.— Oi — ele responde baixinho, quase como se estivesse com medo da minha reação.Vou direto pra cozinha e começo a organizar as coisas, mas vejo pelo canto do olho quando ele pega Giulia e o Rafa. Ele se abaixa e começa a brincar com os dois no tapete da sala. Ouço as risadas deles ecoando pela casa, aquele som tão familiar e querido que faz meu coração apertar.— Fiz o jantar. — A voz dele rompe o silêncio e me faz virar. Rafael me encara como quem procura alguma resposta no meu rosto.— Eu coloco a mesa. — Respondo de forma prática, desviando o olhar antes que ele veja a fraqueza na minha expressão.Ele assente, e cada um cumpre sua parte sem trocar palavras desnecessárias. A mesa fica pronta, e nós quatro nos
PriscilaEntro na casa de Beatriz logo após Rafael sair com as crianças. O silêncio do lugar me atinge com força. É estranho ver o lar deles, normalmente cheio de risos e vida, tão vazio. Beatriz está sentada no sofá, com uma xícara de café na mão e os olhos fixos em um ponto qualquer. Quando ela me vê, força um sorriso, mas é fraco, sem vida.— Oi, Pri. — A voz dela soa rouca, cansada.— Oi, Bia. — Me aproximo devagar e me sento ao lado dela. Não quero que pareça uma invasão, mas vim com um propósito. Como amiga e, se necessário, como psicóloga. Ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer.— Veio para dar bronca? — Ela me pergunta, quase amarga.— Não. Vim falar com você como sua amiga e bom, talvez um pouco como psicóloga também.Ela suspira, olhando para o café, mas não diz nada. Vejo isso como um sinal para continuar.— Olha, Bia, eu sei o que aconteceu naquela boate. Eu vi tudo. Todo mundo viu, pra falar a verdade. — Beatriz fecha os olhos e respira fundo, como se a lembrança fosse
BeatrizRafael chega em casa para o almoço pontualmente, como tem feito nos últimos dias. Ouço o som da porta se abrindo e os passos pesados dele ecoando pelo corredor. Quando ele entra na cozinha, carrega uma expressão cansada, com olheiras profundas e os ombros caídos. Meu peito aperta ao vê-lo assim. Não sei se é culpa, tristeza ou as duas coisas juntas.— Oi. — Ele diz, com a voz baixa, quase hesitante.— Oi. — Respondo, tentando parecer indiferente, mas não consigo evitar que minha voz saia mais suave do que pretendia.Ele lava as mãos na pia e se senta à mesa, esperando silenciosamente enquanto eu termine de servir a comida. O silêncio entre nós é pesado, quase insuportável. Coloco o prato na frente dele e me sento do outro lado da mesa, sem dizer nada.Rafael começa a comer, mas com movimentos lentos, quase automáticos. Ele mal levanta o olhar, fixando os olhos no prato, mas noto que ele está comendo menos do que o habitual. Isso não passa despercebido.— Você não está comendo
RafaelSentado à mesa, com o cheiro do café fresco invadindo a cozinha, observo Beatriz colocar frutas no prato da Giulia enquanto Rafa brinca com o suco na caneca. É uma cena tão comum, tão pacífica, que por um segundo penso que o pior já passou, que tudo pode realmente voltar ao normal.Meu celular vibra sobre a mesa, tirando-me daquele pequeno devaneio. Quando vejo o número, meu estômago afunda. É o Hospital São Miguel.— Senhor Rafael, estamos ligando para confirmar sua consulta com o oncologista às 10 horas de hoje. — a voz formal do outro lado da linha me aperta o peito.— Certo… confirmado — respondo, a voz mais baixa do que eu gostaria.Beatriz para de cortar a maçã e me encara. Seus olhos, atentos, vão do meu rosto para o celular.— É hoje? — ela pergunta, com aquele tom suave que só ela sabe usar quando algo realmente a preocupa.— Sim. Eles estão confirmando.— Então confirme, Rafael. Eu vou com você. — A firmeza dela não permite discussão. Apenas balanço a cabeça, concorda
Cesare VassaloNo silêncio da madrugada, enquanto o mundo lá fora repousa em uma falsa sensação de segurança, eu permaneço desperto. Meu mundo não conhece descanso. Aqui, não há espaço para fraqueza. A máfia não perdoa os despreparados, e eu sou a prova viva de que sobreviver é uma arte cruel.Diante do público, sou Cesare Vassalo, magnata de uma das maiores empreiteiras do Brasil, um homem de negócios impecável e dono de um império. Mas nas sombras, sou o estrategista implacável, o arquiteto de cada movimento no tabuleiro da máfia. Minhas mãos são de ferro, e meu coração, uma fortaleza. O destino me moldou para liderar, mas não sem antes me testar de todas as formas possíveis.Parte dessa provação foi Giulia. Ah, Giulia... Quando me forçaram a me casar, encarei o matrimônio como uma negociação, um acordo entre famílias que perpetuava o poder. As mulheres, para mim, eram ferramentas úteis, nada mais. Porém, naquele altar, ao levantar o véu de Giulia, o que vi não foi fragilidade, mas u
RafaelOs números nunca mentem, mas as pessoas, sim. E é nisso que reside minha vantagem. Aqui, no laboratório, eu sou o único com a visão completa do jogo. O silêncio ao meu redor é apenas uma fachada, sob ele, há uma complexa teia de segredos que se entrelaçam com cada experimento, cada fórmula, cada decisão.Enquanto ajusto os parâmetros do espectrômetro, minha mente viaja para além dos dados e dos reagentes. Contratar Beatriz foi um movimento estratégico, como mover um peão no tabuleiro. Jovem, recém-formada, idealista, sem vícios de mercado. Um vaso vazio esperando ser preenchido com aquilo que eu escolher.Ela chega amanhã. Seus olhos provavelmente brilharão diante dos equipamentos de última geração e da estrutura impecável deste lugar. Mal saberá que, por trás de cada detalhe cuidadosamente projetado, há um mundo oculto que ela jamais poderá acessar.Beatriz vai trabalhar aqui comigo, esse laboratório é a personificação de uma pesquisa legítima. Equipamentos de ponta, a document
BeatrizATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS ÚLTIMA CHAMADA PARA O VOO 1429 COM DESTINO A BRASÍLIA EMBARQUE NO PORTÃO SETE. É agora, um dos momentos mais importantes da minha vida, respiro fundo e caminho puxando a minha mala, repleta com os meus pertences, alguns sonhos não vividos, a frustração de um de amor frustrado, a maior ilusão de toda a minha vida. De cabeça erguida, sigo em direção ao portão de embarque rumo ao meu novo destino, foi por mérito ter conseguido esse emprego de auxiliar de biomédico em outra cidade logo após a minha formatura, essa colocação veio na hora exata! Mesmo diante de um dia lindo e ensolarado, sentindo a brisa fresca da manhã acariciando o meu rosto, sabia que a vida estava me presenteando com essa nova oportunidade, e mesmo assim, o meu pensamento vagava longe, muito próximo a minha dor.Não sou aquele tipo de pessoa que fica se martirizando, ou que se faz de coitada para ter a piedade alheia, mas a dor que sinto é tão profunda que as vezes me apego a ilus