BeatrizAs horas parecem dias. O relógio na parede da sala de espera marca os minutos em um ritmo lento e cruel. Cada segundo ecoa na minha mente como um martelo batendo sem parar. Marcos e Teresa estão comigo o tempo todo, me oferecendo apoio silencioso. Ainda assim, é como se eu estivesse sozinha. O vazio ao meu redor é enorme.Minha mente não consegue parar de pensar em Rafael. Ele está ali, em uma sala fria, cercado por médicos, bisturis, monitores que apitam. O coração aperta. Uma parte de mim quer levantar e correr para lá, arrancá-lo da mesa e levá-lo de volta para casa, onde ele estaria seguro.— Vai dar tudo certo, Bia. — Teresa repete pela milésima vez, como se tentasse acalmar uma criança.Eu respiro fundo e concordo com a cabeça, mas é mentira. Não tenho certeza de nada. Não sei se vai dar certo. Não sei se ele vai sair dali sorrindo ou... não.As lágrimas ameaçam cair de novo, mas eu engulo o choro. Minha cabeça dói, meu corpo está exausto. Não consegui dormir nem comer d
Beatriz As horas seguintes são as mais longas da minha vida. Sinto como se estivesse flutuando em um limbo, onde o tempo simplesmente parou e o ar ficou pesado demais para respirar. Teresa adormeceu encostada no ombro de Marcos, o cansaço finalmente a vencendo, mas eu não consigo fechar os olhos nem por um segundo. Minha mente não me dá trégua, voltando sempre à imagem de Rafael naquela maca, inconsciente, dependente de máquinas para viver.André chega pouco tempo depois, entrando na sala de espera com uma expressão preocupada. Assim que ele me vê, se aproxima e me abraça, apertado, como um irmão que tenta me dar forças.— Alguma notícia? — ele pergunta baixinho a Marcos.— Estabilizaram ele e levaram para a UTI — Marcos responde, suspirando. — Agora é esperar as próximas horas.André me olha com aquele jeito sério e firme que sempre teve, mas vejo a tristeza nos olhos dele. Ele toca meu ombro com gentileza.— Ele vai sair dessa, Bia. O Rafael é forte, ele sempre foi.Quero acredita
FelipeO sol bate forte na minha pele, mas é a risada da Giulia que faz o calor parecer insignificante. A brisa do mar sopra suavemente, e eu observo Vivian e a minha filha se divertindo na areia. Vivian sorri para mim com aquele olhar que só ela tem, um misto de cumplicidade e de felicidade absoluta. Ao nosso redor, a vida parece mais tranquila, mais fácil. É impressionante como um simples dia de praia pode fazer o mundo lá fora desaparecer, deixando só nós três, uma família improvável, mas ainda assim perfeita. O tempo parece suspenso, e a ideia de que, pela primeira vez, estou realmente vendo a minha filha crescer me faz esquecer das turbulências que marcaram a nossa história, mas infelizmente isso tudo se deu por causa da doença do Antonelli, espero que a Beatriz se mantenha firme.Passamos a tarde ali, despreocupados, no calor do sol e na liberdade do mar. Mas ao voltarmos para a mansão, algo se rompe. A casa está estranhamente silenciosa. Não há risadas, nem o barulho típico de
BeatrizO médico me chama com um olhar sério e, imediatamente, o meu coração dispara. Sigo atrás dele em silêncio, chegamos em uma sala e lá já estão o Marcos, André, Teresa e a doutora Mirna. Não troco uma palavra com ninguém, apenas rezo mentalmente para ter forças, para não desabar.Assim que entro, sinto o clima pesado. Todos se acomodam, mas eu permaneço de pé, cruzando os braços como se tentasse me proteger do que está por vir.— Vou direto ao ponto. — o médico começa, com uma voz neutra, profissional, mas com um toque de empatia que quase me derruba. — O paciente, Rafael Antonelli, está em coma. As próximas horas serão cruciais para o quadro dele.Sinto o chão sumir sob os meus pés. Um silêncio tenso toma conta da sala, e minhas mãos começam a tremer. Marcos coloca uma mão firme no meu ombro, tentando me dar apoio. Teresa engole em seco, enquanto André se recosta na parede, cruzando os braços e cerrando os olhos, como se tentasse se manter no controle.— Durante a cirurgia, t
BeatrizNo dia seguinte...O médico olha para mim com firmeza, mas com uma gentileza que só alguém acostumado com o sofrimento alheio poderia ter.— Senhora Beatriz, precisamos que aguarde lá fora por algum tempo. — ele diz, e minha garganta já fecha. — Vamos reavaliar o paciente e realizar alguns procedimentos importantes.— Mas… — começo a falar, a voz trêmula, o coração batendo tão forte que parece querer rasgar meu peito. — Eu prometi que não sairia daqui…— Por favor — ele insiste, lançando um olhar sereno. — Ele está bem assistido. É por pouco tempo.Eu abro a boca para retrucar, mas então Mirna aparece, sempre com aquela postura calma, como se nada pudesse desestabilizá-la. Ela se aproxima e segura minhas mãos com firmeza.— Beatriz, eu entendo o que você está sentindo — ela diz, olhando nos meus olhos. — Mas você precisa ir para casa, ao menos tomar um banho e descansar. Já fazem muitas horas que você está aqui, e Rafael precisa que você esteja bem.— Não, eu não posso… —
RafaelEstou deitado na maca, o teto branco do hospital sobre mim. As luzes parecem mais fortes do que o normal, ou talvez eu só esteja enxergando demais agora, absorvendo tudo, com medo de esquecer. Meus olhos correm pela sala até se encontrarem com os de Beatriz. Ela está ao meu lado, segurando minha mão, o rosto dela tentando parecer calmo, mas eu conheço cada traço daquele semblante. Ela está apavorada.Meu peito aperta. Será que ela sabe o quanto estou com medo? Não da cirurgia em si, não dos médicos ou dos riscos. Meu medo é deixar Beatriz e os nossos filhos. O Rafa, com aquele jeitinho curioso e cheio de energia. A Giulia, crescendo, entendendo o mundo ao redor. Não posso ir. Não agora.— Vai dar tudo certo, Rafael — Beatriz sussurra, como se pudesse ouvir meus pensamentos.Eu sorrio fraco, querendo que ela acredite nisso mais do que eu. Meu olhar está preso no dela, como se tentar decorá-la fosse me dar força. Seguro sua mão com mais firmeza.— Cuida deles, Bia — digo, minha v
GiuliaO aroma do café fresco se espalha pela sala, mas minha mente está distante, presa em um emaranhado de pensamentos. Sento-me à mesa com a xícara nas mãos, olhando pela janela enquanto o sol desponta no horizonte. Há momentos em que a vida parece quase perfeita, como uma pintura cuidadosamente elaborada, mas eu sei melhor do que ninguém que mesmo as obras mais bonitas escondem camadas de tinta corrigidas e borrões ocultos.A pequena Giulia corre pela sala com um sorriso que ilumina qualquer ambiente, e meu coração se aquece. A minha neta, a minha pequena guerreira. É surreal pensar que, há poucos meses, eu nem sabia de sua existência, e agora ela é uma parte tão essencial da minha vida. Ela é saudável, esperta, cheia de energia, uma bênção em todos os sentidos. Só não consigo entender porque o Cesare foi tão longe, jogou tão sujo, como posso ter amado tanto aquele homem? Nosso casamento foi real, havia amor e companheirismo, éramos felizes, nossa intimidade era maravilhosa, ele m
RafaelO tempo parece não existir aqui. Não há dia ou noite. Só o silêncio e o escuro. De vez em quando, sons distantes me alcançam, como ecos de uma vida da qual ainda faço parte. Mas são as vozes que me trazem de volta, as vozes que me mantêm ancorado.E então, é ela. Sempre ela.A voz de Beatriz atravessa o vazio e me alcança. Sua voz está tremida, carregada de emoção, mas ainda assim, é firme, como ela sempre é. Eu sinto sua presença ao meu lado. Consigo quase sentir o calor da sua mão segurando a minha.— Rafael… — ela começa, e só ouvir meu nome saindo da boca dela já acalma alguma coisa dentro de mim. — Eu estou aqui. E vou ficar aqui. Você não está sozinho, meu amor.Meu coração parece reagir, batendo mais forte no peito. Quero responder, quero apertar sua mão e mostrar que estou aqui, que estou ouvindo. Mas o meu corpo permanece imóvel, prisioneiro desse sono pesado.— Eu te amo tanto… — ela continua, e sua voz embarga. — Você não tem ideia do quanto. Volta para mim, Rafael