BeatrizChego na casa da Stefany e o cansaço pesa sobre meus ombros, pego as crianças e agradeço por todos esses dias e vou direto para casa. Rafael está na sala, com uma aparência péssima, como se o mundo tivesse desabado sobre ele. Cumprimento-o secamente, sem emoção.— Oi.— Oi — ele responde baixinho, quase como se estivesse com medo da minha reação.Vou direto pra cozinha e começo a organizar as coisas, mas vejo pelo canto do olho quando ele pega Giulia e o Rafa. Ele se abaixa e começa a brincar com os dois no tapete da sala. Ouço as risadas deles ecoando pela casa, aquele som tão familiar e querido que faz meu coração apertar.— Fiz o jantar. — A voz dele rompe o silêncio e me faz virar. Rafael me encara como quem procura alguma resposta no meu rosto.— Eu coloco a mesa. — Respondo de forma prática, desviando o olhar antes que ele veja a fraqueza na minha expressão.Ele assente, e cada um cumpre sua parte sem trocar palavras desnecessárias. A mesa fica pronta, e nós quatro nos
PriscilaEntro na casa de Beatriz logo após Rafael sair com as crianças. O silêncio do lugar me atinge com força. É estranho ver o lar deles, normalmente cheio de risos e vida, tão vazio. Beatriz está sentada no sofá, com uma xícara de café na mão e os olhos fixos em um ponto qualquer. Quando ela me vê, força um sorriso, mas é fraco, sem vida.— Oi, Pri. — A voz dela soa rouca, cansada.— Oi, Bia. — Me aproximo devagar e me sento ao lado dela. Não quero que pareça uma invasão, mas vim com um propósito. Como amiga e, se necessário, como psicóloga. Ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer.— Veio para dar bronca? — Ela me pergunta, quase amarga.— Não. Vim falar com você como sua amiga e bom, talvez um pouco como psicóloga também.Ela suspira, olhando para o café, mas não diz nada. Vejo isso como um sinal para continuar.— Olha, Bia, eu sei o que aconteceu naquela boate. Eu vi tudo. Todo mundo viu, pra falar a verdade. — Beatriz fecha os olhos e respira fundo, como se a lembrança fosse
BeatrizRafael chega em casa para o almoço pontualmente, como tem feito nos últimos dias. Ouço o som da porta se abrindo e os passos pesados dele ecoando pelo corredor. Quando ele entra na cozinha, carrega uma expressão cansada, com olheiras profundas e os ombros caídos. Meu peito aperta ao vê-lo assim. Não sei se é culpa, tristeza ou as duas coisas juntas.— Oi. — Ele diz, com a voz baixa, quase hesitante.— Oi. — Respondo, tentando parecer indiferente, mas não consigo evitar que minha voz saia mais suave do que pretendia.Ele lava as mãos na pia e se senta à mesa, esperando silenciosamente enquanto eu termine de servir a comida. O silêncio entre nós é pesado, quase insuportável. Coloco o prato na frente dele e me sento do outro lado da mesa, sem dizer nada.Rafael começa a comer, mas com movimentos lentos, quase automáticos. Ele mal levanta o olhar, fixando os olhos no prato, mas noto que ele está comendo menos do que o habitual. Isso não passa despercebido.— Você não está comendo
RafaelSentado à mesa, com o cheiro do café fresco invadindo a cozinha, observo Beatriz colocar frutas no prato da Giulia enquanto Rafa brinca com o suco na caneca. É uma cena tão comum, tão pacífica, que por um segundo penso que o pior já passou, que tudo pode realmente voltar ao normal.Meu celular vibra sobre a mesa, tirando-me daquele pequeno devaneio. Quando vejo o número, meu estômago afunda. É o Hospital São Miguel.— Senhor Rafael, estamos ligando para confirmar sua consulta com o oncologista às 10 horas de hoje. — a voz formal do outro lado da linha me aperta o peito.— Certo… confirmado — respondo, a voz mais baixa do que eu gostaria.Beatriz para de cortar a maçã e me encara. Seus olhos, atentos, vão do meu rosto para o celular.— É hoje? — ela pergunta, com aquele tom suave que só ela sabe usar quando algo realmente a preocupa.— Sim. Eles estão confirmando.— Então confirme, Rafael. Eu vou com você. — A firmeza dela não permite discussão. Apenas balanço a cabeça, concorda
Uma semana depoisBeatrizO que fiz de mais difícil na vida, foi hoje, entreguei Giulia a Lipe e Vivian, eles vão ficar com ela uns dias, talvez meses, a essa hora já estão no Rio de Janeiro, meu coração apertado, me sinto incompleta.Giulia foi para o Rio de Janeiro. Não foi uma decisão fácil, mas foi a certa. Ela está se aproximando do pai biológico, Felipe. Por mais que ele tenha chegado depois de tudo, ela merece conhecê-lo, merece o carinho dele. Além disso, a Giulia é esperta demais. Ela percebe as coisas, as lágrimas escondidas, os abraços demorados, o silêncio ao redor da casa. Ela entende que algo grave está acontecendo.Eu quero protegê-la, ao menos por enquanto. Quero que ela tenha a leveza de uma criança, mesmo que temporariamente. Felipe entende. Ele me prometeu que cuidaria dela, e eu confio nele para isso.Já o Rafa está comigo. Na verdade, está com Priscila e Lucas desde ontem. Lucas trouxe o Luan, e os dois têm brincado tanto que o Rafa nem notou as ausências ou a ten
Don FalconeA faca corta a carne com a precisão que um homem de poder sabe dominar, e eu observo o meu filho Marco, sentado à mesa, enquanto ele empurra o prato em direção a si sem realmente tocar nele. O silêncio entre nós é pesado, como se o tempo tivesse parado ali, no centro da sala, esperando pela inevitável conversa que se desenrolaria. Eu já tinha esperado o suficiente, aguardado pacientemente até o momento em que ele não pudesse mais fugir. A máfia, o império que construí, não é apenas sobre força e poder, é sobre legado. E Marco, meu único filho, está sendo testado de formas que ele ainda não compreende. Não posso mais tolerar suas hesitações. O jantar, que deveria ser uma simples refeição, se torna um palco para uma decisão que definirá não apenas o futuro dele, mas de toda a nossa família.— Marco, está na hora de você se comportar como um homem da nossa família — digo, a voz firme e sem emoção, como sempre faço quando dou uma ordem. O olhar dele se ergue, seus olhos ainda
BeatrizAs horas parecem dias. O relógio na parede da sala de espera marca os minutos em um ritmo lento e cruel. Cada segundo ecoa na minha mente como um martelo batendo sem parar. Marcos e Teresa estão comigo o tempo todo, me oferecendo apoio silencioso. Ainda assim, é como se eu estivesse sozinha. O vazio ao meu redor é enorme.Minha mente não consegue parar de pensar em Rafael. Ele está ali, em uma sala fria, cercado por médicos, bisturis, monitores que apitam. O coração aperta. Uma parte de mim quer levantar e correr para lá, arrancá-lo da mesa e levá-lo de volta para casa, onde ele estaria seguro.— Vai dar tudo certo, Bia. — Teresa repete pela milésima vez, como se tentasse acalmar uma criança.Eu respiro fundo e concordo com a cabeça, mas é mentira. Não tenho certeza de nada. Não sei se vai dar certo. Não sei se ele vai sair dali sorrindo ou... não.As lágrimas ameaçam cair de novo, mas eu engulo o choro. Minha cabeça dói, meu corpo está exausto. Não consegui dormir nem comer d
BeatrizAs horas parecem dias. O relógio na parede da sala de espera marca os minutos em um ritmo lento e cruel. Cada segundo ecoa na minha mente como um martelo batendo sem parar. Marcos e Teresa estão comigo o tempo todo, me oferecendo apoio silencioso. Ainda assim, é como se eu estivesse sozinha. O vazio ao meu redor é enorme.Minha mente não consegue parar de pensar em Rafael. Ele está ali, em uma sala fria, cercado por médicos, bisturis, monitores que apitam. O coração aperta. Uma parte de mim quer levantar e correr para lá, arrancá-lo da mesa e levá-lo de volta para casa, onde ele estaria seguro.— Vai dar tudo certo, Bia. — Teresa repete pela milésima vez, como se tentasse acalmar uma criança.Eu respiro fundo e concordo com a cabeça, mas é mentira. Não tenho certeza de nada. Não sei se vai dar certo. Não sei se ele vai sair dali sorrindo ou... não.As lágrimas ameaçam cair de novo, mas eu engulo o choro. Minha cabeça dói, meu corpo está exausto. Não consegui dormir nem comer d