BeatrizA noite parece interminável, como se o tempo tivesse decidido conspirar contra mim. Cada minuto estica-se em uma agonia lenta, e o peso das lembranças me sufoca. Estou sentada no chão do quarto das crianças, a cabeça encostada na lateral da cama de Giulia, enquanto Morgana, a minha gatinha, respira suavemente ao meu lado. Acaricio o pelo dela sem pensar, buscando uma distração, mas tudo o que consigo sentir é o vazio crescente que parece querer esmagar o peito.A dor não é apenas emocional, é quase física. O meu coração pulsa com uma força que me assusta, como se estivesse tentando escapar da pressão das emoções que o esmagam. As palavras dele ecoam na minha mente, misturando-se com as imagens do que aconteceu na boate. O toque daquela mulher, o beijo, as insinuações... No meu laboratório. Como ele pôde? O laboratório sempre foi o meu santuário, o lugar onde dediquei a minha vida, o nosso trabalho. Saber que ele o desrespeitou daquela maneira é uma ferida profunda. E ela... Ca
RafaelEstou parado no meio da sala, encarando o silêncio opressor ao meu redor. O relógio na parede marca as horas como um lembrete cruel de que o tempo continua, mesmo quando tudo dentro de mim parece ter parado. Não consigo me sentar. Não consigo descansar. Cada passo que dou pela casa parece um peso, como se meus pés estivessem presos ao chão por correntes invisíveis.Beatriz está no quarto das crianças, e eu sei que ela não quer me ver. Sei que meu lugar é longe dela agora. Mas isso não torna o peso da distância mais fácil de suportar. Fecho os olhos e vejo de novo o momento que me trouxe aqui. O beijo de Cassia.Ela foi tão firme, tão segura. Nem hesitou. Como se já tivesse decidido antes mesmo de eu abrir a boca. Isso me apavora. Não é só raiva; é convicção. Ela acredita que não há mais nada a salvar.Não foi só um beijo. Foi um golpe. Um desrespeito não só a ela, mas a tudo que construímos juntos. Minha esposa. Minha parceira. A mulher que amo mais do que qualquer coisa. E eu
RafaelQuando acordo, a sensação de vazio é como um soco no estômago. A noite foi interminável, e o peso das palavras de Beatriz ainda ressoa na minha cabeça. Olho para o lado da cama onde ela deveria estar, mas, claro, está vazio. Levanto, com um nó na garganta e a determinação de tentar conversar. Não posso deixar que isso acabe assim.A encontro na cozinha, com um café preto nas mãos e os olhos fixos em algum ponto além da janela. Ela está impecável, como sempre, mas seu rosto está duro, inabalável. A frieza dela me destrói.— Bia... podemos conversar? — começo, a voz ainda rouca pelo sono e pela tensão.Ela não responde de imediato. Apenas dá um gole no café, como se estivesse ponderando o peso da minha presença. Finalmente, ela se vira para mim, e o olhar dela é cortante.— Não tem nada para conversar, Rafael. Já tomei minha decisão.— Beatriz, pelo amor de Deus. Não podemos resolver isso assim, como se fosse... — faço um gesto vago, tentando encontrar as palavras certas — ... de
RafaelEu saio de casa carregando um peso no peito que parece impossível de suportar. Preciso de ar, de alguma coisa que me distraia, mas tudo ao meu redor só me lembra dela. Beatriz. Encontro Marcos, André, Ramiro e Liam na área comum do outro condomínio. Eles me recebem com olhares preocupados, já percebendo que algo não está certo.— Você está um lixo, Rafael. O que houve? — André pergunta direto, sem rodeios.Eu respiro fundo, tentando organizar os pensamentos, mas a verdade vem à tona antes que eu consiga me segurar.— Beatriz pediu o divórcio. E Othon... aquele filho da putta escr0to, deu abrigo para ela em Denver.O silêncio que se segue é pesado. Todos trocam olhares tensos, tentando entender o que dizer. Marcos é o primeiro a romper a quietude.— Isso não faz sentido, cara. Vocês dois... Vocês sempre foram fodah juntos, que merda Rafa...— Foram — eu digo, amargo. — Mas depois do que aconteceu na Luxor... Depois daquele malldito beijo... Ela não consegue nem olhar para mim
Rafael— Vivian tá em paz porque sabe que não tem nada de errado com Felipe. Agora, você... um homem velho, querendo fazer besteira por ciúme...— Velho?! — rosno, tentando desviar do peso do que ele disse.— Velho. E cego. Para de pensar como um moleque, Rafael. A Beatriz está magoada, Felipe hoje é marido da Vivian e só está tentando ajudá-la.Engulo a raiva e deixo cair no silêncio. Sei que eles estão certos, mas isso não diminui a tempestade dentro de mim. Ficar parado, sem poder fazer nada, é o pior castigo de todos.Estou ainda remoendo a conversa com os caras, tentando digerir tudo, mas algo não me deixa em paz. A cena de Felipe abraçando Beatriz não sai da minha cabeça. Não consigo controlar a sensação de que há algo a mais, algo que estou perdendo. Contra o melhor conselho que recebi hoje, abro o aplicativo de espionagem.Localizo Beatriz imediatamente. Ela está num restaurante, bem conhecido nosso e lá tem sala privativa. Meu coração acelera, e a raiva lateja em minhas têmpo
Rafael— E então, ficou mais tranquilo? — Marcos pergunta, a voz cautelosa.— Ela desabafou com Felipe. Ele... ele disse coisas que eu jamais esperaria ouvir. Defendeu o nosso casamento. Disse que eu sou um bom marido. — Minha voz é baixa, quase sussurrada.André assente, todos nós já imaginávamos porque eles estão juntos agora, as imagens apenas confirmaram.— Felipe tá certo, Rafael. Ele está fazendo ela pensar. Foi duro com ela em alguns momentos, mas tudo que ele disse foi real, ela precisa desse choque de realidade. Dá um tempo pra ela. Você não vai consertar tudo de uma hora para outra, mas com ele por perto, ela vai reconsiderar.— Se não por você, por Giulia — Liam completa, o tom direto.— Beatriz não vai querer entrar numa disputa judicial com Felipe, seria doloroso e poderia respingar na Giulia.— Com certeza ele está apenas amedrontando ela e evitando que você passe por tudo que ele já passou.Eu respiro fundo, tentando processar tudo. Ainda sinto o ciúme me corroendo, ma
BeatrizAssim que saio de casa, vejo Felipe e Vivian conversando perto do carro. Meus olhos estão inchados, e mesmo que eu tente disfarçar, a dor transparece. Eles notam de imediato.Felipe troca um olhar rápido com Vivian, aquele tipo de olhar que dispensa palavras. Ela entende a mensagem e, com um sorriso tranquilo, diz:— Acho que vou dar uma volta no quarteirão. Preciso de ar fresco.Ela me dá um beijo no rosto, delicada, e se afasta, me deixando a sós com Felipe.— Bia — ele começa, a voz suave, mas carregada de preocupação. — Você está bem?Tento responder, mas minha garganta trava. Ele dá um passo à frente, me olhando com aquela atenção que só ele tem.— Foi horrível, Lipe. Horrível. Eu... — Minha voz falha, e as lágrimas começam a descer.Felipe não pensa duas vezes. Ele me puxa para um abraço firme, e eu não resisto. Me deixo ser amparada, as mãos dele acariciando minhas costas, como se dissesse que está tudo bem deixar a máscara cair por um momento.— Tá tudo bem, Bia. — ele
RafaelEstamos voltando para casa, eu e Marcos. O silêncio no carro é pesado, carregado pela tensão que não me deixa desde aquela maldita operação. Quando estamos nos aproximando do portão, vejo o carro de Beatriz entrando. Mas o que me faz gelar é quem está com ela, o Felipe.Estão no carro dela, lado a lado, conversando. O jeito como ele se inclina levemente em direção a ela, o olhar cuidadoso que ele lança, o sorriso contido dela... É demais. Meus punhos cerram automaticamente, e sinto o sangue ferver nas veias.— Para o carro, Marcos.— Nem pense nisso, Rafael. — A voz dele é firme, quase autoritária, mas eu já abro a porta antes que ele termine de falar.— Ela está voltando com ele. No meu carro. No carro dela. Eles acham que podem...— Rafael! — Ele me agarra pelo braço, a força dele me puxando de volta para dentro do carro. — Para com isso agora.— Me solta, Marcos!— Não vou soltar! — Ele acelera, sem me dar chance de reagir. — Você vai acabar fazendo uma besteira e, se fize