— É sério, por favor, me atenda. Por que isso do nada? Me atende, por favor. — Ouço a voz de Eric na mensagem que ele deixou na caixa postal.
Encaro o teto enquanto isso, me corroendo de raiva, não só dos ataques desnecessários dele mas da incapacidade dele de enxergar o próprio erro. — O que o seu pai diria se soubesse da garota rebelde que você se tornou? Porque isso que está fazendo é ser subversiva ao legado dele. — E Eric continua. “Subversiva ao legado dele” Porque saí da casa do meu namorado e não atendo as ligações dele? Fala sério, como eu consegui suportar esse garoto idiota por tanto tempo? Viro para o lado encarando a janela de vidro, vejo as paredes de algumas casas iluminadas pela luz da lua e as folhas de algumas árvores brilharem. Me cubro do pescoço para baixo com a minha coberta e me aqueço sob o frio que arrepia a minha espinha e observando a janela acabo adormecendo. Eu estava me saindo bem, mas me sentia diferente, estranhamente. Mas acredito que seja muito bom, significa que estou entrando muito bem no personagem. Levantei, o sol já entrava pela janela e era acolhedor. Preparei meu cereal com leite mas tive que jogar fora porque tinha que ficar em jejum e acabei esquecendo, tomei um banho relaxante, me vesti e peguei o carro. Segui em direção ao hospital, era o dia de tirar amostras de sangue e esperar pelos resultados. Quando chego em frente ao hospital, estaciono na garagem e saio do carro ficando em pé de frente ao hospital. Dou uma última arrumada no cabelo, olho em volta e subo os batentes até chegar em frente à porta. Entro, caminho novamente até à recepção indo de encontro com aquela recepcionista muito simpática. — Bom dia, você de novo. — Ela me encara falando entre os dentes com um sorriso forçado. — Bom dia, querida. Meu nome é Sammy, ninguém me chama de “você de novo”, pode me informar onde fica a sala que acontece a realização dos exames de sangue? — Questionei devolvendo o sorriso forçado. — Onde tiram as amostras de sangue para a realização do exame, você quis dizer, não é? — Me encarou com um sorriso como se eu fosse idiota e eu dei uma risadinha forçada junto. — Onde que fica a merda da sala, sua piranha de merda? — Meu sorriso falso sumiu enquanto eu falava. A expressão daquela vaca muda e se torna uma de surpresa, ficou chocada com a minha audácia. Deve ter pensado que eu era acanhada. — Olha aqui, sua vaca… — O que é isso, Eliza? — Um dos médicos do hospital surge ao nosso lado encarando a m*****a totalmente envergonhada. — Mas foi ela que… — Tentou se explicar. — Não importa, não trate os pacientes dessa forma. Você não tem esse direito. — O homem deu sua lição de moral e em seguida me encarou. — Desculpe, querida. O que você deseja? — Em qual sala tiram as amostras de sangue para a realização do exame de sangue? — Aqui… — Me puxou para o seu lado e apontou para um dos corredores. — Vire a direita, você vai encontrar outro corredor, vai ser a quinta porta e não se preocupe, terá “exames de sangue” em um letreiro na porta. — Obrigada. — Ergui o rosto para ele e sorri simpática. — Por nada, estarei por aqui se precisar novamente. — Ele virou em direção à recepcionista e saiu. — Eliza, sobre o que estávamos tratando ontem. O médico estava de costas e não podia me ver, por outro lado a nojentinha me via. Ela me olhava com o olhar de ódio puro, eu sorri largo para ela em deboche. Virei novamente e fui procurar a sala de exames de sangue que o médico me instruiu. Quando se marca um exame, geralmente agendam outros para o mesmo dia para que assim o tempo dedicado consiga valer a pena. Então é óbvio que havia outras pessoas naquela m*****a fila esperando para serem atendidas também, e lá vai eu mais uma vez esperar na fila. Encaro o chão fixamente por vários minutos, e tudo é tão chato. Esperar em uma fila por um tempo indeterminado é tão humilhante, você pode ser a pessoa mais segura que for, ainda sim vai se sentir um idiota. Olho para o lado, e lá do outro lado do corredor vejo o médico que me consultou sair de dentro do seu provável consultório e caminhar até uma mulher aparentemente enfermeira. Ele está de lado, com o antebraço escorado em um balcão conversando com a tal enfermeira. É tão ridículo dizer isso, mas por que nós mulheres vemos alguns homens de forma tão atraente? Tipo… ele pode ser um idiota, mas vemos ele como um galã sedutor. Não que o Doutor Gunnar seja um idiota, porque não tem nem como ser. Mas ele tem algo tão chamativo que acende uma chama dentro das mulheres, eu consigo notar, as pacientes… as enfermeiras… aquela recepcionista chata… todas elas. Todas babam por ele se parar para observar agora mesmo, e quem não babaria? Acho que eu morreria se esse homem me beijasse. — Oh, garota!? — Uma mulher me sacode me fazendo despertar. — Hum? — É a sua vez, ele está chamando por você. — Me encarou franzindo as sobrancelhas. — O que estava olhando tão distraída? — Olhou na direção que eu estava olhando, viu o médico gato e sorriu. — Ah! Tudo bem, te entendo. Todas nós te entendemos. Vai lá, depois você baba mais. Franzi as sobrancelhas em indignação, quando olhei para onde ele estava, Ethan estava olhando em nossa direção com aquele olhar dele que nos deixa de pernas bambas. Encarei o chão respirando fundo e entrei na sala do exame. — Bom dia, senhorita Jenkins. Sente-se, por favor. — O médico pediu estendendo as mãos para a cadeira ao seu lado e jogando a última seringa que usou com a outra paciente no lixo, pegando uma liga de borracha e uma seringa nova e lacrada. — Bom dia. — Puxei o ar pelos lábios alto demais e ele me olhou de relance. — Tem medo de agulhas? Por que está tão nervosa? — Não… é, eu tenho. — Menti descaradamente enquanto sentava na cadeira. O médico sentou ao meu lado, amarrou a liga de borracha em meu braço e quando já ia abrir o pacote da seringa, alguém b**e na porta e ela se abre. Daquela porta o médico Gunnar surge, apenas metade do seu corpo. Os dois se olham, talvez não demoram tanto para conversarem mas para mim demora. — O que você deseja, Senhor Gunnar? — O homem ao meu lado questiona. — Por acaso tem uma caixa de luvas de borracha sobrando? As do meu consultório acabaram, procurei e não tem em estoque na recepção. — Ethan diz encarando somente o médico. — Ah, claro. Deixe-me ver. — O homem se levanta e caminha até um dos armários mexendo ali. Talvez pelo nervosismo, fico o olhando procurar as benditas luvas e quando olho para a porta Ethan está me encarando. Fixamente. Dos pés, até a cabeça, como da primeira vez. Fico travada o olhando, esqueço do tempo. Seria bem feito para Eric se eu dormisse com esse médico, ele aprenderia a deixar de ser tão idiota. — Aqui estão. — O outro estende a caixa em direção ao Gunnar que demora uns dois segundos para pegar, e quando finalmente pega nem mesmo o olha nos olhos, apenas me encara. — Obrigado, Doutor Hugs. — Agradece e sai. Hugs encara a porta fechada com as sobrancelhas franzidas, e em seguida me olha com um olhar desconfiado me fazendo sorrir com os lábios comprimidos, e as sobrancelhas erguidas.Rua das Palmeiras, 231, Bairro das árvores, Cidades do Sol. Eu tinha tudo, praticamente tudo. Mas aparentemente me faltava alguém para compartilhar essa vida, e não era apenas para foder nas madrugadas. Esse meu discurso parece carente demais, então deixa para lá.Talvez eu estivesse carente mesmo, isso explicaria eu ter pegado o carro e dirigido até o endereço e parado em frente à casa.231, é a casa que observo nesse exato momento. Queria entrar lá, queria confirmar se é essa casa que ela mora. Depois queria transar com ela, até a fraqueza me fazer parar. Dormir juntos depois também seria uma boa.Talvez eu fosse mesmo um psicopata, e esteja agindo como um. Mas observar aquela casa era como preencher um vazio, como recarregar as energias.Me perguntava se ela morava sozinha, qual era o perfume que ela usava, qual a cor das calcinhas, se dormia em uma cama de casal, como eram as roupas de cama… estou sendo psicopata novamente, esquece.Um carro chega em frente à sua casa, buzina mei
Abro os olhos devagar sentindo os olhos arderem com a claridade do sol no meu rosto, tento levantar e a cabeça dói. Enche a cara, toma um porre de novo, idiota. Jogo novamente a cabeça no travesseiro, o corpo sobre colchão e gemo de dor segurando a cabeça com as mãos como se isso fosse ajudar a minha cabeça a parar de doer.— Que merda… ah… — Resmungo em um gemido de dor não conseguindo nem ao menos abrir os olhos.Tento levantar da cama devagar e quando olho para o criado mudo ao lado da cama, vejo um copo de água com uma cartela de remédios em cima dando aquele ar carinhoso. Ergui uma sobrancelha, fiquei confusa e sem entender,mas apenas tiro o comprimido da cartela e o engulo com auxílio da água esperando que minha dor passasse.Checo a hora em meu relógio de ponteiros em cima do criado mudo vendo que já está bem tarde, não é de mim acordar assim tão tarde.Piso com os pés quentes no chão gelado e caminho escadas abaixo sentindo cheiro de panquecas vindo da cozinha. Meu estômago
Encaro meu reflexo no espelho, prestando atenção aos mínimos detalhes. Faço questão de enaltecer cada um deles, mas sem parecer madura demais.Dou uma sacudida nos cabelos ondulados com babyliss bem caprichado, do outro lado do quarto Eric me observa com seu olhar de admiração deitado sobre o colchão.— Está bonita. — Ele elogia fitando o teto com o corpo estremecido e cheio de agonia.— Esse é o propósito. — Meu tom de voz saiu mais irônico. — Ei. — Chamei sua atenção fazendo com que ele olhasse para mim. — Está tudo bem, pare de ser ciumento. Eric me encara com o rosto tenso aparentemente cheio de raiva, mas se contendo ao máximo. Ele pega uma bola de beisebol dentro do criado mudo ao lado da cama e arremessa no teto a pegando de volta quando cai, acredito que foi o jeito dele de controlar a própria raiva.— Para você está tudo bem, não é você que está vendo a sua namorada se arrumar toda para encontrar um médico. — Fez um drama, levantou da cama e caminhou até o banheiro se tranca
Um dos maiores benefícios de não ser quem se diz ser é não precisar se importar com certos problemas.Ontem quando estava saindo, esqueci a merda da chave do meu escritório. Me preocupei por uns instantes mas depois lembrei que nele não há nada que possa me incriminar, e o que me irrita é que não sei como esqueci esse molho de chaves.Depois de sair de casa e dirigir até o hospital, caminhava assobiando pelos corredores. Parecia que nada poderia tirar a minha paz, e realmente parecia, pois ultimamente sinto como se estivesse sempre de bem com a vida. Afinal, quem não estaria? Já fui advogado, copiloto de avião, corretor, juíz… nem lembro mais de todas as profissões que já aderi, legalmente? Não. Mas minha conta bancária faz tudo parecer que valeu a pena.Por mais que eu tivesse conseguido tanto dinheiro fingindo ser profissionalizado em profissões de bom salário, falsificando cheques e certificados e também conseguido todas as mulheres que eu queria, algo estava faltando. Acho que