005 Sammy

Abro os olhos devagar sentindo os olhos arderem com a claridade do sol no meu rosto, tento levantar e a cabeça dói. Enche a cara, toma um porre de novo, idiota.

Jogo novamente a cabeça no travesseiro, o corpo sobre colchão e gemo de dor segurando a cabeça com as mãos como se isso fosse ajudar a minha cabeça a parar de doer.

— Que merda… ah… — Resmungo em um gemido de dor não conseguindo nem ao menos abrir os olhos.

Tento levantar da cama devagar e quando olho para o criado mudo ao lado da cama, vejo um copo de água com uma cartela de remédios em cima dando aquele ar carinhoso. Ergui uma sobrancelha, fiquei confusa e sem entender,

mas apenas tiro o comprimido da cartela e o engulo com auxílio da água esperando que minha dor passasse.

Checo a hora em meu relógio de ponteiros em cima do criado mudo vendo que já está bem tarde, não é de mim acordar assim tão tarde.

Piso com os pés quentes no chão gelado e caminho escadas abaixo sentindo cheiro de panquecas vindo da cozinha. Meu estômago ronca com o cheirinho doce quando consigo sentir o sabor da massa quentinha com mel e minha boca enche de água.

— Jenifer! Por que não me acordou? Eu tenho consulta hoje com o médico! — Dou passos mais ligeiros até à cozinha sentindo meu corpo estremecer pelo susto ao ver um homem desconhecido de costas para mim cozinhando no meu fogão, meu corpo reage admirando as costas largas e definidas marcando na camisa azul escuro. — Mas que porra… — Murmuro sem entender perdendo o combustível e parando de andar aos poucos no final da escada.

Olho para baixo e me vejo com as mesmas roupas que estava vestida quando saí ontem com a Jenifer, diminuo um pouco mais a nossa distância e me aproximo devagar como se ele fosse uma bomba relógio prestes a explodir na minha cara.

Então aquele homem se vira para mim e meu corpo paralisa ao ver que se tratava daquele médico que me atendeu no hospital.

Dou alguns passos para trás, me segurando em algo atrás de mim e o encarando assustada.

— O que porra você está fazendo aqui? Como entrou, eu não sei, mas vai embora agora. — Ordeno apontando para a porta sentindo meu corpo estremecendo com o pavor de se sentir indefesa dessa forma com esse homem que tem três vezes o meu tamanho na minha casa, e que não está demonstrando nenhum interesse de ir embora, ao contrário, apenas sorri e volta a fazer as panquecas normalmente como se eu não estivesse falando nada.

— Não me ouviu!? — Gritei para ver se assim ele me ouvia e via que eu estava falando sério.

— Não se preocupe em perder a hora da sua consulta, afinal… o médico está na sua casa e eu posso te dar uma carona, garota. — Brincou rindo pelo nariz.

— Onde está a Jenifer? O que aconteceu? Como você veio parar aqui? — Disparei diversas perguntas no peito dele.

— A Jenifer é a amiga que levou você para aquela boate ontem a noite? — Ethan puxou uma das cadeiras da mesa enquanto colocava um prato de panquecas e ao lado mel sobre a madeira.

— Ela mesma, por que? — Eu ainda estava na defensiva.

— Você bebeu muito, e eu trouxe você para casa. Essa garota muito responsável, nem sequer notou sua ausência e até agora não mandou mensagem ou ligou para saber como você estava. — Ironizou comendo como se estivesse em casa e como se fosse o meu pai me dando bronca, isso me faz enrugar a testa confusa mas não falo nada sobre.

— Tudo bem, não somos amigas próximas. Mas por que dormiu aqui? — Dei de ombros ainda de pé em frente à mesa.

Ethan me olhou por uns segundos com o cenho franzido elegantemente e dei passos para trás colocando as mãos na cabeça.

— Ai, meu Deus! — Rodei de um lado para o outro desesperada colocando as mãos na cabeça. — A gente não… não? — Virei novamente de frente para ele e intercalei a direção do meu indicador dele para mim em um gesto.

— Calma… você não lembra? — Ele sorriu com os olhos e riu irônico consigo mesmo. — Ai, Deus. Deveria lembrar, quase quebramos aquela cama.

O olhei com um frio no estômago, colocando a mão na cintura sem saber mais o que dizer ou como agir boquiaberta.

Só pode ser brincadeira, eu não transei com o médico que estava me consultando, não…

— Eu tenho namorado. E isso não era para ter acontecido. — Balancei a cabeça negativamente ainda andando de um lado para o outro refletindo sobre as minhas atitudes.

Ethan começou a rir, riu enquanto eu o encarava com desprezo é indiferença.

— Qual é a graça?

— Que namorado deixa a namorada sair sozinha, ainda mais para uma boate de solteiros. — Comentou com o tom repreendedor e mandão. Acho que por ser mais velho ele se ache no direito de repreender as minhas atitudes e o que eu escolho para a minha vida.

— É porque brigamos, e além disso, você não tem nada haver com isso. — O cortei.

— Quem será o seu namorado no jogo do bicho. — Murmurou em deboche. — Não vai comer?

Era estranho, eu não conseguia agir normalmente. Só de pensar que transei adoidado com esse homem, e não lembro de nada me causa um misto de emoções que eu não sei decifrar.

Mas olhando assim para o rosto dele com muita atenção, eu sinto. Ele não é assim, ele não se aproveita de garotas bêbadas. Dá para ver nos olhos dele o quanto ele é respeitoso.

Principalmente, porque não foi embora pela manhã. Ele ficou, e ainda cozinhou. Um aproveitador não faria isso.

— O que foi? — Ele questionou depois de segundos que estávamos nos encarando.

— Você não me tocou, não é? Só está tirando uma com a minha cara, eu até estou vestida com a mesma roupa sem falta de nenhuma peça além dos saltos. — Puxei a cadeira e sentei para comer com ele já mais tranquila.

Provável que ele me reconheceu e me trouxe para casa depois de eu ter feito muita besteira, é só um homem cuidadoso e super protetor.

— Eu poderia ser um estuprador discreto, você está de saia. Era só subir um pouquinho. — Piscou para mim com um sorriso descarado e me fez estreitar os olhos com o linguajar.

“Era só subir um pouquinho”, é uma suposição. É, ele não me tocou. Afinal, por que ainda desconfiei que tivesse? Ele não parece ser um tarado, e nem tem necessidade disso.

— Não estou dolorida. — Retruquei um argumento colocando uma panqueca em um prato para mim e derramo mel sobre ela.

— Não tenho cara de ser soca fofo? — Brincou e ficou me encarando, estreitei os olhos e depois de milissegundos percebi que ele estava flertando comigo, isso explicava o assunto tão sexual.

Ele deveria estar constrangido com a minha queixa, deveria estar tentando de todas as formas se explicar e provar que não é um assediador. Mas está seguindo com o assunto sem temor, provavelmente ele sente que tem alguma chance ou que tem intimidade suficiente para isso. Isso me faz pensar que eu o beijei ou que tentei algo a mais, ou que fiz os dois.

— É, tem razão. Tem mesmo. — Brinquei para cortar as asinhas dele enquanto tentava ficar séria com a cara que ele fez, mas era impossível. — Desculpa, mas você mereceu.

— Me chateou você ter acreditado por tanto tempo que fodi você enquanto estava bêbada. — Resmungou levantando da mesa, indo até a pia.

— Que linguajar. — Mordi a bochecha.

— É o linguajar de babacas que se aproveitam de garotas indefesas.

Levantei e caminhei até a pia atrás dele, coloquei meu prato lá quando acabei de comer e ri vendo ele me olhar curioso, sorri de canto quando ele não estava vendo.

— Fala logo, o que está querendo? — Questionei apoiando as costas na pia ao seu lado, o olhando enquanto ele mexia os pratos da pia para caber o dele e os preparava para lavar. Depois de alguns segundos ele me olha e meu corpo inteiro estremece com aquele mar de olhos. Literalmente, o olho dele é de um azul tão vivo que me hipnotiza.

— Como? — Ethan me olha e questiona com o tom de voz mais baixo.

— Ninguém faz uma gentileza assim atoa, o que você esperava em troca? — Segurei seu antebraço e Ethan olhou firme para a minha mão tocando a sua pele e me aproximo falando mais pertinho dele. — Mas o Senhor não é assim, não é, Doutor? Até porque, a nossa diferença de idade é considerável, porém… não se sinta culpado. Sou maior de idade. — Estava falando com aquele tom de voz de garota oferecida dos filmes tentando seduzir um homem rico e mais velho, mas esse personagem não combina comigo, eu estava rindo muito por dentro.

Ele era bem maior que eu, os braços fortes e o tronco robusto que deixava a camisa colada em seu corpo o faziam ficar tão ameaçador assim em minha frente. Ele é um homem feito, é evidente, é bem mais velho do que eu. Também é direto ao ponto, não esconde o olhar e nem o que sente, eu o vejo. Pode não falar por a boca, mas os olhos entregam tudo, o traem covardemente.

Homens mais velhos com esse ar de maduro são tão mais atraentes, que chego a ficar com peso na consciência. Mas não é tão ruim para mim, se tivéssemos algo, seria ele quem se sentiria mais culpado, afinal, é o mais velho.

— Ainda existem pessoas boas que fazem as coisas sem esperar nada em troca. — Me cortou voltando a lavar a louça e franzi o cenho admirada com a quase rejeição, me fazendo notar que ele é uma boa pessoa.

— Ótimo, eu odiaria que tivesse um psicopata no mesmo ambiente que eu. — Retruquei sem olhá-lo mais nos olhos e caminho em direção às escadas, mas antes de subir olho para trás dando uma olhada nele. — Vou subir para me arrumar, se a ideia de irmos juntos ainda estiver de pé, eu aceito. Meu carro quebrou, por isso que fui com aquela idiota para aquela boate ontem. — Falei em um tom mais elevado para que ele pudesse ouvir a longa distância, e depois subi para o quarto.

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