Rua das Palmeiras, 231, Bairro das árvores, Cidades do Sol.
Eu tinha tudo, praticamente tudo. Mas aparentemente me faltava alguém para compartilhar essa vida, e não era apenas para foder nas madrugadas. Esse meu discurso parece carente demais, então deixa para lá. Talvez eu estivesse carente mesmo, isso explicaria eu ter pegado o carro e dirigido até o endereço e parado em frente à casa. 231, é a casa que observo nesse exato momento. Queria entrar lá, queria confirmar se é essa casa que ela mora. Depois queria transar com ela, até a fraqueza me fazer parar. Dormir juntos depois também seria uma boa. Talvez eu fosse mesmo um psicopata, e esteja agindo como um. Mas observar aquela casa era como preencher um vazio, como recarregar as energias. Me perguntava se ela morava sozinha, qual era o perfume que ela usava, qual a cor das calcinhas, se dormia em uma cama de casal, como eram as roupas de cama… estou sendo psicopata novamente, esquece. Um carro chega em frente à sua casa, buzina meia dúzia de vezes chamando sua atenção. A porta da frente se abre e ela surge, meu sorriso aparece sutilmente. Me endireito no banco observando seus movimentos. As duas parecem conversar e sorriem uma para a outra, o sorriso de orelha a orelha da Sammy ilumina, mesmo à distância. Está vestida com uma camiseta curta branca, saia e saltos prateados. Seus cabelos negros e ondulados caem sobre os ombros a deixando mais perfeita. Ela tranca a porta, sorri para uma garota que sai do carro e dá a volta até o outro lado. Sammy entra pela porta do motorista e a fecha, então sai de carro para algum lugar dirigindo. O carro anda um pouco enquanto eu decido se a sigo ou não, no final das contas acabo a seguindo. Meu instinto de querer protegê-la fala mais alto, e linda como está me faz temer que algum idioma faça mal a ela. Tão delicada como é, homens de diferentes tipos anseiam por fazê-la mal. Ela dirige direito, delicada como aparenta. Não acelera muito mas também não acelera pouco. O sinal vermelho a obriga a parar, ultrapasso um carro em minha frente para parar o meu ao lado do dela. Não consegue me ver por causa do insulfilm. Está com o vidro aberto, cantarola alguma música que lhe vem a cabeça em seguida pega o telefone e fala com alguém no telefone. Sammy sorri, quando o sinal abre ela parece se despedir e larga o celular. Meus olhos brilham a vendo concentrada no volante, e principalmente a sua inocência em não perceber que há um carro a seguindo desde a própria casa. Ela vira algumas ruas, e para em frente a uma boate barulhenta. Sammy desce do carro e alguns amigos a esperam em frente. Entre eles um garoto. Ela cumprimenta todas com um abraço, e quando chega a vez dele lhe dá um beijo no rosto. Seria um possível namorado? Não. Teria o beijado na boca. Um namorado dessa mulher não se contentaria apenas com um beijo na bochecha. Observo como a saia fica mais curta quando ela se estica sobre os pés para conseguir abraçar o garoto, e sinto uma grande agonia misturada com admiração. Eles entram na boate, e então desço rapidamente do carro o travando. Entrei dentro da boate sendo invadido pelo som alto e pelas batidas das músicas agitadas. Caminho até o balcão, peço uma bebida e me sento a procurando com o olhar. Ela está dançando, todas elas estão dançando coladas umas nas outras. Sorriem muito. O garoto por outro lado não o vejo mais. Fico vidrado observando seus cabelos ficando despenteados, como ela está suando e como os braços nus e femininos se estendem até o topo da cabeça para prender o cabelo. Não sei se é a forma dos jovens se divertirem, mas Sammy dança de frente para uma das amigas. Seus corpos se esfregam, os seios, os braços, o corpo inteiro. Segura o rosto da amiga e a beija, devagar, intensamente. Mais uma vez pareço psicopata, observo o movimento dos seus lábios, ansiando ser a amiga que beija e vidrado nos seus movimentos. Depois de um tempo ela caminha até o balcão, apoia os braços e j**a os quadris para trás. Tento olhar para frente e não lançar nenhum olhar obsceno sobre ela. — Vodka com limão, por favor. — Sorri para o barman que arreganha um sorriso para ela sem nenhuma dificuldade, e que me estressa pelo fato de ela não perceber, aparenta até mesmo estar flertando com ele. Acredito que a observo tanto que finalmente seus olhos encontram os meus, e quando nossos olhares se encontram um choque térmico percorre meu corpo. Ela não parece se assustar, e nem eu. O Barman estende o copo para ela deixando em cima do balcão em sua frente, e ela não o olha somente começa a arrastar seu copo por cima da madeira enquanto caminha em minha direção. Engulo em seco virando meu olhar para frente, brincando com meu copo de vidro fazendo círculos sobre as bordas. Sammy se senta no banco ao meu lado com o corpo virado em minha direção, aquela boate podia estar o maior barulho mas eu só ouvia a sua respiração e os seus movimentos. Sim, até os movimentos, não o som, mas as vibrações. — Você. — É a única coisa que ela diz, espero que termine de falar enquanto encaro o copo mas ela não fala mais nada e por impulso encaro o abismo dos seus olhos. — Doutor Gunnar? Encaro seu rosto, os cílios volumosos e os lábios brilhosos que gritavam para mim “me beije, me beije, me beije”. — Conheço você? — Questionei virando o restante do líquido do copo cerrando o maxilar por causa do gosto amargo e pela queimação na garganta. Ouço seu riso baixo que dura meio segundo, ela balança a cabeça e se ajeita no banco virando para o balcão. — Sammy Jenkins. — Comentou bebendo o líquido do copo através de um canudo. — Me consultei com o senhor há algumas semanas. — Tem certeza que não bebeu demais? — Ironizei encarando meu copo com um sorriso de canto. — Não. — Ela ri balançando a cabeça indicando estar um pouco bêbada sim. — Atendo muitos pacientes, sabe? Não consigo lembrar de todos. — Continuei. Ela me encara com as sobrancelhas franzidas com uma certa indignação no olhar que me faz querer rir. O Barman enche meu copo mais uma vez e bebo em silêncio sentindo seu olhar em mim, parada sem dizer nada. Quando começa a me incomodar encaro seu rosto, e ela me encara de volta. Olha um olho e depois o outro, mas não desvia. — O senhor quer dançar? — Convida me fazendo entreabrir os lábios surpreso. Nos encaramos por alguns segundos, viro de volta para o balcão virando o restante do copo e a puxo para o centro. Sobre aquela escuridão e luzes coloridas, nos encaramos. Sammy segura meus braços e balança seu corpo colado no meu, quase encosta nossos lábios. QUASE. Um mero quase que poderia se transformar em tudo. Me obrigo a segurar as laterais do seu quadril não deixando que ela roce muito em mim. Reúno meu autocontrole. Ela beija levemente meu queixo porque deixo meu rosto erguido, se eu estivesse olhando para baixo já estaríamos nos amassando e por mais que eu quisesse muito isso, ela está bêbada. Sammy vira de costas para mim, segura minhas mãos sobre seus quadris e roça nossos corpos, principalmente nossos quadris um no outro. Cheiro seu cabelo com os olhos cerrados e ofegos saltam dos meus lábios automaticamente. Seu cabelo com o nó desfeito cai sobre os ombros e roça em meu rosto. Sinto seu cheiro doce, delicado e suspiro. Abaixo a cabeça na altura do seu ombro e beijo sua bochecha. Ela vira o rosto para mim e beija levemente meus lábios. E então, o fim do autocontrole. A viro de frente para mim, choco seu corpo contra o meu com uma volúpia que dá até mesmo para ouvir nossos corpos se chocando. O choque elétrico é instantâneo, com apenas o toque me faz estremecer por inteiro perdendo a consciência de mim mesmo. Caminho para frente até a encurralar em uma coluna e beijo seus lábios. Gemo quando sinto finalmente nossos corpos colados um no outro, ela segurar meu rosto com as duas mãos e seu tronco contra o meu. Um arrepio percorre dos nossos lábios se espalhando pelo corpo inteiro, é impossível evitar. É extinto, não consigo não deslizar minhas mãos pelo seu corpo, é inevitável. Sammy afasta nossos rostos encarando meus olhos, com seus lábios vermelhos, encara minha boca e me ataca novamente. Me sufoca contra o seu rosto, aperta a parte de trás da minha camisa e respira alto descontroladamente. Prenso meu corpo contra o seu sentindo a sua delicadeza, sentindo a sua fragilidade, mas não do jeito que eu gostaria nesse momento. Deslizo minha mão por trás das suas costas até entrar por baixo da saia, aperto sua nádega nua e ela geme contra meus lábios. Me arrependo em seguida quando Sammy se vê no direito de fazer o mesmo, e sorri quando estremeço impulsionando meu tronco para frente. Puxa meu lábio entre os dentes me arrancando um gemido, beija minha bochecha, meu maxilar, meu pescoço… na verdade ela lambe meu pescoço, morde e me arrepia. Os pelos do meu corpo se erguem para cima e fecho os olhos suavemente sentindo a tensão dos meus músculos. Meus olhos perdendo a noção e lutando para ficarem abertos. Escondo meu rosto em seu pescoço inalando o cheiro do seu perfume, me emaranhando nos seus cabelos e me aprisionando nela. É incrível como o som da música fica abafada, nem parece mais que ainda estamos dentro da boate e agora parece que estamos dentro de uma bolha, só nós dois. As mãos de Sammy ameaçam tocar um pouco mais abaixo do meu abdômen e seguro seus pulsos a impedindo, sentindo meu sangue ferver desejando não impedi-la mas meu respeito ainda permanecia acima do que o desejo. — Você está bêbada. — Sussurro mais para mim do que para ela, tentando convencer a nós dois de que era errado. — Mas eu sei o que eu quero. — Tenta tocar no botão da minha calça novamente e tremo enquanto seguro suas mãos, fechando os olhos e os apertando com força tentando ao máximo me controlar. — Vem, já chega. Vou levar você para casa. — A puxo pela mão levando para fora da boate, ela não parece resistir. Eu não deixaria ela ali no estado em que estava com um bando de irresponsáveis. Sammy parece querer cair de sono já na calçada, envolvo a parte de trás dos seus joelhos a levantando e caminhando com ela nos braços até o carro. A coloco no banco do carona e entro pela outra porta. Ela resmunga algumas vezes e continua com os olhos fechados, a prendo com o cinto de segurança e começo a dirigir em direção à sua casa. A observo cochilar no banco do meu carro, tento prestar mais atenção na estrada do que nela, mas é difícil. Suas pernas nuas esticadas folgadamente no banco também me chamam atenção, lisas e alvas. Me pego pensando, e se ela fosse minha?Balanço a cabeça focando novamente na estrada. Estaciono em frente a casa dela, desço do carro e a pego nos braços com cuidado para não acordá-la, aí eu caminho devagar até a porta da sua casa. Levanto o tapete pegando a chave da porta e a abro. Finalmente eu também mataria a minha curiosidade em saber como era a casa dela por dentro. Observo como tudo é organizado, o sofá branco, móveis de madeira, paredes brancas, a escada brilhante de madeira me induz a subir e procurar seu quarto. Encontro um corredor minimamente grande, várias portas e abro uma por uma. Banheiro, quarto de hóspedes que só identifico por causa da indelicadeza das cores escuras, área com piano, um tipo de escritório, e finalmente o quarto dela. Lençóis claros o que faz a minha imaginação fluir, cama de casal e paredes rosa pastel. A deito com cuidado sobre a cama de mola que balança um pouco mais que o normal, sento na ponta pondo suas pernas sobre meu colo e desafivelo seus saltos os colocando ajeitadinhos em frente ao criado mudo branco. Cubro seu corpo com o cobertor e deito ao seu lado da cama, sinto o seu cheiro impregnado na coberta, e fico observando seu peito subir e descer enquanto ela respira suavemente dormindo. Não consigo controlar meus pensamentos, a imagem de nós dois nessa cama aos amassos, ofegos e corpos suados. Balanço a cabeça os afastando de mim. Tudo nela é tão delicado, ela é tão vulnerável feito uma princesa e isso me atrai. Acabo de descobrir um novo hobby, vê-la dormir. Ela vira para o outro lado e encosto mais meu corpo no dela, encaixando nossos quadris envolvendo seu corpo em meus braços, escondendo meu rosto em seus cabelos inalando seu cheiro até adormecer junto com ela sem querer.Abro os olhos devagar sentindo os olhos arderem com a claridade do sol no meu rosto, tento levantar e a cabeça dói. Enche a cara, toma um porre de novo, idiota. Jogo novamente a cabeça no travesseiro, o corpo sobre colchão e gemo de dor segurando a cabeça com as mãos como se isso fosse ajudar a minha cabeça a parar de doer.— Que merda… ah… — Resmungo em um gemido de dor não conseguindo nem ao menos abrir os olhos.Tento levantar da cama devagar e quando olho para o criado mudo ao lado da cama, vejo um copo de água com uma cartela de remédios em cima dando aquele ar carinhoso. Ergui uma sobrancelha, fiquei confusa e sem entender,mas apenas tiro o comprimido da cartela e o engulo com auxílio da água esperando que minha dor passasse.Checo a hora em meu relógio de ponteiros em cima do criado mudo vendo que já está bem tarde, não é de mim acordar assim tão tarde.Piso com os pés quentes no chão gelado e caminho escadas abaixo sentindo cheiro de panquecas vindo da cozinha. Meu estômago
Encaro meu reflexo no espelho, prestando atenção aos mínimos detalhes. Faço questão de enaltecer cada um deles, mas sem parecer madura demais.Dou uma sacudida nos cabelos ondulados com babyliss bem caprichado, do outro lado do quarto Eric me observa com seu olhar de admiração deitado sobre o colchão.— Está bonita. — Ele elogia fitando o teto com o corpo estremecido e cheio de agonia.— Esse é o propósito. — Meu tom de voz saiu mais irônico. — Ei. — Chamei sua atenção fazendo com que ele olhasse para mim. — Está tudo bem, pare de ser ciumento. Eric me encara com o rosto tenso aparentemente cheio de raiva, mas se contendo ao máximo. Ele pega uma bola de beisebol dentro do criado mudo ao lado da cama e arremessa no teto a pegando de volta quando cai, acredito que foi o jeito dele de controlar a própria raiva.— Para você está tudo bem, não é você que está vendo a sua namorada se arrumar toda para encontrar um médico. — Fez um drama, levantou da cama e caminhou até o banheiro se tranca
Um dos maiores benefícios de não ser quem se diz ser é não precisar se importar com certos problemas.Ontem quando estava saindo, esqueci a merda da chave do meu escritório. Me preocupei por uns instantes mas depois lembrei que nele não há nada que possa me incriminar, e o que me irrita é que não sei como esqueci esse molho de chaves.Depois de sair de casa e dirigir até o hospital, caminhava assobiando pelos corredores. Parecia que nada poderia tirar a minha paz, e realmente parecia, pois ultimamente sinto como se estivesse sempre de bem com a vida. Afinal, quem não estaria? Já fui advogado, copiloto de avião, corretor, juíz… nem lembro mais de todas as profissões que já aderi, legalmente? Não. Mas minha conta bancária faz tudo parecer que valeu a pena.Por mais que eu tivesse conseguido tanto dinheiro fingindo ser profissionalizado em profissões de bom salário, falsificando cheques e certificados e também conseguido todas as mulheres que eu queria, algo estava faltando. Acho que
— É sério, por favor, me atenda. Por que isso do nada? Me atende, por favor. — Ouço a voz de Eric na mensagem que ele deixou na caixa postal. Encaro o teto enquanto isso, me corroendo de raiva, não só dos ataques desnecessários dele mas da incapacidade dele de enxergar o próprio erro.— O que o seu pai diria se soubesse da garota rebelde que você se tornou? Porque isso que está fazendo é ser subversiva ao legado dele. — E Eric continua.“Subversiva ao legado dele” Porque saí da casa do meu namorado e não atendo as ligações dele? Fala sério, como eu consegui suportar esse garoto idiota por tanto tempo? Viro para o lado encarando a janela de vidro, vejo as paredes de algumas casas iluminadas pela luz da lua e as folhas de algumas árvores brilharem.Me cubro do pescoço para baixo com a minha coberta e me aqueço sob o frio que arrepia a minha espinha e observando a janela acabo adormecendo.Eu estava me saindo bem, mas me sentia diferente, estranhamente. Mas acredito que seja muito bom,