Rendida pelo alfa
Rendida pelo alfa
Por: D. Marchioro
Capítulo 1

Eu bato forte na mesa. Tão forte que na mesma hora sinto o arrependimento chegar em mim, quando aquela pontada dolorida se arrasta por todo o meu braço depois de ter batido o ossinho do meu cotovelo no carvalho duro.

 Mas não vou deixar que nenhum deles saiba disso, então engulo a dor enquanto pronuncio mentalmente todos os palavrões que consigo me lembrar, até os em outra língua.

Ao meu lado está a querida minha tia por parte de pai. Uma vagabunda sem coração que chora e chora de uma forma muito teatral, apesar de nunca ter feito uma aula de teatro sequer em toda a sua vida. Na minha frente, o homem parrudo de grandes bochechas que mais parece o senhor bundovisk do filme “Meu malvado favorito” me analisando atentamente como se eu fosse uma criminosa. Seus olhos caídos me analisam por trás de óculos redondos de lentes grossas, que fazem seus olhos ficarem muito pequenos, e desproporcionais ao resto do seu rosto. 

 A sala ao meu redor é cheia de quadros entediantes e cafonas, que provavelmente o dono dela comprou em brechós sem ter nem sequer uma segunda opinião de alguém que tenha o mínimo senso decorativo. Tem também uma mesa de escritório e as três cadeiras em que estamos agora, obviamente de lados diferentes porque afinal isso é como se fosse um julgamento de tribunal. Também tem uma foto de família com crianças e uma mulher sorrindo, e bem ao lado, um certificado de médico psiquiatra.. 

Pro inferno ele e seu certificado, ele é um mentiroso que está treinando junto com a minha tia para arruinar a minha vida. 

-ISSO É UM ABSURDO! - bato mais uma vez, dessa vez com menos força. - Como podem acreditar nessa mocreia! Tudo que ela diz e fala é tão falso quanto seu cabelo. Até essas lágrimas de crocodilo idiotas! Isso não é justo! Eu preciso chorar também pra que vocês acreditem em mim?

O cabelo castanho da minha tia realmente não é dela e já faz muito tempo. Desde que ela apostou todas as suas fichas em descoloração global várias e várias vezes até seus pobres cabelos ficarem com a textura de uma borracha. Agora ela usa alongamentos de segunda mão e fica tão longe do natural, que se a vissem de longe achariam que todo seu cabelo é uma grande peruca.  Talvez realmente seja a essa altura do campeonato. Se eu puxar será que ele sai todo de uma vez na minha mão? Nunca fui uma pessoa violenta, mas eu ia gostar de fazer esse experimento. 

-Senhorita Lovett, eu peço que se acalme. Se a senhorita sente vontade de chorar, saiba que isso aqui é um local seguro, se sinta confortável para se expressar da forma que bem entender. Eu só peço que tenha um pouco de consideração pela sua tia e por tudo que ela já fez por você. É  inaceitável que descarregue seu temperamento nela desse jeito. Ouça, você já é madura o suficiente para entender a situação delicada em que se encontra e que a melhor forma de você lidar com isso é cooperar conosco

Seu tom de voz me causava uma raiva rançosa. Eu não estava calma, eu não tinha motivo nenhum para estar minimamente calma. Não fazia o menor sentido esse assunto dele sobre maturidade, já que ser adulto tem como um de seus significados ser responsável pelas consequências de suas ações, ou basicamente “Colher o que foi plantado.” Mas eu não plantei absolutamente nada disso. Sabotaram a minha horta e agora faziam questão de jogar a culpa disso em cima de mim. 

As lágrimas de crocodilo da minha tia ao meu lado aumentam de quantidade, e ela assoa o nariz muito ruidosamente no lencinho de papel que lhe deram.

-Escute, vocês nem sequer tem o direito de fazerem isso comigo, eu sou maior de idade! Sou responsável pelo meu próprio nariz, e se eu não quiser ficar nessa merda de lugar então vocês não podem me obrigar a ficar nessa merda de lugar. - Eu digo, como se fosse um raciocínio simples, por que realmente é. Mas não de acordo com eles, não de acordo com a “lei”.

Meu nome é Odette. Sim, como a rainha dos cisnes. Talvez minha mãe ou até mesmo meu pai tenham sido grandes fãs de ballet clássico. Mas não tem como eu perguntar a eles já que não estão mais vivos pra contar história. Morreram os dois em um incêndio que atingiu a antiga casa há muito tempo. Eu não tinha muita idade para me lembrar de tudo com clareza. Só sei que fui retirada da casa antes que ela fosse consumida pelo fogo. Mas depois disso? Ir morar com o pior lado da minha família, com minha tia arrogante que mal pode esperar pra pegar a droga do dinheiro do seguro e seguir a vida, mesmo que pra ela agora, tivesse um fardo pra aguentar.

-Senhorita, como já lhe disse, vou mais uma vez pedir que se acalme. Este é um lugar seguro em que não há o que temer. Sim, você pode ser considerada responsável por si mesma graças a sua idade, mas legalmente falando, a sua tia é a responsável por você, considerando que não está totalmente nas suas faculdades mentais. Pela lei, ela é a pessoa que se responsabiliza pelas suas ações no nosso país, e você deveria agradecê-la por ser essa alma tão preocupada e caridosa com a sobrinha, que está pensando tanto no melhor pra você. Resolveu te mandar para um lugar como esse. Há tantos como você por aí nas ruas e desamparados, largados pelos entes queridos. Seja grata ao que tem, e deixe de agir como uma pirralha mimada.

Pirralha mimada? Que vontade que tenho de dar chute bem no meio de suas bolas depois de ouvir uma palhaçada como essa. Que me mandassem pras ruas então. Não é como se eu já não fosse grandinha e soubesse me virar. Tenho 21 anos e sou responsável por mim mesma desde que parei de usar fraldas.  Mas eu não iria aguentar isso calada. Era um absurdo que eles pensassem que só poderiam se livrar de mim assim, desse jeito. Da mesma forma que se livram de algo que perdeu a utilidade. Não aguentando mais um segundo dessa farça, eu finalmente estourou, deixando a raiva e mágoa sair de dentro de mim enquanto grito na cara deles.

-PRO INFERNO TUDO ISSO! VOCÊ PARA O INFERNO, MINHA TIA PRO INFERNO, VOCÊS TODOS PRA MERDA DO INFERNO! FIQUE SABENDO QUE EU NÃO ESTOU FORA DAS MINHAS MALDITAS FACULDADES MENTAIS SEUS DESGRAÇADOS.. EU ESTOU EM MINHAS PLENAS CAPACIDADES E CAPAZ DE FALAR POR MIM MESMA. ESSA VÍBORA ARMOU PRA MIM, VOCÊS DOIS ARMARAM QUE EU SEI,  COM LAUDOS FALSOS E TUDO MAIS QUE PODIAM ARRANJAR. E FOI SÓ EU ME DESCONTROLAR UM POUQUINHO EMOCIONALMENTE, EU DAR UMA DESLIZADA E PRONTO. JOGADA AQUI DENTRO PARA APODRECER COMO UM PEDAÇO DE LIXO, ENQUANTO ELA DANÇA E SAMBA POR AÍ COM O DINHEIRO DO MEU FALECIDO PAI..

-Esse é meu último aviso, se você não se acalmar agora e medir as suas palavras para com sua tia, serei obrigado a chamar os enfermeiros, e não vai ser nada agradável passar o seu primeiro dia aqui de castigo, senhorita.

-Meu caro senhor - Eu me levanto da cadeira e pela primeira vez minha tia tira os olhos e o nariz do seu lencinho, olhando diretamente pra mim. - Por que não pega o seu castigo, seus enfermeiros e esse lugar todinho…-Eu o encaro com uma fúria que queima meus olhos, e aproximei meu rosto no melhor desafio que consegui - e enfia tudo dentro desse seu rabo. - Pra encerrar, eu junto todo o cuspe que consigo, aquele nojento mesmo vindo bem do fundo da garganta, e formar  uma bola de saliva  que cuspo bem na cara dele.

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