O risco de entrar uma mosca na minha boca do jeito que ela estava aberta enquanto eu encarava Cedric, era astronômico. Será que o problema era eu? Que talvez agisse de mais como se estivesse pisando em ovos com as pessoas, ou era Cedric que realmente fazia o contrário muito além da conta, e saia massacrando esses ovos imaginários com as botas de um solado incrivelmente pesado?Talvez um pouco dos dois. Agatha também encarava ele, mas o que ela estava pensando eu não tinha nem como imaginar, pelo menos até que, de repente ela começou a gargalhar de uma forma bem escandalosa. Eu fiquei sem entender por que ela estava rindo, e Cedric parecia do mesmo jeito que eu, mas em poucos segundos ela finalmente parou, e passou uma das mãos embaixo dos olhos para secar as lágrimas que tinham escorrido depois de uma crise de risos como aquela. -Vocês realmente não tem muita coisa em que são parecidos, chega a ser engraçado ver como essas coisas acontecem. - É claro que com esse comentário, eu con
Eu respiro fundo, uma e duas vezes, na verdade mais tentando adiar a minha história. Cedric deve ter percebido isso mesmo sem que eu tenha dito nada, pois seus olhos me encararam com intensidade. Ele não fala absolutamente nada, apenas espera que eu tome iniciativa de começar. E eu enfim tomo essa porcaria de iniciativa, já estava mais do que na hora.-Antes de eu entrar no Boa Esperança, nada nunca tinha sido às mil maravilhas. Meus pais foram mortos num incêndio quando eu tinha…uns cinco anos, eu acho? Eu não me lembro muito bem. Só sei que fui morar com a minha tia. Ela já tinha 4 filhos na época, 3 deles mais velhos do que eu, e estava no seu quinto marido. Eu sempre aprendi que nunca poderia reclamar muito abertamente de qualquer situação de vida que eu tenha me metido,sempre me falavam pra ser grata por tudo e qualquer coisa, e que não importa o quanto o dia tinha sido ruim, sempre deveríamos nos sentar à mesa, rezar e agradecer por termos mais um dia, já que uma quantidade absu
-Bom, as coisas não estavam tão ruins pra quem olhasse do lado de fora, mas pra mim sempre pareceu que tinha alguma coisa errada com tudo ao meu redor. Eu nunca me senti no controle de mim mesma. Noites de sonambulismo e terrores noturnos que pareciam reais a ponto de que poderiam me engolir inteira mesmo depois de eu estar acordada, tinham virado rotina. Eu não fiquei quieta com isso, contei o máximo que pude do que estava acontecendo para a minha tia, mas nada que eu sentisse que iria fazer ela me olhar mais torto do que o necessário. Eu contei pra ela que ouvia algumas vozes e via pessoas que não estavam que eu sabia que não estavam lá de verdade. Mesmo contando isso a ela por minha vontade própria, eu realmente não esperava a reação que ela teve. Ela nunca foi muito carinhosa ou próxima de mim. Como eu tinha contado, nunca nem mexeu um dedo para me ajudar quando seu ex marido porco me batia. Mas naquela hora eu vi uma coisa em seus olhos, como se ela estivesse reconhecendo algo em
-Você não precisa - Ele me dá um beijo. - Nunca - Mais outro beijo. - Ter medo de me contar algo, ou de esconder seus demônios de mim. - Uma trilha de beijos que iam do meu rosto até as minhas clavículas. Suas mãos percorreram minha cintura em um aperto firme. Ele encostou sua testa na minha por um momento entre essa chuva de beijos. - Eu vou caçar cada um deles e fazê-los se arrepender, e os que eu não puder, por fazerem parte de você, eu vou adorar com a dedicação de um bom devoto. Seu rosto estava muito perto do meu e sem saber como reagir, eu fecho os meus olhos para não precisar encarar os seus, sinceros e profundos. -Nada no mundo te faria escapar de mim ou me faria pensar diferente, será que você ainda não entendeu? - Ele afasta nossos rostos por pouco tempo, e depois resolve continuar seu caminho de trilhas de beijos, e dessa vez começa a descer um pouco mais. -Eu estou começando…mas é difícil. - Eu digo e abro meus olhos mais uma vez. Ele ainda me olhava com o mesmo olhar.
Toda vez que nossa vida dá uma guinada, uma tomada nova de rumo, as coisas parecem muito assustadoras a princípio, desde nos mudarmos para um novo lugar ou talvez só descobrirmos algo novo sobre nós mesmos. Eu mesma estava nesse paradoxo agora, onde tudo parecia empolgante e ao mesmo tempo muito aterrorizante. Eu sentia ao mesmo tempo um coração acelerado de pavor e também borboletas no estômago de alegria.Eu tinha voltado para a casa da minha tia, a um tempo atrás só para descobrir que ela e toda a graciosa família tinham saído em uma belíssima viagem em conjunto. Se em algum momento eu pensei que ela estaria um pouco chateada com meu desaparecimento e possível morte aos olhos de qualquer investigação policial, não foi isso que aconteceu. Pelo visto, ela não tinha nada para impedir que ela vivesse sua vida perfeita pelo que eu vi. Isso, não posso mentir o quanto isso me deixou chateada. Fiquei com raiva, com certeza, e muita raiva, o suficiente para decidir que não pretendo deixar
Eu bato forte na mesa. Tão forte que na mesma hora sinto o arrependimento chegar em mim, quando aquela pontada dolorida se arrasta por todo o meu braço depois de ter batido o ossinho do meu cotovelo no carvalho duro. Mas não vou deixar que nenhum deles saiba disso, então engulo a dor enquanto pronuncio mentalmente todos os palavrões que consigo me lembrar, até os em outra língua.Ao meu lado está a querida minha tia por parte de pai. Uma vagabunda sem coração que chora e chora de uma forma muito teatral, apesar de nunca ter feito uma aula de teatro sequer em toda a sua vida. Na minha frente, o homem parrudo de grandes bochechas que mais parece o senhor bundovisk do filme “Meu malvado favorito” me analisando atentamente como se eu fosse uma criminosa. Seus olhos caídos me analisam por trás de óculos redondos de lentes grossas, que fazem seus olhos ficarem muito pequenos, e desproporcionais ao resto do seu rosto. A sala ao meu redor é cheia de quadros entediantes e cafonas, que prova
POV CEDRICCedric Bellini não estava tendo um bom dia. Mas sendo sincero consigo mesmo, nenhum dos seus dias no “Centro de reabilitação Boa Esperança” era um bom dia. Na verdade eram todos como o inferno na terra, ao contrário do que o nome sugere. Pra começar, ele era um alfa. Ou ele tinha sido há muito tempo atrás. Um alfa em uma situação como essa não é algo que se vê todo dia. Aqui não era e nem nunca seria lugar para alguém como ele, apesar de não ser o único da sua espécie aqui dentro. Se você tem dinheiro e inimigos, no final é aqui que todos vão parar. Era bem mais fácil ser trancado aqui dentro esquecido e largado do que qualquer outra coisa. Você nem precisa ter feito nada de muito errado. Só basta ter um inimigo, esperto o suficiente para armar contra você e pronto, você conseguiria um ingresso só de ida pra essa academia de loucos. Sendo um alfa de sangue quente 24 horas por dia, sem nada pra fazer a não ser aceitar a vida na qual foi submetido. Bom, “aceitar”. Poi
POV ODETTE E pronto, depois disso acho que já dá pra imaginar o que aconteceu, não é? O homem berrou e berrou, e de repente tinha enfermeiros me arrastando pelo corredor. É óbvio que eu me debati, o máximo que pude, afinal, mesmo que eu soubesse que eles não me soltariam assim, não podia deixar ser levada tão facilmente. Questão de orgulho. Mas quando eu fui trancada naquele quarto branco que seria minhas acomodações pelos próximos não sei quanto tempo, não pude deixar de pensar que valeu a pena quando vi a cara de espanto do homem e seu rosto ficando cada vez mais vermelho, como se ele fosse explodir em milhares de pedacinhos depois de ter sido irritado. Mas depois disso, tudo foi só ladeira abaixo. Eu podia listar a quantidade significativa de coisas que eu passei as últimas semanas tentando evitar e que simplesmente aconteceram praticamente fora do meu controle. Minha Tia havia me internado em um hospital psiquiátrico. Pra que? Ora, ficar com a droga do dinheiro que eu tenho d