Algo tinha ficado claro pra mim: Para o Dr. LeClerc, eu não era mais do que um insetinho e algo pra que ele pudesse se vangloriar, mostrar poder e dominância, além de todo aquele discurso chato de “Sou eu que mando aqui e você não decide nada.”.
Como ele é o responsável pela minha internação em partes, e foi com certeza o responsável por forjar um laudo fraudulento que foi a minha porta de entrada pra cá, então ele sabe mais do que ninguém que, por ser um laudo FRAUDULENTO, eu com certeza não precisava estar aqui, e muito menos fazer qualquer uma das atividades propostas.
Isso só aumenta a minha raiva. Eu não vi a cara dele ainda depois da minha cusparada. Mas ainda assim, ele deixa claro que cada pontinho de liberdade que eu ganho &ea
A minha missão foi um sucesso no fim das contas, depois de muito analisar e escolher uma pessoa com o maior cuidado que pude, Comecei dizendo um “oi” e agradeci aos céus quando a menina de cabelos rosa da aula do livro, não saiu correndo de mim ou me olhou como se eu tivesse duas cabeças. É uma reação que eu esperaria de algumas pessoas daqui, então eu só prova que eu tive sorte.O universo estava do meu lado. Melody era uma graça.Ela foi simpática comigo, se apresentou quando eu perguntei se poderia me sentar com ela para o almoço e a conversa só fluiu. Ela tem 23 anos e não está aqui de forma voluntária. Entupida até o talo de antidepressivos, ela não pode sair pois sua mãe trata depressão como se fosse uma doença contagiosa que ao mínimo descuido poderia passar para seu filho de ouro, o caçula da família. Com medo de Melody influenciá-lo negativ
Agora, uma coisa fazia mais sentido na minha cabeça. Isso não era pra ser algo como um centro de reabilitação/terapêutico/manicômio ou algo assim? Por que então, até agora, ninguém tinha me obrigado a sentar em uma sala enquanto alguém olhava pra mim segurando um caderninho e perguntando: “E então Odette, como você está se sentindo hoje?”. Ou então me mostrava aquelas figuras estranhas de tinta borrada, do famoso Rorschach e me perguntava o que eu via nelas? Fazia muito, mas muito sentido. A resposta era muito simples: ninguém ligava para como diabos eu estava me sentindo hoje. Os grupos de terapia, os passeios e toda liberdade que as pessoas têm aqui (a minha ainda sendo trabalhada), era tudo pensado da forma menos trabalhosa e mais barata o possível. Eu deveria ter um médico responsável, minha referência terapêutica (que seria o Dr. LeClerc), e um psicólogo que iria acompanhar meu suposto progresso terapêutico, isso pelo que eu sabia. Mas pelo visto, eu não sabia de nada, não é me
Tenho plena consciência de que minha própria mente é uma das coisas menos confiáveis que eu tenho, mas nunca fiquei tão intrigada com alguém a ponto de sonhar com a pessoa como aconteceu dessa vez. E tinha algo em particular, uma comichão bem no fundo, uma sensação, eu diria. Só não sei direito do que ainda, ou o que isso significava. E como eu não tinha realmente uma agenda apertada, aqui estava eu. Seguindo o homem dos meus sonhos (no sentido literal da palavra) como uma fã maluca ou algo assim.Eu definitivamente não sei o que esperava com isso, talvez descobrir por que ele tinha ficado tão gravado no meu subconsciente? Talvez seja a voz paranoica na minha cabeça que tinha vencido, e estava me convencendo que tinha alguma coisa de errado com ele e que eu deveria ir fundo nisso. Seja o que for, eu abracei essa ideia e estava pronta pra cair desse penhasco. Não seria a primeira ideia ruim e sem fundamentos que eu estava seguindo, e eu duvidava que seria a última. Eu só tinha que
-Ai!! -Eu massageio o lugar que sei que vai fazer um pequeno galo. Não olho pra frente, não quero olhar pra frente mas eu olho. Ele está aqui, a centímetros de mim.O homem que eu estava espionando sem ter sequer uma justificativa válida. Como ele chegou aqui, na minha frente e eu não percebi? Ele realmente me viu naquela hora? Mesmo que tivesse me visto, não acho que seriam argumentos o suficiente pra vir atrás de mim tirar satisfação. Não sei o que respondo, não sei o que faço. Estou vermelha dos pés à cabeça, envergonhada e de orelhas quentes. Minha língua tomando vida própria e ignorando completamente meu cérebro.-Como assim, o que eu estou fazendo aqui? Não estou fazendo nada, o que você faz aqui? Quem é você? Eu nunca te vi antes.- Eu nunca conseguiria entrar pro mundo do crime, não sobreviveria ao primeiro interrogatório e no fim seria morta de uma forma horrível. Se fosse a polícia me interrogando agora eu nem precisaria de um juiz para me declarar culpada, eu mesma teria f
-Sabe, falando a verdade, não acho aqui tão ruim. -Melody fala, quebrando o que eu gosto de chamar de “Nosso silêncio contemplativo de olhar a natureza”.-Sério? Não sei como…pra mim aqui é como o inferno. Ser jogado aqui dentro…não consigo ver como uma coisa boa. -Poxa, pense só. Há tantos lugares piores para se estar, e não é como se fossemos maltratados aqui. É perfeito? Não. É terrível? Também não. -É bom conseguir ver os pontos positivos. Mas e quanto a liberdade? Não dá pra se viver sem ela.-Não, não dá. Mas também não dá pra se viver com ela, em algumas partes do tempo. Não sei o que seria de mim se não estivesse aqui. Sei que é como se fosse uma grande lixeira em que as pessoas que pensamos nos amar nos jogam fora pra que não possam mais nos ver, mas que ao mesmo tempo não precisassem sentir culpa por isso. Mas eu acredito que eu já aceitei que o meu lugar é aqui. Poupa sofrimento desnecessário e inevitável-Eu entendo. Mas não estou pronta para abandonar minhas esperanças
Ela chega sozinha, mas ao fundo suas fieis escudeiras são como sancho pança para seu Dom Quixote. Soltando risadinhas e nos olhando com desprezo por seja lá qual motivo. Pelo amor de deus, quando foi que isso virou um drama colegial meia boca? Alguém deveria demitir esse diretor.Ela se aproxima devagar como uma serpente, me olha de cima a baixo com um olhar pertinente e só um pouquinho mais sútil do que o que ela me deu no refeitório.-Querida, em que caridade você conseguiu essas roupas? Devia pedir reembolso. - E ela começa a rir, antes de continuar seguindo seu caminho.Sério? Ela está usando uma camiseta branca amarrada e uma calça colada que não é absolutamente nada de mais. É literalmente como se ela tivesse saído de um filme clichê, onde ela é uma loira
POV CEDRICAs coisas já estavam se encaminhando para o lado dele, e sua rainha dos cisnes estava tornando a maioria dessas coisas muito mais fáceis para ele do que ele imaginou que seria, com a sua curiosidade adorável e seu senso quase inexistente de não seguir os próprios impulsos.E falando de impulsos, ele mal podia aguentar ficar muito perto dela ultimamente, mesmo sabendo que precisava ser paciente. Afinal, ela era humana. Qual a chance de saber que lobos existiam? Que ela era a companheira dele, e saber o significado das coisas por trás disso? Humanos não sentem os laços como os lobos, mas ela com certeza sentia alguma coisa. Cedric estava em seu quarto agora, e o celular recém adquirido vibrando agora em suas mãos, anunciando a chegada de uma nova mensagem. C: Preciso de um código de programa, como os que você costuma trabalhar.~Ocara: C? Eu achei que você estivesse morto? Quanto tempo, o que aconteceu? Por onde esteve?C: Não tenho tempo pra explicar agora. O programa. Vo
POV ODETTEO mundo é uma bola confusa, muito confusa, que gira no próprio eixo e em outros eixos imaginários, mas agora pelo menos vale a pena estar nela. Não sei quanto tempo vai durar, mas posso fingir que é pra sempre, enquanto esse “pra sempre” não acaba.Enquanto estou me perdendo observando pequenos pássaros que eu ouço cantar, eu procuro eles como procurava o Wally nos livros quando eu era criança, e depois os observo voar pra lá e pra cá desejando também ter duas asas. Seria tão legal, e eu poderia fazer tantas coisas.Estou contemplando a natureza sozinha agora, mas logo acho outra coisa que meus olhos também adoram contemplar.O homem