Apenas algumas luzes estavam acesas e o resto estava um completo breu, alguns alunos deveriam estar patrulhando esse lugar mas nesse momento existe apenas eu. Escuto uma respiração cerca de uns três metros da minha posição, seus passos são calmos e suaves tão macios que não dá para ser ouvido mas poucas pessoas conseguem diminuir sua frequência respiratória ao ponto de ficar quase invisível. Deixei que ele achasse estar em vantagem e quando estava próximo de mim me virei pronta para acertar um soco em seu queixo mas sua mão segurou a minha fortemente, ao me virar percebi ser um dos gêmeos que andam com Ermet. Ele sorria como se tivesse encontrado algo que procurava. Ouvi outra respiração atrás de mim perto o suficiente para tentar me atacar, desviei para o lado esquerdo imaginando o soco de direita que atingiu seu irmão em cheio no peitoral o fazendo cair e me soltar. Olhei para trás vendo o outro gêmeo e chutei seu estômago o mais rápido que pude raciocinar e ele não teve tempo de desviar.
- Bravo - Ermet se aproximava batendo palmas e rindo. - Ela é mesmo uma de nós.
Os gêmeos se levantavam rindo e ficaram me encarando eu realmente não tinha paciencia para esse tipo de brincadeira de iniciação. Larguei minha bolsa no chão e comecei a rir histericamente, meus olhos já começaram a formigar e eu podia sentir meus músculos mais rígidos e minha base mais forte, minha franja foi jogada para o lado esquerdo deixando a mostra meu olho azul e minha boca.
- Brincadeirinha de iniciação? Patético. - E logo eles começaram a rir também isso foi o gatilho para me deixar mais irritada, imediatamente corri na direção de Ermet mas parei brucamente quando vi uma bola de fogo em suas mãos.
- Sou Ermet, filho de Hefesto. Prazer. - Eu tinha ouvido bem? Ele disse Hefesto? Cruzei os braços e fiquei a sua frente ele só pode estar brincando. - Sou filho do deus grego das forjas, somos semideuses. Eu, você Alle e os gêmeos.
- Como é? - Não notei a aproximação dos gêmeos que já estavam do meu lado. - Como assim semideuses? Isso... Isso não existe.
- Existe sim, e nós somos seus irmãos. Eu sou Lucca e este é Lucien. - Os gemeos, meus meio-irmãos. Fiquei os encarando como se estivessem loucos. - Somos filhos de Ares.
- Vocês são loucos. - Comecei a rir e dei as costas para eles, peguei minha bolsa e comecei a me afastar.
- E como você explica esse formigamento nos seus olhos? O sentimento de força, o desejo por ver o sofrimento do seu inimigo? Como explica, Alle? - Meu corpo tremeu, Lucca estava falando o que eu estava sentindo no momento. Tudo que eu estava sentindo. - Você sabe que é verdade, eu sei que sabe. Quando me contaram eu também não queria acreditar. Você é mais especial do que imagina.
- Não sabe nada sobre mim ou meu pai, não venha com essas brincadeiras. - Não pode ser verdade. Apertei minhas mãos em punho ao redor da alça da bolsa como se quisesse uma base, minhas pernas estavam bambas.
- Sei o suficiente sobre nosso pai. Logo após completarmos três anos ele se encontrou com sua mãe e você nasceu. Alle, somos seus irmãos. Acredite em mim. - Virei para ele novamente. Lucca parecia sincero, uma onda de verdades. - Por favor.
- Pensarei sobre isso. - A passos largos me dirigi ao alojamento pensando sobre o que eles tinham me falado.
Ares, o deus grego da guerra. Será mesmo que tudo na minha vida é por isso? Tudo que eu passei até hoje foi por que ele me deixou, minha mãe me odiava por causa dele. Então esse é o motivo de tudo? Eu não sou especial, sou apenas uma cria dele, um pedacinho do seu poder que caiu aqui. Chutei uma pedra que acabou atingindo algo que estava a uns seis metros de mim. Mas não tinha nada ali. Me aproximei do local e uma respiração forte atingiu meu rosto, era alto e provavelmente muito forte eu tentaria combate-lo mas algo me dizia para correr e foi o que eu fiz, comecei a correr na direção contrária e ele veio atras. Era um minotauro mas que loucura está acontecendo na minha vida hoje? Ele estava chegando cada vez mais perto comecei a jogar para trás tudo que estava a minha frente e nada o atingia. Comecei a me desesperar quando um grito ecoou e fez com que o minotauro parasse de vez, cai no chão quando olhei para trás e os gêmeos estavam cada um de um lado do minotauro eles riam e se divertiam. O monstro tentou atacar Lucien e Lucca aproveitou sua distração para empunhar uma espada na cabeça do bicho fazendo assim ele virar cinzas. Ermet chegou por trás de mim e me ergueu.
- Você está bem? - Perguntou ele me analisando. - Por favor diga que sim.
- Estou, estou bem. - Os gêmeos se aproximaram e cada um beijou minha testa de um jeito doce.
- Que bom que ele não machucou você. - Disse Lucien, sorri para eles.
- Essa é mais uma prova que você está em perigo e precisa da nossa ajuda. - O que eu precisava mais para acreditar? Outro monstro?
- Está bem, eu acredito em vocês. - Foi como se todo o meu ser estivesse aceitando um novo destino.
Os gêmeos seguraram em minhas mãos enquanto Ermet nos dirigia por entre os alojamentos. Eles tinham um lugar especial na floresta, era como uma campina encantada onde apenas semideuses poderiam entrar. Tinha algumas armas e alvos, era um local perfeito para treinamento. Não havia ninguém ali além de nós, eles me dirigiram a um pequeno tronco caído e ali me sentei. Ao contrário da noite que fazia no alojamento militar aqui fazia um sol frio e revigorante, parecia uma dimensão paralela enquanto eu olhava ao redor eles ficavam rindo baixinho das minhas reações, eu mal tinha notado que o cabelo já não estava em meu rosto e todo ele estava a mostra teria continuado assim se Ermet ficasse de boca fechada.- Seus olhos são lindos. - Rapidamente escondi o rosto com a franja e o espiei entre os fios alaranjados. - Não precisa esconder, não aqui.Ele se aproximou de mim e colocou minha franja atrás da orelha de forma delicada e sorrio para mim, sorri de volta sem
Ao acordar aquela manhã parecia que tudo que eu tinha passado ontem fora apenas um sonho ruim e estranho e que ao retornar para a sala de aula hoje os garotos nem notassem a minha existência. levantei da cama um pouco cambaleante meu corpo estava dolorido como se eu realmente tivesse sido perseguida por um minotauro ontem, ri de mim mesma lembrando do sonho e me dirigi ao banheiro arrastando meus pês no chão de madeira do alojamento. Quando vi minha face no espelho e foquei nas olheiras agradeci mentalmente por minha franja ter o trabalho de cobrir isso. Lavei meu rosto e tomei um banho demorado enquanto olhava o vapor subindo e escondendo meu corpo naquele pequeno quadrado cheio de azulejos verde. Ao terminar enrolei meu corpo em uma toalha e fui até os armários me trocar, não tinha pressa afinal eu sou a unica garota nesse modulo e fico sozinha no banheiro feminino.Coloco minha farda e arrumo meu cabelo da forma necessária para continuar sendo invisível. Passo pelos corredo
Os dias passavam devagar e eu sabia bem aproveitar cada momento dele, acho que descobrir ser uma semideusa foi a melhor coisa da minha vida. Com eles eu não me sentia mais diferente, me sentia apenas eu mesma porque com eles eu me sentia em casa e agra eu podia chamar esse pequeno alojamento de lar, não por que os gêmeos eram meus meio-irmãos mas porque eu finalmente me sentia parte de alguma coisa, eles me mostraram que mesmo sendo diferente não significava algo ruim, para eles eu era especial.Treinar com eles era divertido e ao mesmo tempo cansativo, passamos varias noites sem dormir para testar minhas habilidades. Cada um tem uma habilidade, Lucca tinha uma habilidade que apelidamos de grito do medo qualquer criatura que estivesse ao alcance do seu grito ficava terrivelmente aterrorizada e apavorada. Engraçado quando lembrei que ele fez isso contra o minotauro aquela noite, porem isso não funciona contra seus irmãos pós filhos de ares desenvolvem imunidade ao medo. Após su
Era escuro e assustador, e eu não conseguia respirar por causa da pressão. Os mínimos barulhos já me assustavam e me faziam dar alguns pulos, era tão asqueroso esse ambiente mesmo que eu não pudesse vê-lo. Era meu lugar de tortura, onde tudo que aconteceu em minha vida começa a passar em minha frente, o desprezo e abandono, as palavras e os machucados, as horas e os minutos ali trancada. Meu tórax pesa e minha respiração entrecortada, meus olhos não abrem com medo do escuro que esta dentro, meu corpo chacoalha, minha mente gira em forma de queda e eu acordo.O despertador finalmente resolveu tocar, não me importa o culpado dessa demora seja do tempo ou apenas mais uma das loucuras que estão tomando lugar em minha mente. Passo a mão no rosto tentando finalmente acordar por completo, observo todo o alojamento tomando ciência que estava vazio e apenas eu ainda esto
Ao lado de uma fenda, uma pequena fenda situada ao leste de Washington, DC. Afastada da estrada e de olhos curiosos eu me repouso em sua beirada esperando por ele. Todo dia era a mesma coisa para mim, vir e sentar de cara ao sol esperando que ele desse uma escapadinha do tártaro e confesso não saber como ele faz isso, sabia que não era o único a conseguir mas nunca dividiu comigo essa informação tão importante. Baguncei o cabelo impaciente e joguei minha cabeça para trás, hoje ele estava demorando mais do que costumava, fico imaginando como ele passa todo esse tempo lá em baixo e permanece são, na verdade duvido que aquele velho ainda esteja são.Enquanto eu conversava com meu eu interior que não era nem um pouco mais gentil que eu, pelo contrário parecia ser mais pervertido e atormentado uma sombra levantou da fenda como um líquido negro subindo pelas paredes, uma pequena serpente negra se aproximava do meu pé e eu suspirei.- Demorou. - Falei impaciente, es
Acordei e olhei em volta, várias armas brilhando contra a luz que ultrapassava a janela. O ar frio daquele lugar me dava alguns arrepios passageiros que abalaram minha espinha. Terminei de limpar tudo há quatro horas atrás e só então me deitei para dormir um pouco, respiro fundo enquanto me sento no chão úmido encarando um pequeno brilho no fundo da sala, era estranho por que estava no chão e eu não me lembro de ter derrubado nenhuma arma, o brilho não era prata ou fosco era algo claro e cintilante que fazia a visão doer. Fiquei de joelhos e comecei a engatinhar de encontro a luz mesmo tendo que desviar a visão por causa do seu brilho, estiquei meu braço para debaixo da mesa e alcancei um cabo de osso puxando-o em minha direção observo uma linda adaga de diamante com alguns traços aleatórios de ouro, seu cabo era escultural e tinha cravejado sobre ele o rosto de um javali. Fiquei admirando aquela adaga quase me esquecendo do tempo quando ouço a porta ser destrancada, rapid
Todos já estavam dormindo e eu começava a arrumar a cama para deitar enquanto Hermet me encarava com os olhos escuros. Estava realmente se divertindo com a situação, eu me troquei e notei que ele desviou o olhar e limpou a garganta, em seguida eu me deitei na cama e ele rio.- Acha mesmo que vai dormir aí? E eu como fico? - a escuridão das suas palavras me fez tremer.- Creio que amanhã irá chegar mais camas, você só precisa esperar um pouco. - me aconcheguei e virei de costas para ele. Não demorou para sentir a cama afundar do outro lado e alguém me empurrar um pouco.- Já que não vai sair, então anos dividir a cama. - falou ele me empurrando. - Mas, se me tocar eu te derrubo.- Se me tocar eu quebro a parte que me tocou. - resmunguei de lado e pude ouvir o seu divertimento.Estava tudo calmo e eu estava quase dormindo quando senti ele me empurrar com as costas e tive que me apoiar para não cair, chutei suas pernas com for
Três longos dias e nenhuma noticia era trazida deles, não estava com medo que não voltassem mas eram a minha pequena e imperfeita família. Todos os dias eu ia e voltava do alojamento o tempo todo com alguma esperança que eles já tivessem aparecido, ou no minimo uma carta que dissesse que estavam bem. Estava sentada em nossa dimensão de treinamento olhando para o lago quando ouvi um barulho estranho, algo entre as arvores do lado de fora, eu sabia que nenhum dos garotos do acampamento se atreveriam a chegar até aqui e mesmo que vissem eles não conseguiriam passar pelo portal, mas esse não era um garoto qualquer. Ao olhar para trás encontrei com dois cristais cinzas em uma pele branca e cabelos negros sobre os olhos, aquele garoto tinha conseguido passar pelo portal o que quer dizer que ele não é um humano comum, ele é um semideus assim como eu. Minha boca se abria lentamente enquanto eu olhava para ele chocada, era muito difícil ver algum semideus que não fossem meus irmão