Ao lado de uma fenda, uma pequena fenda situada ao leste de Washington, DC. Afastada da estrada e de olhos curiosos eu me repouso em sua beirada esperando por ele. Todo dia era a mesma coisa para mim, vir e sentar de cara ao sol esperando que ele desse uma escapadinha do tártaro e confesso não saber como ele faz isso, sabia que não era o único a conseguir mas nunca dividiu comigo essa informação tão importante. Baguncei o cabelo impaciente e joguei minha cabeça para trás, hoje ele estava demorando mais do que costumava, fico imaginando como ele passa todo esse tempo lá em baixo e permanece são, na verdade duvido que aquele velho ainda esteja são.
Enquanto eu conversava com meu eu interior que não era nem um pouco mais gentil que eu, pelo contrário parecia ser mais pervertido e atormentado uma sombra levantou da fenda como um líquido negro subindo pelas paredes, uma pequena serpente negra se aproximava do meu pé e eu suspirei.
- Demorou. - Falei impaciente, estalando a língua Ofion voltou a sua forma "humana" e sorrio sem graça.
- Cale-se. - O mesmo tom frio de sempre o rodeava e serpenteava em sua voz rouca. Sorri de lado para ele.
- Tá, papai. - Me levantei de onde antes estava sentado e me aproximei dele, não o suficiente para que ele pudesse me tocar estendendo o braço.
- O mesmo treinamento de ontem. - Ele falou. Revirando os olhos comecei a me preparar para os monstros que sairiam daquela fenda.
- Pra que estou treinando mesmo? - Gostava de irrita-lo com perguntas idiotas, na verdade era a melhor parte do meu dia, o que eu usava para me distrair. Eu sabia bem o por quê de tanto treinamento.
- Já mandei se calar. - Falou impaciente e obseevou com orgulho uma harpia sair da fenda. - Me mostre...
Revirei os olhos esperando que ela se aproximasse de mim o suficiente, digamos que praticamente nada pode me machucar a não ser que seja forte o suficiente como um filho de Ares, Heracles ou um Semititã. Ao ver os olhos daquela coisa já próximo aos meus liberei um líquido venenoso em minha pele e deixei que ela me mordesse, em seguida me levantei enquanto ela morria devagar. Cada vez que eu produzia o veneno ele se tornava mais forte e eficaz, olhei para o meu pai por reflexo sabia bem o meu lugar aqui e não era ao lado dele. Eu sou um mero peão, uma máquina que ele vai utilizar para realizar suas vontades sem que suje a sua mão. Às vezes era como se eu pudesse ouvir algumas engrenagens dentro de mim, como se não fosse de carne e osso, o meu propósito não é meu na verdade é o motivo pelo qual estou vivo e fui criado. Ser uma arma, matar e destruir o que estiver ao meu caminho e eu não vou medir esforços para isso.
- Ainda é muito novo Issei, vai entender melhor o porquê de tudo isso. - Ele apareceu de repente em minha frente, e como eu odiava quando fazia isso. - Quinze anos. Está apenas descobrindo o que é...
Talvez eu estivesse, mas será que eu quero descobrir o que eu sou? O mundo sempre foi o mundo e eu sempre serei eu, independente de ser ou não alguém que tenha se descoberto. Viver trancafiado não é algo que eu deva me orgulhar mas tenho que agradecer a meu pai, se não fosse por ele eu não estaria vivo hoje e provavelmente não conseguiria essa chance única de estar ao lado dele sendo treinado para lhe servir. Joguei os cabelos negros para trás e sorri de lado para ele, talvez se ele achar que eu concordo com suas palavras possa finalmente parar de falar sobre isso. Meus olhos cinza varreram o local por onde a harpia havia saído, fácil demais. Estava certo. Um minotauro logo pulou em minha frente e me acertou em cheio, a força de um minotauro é terrível e eu acabei sendo arremessado para trás como um pequeno boneco de testes. Minha pele era resistente mas a um minotauro era brincadeira, é isso me custou algumas costelas reviradas dentro de mim.
- Não está esperando que eu ajude esta? - Perguntou ele rindo da minha situação. Odiava quando ele ria de mim.
Me levantei e toda a minha velocidade pulei contra o monstro que me segurou com os braços e me jogou longe outra vez tendo a certeza que abalara minhas estruturas ósseas, o monstro veio mais uma vez em minha direção e eu lutei para ficar em pé novamente porém seu chifre perfurou meu abdômen e me lançou no chão, passei a cuspir sangue e vi que todo o chão a minha volta estava sujo também, ele estava rindo. O minotauro voltou por onde havia saído e Ofion se aproximou de mim zombando da minha dor.
- Isso acontece quando você acha que está pronto. Dói não é? - Fiz que sim com a cabeça, cuspi um pouco mais de sangue e consegui me virar de costas para o chão. - Quando aceitar a dor como algo normal voltamos a treinar, não me faça perder meu tempo.
Essas foram as suas últimas palavras antes de sumir de volta para a fenda. Era estranho ver aquele enorme homem de cabelos negros e olhos de serpente se materializando em uma minúscula cobra e passando por uma pequena fenda no chão, e logo em seguida imaginar a sua verdadeira forma. Cuspi sangue mais uma vez e me levantei, estava escurecendo e eu precisava voltar ao meu esconderijo ou não estaria pronto para o próximo treinamento. Cambaleante sai deixando um rastro de sangue por onde passava, misturado com terra e suor. Não muito distante estava uma enorme jaula onde eu ficava trancado todas as noites, o ferro fundido cinzento escuro das barras me causavam arrepios. Era enfeitiçada por Nyx para que eu não pudesse sair durante a noite, minha eterna prisão. Tudo vem com um sacrifício, requer algo em troca. O que sou eu? Não sei, na verdade não preciso saber. Meus olhos iam do chão da cela até a lua subindo, o suor escorria das minhas têmporas como uma súplica, para que essa noite fosse diferente. Algumas partes de mim começavam a doer como minha pele rasgando devagar, o ar sumia de meus pulmões enquanto a consciência se esvaía, uma fina estrada entre o eu dia e o eu noite se fechava, eu nunca conseguia voltar quando finalmente acontecia. Meus olhos se fechavam e meus gritos de dor eram ouvidos a distância, ao menos eu supus que eram. Talvez se fosse eu não estivesse mais aqui e eles já tivessem me matado ou coisa pior. Minhas pernas quebraram no processo e as costelas pareciam voltar ao lugar e se espandir com força. Minha visão agora avermelhada com uma mistura de azul e branco me fazia ver as coisas de um outro jeito, eu precisava ir atrás do calor mas não era qualquer calor. Eu precisava do calor de semideuses, eu sou o amaldiçoado destinado a acabar com todos de uma forma dolorosa e arrepiante. Eu sabia, corria em minhas veias, era frio e asqueroso podia dizer que sufocava minha respiração quando o sangue quente trocava por seu lado tão frio e passava rasgando cada parte da minha pele, quebrando cada osso fazendo com que ele se expanda cada vez mais. Me sentia grande e imponente quando terminava, porém pequeno e desprezível quando amanhecia. Eu tinha uma tarefa e o preço dela deveria ser pago. Pensando bem, nenhum de nós é são, afinal.
Acordei e olhei em volta, várias armas brilhando contra a luz que ultrapassava a janela. O ar frio daquele lugar me dava alguns arrepios passageiros que abalaram minha espinha. Terminei de limpar tudo há quatro horas atrás e só então me deitei para dormir um pouco, respiro fundo enquanto me sento no chão úmido encarando um pequeno brilho no fundo da sala, era estranho por que estava no chão e eu não me lembro de ter derrubado nenhuma arma, o brilho não era prata ou fosco era algo claro e cintilante que fazia a visão doer. Fiquei de joelhos e comecei a engatinhar de encontro a luz mesmo tendo que desviar a visão por causa do seu brilho, estiquei meu braço para debaixo da mesa e alcancei um cabo de osso puxando-o em minha direção observo uma linda adaga de diamante com alguns traços aleatórios de ouro, seu cabo era escultural e tinha cravejado sobre ele o rosto de um javali. Fiquei admirando aquela adaga quase me esquecendo do tempo quando ouço a porta ser destrancada, rapid
Todos já estavam dormindo e eu começava a arrumar a cama para deitar enquanto Hermet me encarava com os olhos escuros. Estava realmente se divertindo com a situação, eu me troquei e notei que ele desviou o olhar e limpou a garganta, em seguida eu me deitei na cama e ele rio.- Acha mesmo que vai dormir aí? E eu como fico? - a escuridão das suas palavras me fez tremer.- Creio que amanhã irá chegar mais camas, você só precisa esperar um pouco. - me aconcheguei e virei de costas para ele. Não demorou para sentir a cama afundar do outro lado e alguém me empurrar um pouco.- Já que não vai sair, então anos dividir a cama. - falou ele me empurrando. - Mas, se me tocar eu te derrubo.- Se me tocar eu quebro a parte que me tocou. - resmunguei de lado e pude ouvir o seu divertimento.Estava tudo calmo e eu estava quase dormindo quando senti ele me empurrar com as costas e tive que me apoiar para não cair, chutei suas pernas com for
Três longos dias e nenhuma noticia era trazida deles, não estava com medo que não voltassem mas eram a minha pequena e imperfeita família. Todos os dias eu ia e voltava do alojamento o tempo todo com alguma esperança que eles já tivessem aparecido, ou no minimo uma carta que dissesse que estavam bem. Estava sentada em nossa dimensão de treinamento olhando para o lago quando ouvi um barulho estranho, algo entre as arvores do lado de fora, eu sabia que nenhum dos garotos do acampamento se atreveriam a chegar até aqui e mesmo que vissem eles não conseguiriam passar pelo portal, mas esse não era um garoto qualquer. Ao olhar para trás encontrei com dois cristais cinzas em uma pele branca e cabelos negros sobre os olhos, aquele garoto tinha conseguido passar pelo portal o que quer dizer que ele não é um humano comum, ele é um semideus assim como eu. Minha boca se abria lentamente enquanto eu olhava para ele chocada, era muito difícil ver algum semideus que não fossem meus irmão
- Acorde Aly, você vai se atrasar!- a voz rouca de Ermet ecoava em meus ouvidos mas eu me recusava a levantar, a cama estava gostosa hoje e apesar de não estar chovendo o tempo era frio e agradável. As meias que cobriam meus pés enquanto eu dormia estavam jogadas ao lado da cama depois de uma noite agitada. Ele eme balançava gentilmente como fazia todas as manhãs mas hoje era diferente. - Vai se atrasar para a cerimonia!Meus olhos abriram instantaneamente e meus pés trabalharam sozinhos em direção aos chuveiros do alojamento. Hoje eu seria elevada a coronel da minha primeira equipe especial e havia esquecido completamente. não foi difícil vestir a farda ornamentada do exercito mas como sempre era uma dor ter que tirar minha franja da frente do rosto, mesmo após muita relutância finalmente resolvi coloca-la para tras e por o quepe.- Esta linda. - Ermet evitava falar essas coisas para mim e sempre que fazia desviava o olhar. - Como se sente?- Me sinto
- Mamãe? Você esta aqui? - eu tossia com força por causa da fumaça que me sufocava, toda a casa estava branca e quente. - Mamãe!- Corra Tory! Corra!! - era a voz dela, eles estavam ali tentando matar ela. Corri de encontro a sua voz e a hidra estraçalhou seu corpo como uma pequena boneca, eu tremi e corri para longe das bocas quando tudo se tornou escuridão e eu já não sentia mais a fumaça.Eu podia ve-los sempre que meus olhos estivessem fechados, eu tentei avisar a todos mas não adiantou, nunca adiantava para todos eu estava louca ate que eles chegaram e pegaram todos ...- Ela morreu! Eles vão voltar para me buscar! São monstros! - uma agulha, duas e eu já perdi a conta das vezes que me furaram e me chamaram de louca.- Tory? - meus olhos se abriram devagar enquanto eu me acostumava com a claridade, finalmente o avião havia pousado e já estavamos em terras japonesa
O carro estava com os vidros baixos e o vento entrava bagunçando meu cabelo e trazendo novamente meu sonho persistente a tona, estávamos próximos a uma fazenda afastada da cidade. As horas de avião foram as melhores já que eu finalmente consegui dormir um pouco. Eles não eram barulhentos mas ele era, Issei tornou a viagem de carro um inferno e tudo que eu queria era mandar ele ir apertar a mão de Hades pessoalmente. Suas piadas eram as piores e seu comportamento infantil perto das garotas eram terríveis, perdi as contas de quantas vezes vi Ermet molhar o rosto com a água do cantil e fitar os olhos na estrada.- Finalmente chegamos... - Lucca saiu correndo do carro e tirou o boné para analisar melhor o lugar, as duas garotas desceram e levaram sua própria bagagem para dentro da casa, Ermet pegou sua sacola e a minha atirando ambas no chão enquanto examinava o perímetr
Quando sai de perto deles tentei sem sorte alguma passar pelos seguranças do porão, eles diziam que eu não podia entrar porque era apenas um soldado, em minha última tentativa fui atirado a uns dois metros de distância ralando as costas no chão.- Eu, não queria entrar nessa droga de porão mesmo... - limpei a poeira da roupa e segui em direção a casa da fazenda. - Não se pode fazer nada aqui, mas que droga! Não pder ficar com as pessoas importantes é um tedio.- Issei, onde esta indo? - a morena me chamou da escada da entrada da casa, olhei para ela de lado e estalei a lingua.- Encontrar com Hades quer vir junto? - sorri sem graça estendendo a mão para ela.- O que te deixou de mal humor? - me virei para ela escondendo logo o sorriso e pondo as mãos nos bolsos.- Curiosos irritantes... - me encostei na parede de fora da casa.- Eu vi você tentando entrar no porão.&n
Minhas mãos tremiam. Meu olhar era de puro pavor, eu olhava para as minhas mãos repetidas vezes tendo a certeza que o sangue era de Allegra mas quando eu estava preste a questionar minha existência eu vi seu corpo se mexer como se estivesse respirando fundo. Seus cabelos vermelhos estavam espalhados se misturando ao sangue. A segurei em meus braços com cuidado tirando a terra e os cabelos melados de sangue do seu rosto eu nunca o tinha visto tão nítido. Minha mão deslizou sobre sua bochecha sentindo o calor que emanava e por fim pude soltar a respiração.- Vamos Allegra, acorde. - pedi apoiando seu corpo novamente no chão e procurando algo que sirva para vestir, achei restos da minha blusa e amarrei rapidamente a cintura a pegando nos braços.Corri o mais rápido que pude de volta para a fazenda me martirizando mentalmente por ter me afastado tanto a noite. Allegra não pesava