Não muito depois, Gwen solicitou Rebecca. “Preciso apenas fazer uns telefonemas”, mas deixou implícito que ficaria indisponível pelo resto do dia.
Aquela tarde, Joe conseguiu, pela primeira vez, montar o cubo mágico inteiro por conta própria. Depois, resolveu brincar no jardim. Rebecca lhe passou filtro solar, mas avisou que não se juntaria a ele. Permaneceu sob o gazebo, contemplando-o juntar folhas secas enquanto o cãozinho tentava lhe morder os calcanhares.
Dominic a beijara.
Não, havia sido ela quem tomara a iniciativa.
Mas ele a beijara. Teriam permanecido naquele enlace por tanto tempo quanto conseguissem, tinha certeza.
Retomava as últimas semanas em retrospecto. Talvez Aleksander não fosse um velho tão tolo, afinal identificara em Rebecca algo que atrairia Dominic em algum nível. Podia ser que, esse tempo todo, ela viesse, inconscientemente, plan
Começou com uma intervenção, e essa foi anunciada. Tessa Moore de um lado de Rebecca e Gwen Prose do outro.— Que seja um exemplo de mulher de família. Precisa mostrar seu apoio incondicional ao noivo, mas priorizar o trabalho do lar — disse Moore.— Ora, os conservadores já tatuarão a cara de Dominic na testa assim que ele anunciar a candidatura! — retrucou Gwen.Moore franziu o cenho.— Sua escolha de palavras, por si só, já demonstra total ignorância quanto ao assunto.— Você entendeu o que eu quis dizer. — Levantou o queixo de Rebecca, que, sentada numa cadeira, esperava calada até que as mulheres se decidissem. — Dominic já transmite essa ideia de homem dedicado, honesto e tradicional. Precisamos de um toque de… vanguardismo.— Você quer dizer “controvérsia”?
A primeira meia hora foi a mais fácil. O entrevistador não improvisou nenhuma pergunta que não tivesse sido previamente acordada com a assessoria, e Rebecca seguiu o roteiro tão bem que pensou em investir em aulas de dramatização cênica um dia.Dominic, ao lado dela naquele sofá enorme e diante das câmeras, anunciou sua pretensão a candidatura, e o entrevistador (um homem que devia ter a idade de Rebecca, mas que era capaz de forçar um semblante tão sério que parecia criar uma distorção na dobra temporal e materializar uma versão sua vinte anos mais velha) fazia sua parte.Diante dos holofotes, ela podia ver apenas silhuetas com poucos detalhes atrás das câmeras. Gwen, Wright, Moore e sua equipe; e a trupe de som e de imagem.Chegou a hora daquilo que todos ansiavam por saber: o que realmente acontecera na noite em que Dominic fora hospitali
Já era quase nove da noite quando Rebecca ouviu a voz de Dominic outra vez. Vinha subindo as escadas, discutindo com alguém; por mais exaltadas que as vozes soassem, ela não conseguia identificar as palavras.Sem pensar muito, abriu a porta. Floyd continuava em seu posto, de costas para ela.Dominic ainda vestia o mesmo terno, com a mesma gravata no colarinho, o que dava a entender que não havia deixado de trabalhar desde a entrevista. Por um instante, todos pararam onde estavam. Era Gwen quem o acompanhava, ainda em seu vestidinho de tubo verde-esmeralda; limpava impiedosamente o suor das bochechas com um lenço. Interromperam imediatamente o assunto, mas o clima de desavença remanesceu. Era a primeira vez que via Dominic com uma postura tão tensa.— Está tudo bem, Floyd. Já foram todos embora — disse Dominic.O guarda-costas tomou isso como uma ordem, assentiu e deixou o corredor
Nem mesmo sua intuição, de todo modo, pôde prepará-la para a manhã seguinte. Após o café da manhã, compartilhado, como de costume, por Jonathan, Gwen e os empregados, Rebecca se ofereceu para ajudar Wilford a levar os vasilhames vazios, os talheres usados e as sobras para a cozinha. Geralmente, não se demorava na sala de jantar mais do que o necessário, porém, dessa vez, fosse por ter se atrasado para descer ou porque, no fundo, vinha preferindo passar algum tempo sozinha — após a overdose de contato humano dos últimos dias —, foi a última a terminar a refeição.Gwen já havia partido para o laboratório, e Jonathan vinha brincando com o cachorro no pátio interno.— Precisa de uma mãozinha? — perguntou ao ver Wilford parado do lado de fora, mantendo-se próximo o bastante para desfazer a mesa rapidamente
Quando Santiago, o investigador particular dos Heiler, chegou, já havia passado da hora do almoço. Pelo pouco que permaneceu, pondo-se a par das evidências que Rebecca já havia reunido, tudo o que ela podia dizer sobre ele é que era alto, e que tinha dois terços de barba para um de rosto. Partiu da mansão tão logo lhe pareceu socialmente aceitável.Durante o resto da tarde, tudo o que conseguiu fazer foi perambular de um lado para o outro em seu quarto. Perguntava-se se não vinha se preocupando à toa, se Wilford não estava apenas blefando.Houvera aquela noite, a noite da chuva, em que ela discutira com Dick ao telefone e tentara abrir as portas do saguão. Se Wilford tivesse ouvido qualquer parte daquela conversa, já seria suficiente para que desconfiasse dela. Talvez, desde então, ele viesse observando-a. Bem, isso, por si só, não era um problema, cert
As batidas leves de Gwen à porta já a anunciavam, e, antes de atendê-la, Rebecca se perguntou se era algo positivo ou negativo estar familiarizada com o jeito característico das coisas naquela casa.— Venho num momento ruim? — cantarolou ela. Rebecca estranhou a visita, especialmente ao identificar uma fornada de pães de canela numa cesta enfeitada com laço. — Trouxe um mimosinho. Jana contou que você os adora.Demorou um instante para que a compreensão lhe adviesse, mas se lembrou de que contara à cozinheira uma história qualquer sobre pães de canela ser uma receita da família.Gwen permaneceu à porta, esperando convite para entrar. Rebecca puxou a porta e fez sinal para que ela se sentisse à vontade.— O cheiro está ótimo! — admitiu Rebecca. Era possível sentir o calor que os pãezinhos ainda emanavam.<
A mensagem inesperada de Stain chegou antes que Rebecca tivesse tempo de entrar, já atrasada, na sala de jantar para o almoço. “Precisamos conversar, amor. Mesmo beco de sempre. Venha sozinha. Já”. Desviou a atenção da tela do celular ao ouvir Gwen perguntar se havia algo de errado; só aí percebeu que se demorara demais, parada sob o umbral da porta, relendo a mensagem múltiplas vezes a fim de encontrar uma pista para o assunto que Stain não revelava logo. Viu que até Aleksander se sentava diante da mesa com os demais.Abriu um sorriso embaraçado.— Mais tarde. Não devia ter exagerado no café da manhã — inventou. Deu as costas e refez o caminho até o quarto de hóspedes.Só conseguia imaginar uma possibilidade: Stain tinha notícias sobre Ashton. Isso, por si só, já fazia seu estômago se revirar &
Não foi nada difícil derrubar o bloqueio de uma das janelas da casa. Estava abandonada há tanto tempo que a madeira fora corrompida pela umidade. Não era um esconderijo — ali, tão perto do The GoldFather —, apenas o local onde ela redefiniria seus planos. Ainda assim, procurou entre os entulhos no quintal coberto de lixo e folhas mortas algo com o que pudesse se defender caso fosse necessário. Achou um vergalhão enferrujado e longos cacos de vidro encroados. Era melhor que servissem.O interior se encontrava em melhor estado. Havia dejetos de rato pelo chão e teias de aranha enormes nas quinas das paredes; além disso, o cheiro era de amônia e lugar abafado; no entanto, ainda conservava as características próprias de um imóvel barato, com tacos como piso e portas mais ou menos funcionais.Escolheu o cômodo menos sujo, onde estendeu duas camadas de lençol. D