Não esperaram estiar.
Rebecca vestia o paletó de Dominic a fim de se manter aquecida.
A ideia de contatar o investigador da família foi dela, mas a maior parte da estratégia que adotariam foi traçada por Dominic.
Cansados por caminharem a pé, aproximaram-se da casa de três andares na área suburbana da cidade. Após tocarem a campainha, uma das luzes no segundo andar se acendeu. Minutos depois, alguém pôs o rosto no olho mágico. Santiago, então, abriu a porta, amarrando as alças do roupão na cintura e assumindo um semblante atordoado.
Dominic foi rápido em explicar a situação, ao que o investigador respondeu:
— Tenho feito o melhor que posso para encontrá-la, mas ainda não tenho nenhuma novidade.
— Não é verdade — contra-argumentou Dominic. Ofereceu pagar o triplo por um servi
As lembranças mais antigas que Rebecca ainda guardava de sua mãe tinham teor agridoce. Quando ela ficava gripada, Ângela massageava seu peito com pomada mentolada enquanto segurava a máscara de um aparelho de nebulização contra o rosto da filha. Era uma das memórias mais felizes de sua infância. Ao mesmo tempo, porém, lembrava-se de perguntar ao pai o porquê de sua mãe não comparecer às comemorações do Dia das Mães na escola e a razão por que passava tanto tempo fora de casa, a ponto de Rebecca vê-la apenas pela manhã e nos fins de semana. Era uma mulher muito ocupada, como ela viera a compreender mais tarde.Claro que vivera a maior parte da infância desejando ter com ela o mesmo tempo de qualidade que costumava ter com o pai. Todavia, já na adolescência, viera a descobrir que, num mundo de órfãos e de negligê
Os primeiros raios de sol penetravam as nuvens altas. Rebecca olhou para cima, enquanto segurava o próprio corpo. Estava anestesiada.Dominic finalmente desligou o celular dela, tirando-o do ouvido.— A ambulância está a caminho — disse ele.— E a polícia?Ele fez movimento positivo.— Também.Rebecca abriu um sorriso como resposta, que evanesceu quase instantaneamente.— Que bom.Haviam atado os braços e pernas de Aleksander usando os pedaços de corda, dessa vez aplicando-lhes um nó de verdade.Ao mesmo tempo em que um peso havia sido tirado das costas dela, outro se tornava impossível de ser suportado.— Rebecca. — Dominic se aproximou, receoso, e passou os braços em torno dos ombros dela, ignorando o sangue que manchava suas roupas. — Você tem que ir embora, se esconder.Sua express&
A cada etapa do processo, permanecer fiel às suas novas convicções se mostrou mais desafiador. Mas Dominic esteve lá por ela. Na sala de visitações, após a primeira noite em que ela dormiu em sua cela — que dividia com mais duas presidiárias e que não cheirava nada bem. Esteve lá em cada um dos seus aniversários, e em cada uma de suas vésperas de Natal.Esteve também quando Rebecca recebeu a notícia, por meio de um recorte de jornal, sobre a briga de facção que assolou o The Goldfather. Ao que tudo indicava, uma das gangues mais perigosas que Winterfelt já havia visto retaliou uma quadrilha menor, porém não menos temível, pelo ataque a alguns de seus membros. A coisa toda foi um tanto desinteressante e óbvia, embora sangrenta. Carros cheios de gângsteres estacionaram diante do antiquário. Em meio aos disparos, o
Apesar de não se tratar de um romance do tipo dark, este livro aborda assuntos sensíveis, desde crimes, uso de drogas e violência física, até relacionamentos abusivos e tóxicos. Tais temas podem gerar desconforto em determinados leitores, portanto aconselho a leitura com cautela e mente aberta.Caso vivencie ou conheça quem esteja passando por problemas parecidos com os aqui descritos, não pense duas vezes antes de entrar em contato com a autoridade ou pessoa capacitada para lidar com a situação.Proteja-se e proteja os seus, juntos faremos do mundo um lugar melhor.Com todo amor e carinho,Desejando que estejam bem,Carla Santi.
*******Prólogo*******“Não conseguia parar de pensar em como devia ser o cotidiano dele. Sabia que isso se dava porque ele exalava poder e notoriedade feito feromônio, e porque o gosto dela por filmes românticos da década de noventa lhe despertavam fascínio por ternos de caimento perfeito e ares de mistério a ser investigado. Heiler possuía aquele fator peculiar, que deixava os outros se perguntando ‘como será que é ser esse cara?’.”*******Capítulo 1*******Ocorreu-lhe que conseguiria amá-lo para sempre, reconhecia em si grande tolerância a dor. O que não suportaria, no entanto, seria conviver para sempre com uma decisão tão burra.— Rebecca Chase, pelo amor de Deus! — Ash urgiu, impaciente.Ela respirou fundo e bloqu
Della Dinastia era uma pequena joalheria de família, frequentada por arrivistas sociais e esposas troféus. Um par de irmãos ambiciosos pertenciam à segunda geração de responsáveis por conduzir o negócio, e eram tão bons vendedores quanto poderiam ser garimpeiros. Investiam pesado em publicidade e na ascensão do nome da loja nas mídias sociais, porém não tanto em segurança ou na originalidade das peças. Se fossem mais cuidadosos, não permaneceriam abertos após o horário de funcionamento dos pequenos prédios de escritórios ao redor, e certamente já teriam mudado de endereço — daquela rua afastada do centro para, quem sabe, um shopping center. Negociavam com a elegância pobre de quem quebrava pedras em busca de pepitas, mas as obtinham, afinal; eram mais talentosos fazendo dinheiro do que colares de pérolas ou an&ea
O antiquário se chamava The GoldFather. Rebecca nunca soube se se tratava apenas de um trocadilho com o título de um dos filmes favoritos de seu corretor de contratos (algo do que não duvidava, considerando que o ego de Richard “Dick” Push só não era maior do que seu talento para cafonices) ou se o objetivo era justamente atrair o mínimo de consumidores para sua lojinha de fachada brega, estampada com um adesivo gigante que ilustrava um peixinho dourado em posição de mafioso, numa caricatura malfeita de Marlon Brando — o letreiro numa fonte dura, laranja e sem serifa.Situava-se num dos bairros mais pobres da cidade e era cercado por igrejas, fábricas e estacionamentos. Durante o caminho até ali, Rebecca trocara apenas algumas poucas palavras com os demais.O portão de arame já esperava aberto; Timber contornou o antiquário pelo gramado descuidado e estacionou n
Ashton Smith tinha algo que Rebecca nunca encontrara em nenhum outro homem. Não era apenas físico. Era a maneira que ele a envolvia em seus braços fortes e fazia com que se sentisse segura, como se nada no mundo pudesse atingi-la, como se os momentos em seu abraço fossem os únicos lapsos de realidade em meio a um duradouro pesadelo.Agora que a chuva parara, Rebecca descansava sentada no gramado molhado, com a testa apoiada na cerca de arame. Precisava respirar, ficar sozinha… Às vezes era como se a mera presença dos demais interferisse na sua capacidade de processar as coisas.A vista não era nada bonita. Árvores ressequidas em canteiros cheios de ervas-daninhas, cães de rua. Podia ver o estacionamento a céu aberto, logo antes de um ferro-velho e um pedaço do muro de um antigo cemitério. Aquele buraco para o inferno não permitia nem que Rebecca glamourizasse seus m