Dois

— Bonitão? — ele ri. — Como pode saber isso sem me ver?

— Todo mundo tem sua beleza. E acho que esse seu sotaque, merece o adjetivo.

Ele ri novamente, exalando uma risada gostosa.

— Gostei da escolha de palavras.

— E então? Como posso ajudá-lo?

— Qual seu nome?

— Meu nome? — olho para Lílian, que murmura algo como virgem. — Não falamos nomes aqui, baby.

— Mas eu preciso te chamar de alguma coisa.

— Chame-me do que quiser e faça o que quiser comigo, gostosão.

Ele continua rindo.

— Ah, me desculpa. — diz. — Eu nunca fiz isso na vida.

— Sexo?

— Sexo por telefone. Ainda mais com alguém que não sei o nome.

— É simples, meu amor. Eu falo umas safadezas, você agarra no seu amiguinho e b**e uma punheta, imaginando tudo o que estou falando.

— Eu sei como é. Eu só não... consigo.

— Seja sincero comigo. Você é virgem?

— NÃO, não. — ele tosse. — Eu não sou virgem.

— Então como não sabe o que fazer? Vamos tentar. Abra seu zíper... está usando calça, não é?

— Estou...

— Abra seu zíper e segura em seu pau. Imagino que ele esteja mole agora, mas em segundos estará duro como uma rocha. — ele continua rindo. — Olha meu querido, eu sinceramente não consigo entender o motivo de tanta risada.

— Ei, desculpa! Comecei a pensar no meu amigo fazendo esse tipo de coisa e... é engraçado.

— Está imaginando seu amigo tocando uma punheta? — questiono. — Você é gay? Porque se for, posso transferir para o setor certo.

— Eu não sou gay.

— Sei. — murmuro.

— Vou ser sincero com você. Minha namorada terminou comigo há uma semana e desde então, só tenho ficado em casa e bebendo vinho. Então meu irmão veio aqui e achou que sexo por telefone, seria uma boa solução.

— No seu caso, eu acho que o melhor seria sexo ao vivo mesmo.

Ele ri.

— Eu nunca me diverti tanto com alguém. — diz. — Obrigado.

— Pelo que? Você está pagando uma ligação longa e não teve um orgasmo.

— A vida não é só um orgasmo. Desculpe por perder seu tempo comigo.

— Que isso. — murmuro. — Primeira pessoa que paga tudo isso e não preciso gemer.

— Foi um prazer conversar com você, moça sem nome.

— Igualmente, bonitão.

Finalizo a ligação com um sorriso bobo. Afinal, eu havia ganho cem libras, só por aquele tempo que conversamos. Já ganhei muito menos, com ejaculação precoce. 

[...]

No relógio indicava seis da manhã. Após bater meu ponto, saio do prédio da Time For Sex e vou diretamente para a padaria ao lado.

Todos ao redor e qualquer um que não trabalhasse conosco, acha que trabalhamos com confecção de lingeries, Marillu. Minha sorte, era que minha única amiga também trabalha nesse meio, então eu não preciso mentir sobre o que faço.

— Quero um misto e um café com leite, por favor. — peço, me sentando em um dos bancos.

Puxo meu celular do bolso e respondo algumas mensagens de grupos aleatórios. Do nada me vem à cabeça, a ligação de três da manhã. Lembrar daquilo me fez rir e receber questionamentos do senhor da padaria.

— Esse sorriso... — brinca, pondo o prato com misto e um copo na minha frente. — está apaixonada?

— Só se for por esse misto. Não tenho tempo para isso, senhor.

Ele balança a cabeça e ri, se afastando.

Assim que termino, pago o que consumi e corro para o metrô. Essa era a hora em que metade de Seatle estava indo para o trabalho e escolhiam logo aquele meio de transporte. Entro e me espremo em um canto, agarrada a barra de ferro.

No banco a minha frente, tinha um homem lendo Orgulho e Preconceito. Eu não conseguia ver seu rosto, mas dava para perceber que tingia seu cabelo de loiro.

Eu estava completamente agarrada à barra de ferro, como se ela fosse o meu mais macio travesseiro. Meus olhos estavam pesados e eu não percebi que havia cochilado. Só notei quando alguém tocou minhas costas e me disse para sentar no banco vago.

— O que? — murmuro, olhando na direção da voz.

— Sente-se no meu lugar. Eu já vou descer.

Olho-o de cima a baixo e focalizo no livro em sua mão.

— Eu não...

— Por favor. — diz, dando para notar seu sotaque. — Eu logo irei descer e você está sonolenta.

Aquele homem claramente tingia o cabelo, mas não era uma coisa muito óbvia. Seus olhos eram de um azul maravilhoso e claro, que era capaz de me fazer querer mergulhar ali. Tinha algo nele que era familiar, mas eu não conseguia perceber o quê.

— Obri...gada.

Vou até o banco vago e me sento, observando sua aproximação.

— Cansada? — questiona e eu assinto. — Se divertiu?

Acabo rindo.

— Quem me dera. Estava de plantão no trabalho.

— Você não tem cara de ser médica. — ele ri.

— E não sou. Não é só médico que vive de plantão.

O metrô para e o rapaz olha em volta.

— É a minha estação. — ele sorri. — Até uma próxima.

Ele se afasta e sai junto com uma multidão. Já do lado de fora, ele acena para mim, quando o metrô se vai.

[John]

Depois da conversa divertida que tive com aquela atendente do tele-sexo, acordei bem disposto para sair.

Fazia semanas que eu não pegava o metrô. E eu adorava fazer aquilo. Pegava um livro e ia ler dentro de um vagão. Ia aproveitar minha vontade de ler e ir tomar café no Dominic.

Eu estava lendo Orgulho e Preconceito. Ele retrata a maneira com que a personagem lida com os problemas relacionados à educação, cultura, moral e casamento na sociedade aristocrática do início do século XIX, na Inglaterra. É maravilhoso.

No momento que pausei minha leitura, para ver em que estação estava, notei uma menina agarrada a uma das barras de ferro e cochilando. Ela era bonita. Tinha os cabelos cacheados, a pele branquinha e as bochechas gordinhas e rosadas. Era linda, na verdade. E eu estava com pena de vê-la naquela situação. Como eu estava perto de descer, fui até ela e lhe ofereci meu lugar. Após aceitar, com relutância, ela ficou me encarando, como se soubesse quem eu sou.

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