Beatrice
O sol da manhã dourava os caminhos de pedra que levavam à imponente igreja. Enquanto meu coração b**e acelerado, eu me aproximo da entrada da igreja. Aperto mais forte o arco formado pelo braço do meu querido pai, preocupada com a possibilidade de que o noivo não esteja à minha espera no altar.
Três longos anos haviam se passado desde a última vez que vi Edward Maddock. E agora, estou aqui, pronta para selar nosso destino em um casamento que, apesar de formalizado por um contrato, carrega a promessa de uma vida juntos.
A cada passo que dou em direção à igreja, minha pulsação se acelera, meu coração parece um tambor anunciando o desconhecido. A música suave enche o ar, acompanhando a batida rítmica do meu peito. E então, o vejo.
Edward está ao lado do padre, imponente em seu fraque escuro, a imagem da elegância e virilidade que sempre me impressionaram. Seu cabelo escuro está meticulosamente penteado, a testa levemente franzida enquanto ele olha adiante. Prendo a respiração, sentindo um nó na garganta ao vê-lo ali, me esperando.
Um alívio me invade quando percebo que meus medos não se concretizaram. Edward está à minha espera. Um sorriso sincero brinca em meus lábios enquanto caminho pelo corredor da igreja e encaro Edward, à espera de que seus olhos também possam me sorrir de volta.
Finalmente, quando chego ao altar, meu olhar se encontra com o de Edward de maneira firme e o meu sorriso desvanece ao notar a expressão em seu rosto. Seus olhos, que no passado sempre estavam cheios de promessas, agora exibem uma dureza que me faz hesitar. Ele me observa intensamente, seu olhar penetrando nas profundezas da minha alma. A familiaridade de seus traços contrasta com a distância emocional que ele parece criar neste momento.
À medida que me aproximo, uma sensação de alegria se mistura com uma incerteza crescente. O suave toque dos nossos dedos se encontrando no altar envia uma corrente elétrica pelo meu corpo, mas a intensidade do olhar de Edward é como um frio que me faz questionar tudo o que nos trouxe até aqui. O homem que sempre foi o grande amor da minha vida está diante de mim, no entanto, algo em seus olhos me faz pensar se aceitar um casamento por contrato poderia ter sido o maior erro que já cometi.
As palavras do celebrante, "Eu vos declaro marido e mulher. O que Deus uniu, que o homem não separe.", ressoavam poderosamente, fazendo-me estremecer. Encaro Edward, buscando em seus olhos a mesma chama que existia quando éramos jovens, crescendo juntos em Kent. No entanto, apenas encontro um olhar frio e desprovido de emoção. Aguardo o que parece uma eternidade, mas o beijo que eu esperava receber neste momento não acontece.
As palmas ecoam, e Edward segura minha mão enquanto saímos da igreja. Caminhamos devagar, formando um grupo com os convidados que nos aguardam na saída. Pétalas de flores caem como uma chuva, risos e abraços preenchem o ar. Nossa família e amigos estão radiantes com nossa união.
A partir desse ponto, tudo se desenrola como em um filme, onde sou apenas uma espectadora, observando de perto, mas sem me sentir verdadeiramente parte. Na recepção do casamento, brindes, um breve discurso feito pelo meu próprio pai, que está visivelmente feliz por realizar um antigo sonho: a união de sua filha com o filho de seu melhor amigo e sócio de toda uma vida. Danças também preenchem a noite.
— Quer ir embora? — Edward pergunta, mantendo sua habitual cortesia.
— Sim — respondo com um suspiro de satisfação. — Acredito que ninguém se importará se partirmos agora.
Ele não diz mais nada, apenas segura minha mão e nos dirige até a mesa onde estão nossos pais, para nos despedirmos apropriadamente. Nada de escapar discretamente da nossa festa de casamento.
— Você ainda não me disse para onde iremos em nossa lua de mel — comentei com um sorriso quando já estamos dentro do carro. — Ainda nem tive a chance de fazer minha mala, pois não faço ideia de seus planos.
Não tinha a intenção de soar crítica, mas a expressão de Edward deixa claro que foi assim que ele interpretou minhas palavras.
— Não informei o destino da nossa viagem porque não haverá lua de mel — ele responde sem me encarar. — Pelo menos, não por enquanto.
Fico sem fôlego ao ouvir sua negativa dita de maneira tão direta.
— Não teremos lua de mel? — Não consegui disfarçar a minha surpresa.
— Como sabe, o nosso casamento foi motivado pela situação financeira delicada pela qual a empresa de seu pai está passando. Preciso resolver esses problemas primeiro. Quando tudo estiver resolvido e a empresa voltar ao mesmo patamar de antes, então, poderemos viajar.
Há mil perguntas que gostaria de fazer, mas a presença do motorista no banco da frente me faz guardar todas elas para um momento mais adequado. Não quero discutir algo tão íntimo daquela forma.
Edward já havia adiantado que passaríamos nossa primeira noite de casados em sua casa em Londres, o que me traz algum alívio. Talvez, na privacidade do nosso novo lar, o clima entre nós possa voltar a ser como era antes.
Percebi que estava equivocada quando ele comunicou que estaria na biblioteca, caso eu precisasse dele. Edward tirou o blazer e o colete, ficando apenas com a camisa social e calças, logo ao entrar na luxuosa mansão, algo compreensível, pois aquela era a sua casa. Eu ainda precisava me adaptar ao lugar.
— Vai trabalhar hoje? — A pergunta escapou dos meus lábios sem que eu pudesse evitá-la.
— Serei breve — ele respondeu, seguindo pelo corredor. — Dessa forma, você fica mais à vontade para se preparar.
Quando ele mencionou "se preparar", meu coração acelerou e um sorriso espontâneo iluminou meu rosto. Claro, ele estava apenas sendo atencioso ao me dar um momento de privacidade para trocar meu vestido de noiva por algo mais apropriado para nossa noite de núpcias.
Minhas malas e pertences pessoais já estavam na casa, algo que eu mesma havia organizado antes do casamento. Edward chegou à Inglaterra apenas no dia anterior. Eu me parabenizei pela eficiência, pois se tivesse dependido dele, nada teria sido planejado. Ele não se envolveu em nenhuma decisão relativa ao nosso casamento.
Esses pensamentos giravam em minha mente enquanto eu vestia a delicada lingerie que escolhi para a nossa primeira noite como casados. Minha primeira vez com um homem. Sempre sonhei com esse momento, aquele em que me entregaria completamente ao homem que amava. Que vou me entregar a Edward.
Horas mais tarde, com os olhos inchados de tanto chorar e exausta de esperar por meu marido, finalmente adormeci. O peso de todas as expectativas que eu havia criado pesava sobre os meus ombros. Estas foram despedaçadas por Edward, e eu me via diante de um futuro incerto, tentando encontrar meu lugar em meio a essa nova realidade.
BeatriceA manhã seguinte trouxe um vazio inesperado. Ao abrir os olhos, deparei-me com o espaço ao meu lado na cama, impecavelmente arrumado. Nenhum sinal de Edward. A incerteza retornou, e a dúvida sobre se ele havia ou não compartilhado a cama comigo na nossa primeira noite de casados pairava no ar.Melhor descer para o café da manhã, talvez eu encontre alguma resposta. No entanto, a solidão à mesa, cuidadosamente posta, apenas reforçou a sensação de que algo estava fora do lugar. A realidade da manhã após o casamento estava bem distante do que eu havia imaginado.Cada garfada parecia pesar no estômago, e o som dos talheres tocando o prato ecoava o vazio que sentia naquela casa. Uma mistura de desapontamento e tristeza parecia sufocar meu coração, uma melancolia que eu não tinha previsto.— A senhora precisa de mais alguma coisa? — Charles perguntou — Posso pedir para que a senhora Jeks prepare algo em especial.— Não, obrigada — recusei com educação, indicando que já havia termina
BeatriceDepois de um mês de casamento, a situação com Edward não mudou. Ele continua agindo de forma educada, mas parece manter uma distância invisível entre nós. Dividimos o mesmo quarto e cama, mas ele nunca tentou se aproximar. Em vez disso, ele sempre se tranca na biblioteca até tarde da noite, sempre alegando trabalho. Parece que ele está me evitando.Isso me deixa triste, mas não consigo falar sobre isso com minha família ou amigos. A minha mãe foi contra o nosso casamento desde o ínicio, pois não concordava com a ideia do contrato, e admitir que está sendo uma decepção seria uma confirmação do que ela tentou me alertar.Além disso, meu pai está doente, então já há preocupações suficientes em casa. Não quero adicionar mais problemas. Então, sorrio e finjo que está tudo bem, quando na verdade estou me sentindo muito sozinha.Abigail, a irmã de Edward e minha amiga de verdade, me ligou naquela tarde. Ela estava de passagem por Londres e viria me visitar. Fiquei tão feliz com a a
BeatriceA sugestão de passar um tempo com alguém em quem confiava soava como um bálsamo, e aceitei a ideia do meu primo sem hesitar. Duas horas depois, estávamos rindo e compartilhando histórias engraçadas sobre as desventuras amorosas de Sebastian. Sua presença me ajudou a afastar temporariamente as preocupações e dilemas que estavam me consumindo, como se eu pudesse ser eu mesma novamente.Em meio às risadas, Sebastian mencionou o beijo que me roubou uma vez, o que me fez rir de novo, mesmo que embaraçada. O episódio veio à tona na conversa.— Foi péssimo! — admiti, lembrando do beijo que aconteceu e terminou no mesmo instante.— Nossa, você realmente destruiu minha autoestima, prima — brincou Sebastian, com um sorriso.— Você precisa concordar que foi um beijo terrível, Seb.— Sem dúvida — ele concordou, rindo. — Mas você estava triste porque Edward não apareceu no seu aniversário, e eu só estava tentando te animar. Afinal, nós rimos bastante com aquilo.Sebastian estava se referi
BeatriceContemplei o guarda-roupa abarrotado de roupas luxuosas, todas provenientes das marcas mais renomadas, apenas o ápice do que o dinheiro poderia adquirir, porém nada daquilo seria viável levar comigo. Arrumei na mala somente os itens que havia trazido para aquela residência há um ano.Diferente daquele dia, quando cheguei com o coração cheio de amor e esperança, agora tudo o que restava em meu peito era amargura e dor; estava prestes a me afastar daquela casa, que jamais foi realmente meu lar.Após mais de um ano de um casamento frustrante, no qual jamais experimentei verdadeiramente o que era ser amada por meu marido, tomei a difícil decisão de encerrar aquele relacionamento fadado ao fracasso, onde apenas uma pessoa batalhava pela felicidade do casal, e essa pessoa era eu.A partir deste momento, Edward não faria mais parte de minha vida, assim como eu não faria parte da dele, e cada um seguiria seu próprio caminho. Com essa perspectiva, dispensei todos os empregados da mans
EdwardApós a saída de Beatrice da mansão, eu caminho até o bar disposto quase no centro da minha sala de estar e despejo uma dose do meu whisky mais caro em um copo, tomando todo o conteúdo de um único e ardente gole.Consegui manter uma expressão de neutralidade, mas por dentro, o único sentimento que prevalece em mim é o mais puro e genuíno alívio.Uma coisa é certa, eu não fiquei nem um pouco triste com a decisão da Beatrice de partir. O nosso casamento foi apenas um contrato de negócios, algo que fiz exclusivamente em consideração ao antigo amigo de meu pai.Em um tempo passado eu já nutri uma forte paixão por Beatrice, mas tudo mudou quando eu a encontrei beijando o seu primo Sebastian. Naquela noite, eu percebi que o sentimento entre eles não era apenas de amizade ou um amor de primos. Eles sentiam algo mais um pelo outro e a maior prova desse fato foi o beijo que os vi trocar no jardim da casa de Beatrice.Eu havia falado com Beatrice naquele dia, a parabenizei por seu anivers
BeatriceDe maneira surpreendente, consegui rapidamente encontrar uma oportunidade excelente de trabalho. Eu tinha enviado vários currículos e entrado em contato com amigos com os quais estudei durante a universidade, então, quando recebi uma ligação me convidando para uma entrevista em um jornal de alcance em toda a Grã-Bretanha, eu fiquei muito feliz por ter meu esforço recompensado de maneira tão rápida. Ficar em casa não era uma opção, principalmente quando os meus amigos estavam juntos. Janet e Charles, o seu marido, estavam juntos, eu me sentia afetada pelo amor demonstrado entre eles. É difícil entender o motivo do meu próprio casamento ter saido tão errado. Então, quando fui selecionada para o cargo no Diário de Notícias, eu vibrei, não apenas pelo trabalho, mas também pela ótima proposta que recebi.Apenas cinco dias após pedir o divórcio, eu estava iniciando o trabalho no Diário de Notícias. Eu trabalhava na coluna de fofocas do jornal, na sessão de entretenimento, algo que
Andrew Desde o momento em que Beatrice ingressou no jornal de propriedade de meu pai, do qual sou o único herdeiro, sua dificuldade em acompanhar o ritmo frenético das notícias da alta sociedade e a abordagem usada para atrair leitores dessa coluna era evidente. No entanto, a cada dia, ela se adaptava melhor, florescendo em todas as direções, superando até mesmo as minhas expectativas. Sua habilidade em fazer perguntas, de maneira não invasiva, cativava aqueles que estava entrevistando.Mas, desde o primeiro momento em que pus os olhos em Beatrice, fui encantado por sua timidez, que a fazia ficar ruborizada quando ofereci minha ajuda, caso ela se sentisse perdida em seu novo trabalho no jornal. Seus olhos cinzentos desviavam dos meus, enquanto eu tentava admirar sua beleza estonteante, completamente hipnotizado pela mais nova integrante da equipe.Com o tempo, percebi o quão naturalmente tímida e reservada ela era. Deduzi que havia sido criada de maneira tradicional. À medida que nos
BeatriceAgora que me encontrava no salão de festas, uma forte suspeita pairava sobre mim: os olhares direcionados na minha direção pareciam cheios de especulações, centrando-se principalmente na minha companhia, Andrew. O arrependimento começou a se insinuar, gerando desconforto crescente.Ponderava seriamente a ideia de retroceder e partir o mais rapidamente possível. No entanto, Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio. Com um simples olhar na minha direção, ele dissipou minhas preocupações. Estava ao meu lado, e isso era o que verdadeiramente importava.Aquela mensagem transmita em nossa troca de olhares me encheu de coragem para prosseguir, encarando os olhares curiosos ao nosso redor. Caminhamos juntos, nossas mãos entrelaçadas, e Andrew cumprimentou diversas pessoas ao longo do caminho. O modo como as pessoas o tratavam deixava claro que seu respeito e a busca por sua atenção não eram simplesmente decorrentes de sua riqueza e herança, mas também de sua gentileza e c