Casamento

Beatrice

A manhã seguinte trouxe um vazio inesperado. Ao abrir os olhos, deparei-me com o espaço ao meu lado na cama, impecavelmente arrumado. Nenhum sinal de Edward. A incerteza retornou, e a dúvida sobre se ele havia ou não compartilhado a cama comigo na nossa primeira noite de casados pairava no ar.

Melhor descer para o café da manhã, talvez eu encontre alguma resposta. No entanto, a solidão à mesa, cuidadosamente posta, apenas reforçou a sensação de que algo estava fora do lugar. A realidade da manhã após o casamento estava bem distante do que eu havia imaginado.

Cada garfada parecia pesar no estômago, e o som dos talheres tocando o prato ecoava o vazio que sentia naquela casa. Uma mistura de desapontamento e tristeza parecia sufocar meu coração, uma melancolia que eu não tinha previsto.

— A senhora precisa de mais alguma coisa? — Charles perguntou — Posso pedir para que a senhora Jeks prepare algo em especial.

— Não, obrigada — recusei com educação, indicando que já havia terminado.

Já passava das nove horas, e imaginei que alguém tão enérgico como Edward já teria tomado seu desjejum. Não ousaria perguntar ao mordomo sobre o paradeiro dele. Seria constrangedor demais admitir que eu não fazia ideia de onde meu marido estava na manhã seguinte ao nosso casamento.

Decidi explorar a casa por minha conta, já que Edward não se ofereceu para fazer isso. Também não iria solicitar a companhia de Charles. Por alguma estranha razão, eu não me sinto confortável na presença do senhor empertigado. Enquanto caminhava pelos vários comodos, conhecendo a enorme mansão dos Maddox, acabei encontrando-o na biblioteca. 

Ele me recebeu com gentileza, mas havia algo em sua expressão que não consegui decifrar completamente.

— Tudo bem por aqui? — perguntei, tentando quebrar o gelo.

— Sim, estou apenas ocupado com algumas coisas relacionadas à empresa de seu pai — respondeu Edward, com um tom um tanto distante.

Uma ideia me ocorreu. 

— Que tal fazermos algo juntos? Poderíamos explorar a cidade, talvez — sugeri com animação — Não tenho o hábito de vir a Londres e seria maravilhoso visitar alguns lugares juntos. Como fazíamos antes.

— Hoje não será possível, Beatrice. Há muito a ser feito em relação aos negócios.

Embora sua voz fosse calma, uma ponta de frustração perpassou suas palavras. Parecia que o dos negócios estava pesando sobre ele de maneira intensa. Compreendi que talvez não fosse o momento adequado para minha sugestão.

— Entendo — murmurei, lutando para disfarçar a sensação de desapontamento que crescia dentro de mim. 

Edward suspirou profundamente, e o olhar que trocamos deixou claro que minha presença ali não era exatamente bem-vinda. Percebi que estava invadindo seu refúgio, seu local de trabalho e concentração. Talvez a sugestão de passarmos um tempo juntos tenha sido inoportuna. 

— Desculpe, não pretendia atrapalhar — murmurei, sentindo uma ponta de desconforto. — Vou deixá-lo em paz para trabalhar.

Edward assentiu, sua expressão suavizando ligeiramente. 

— Agradeço a compreensão, Beatrice.

Deixei a biblioteca, fechando a porta suavemente atrás de mim. Aquela sensação de desapontamento que eu estava tentando conter parecia crescer, mas respirei fundo, lembrando a mim mesma que era importante respeitar o espaço de Edward, especialmente em um momento tão crucial para os negócios.

Caminhei até o jardim da casa, procurando um refúgio para minhas próprias reflexões. Enquanto observava as flores dançarem suavemente com a brisa, minha mente vagueou para os momentos que compartilhamos no passado. Lembranças de nossa infância juntos em Kent, das risadas e aventuras que compartilhamos.

Lembrei-me de como costumávamos explorar os arredores, rindo de cada travessura e criando memórias que me aqueciam o coração. No entanto, o homem que estava na biblioteca parecia distante daquele jovem alegre e cheio de vida. Uma pontada de saudade me atingiu, e percebi como as coisas haviam mudado desde então.

Nos últimos anos, nossos caminhos se separaram, cada um seguindo sua própria jornada. Agora, nos encontrávamos unidos por um casamento que, apesar de ter raízes em nossa história compartilhada, parecia estranhamente distante e desconhecido.

Sempre nutri uma paixão profunda por Edward, alimentada pelo fato de que nossas famílias eram inseparáveis. Meu pai, George Phillips e David Maddock eram amigos desde a infância, construindo juntos um vasto legado.

Quando o pai de Edward faleceu, ele ainda era muito jovem para assumir a responsabilidade da empresa. Foi nesse momento que meu pai tomou as rédeas dos negócios Maddock, impulsionando um crescimento notável e ampliando ainda mais a fortuna de nossa família.

Enquanto meu pai supervisionava os negócios dos Maddock, Edward partiu para a França para concluir seus estudos. Quando a saúde de meu pai começou a falhar, ele o chamou de volta a Londres. Meu pai esperava que Edward tomasse seu devido lugar na liderança dos negócios, uma posição que meu pai sabia que não poderia mais ocupar devido a uma grave doença recém-diagnosticada. Papai está com doença de Parkinson.

Preocupado que a empresa corresse o risco de falência, meu pai aproveitou o retorno de Edward para propor um acordo: ele dirigiria nossos negócios em troca de um casamento comigo, garantindo assim sua posição na empresa. Embora preocupada com papai, eu não me sentia preparada para assumir um papel de liderança com apenas vinte e um anos, ainda uma estudante de jornalismo.

Eu não pensei muito antes de aceitar a proposta de meu pai, pois não seria um sacrifício me casar com o homem que amo. A notícia de que Edward estava de volta a Londres me trouxe uma onda de felicidade. Finalmente eu posso reencontrar meu grande amor após três anos longe. 

Sorri sem humor. Onde está o Edward que conheci ao longo de toda a minha vida? A diferença de quatro anos entre nós nunca foi um obstáculo para nossa amizade, nem mesmo para o sentimento profundo que nutri por ele. No entanto, tudo agora parece tão diferente e desconcertante!

Meus olhos retornaram ao jardim, e um suspiro escapou dos meus lábios, carregado de cansaço. É quase inacreditável que eu esteja aqui, me lamentando em plena manhã de sábado, apenas um dia após meu casamento. Ainda mais surpreendente é que seja um dia tão ensolarado, perfeito para os londrinos se espalharem pelos parques da cidade, aproveitando o verão inglês.

Edward saiu do seu refúgio apenas no final da tarde. Eu estava sentada diante da enorme penteadeira em nosso quarto quando ele entrou, e imediatamente senti meu coração acelerar no peito.

— Como foi o seu dia? — Ele perguntou, parando a alguns passos de mim e observando-me pelo espelho da mobília.

Seu interesse me surpreendeu. Foi como se o Edward que eu conhecia há tanto tempo estivesse de volta.

— Explorei a casa e conheci os funcionários — respondi, agora me sentindo um pouco envergonhada por não ter mais novidades para compartilhar.

Ele deu um simples aceno com a cabeça. 

— Ótimo. Deveria ter mencionado antes, mas caso precise de alguma coisa, Charles está à sua disposição. Ele e a senhora Jeks são funcionários antigos da casa e podem auxiliar muito na administração da propriedade.

Agradeci com um sorriso sincero. 

— Obrigada, Edward. Isso é muito gentil da sua parte.

O clima entre nós parecia mais leve naquele momento. Era como se uma pequena parte da barreira que havia surgido entre nós estivesse começando a se dissolver. Enquanto nossos olhos se encontravam no espelho, percebi que talvez ainda houvesse esperança para nós, apesar das incertezas que nos cercavam.

— Vou me preparar para o jantar — Ele disse, rompendo o momento que parecia ter nos aproximado novamente. 

Enquanto ele se retirava, continuei a terminar minha maquiagem, sentindo uma mistura de expectativa e ansiedade para descer e compartilhar aquele jantar com meu marido.

Finalmente pronta, esperei com um nervosismo crescente, meu coração batendo mais rápido do que eu gostaria de admitir. Queria que aquele momento fosse especial, com a mesma conexão que sempre existiu entre nós dois.

No entanto, quando nos sentamos à mesa e começamos a conversar, algo parecia diferente. Edward escolheu assuntos genéricos para discutir durante o jantar, e a conversa fluía de maneira neutra. Enquanto trocávamos palavras, uma tristeza silenciosa se apoderava de mim. Lamentei a falta da intimidade que compartilhamos antes. Era como se estivéssemos dois estranhos, jantando juntos por cortesia. Tentei sorrir e participar da conversa, mas a sensação de vazio persistiu.

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