Andrew
Desde o momento em que Beatrice ingressou no jornal de propriedade de meu pai, do qual sou o único herdeiro, sua dificuldade em acompanhar o ritmo frenético das notícias da alta sociedade e a abordagem usada para atrair leitores dessa coluna era evidente. No entanto, a cada dia, ela se adaptava melhor, florescendo em todas as direções, superando até mesmo as minhas expectativas. Sua habilidade em fazer perguntas, de maneira não invasiva, cativava aqueles que estava entrevistando.Mas, desde o primeiro momento em que pus os olhos em Beatrice, fui encantado por sua timidez, que a fazia ficar ruborizada quando ofereci minha ajuda, caso ela se sentisse perdida em seu novo trabalho no jornal. Seus olhos cinzentos desviavam dos meus, enquanto eu tentava admirar sua beleza estonteante, completamente hipnotizado pela mais nova integrante da equipe.
Com o tempo, percebi o quão naturalmente tímida e reservada ela era. Deduzi que havia sido criada de maneira tradicional. À medida que nos aproximávamos, ela compartilhou um pouco de seu passado, e fiquei surpreso ao descobrir que ela já havia sido casada. No entanto, isso não me impediu de me apaixonar cada vez mais por seu sorriso. Desejei ser mais do que apenas um amigo para ela. Conforme ela se tornava menos melancólica e mais confiante, decidi convidá-la para me acompanhar em um evento de gala.
Antes de fazer o convite, assegurei-me de que o marido de Beatrice, Edward Maddock, não estaria presente, para evitar qualquer constrangimento para ela. Somente depois de ter a certeza de que ele estava fora do país, dirigi-me à sua sala.
— Olá. — Disse eu, entrando na sala após uma breve batida na porta.
— Oh... Olá! — Ela sorriu ao me ver. — Eu não sabia que já tinha voltado.
Eu havia estado viajando nos últimos dias, e a maneira como Beatrice reagiu ao me ver após alguns dias separados aumentou minhas esperanças sobre o que ela poderia estar sentindo por mim.
— Cheguei em Londres ontem à noite. — expliquei. — Como foi tudo por aqui na minha ausência?
Ela pareceu um pouco desanimada ao ouvir minha pergunta, mas logo se recompôs.
— Senti falta do meu amigo aqui no jornal.
— Você não faz ideia de como isso me deixa feliz. — falei com um largo sorriso.
Nós nos encaramos sorrindo, e pela primeira vez em semanas, Beatrice não desviou o olhar.
— Tenho um convite a fazer. E já adianto que não aceitarei uma recusa sua.
Beatrice inclinou a cabeça curiosamente, seus olhos cinzentos fixos nos meus, e eu continuei:
— Quero que me acompanhe a um evento de gala que acontecerá no próximo fim de semana. Será uma noite incrível, e eu adoraria tê-la ao meu lado.
Ela pareceu surpresa pelo convite, mas um brilho de excitação dançou em seus olhos. Ela brincou com um fio de cabelo enquanto pensava na resposta.
Beatrice
Andrew havia sugerido um convite inesperado, e isso me deixou imediatamente tensa, pois não esperava tal atitude dele. Ele costumava ser tão reservado ao falar comigo que eu jamais imaginaria uma proposta assim vindo dele.
— Alguma coisa relacionada ao jornal? — Eu não tinha conhecimento de nenhum evento para o qual eu deveria fazer a cobertura nos próximos dias.
Andrew sorriu, e notei que ele estava envergonhado.
— Não tem nada a ver com o jornal, ou qualquer coisa relacionada ao trabalho. Será apenas nós dois.
Minha resposta saiu automaticamente.
— Agradeço muito pelo convite, mas acho melhor recusar.
A expressão de Andrew imediatamente ficou triste com a minha resposta.
— Eu sei que não deveria insistir, mas vou fazer isso de qualquer forma. — Ele disse, e percebi que ele estava constrangido com minha recusa. — Peço que pense com cuidado na minha proposta. Seria uma honra tê-la como minha acompanhante nesse evento.
Tentei fazer como ele pediu e, após ele deixar minha sala, analisei calmamente sua proposta inesperada, mesmo que não desejasse realmente ir a esse evento. É o tipo que Edward costumava frequentar, onde a alta sociedade se reunia. Embora tenha sido casada com Edward por um longo ano, ele raramente me levava como sua acompanhante, e eu não me sentia preparada para voltar a esse ambiente, agora que não era mais apenas uma socialite como antes.
Lembrei das últimas semanas e como, sem perceber, meu coração foi ficando mais pesado e triste a cada dia, à medida que o tempo passava, deixando para trás os momentos mais dolorosos e tristes após o meu divórcio.
— Então, qual é a sua decisão? — Andrew perguntou, já no final do expediente daquele dia. — Você será minha acompanhante amanhã?
Olhei cuidadosamente para Andrew, admirando sua beleza suave e seu sempre gentil tratamento. Concluí que deveria aceitar o convite dele. Afinal, já se passaram dois meses desde que me separei de Edward, e era hora de dar mais um passo para romper os laços entre nós.
— Está bem, Andrew. Eu aceito ser sua acompanhante.
Minha resposta iluminou o rosto do meu colega de trabalho com um sorriso radiante. Andrew se aproximei de mim e segurei a minha mão de maneira gentil.
— Mal posso esperar para tê-la ao meu lado, Beatrice. Será uma noite inesquecível, tenho certeza disso.
Não foi apenas Andrew que ficou extremamente satisfeito com minha aceitação. Quando contei à minha amiga Janet, ao chegar em sua casa naquela noite, ela também ficou muito animada com a notícia da festa.
— Isso é incrível, Beatrice! — Janet comemorou, aplaudindo. — Finalmente você decidiu viver um pouco, minha amiga. Precisamos sair para comprar um vestido novo para você!
Concordando com Janet sobre a necessidade de comprar uma roupa adequada, saímos juntas no dia seguinte para fazer compras. No entanto, discordamos completamente em relação às escolhas. Janet preferia modelos mais ajustados ao corpo, com decotes e transparências, enquanto eu optava por seguir o mesmo estilo de vestimenta que sempre usei: modelos discretos, com comprimento abaixo do joelho e mais fluidos no corpo.
— Sinto-me mais confortável usando algo ao qual estou acostumada. — eu persisti.
— Você precisa entender que não está mais casada, Beatrice. — Janet disse, suas palavras soando duras, apesar de seu tom delicado.
Diante da insistência de Janet, acabei aceitando a escolha dela. Quando me arrumei para esperar Andrew, vesti um dos vestidos escolhidos por minha amiga.
— Você está deslumbrante, Beatrice! — Janet disse, animada com a sua escolha. — O vestido é lindo, e você está simplesmente perfeita.
— Obrigada. — agradeci, sentindo minhas bochechas corarem.
— Tenho certeza de que todos vão admirar sua beleza na festa. — Janet disse, sorrindo.
Minutos depois, Andrew chegou para me buscar. Quando abri a porta para recebê-lo, notei que ele me olhava de uma maneira que me deixou constrangida, e percebi que ele também estava nervoso.
— Boa... noite. — Andrew disse de forma hesitante, quase gaguejando, como sempre fazia quando estava nervoso.
— Boa noite, Andrew. — eu o cumprimentei, sorrindo. — Já estava à sua espera. Podemos ir?
— Claro! — ele respondeu, novamente com insegurança.
Eu me despedi de Janet e logo estavam ao lado do carro de Andrew. Ele abriu a porta do carro para mim com gentileza e simpatia, algo que ele claramente fez com prazer, ao contrário de Edward, que parecia fazê-lo apenas por questão de etiqueta, como uma obrigação qualquer.
Andrew sempre foi tão gentil, tratando-me com deferência e fazendo-me sentir especial e única.
Dentro do carro, a caminho da festa, conversamos tranquilamente, criando um ambiente agradável. Era tudo tão diferente do tempo em que estava casada com Edward, quando ele parecia constantemente incomodado com minha presença e raramente conversava comigo sobre qualquer assunto.
Quando chegamos ao luxuoso hotel onde ocorria o evento de gala, notei que o lugar estava repleto de pessoas com as quais eu já havia tido algum tipo de contato durante meu casamento com Edward Maddock, um dos homens mais influentes da Grã-Bretanha, embora essas ocasiões tenham sido raras.
A decoração do local estava simplesmente encantadora, repleta de beleza e requinte, assim como todas as pessoas presentes. Enquanto caminhávamos entre os convidados, Andrew segurou minha mão, o que me deixou um pouco apreensiva, imaginando as possíveis conversas e olhares indiscretos.
A verdade era que eu não me sentia mais parte daquele mundo, especialmente agora que não estava mais casada com Edward. Acredito que a maioria das pessoas ali presentes sabia desse fato, e suspeitava que estivessem comentando sobre isso, lançando olhares cheios de julgamento na minha direção.
Eu estava tentando manter nosso divórcio como algo secreto, tudo para evitar levar maiores problemas para a minha família, porém, ao aceitar sair com Andrew, eu entendi que aquela seria o momento em que todos iriam ter certeza sobre a nossa separação e vários comentários vão surgir na mídia britânica.
No dia seguinte farei uma rápida viagem a Kent. Eu iria pessoalmente colocar a todos a par sobre o meu divórcio.
BeatriceAgora que me encontrava no salão de festas, uma forte suspeita pairava sobre mim: os olhares direcionados na minha direção pareciam cheios de especulações, centrando-se principalmente na minha companhia, Andrew. O arrependimento começou a se insinuar, gerando desconforto crescente.Ponderava seriamente a ideia de retroceder e partir o mais rapidamente possível. No entanto, Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio. Com um simples olhar na minha direção, ele dissipou minhas preocupações. Estava ao meu lado, e isso era o que verdadeiramente importava.Aquela mensagem transmita em nossa troca de olhares me encheu de coragem para prosseguir, encarando os olhares curiosos ao nosso redor. Caminhamos juntos, nossas mãos entrelaçadas, e Andrew cumprimentou diversas pessoas ao longo do caminho. O modo como as pessoas o tratavam deixava claro que seu respeito e a busca por sua atenção não eram simplesmente decorrentes de sua riqueza e herança, mas também de sua gentileza e c
BeatriceQuando chegamos em frente à casa dos meus amigos, Andrew deu a volta no carro e abriu a porta para mim, demonstrando mais uma vez sua gentileza. Não conseguia ficar com raiva dele, afinal, ele havia me levado à festa com as melhores intenções.— Obrigada por tudo, Andrew — agradeci, já do lado de fora do carro.Ele limpou a garganta, indicando que desejava dizer algo, mas estava claramente envergonhado. Aguardei em expectativa.— Eu... hum-hum! — Andrew começou, tentando encontrar as palavras. — Você está linda, Beatrice.Fiquei surpresa ao perceber o que ele queria dizer.— Oh! &mda
EdwardSenti o maxilar rigido pela frustração ao olhar pela janela do meu escritório e lembrar da noite do baile de gala. As lembranças da noite de sábado ainda estavam muito frescas em minha memória. Naquela noite, eu estava acompanhado de Mila Durant, uma bela modelo francesa que havia conhecido recentemente. Estávamos envoltos em um clima de luxo e sofisticação, cercados por uma multidão de rostos conhecidos da alta sociedade. Mas, entre todos aqueles semblantes familiares, havia um que eu não esperava ver: o de Beatrice.Revivi mais uma vez todos os sentimentos que me invadiram ao avistar Beatrice no baile. O meu coração chegou a dar um salto desagradável. A última vez que a tinha visto antes disso, havia sido quando o nosso casamento estava desmoronando, e pensar que na festa ela estava radiante, elegantemente vestida e simplesmente deslumbrante. Ela estava na companhia do filho de Joel Smith, o influente dono do jornal em que minha ex-esposa agora trabalha.Senti um desconforto
BeatriceNo dia seguinte, já próximo do final do expediente, Andrew me mandou uma mensagem avisando que precisaria se ausentar de Londres para resolver alguns negócios importantes e teve que desmarcar nosso encontro.— Não posso acreditar que ele vai desmarcar o nosso compromisso assim de última hora! — murmurei para mim mesma, a indignação me fazendo suspirar contrariada.Parecia que Andrew e Edward eram semelhantes, priorizando seus negócios importantes e resumindo, eu não sou prioridade na vida do meu novo pretendente.Estava perdida nesses pensamentos quando saia do jornal e demorei a reconhecer o homem parado ao lado do carro luxuoso na mesma rua em que eu caminhava agora. — Edward! — digo.— Como está, Beatrice? — ele pergunta de maneira extremamente cínica, um sorriso no canto da boca. — Espero que esteja bem.— O que faz aqui? — Eu não respondo a sua pergunta, pois me sinto perdida. O que o Edward estava fazendo ali? Ele também não responde aos meus questionamentos e se ap
AndrewDevido alguns negócios urgentes, acabei por desmarcar o meu encontro com Beatrice e após retornar para Londres, constatei que ela estava chateada comigo, provavelmente por esse mesmo motivo.Tentei ligar para ela, como também enviei mensagens, mas Beatrice não me atendeu em nenhuma das vezes e tampouco respondeu as minhas mensagens. Estava me sentindo preocupado, pois eu estava realmente apreciando a sua companhia e sentia que a nossa relação estava se fortalecendo um pouco mais a cada dia que passava.Agora, tudo mudou e parece que voltamos ao primeiro nível.No sábado à noite, acabo então por aceitar sair para jantar com um antigo amigo, com quem tenho grande amizade e quando chego ao restaurante, vejo o ex-marido da Beatrice, Edward Maddock. Aquilo consegue piorar ainda mais o meu humor, que já não estava dos melhores.— Conhece o Maddock pessoalmente? — Justin Campbell, com quem cursei a faculdade em Oxford, pergunta.Sua preocupação não é infundada, afinal, Maddock não con
BeatriceSaí do trabalho bem mais tarde do que o habitual, mergulhada em pensamentos tumultuados. Mais cedo eu tinha recusador a carona que Andrew havia gentilmente oferecido. Afinal, não era mais segredo que algo estranho acontecia entre nós, e eu não queria misturar ainda mais as coisas.Andrew era um homem incrível, gentil, atencioso e sempre disposto a me apoiar. Mas havia Edward, meu ex-marido, ainda oficialmente casado comigo. Aquela situação criava um nó em minha cabeça, uma confusão de sentimentos que me impedia de seguir com minha vida como eu desejava.Resolvi que precisava de uma resposta legal para essa bagunça emocional. No dia seguinte, eu buscaria um advogado e daria início ao processo de divórcio mais uma vez. Era uma
Edward A pergunta de Beatrice era completamente válida. Passei um ano ao lado dela, mas optei por permanecer preso ao ressentimento e à amargura que senti quando a vi com Sebastian em seu aniversário de dezoito anos, exatamente no momento em que planejava pedi-la em namoro. Contudo, depois de tentar me envolver com outras mulheres e fingir que estava me divertindo, cheguei à conclusão de que nenhuma delas se compara a Beatrice, a única que sempre amei.— Eu não sei — Foi tudo o que consegui dizer.Eu ainda amo Beatrice, mas é difícil admitir esse sentimento até mesmo para mim. O fato é que revê-la nos braços de outro homem causou um mal-estar terrível. A simples ideia de Beatrice com outro me era insuportável. Acredito que só consegui me manter longe durante três anos porque estava em outro país, me envolvendo com todas as mulheres que encontrava, tentando fugir da tumultuada mistura de sentimentos que me assolava: raiva, decepção, desilusão, amor... Esses sentimentos nunca me abando
Beatrice Como o tempo é curto, pois tenho apenas trinta minutos para estar no escritório do Edward, eu passo na minha sala apenas o tempo necessário para buscar a minha bolsa e ao chegar em frente ao prédio do jornal onde trabalho, eu aceno para o primeiro táxi que passa na minha frente e por sorte, ele está livre.O percurso até a empresa do Edward é relativamente rápido, pois não fica tão distante e o trânsito está tranquilo ainda naquele horário. Quando o táxi para em frente ao prédio imponente e de designer moderno, com vários andares a perder de vista, eu desço, sentindo as minhas pernas como se fossem gelatina, de tão nervosa que estou.Estar em frente ao prédio onde o Edward dirige os seus negócios me deixa triste, pois logo várias lembranças do tempo em que éramos casados me assola, me deprimindo ao recordar das vezes em que já estive ali e de como sempre fui tratada por ele.O Edward sempre foi gentil e frio comigo, como se eu fosse apenas uma estranha para ele, e isso era a