Desconfortável

Beatrice

Agora que me encontrava no salão de festas, uma forte suspeita pairava sobre mim: os olhares direcionados na minha direção pareciam cheios de especulações, centrando-se principalmente na minha companhia, Andrew. O arrependimento começou a se insinuar, gerando desconforto crescente.

Ponderava seriamente a ideia de retroceder e partir o mais rapidamente possível. No entanto, Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio. Com um simples olhar na minha direção, ele dissipou minhas preocupações. Estava ao meu lado, e isso era o que verdadeiramente importava.

Aquela mensagem transmita em nossa troca de olhares me encheu de coragem para prosseguir, encarando os olhares curiosos ao nosso redor. Caminhamos juntos, nossas mãos entrelaçadas, e Andrew cumprimentou diversas pessoas ao longo do caminho. O modo como as pessoas o tratavam deixava claro que seu respeito e a busca por sua atenção não eram simplesmente decorrentes de sua riqueza e herança, mas também de sua gentileza e charme, características que haviam me conquistado.

O fato de Andrew estar sendo bastante requisitado por várias pessoas na festa, acabou por me deixar alguns momentos a sós, em meio a todas aquelas pessoas, e o desconforto inicial voltasse com força total.

Não me sentia à vontade no meio daquela multidão de pessoas com seus olhares julgadores, mas ninguém demonstrou coragem suficiente para se aproximar e perguntar o que todos pareciam desejar saber. Decidi que seria melhor me afastar um pouco da festa e dirigi-me ao banheiro, onde, pelo menos por alguns minutos, poderia encontrar algum refúgio.

O banheiro era extremamente luxuoso, e entrei em um dos compartimentos reservados, sentando-me para tentar organizar meus pensamentos. Minha paz, porém, não durou nem mesmo um minuto completo, pois duas mulheres entraram no banheiro e, com uma única frase, percebi que estavam falando a meu respeito.

— É claro que ele não está mais com aquela mulher sem graça — disse uma delas. — Ainda não entendo como o Edward passou tanto tempo com ela.

— Você viu que ela já estava de mãos dadas com Andrew Smith? — comentou a outra mulher, demonstrando surpresa. — Ele também não é de se jogar fora!

Não consegui ficar imóvel, apenas ouvindo passivamente enquanto as duas mulheres proferiam comentários tão maldosos sobre mim. Abri a porta do reservado de forma abrupta, chamando a atenção das duas mulheres, que não tiveram nem mesmo a decência de parecerem envergonhadas por eu estar ouvindo o que falavam de mim.

Mas apesar de estar muito chateada, eu não tive coragem de as confrontar, e caminhei calmamente até a pia de mármore elegante e lavei as mãos, enquanto elas me observavam com suas expressões de cinismo velado.

Saí do banheiro me sentindo ao mesmo tempo atordoada e envergonhada, pois aquilo que falavam conseguiu atingir um ponto sensível em mim.

— Oh, desculpe! 

Acabei por tombar em alguém no corredor, o que só me deixou ainda mais atordoada.

— Beatrice!? 

Era o Edward! O que mais temia havia se concretizado. Encontrei meu ex-marido naquela festa, e agora estávamos frente a frente, algo que fervorosamente desejava evitar.

— Não imaginei que estaria aqui — ele disse.

Não cogitei responder ao seu comentário; só desejava sair dali o mais rápido possível. No entanto, Edward me impediu de agir conforme meu desejo, segurando firmemente meu pulso.

— Solte meu braço, por favor — pedi, tentando controlar o tremor em minha voz.

Edward atendeu ao meu pedido, e naquele momento, Andrew se aproximou de nós, alheio à tensão presente.

— Estava à sua procura, Beatrice.

Andrew trazia em seu rosto um sorriso simpático, seu tom era delicado, mas logo percebeu quem estava ao meu lado e encarou Edward diretamente.

— Oh! — Andrew demonstrou surpresa com a cena diante de si, mas logo se recuperou do choque e estendeu a mão para Edward em cumprimento.

— Andrew Smith.

— Edward Maddock.

Apesar de terem trocado um aperto de mãos como um cumprimento formal, seus olhares se encontraram como rivais em um ringue. Logo, uma loira de cabelos longos e lisos, com olhos verdes, se aproximou de Edward e encaixou o braço no dele, observando-o com curiosidade, mas sem proferir uma única palavra.

— Vejo que não perdeu tempo — Edward comentou com um tom ácido, alternando o olhar entre mim e Andrew. — Devo dizer que está de parabéns.

— Você também está muito bem acompanhado — repliquei no mesmo tom.

A mulher que acompanhava meu ex-marido não era outra senão a famosa modelo francesa Mila Durant, que, por uma coincidência do destino, eu havia entrevistado no dia anterior.

— Peço desculpas, não a apresentei. Esta é Mi...

— Não há necessidade de apresentações, afinal, estivemos juntas ontem à tarde, quando entrevistei sua acompanhante para um artigo no jornal onde trabalho atualmente.

Mila Durant apenas sorriu em concordância, sem fazer questão de disfarçar seu desagrado enquanto lançava um olhar indiscreto para Edward.

— Sua ex-mulher, querido? — ela perguntou a Edward de forma direta.

Andrew interrompeu a resposta do meu ex-marido ao se aproximar de mim e segurar minha mão mais uma vez.

— Podemos ir, Beatrice?

— Claro! — respondi prontamente.

Com um grande alívio, nos afastamos do casal, mas senti o olhar penetrante de Edward nas minhas costas, e estava certa de que ele, assim como a modelo francesa, estava seguindo meus passos, sem precisar me virar para confirmar.

"Edward sempre gostou das francesas", pensei com desolação, lembrando da namorada que ele precisou deixar para trás ao aceitar se casar comigo e de como ele nunca se abriu para a possibilidade de ser feliz em nosso casamento, ainda preso ao passado.

No final das contas, enquanto eu me preocupava com como ele estava vivendo desde a separação, ele aparentemente estava muito bem, aproveitando sua vida de homem solteiro, rico e livre, se divertindo com mulheres que realmente desejava. Uma sensação de aperto no peito trouxe lágrimas aos meus olhos, mas lutei para mantê-las sob controle.

Andrew, agindo mais uma vez como o cavalheiro que era, caminhou ao meu lado em direção a uma das varandas, afastando-se das outras pessoas e tentando consolar o pranto que agora descia sem controle.

— Eu sabia que não deveria ter vindo — lamentei. — Já imaginava que Edward poderia estar aqui hoje, e não seria fácil para mim vê-lo agora, quando meus sentimentos ainda estão tão confusos na minha cabeça.

— A culpa foi minha — Andrew confessou, encostado na grade de proteção da varanda, enquanto ambos admirávamos a noite. — Tentei me antecipar a essa situação e fui informado de que Maddock estava fora do país.

Sua confissão me surpreendeu totalmente, mas também me comoveu com seu carinho e preocupação em me preservar da situação que acabou por acontecer de qualquer maneira.

— Gostaria de ir embora — pedi, evitando encará-lo. — Estou cansada. Foi uma noite longa.

Andrew concordou prontamente. 

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