Beatrice
A sugestão de passar um tempo com alguém em quem confiava soava como um bálsamo, e aceitei a ideia do meu primo sem hesitar. Duas horas depois, estávamos rindo e compartilhando histórias engraçadas sobre as desventuras amorosas de Sebastian. Sua presença me ajudou a afastar temporariamente as preocupações e dilemas que estavam me consumindo, como se eu pudesse ser eu mesma novamente.
Em meio às risadas, Sebastian mencionou o beijo que me roubou uma vez, o que me fez rir de novo, mesmo que embaraçada. O episódio veio à tona na conversa.
— Foi péssimo! — admiti, lembrando do beijo que aconteceu e terminou no mesmo instante.
— Nossa, você realmente destruiu minha autoestima, prima — brincou Sebastian, com um sorriso.
— Você precisa concordar que foi um beijo terrível, Seb.
— Sem dúvida — ele concordou, rindo. — Mas você estava triste porque Edward não apareceu no seu aniversário, e eu só estava tentando te animar. Afinal, nós rimos bastante com aquilo.
Sebastian estava se referindo à minha festa de dezoito anos. Naquela época, eu estava certa de que Edward também tinha sentimentos por mim, assim como eu por ele. Eu imaginava que a diferença de idade entre nós não seria mais um obstáculo quando eu completasse dezoito anos, e que ele finalmente se declararia. Ele tinha até me ligado naquela manhã, prometendo estar lá para a festa. Porém, à medida que a noite avançava e Edward não aparecia, minha alegria foi se transformando em decepção.
No jardim, sozinha e com lágrimas nos olhos, Sebastian veio me consolar, tentando me animar da maneira que podia. E, mesmo que de forma inusitada, ele pensou que um beijo seria a solução. Naquele momento, percebemos que éramos apenas amigos, e rimos da situação. Erámos amigos e nada além disso. Constatamos naquele dia que não havia chance alguma de algo mais entre nós.
— O importante é que eu te fiz sorrir.
— Sim, você tem toda a razão, Seb — Concordei.
Era um alívio ter alguém com quem eu pudesse ser eu mesma, sem julgamentos.
Depois de algumas horas, decidimos ir embora. Sebastian se ofereceu para me levar de volta para casa, e eu aceitei grata. No entanto, ao descer do carro em frente a casa, encontrei com Edward, que também estava chegando naquele momento. Um frio cortante pareceu preencher o ar. Edward nos observava com uma expressão que eu não conseguia decifrar.
Sebastian e Edward se cumprimentaram de maneira educada, mas fria.
Quando Sebastian se despediu e partiu, eu encarei Edward, sentindo a tensão entre nós. Entramos juntos no hall, mas ele não disse nada sobre a noite, apenas trocou um cumprimento formal antes de se retirar para outro cômodo da casa. Aquilo me deixou confusa e preocupada. Eu me questionava sobre o que ele teria visto ou pensado ao nos ver juntos.
Eu sentia a necessidade de conversar com Edward, de entender seus sentimentos e fazer algo para salvar nosso relacionamento. Desci as escadas apressadamente. No entanto, ao me deparar com Charles, me senti envergonhada pela pressa.
Para quebrar a tensão, o questionei sobre Edward e ele me informou que o meu marido estava na biblioteca, algo que eu já imaginava. Caminhei até lá, agora com mais calma.
A porta da biblioteca estava entreaberta, permitindo-me ver a silhueta de Edward sentado em sua escrivaninha, concentrado em algum documento. Bati suavemente na porta e ele olhou para cima, surpreso.
— Posso entrar? — perguntei, minha voz soando estranha até para mim.
Ele assentiu, e eu entrei no amplo cômodo. Um breve momento de desconforto pairou no ar, um silêncio carregado de tensão. Finalmente, reuni coragem e disse:
— Conheci sua prima Evelyn hoje.
Edward pareceu irritado.
— No bar onde esteve com seu primo?
— Não. Abigail a trouxe á nossa casa para tomar chá.
Embora minha intenção inicial fosse abordar o assunto da modelo francesa, ao perceber a expressão de descontentamento no rosto de Edward, hesitei. Ele não parecia aberto a conversas naquela noite. Respirei fundo, sabendo que a conversa precisava acontecer, mesmo que fosse difícil.
— Ela mencionou o relacionamento que você teve com Louise Orleans em Paris.
Edward fechou os olhos por um momento, claramente perturbado pela abordagem direta do assunto.
— Isso foi antes de nós nos casarmos, Beatrice.
Apesar do evidente aborrecimento de Edward com o assunto, eu estava determinada a obter respostas claras.
— E o que Louise significou para você? Foi um relacionamento sério?
Edward suspirou, sua expressão agora mostrando grande aborrecimento.
— Beatrice, por que você está trazendo isso à tona agora? Isso não tem importância para nós.
Eu decidi ir em frente com o assunto; quero entender, precisava disso para seguir em frente.
— Eu só quero saber a verdade, Edward. Foi um relacionamento sério? Você ainda sente algo por ela?
Edward se levantou abruptamente, passando a mão pelos cabelos em uma expressão de frustração.
— Isso é ridículo, Beatrice. Louise é coisa do passado. Nós estamos casados agora, e isso deveria ser tudo o que importa.
Eu me aproximou dele, meus olhos refletindo toda a minha determinação.
— Edward, eu preciso entender isso. Por favor.
Ele olhou para ela, parecendo resignado, e então finalmente cedeu.
— Está bem, Beatrice. Louise e eu tivemos um relacionamento. Foi sério na época, mas acabou antes mesmo de eu assinar o nosso contrato de casamento. Não há mais nada entre nós, eu te asseguro.
— Entendo — Não encontrei nada melhor para dizer.
— Agora eu preciso voltar ao trabalho. Daqui a alguns minutos tenho uma videoconferência muito importante.
Em outras palavras, ele estava pedindo para que eu o deixasse em paz. Eu atendi ao seu pedido e saí da biblioteca com as mesmas dúvidas de quando entrei naquele lugar.
À medida que me acomodava na cama, a ausência de Edward ao meu lado era evidente. Era como se um abismo tivesse se formado entre nós, e eu não tinha ideia de como preenchê-lo ou se isso era mesmo possível. Edward não se juntou a mim naquela noite. A partir daquele dia, nem mesmo o quarto nós compatilhamos mais.
BeatriceContemplei o guarda-roupa abarrotado de roupas luxuosas, todas provenientes das marcas mais renomadas, apenas o ápice do que o dinheiro poderia adquirir, porém nada daquilo seria viável levar comigo. Arrumei na mala somente os itens que havia trazido para aquela residência há um ano.Diferente daquele dia, quando cheguei com o coração cheio de amor e esperança, agora tudo o que restava em meu peito era amargura e dor; estava prestes a me afastar daquela casa, que jamais foi realmente meu lar.Após mais de um ano de um casamento frustrante, no qual jamais experimentei verdadeiramente o que era ser amada por meu marido, tomei a difícil decisão de encerrar aquele relacionamento fadado ao fracasso, onde apenas uma pessoa batalhava pela felicidade do casal, e essa pessoa era eu.A partir deste momento, Edward não faria mais parte de minha vida, assim como eu não faria parte da dele, e cada um seguiria seu próprio caminho. Com essa perspectiva, dispensei todos os empregados da mans
EdwardApós a saída de Beatrice da mansão, eu caminho até o bar disposto quase no centro da minha sala de estar e despejo uma dose do meu whisky mais caro em um copo, tomando todo o conteúdo de um único e ardente gole.Consegui manter uma expressão de neutralidade, mas por dentro, o único sentimento que prevalece em mim é o mais puro e genuíno alívio.Uma coisa é certa, eu não fiquei nem um pouco triste com a decisão da Beatrice de partir. O nosso casamento foi apenas um contrato de negócios, algo que fiz exclusivamente em consideração ao antigo amigo de meu pai.Em um tempo passado eu já nutri uma forte paixão por Beatrice, mas tudo mudou quando eu a encontrei beijando o seu primo Sebastian. Naquela noite, eu percebi que o sentimento entre eles não era apenas de amizade ou um amor de primos. Eles sentiam algo mais um pelo outro e a maior prova desse fato foi o beijo que os vi trocar no jardim da casa de Beatrice.Eu havia falado com Beatrice naquele dia, a parabenizei por seu anivers
BeatriceDe maneira surpreendente, consegui rapidamente encontrar uma oportunidade excelente de trabalho. Eu tinha enviado vários currículos e entrado em contato com amigos com os quais estudei durante a universidade, então, quando recebi uma ligação me convidando para uma entrevista em um jornal de alcance em toda a Grã-Bretanha, eu fiquei muito feliz por ter meu esforço recompensado de maneira tão rápida. Ficar em casa não era uma opção, principalmente quando os meus amigos estavam juntos. Janet e Charles, o seu marido, estavam juntos, eu me sentia afetada pelo amor demonstrado entre eles. É difícil entender o motivo do meu próprio casamento ter saido tão errado. Então, quando fui selecionada para o cargo no Diário de Notícias, eu vibrei, não apenas pelo trabalho, mas também pela ótima proposta que recebi.Apenas cinco dias após pedir o divórcio, eu estava iniciando o trabalho no Diário de Notícias. Eu trabalhava na coluna de fofocas do jornal, na sessão de entretenimento, algo que
Andrew Desde o momento em que Beatrice ingressou no jornal de propriedade de meu pai, do qual sou o único herdeiro, sua dificuldade em acompanhar o ritmo frenético das notícias da alta sociedade e a abordagem usada para atrair leitores dessa coluna era evidente. No entanto, a cada dia, ela se adaptava melhor, florescendo em todas as direções, superando até mesmo as minhas expectativas. Sua habilidade em fazer perguntas, de maneira não invasiva, cativava aqueles que estava entrevistando.Mas, desde o primeiro momento em que pus os olhos em Beatrice, fui encantado por sua timidez, que a fazia ficar ruborizada quando ofereci minha ajuda, caso ela se sentisse perdida em seu novo trabalho no jornal. Seus olhos cinzentos desviavam dos meus, enquanto eu tentava admirar sua beleza estonteante, completamente hipnotizado pela mais nova integrante da equipe.Com o tempo, percebi o quão naturalmente tímida e reservada ela era. Deduzi que havia sido criada de maneira tradicional. À medida que nos
BeatriceAgora que me encontrava no salão de festas, uma forte suspeita pairava sobre mim: os olhares direcionados na minha direção pareciam cheios de especulações, centrando-se principalmente na minha companhia, Andrew. O arrependimento começou a se insinuar, gerando desconforto crescente.Ponderava seriamente a ideia de retroceder e partir o mais rapidamente possível. No entanto, Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio. Com um simples olhar na minha direção, ele dissipou minhas preocupações. Estava ao meu lado, e isso era o que verdadeiramente importava.Aquela mensagem transmita em nossa troca de olhares me encheu de coragem para prosseguir, encarando os olhares curiosos ao nosso redor. Caminhamos juntos, nossas mãos entrelaçadas, e Andrew cumprimentou diversas pessoas ao longo do caminho. O modo como as pessoas o tratavam deixava claro que seu respeito e a busca por sua atenção não eram simplesmente decorrentes de sua riqueza e herança, mas também de sua gentileza e c
BeatriceQuando chegamos em frente à casa dos meus amigos, Andrew deu a volta no carro e abriu a porta para mim, demonstrando mais uma vez sua gentileza. Não conseguia ficar com raiva dele, afinal, ele havia me levado à festa com as melhores intenções.— Obrigada por tudo, Andrew — agradeci, já do lado de fora do carro.Ele limpou a garganta, indicando que desejava dizer algo, mas estava claramente envergonhado. Aguardei em expectativa.— Eu... hum-hum! — Andrew começou, tentando encontrar as palavras. — Você está linda, Beatrice.Fiquei surpresa ao perceber o que ele queria dizer.— Oh! &mda
EdwardSenti o maxilar rigido pela frustração ao olhar pela janela do meu escritório e lembrar da noite do baile de gala. As lembranças da noite de sábado ainda estavam muito frescas em minha memória. Naquela noite, eu estava acompanhado de Mila Durant, uma bela modelo francesa que havia conhecido recentemente. Estávamos envoltos em um clima de luxo e sofisticação, cercados por uma multidão de rostos conhecidos da alta sociedade. Mas, entre todos aqueles semblantes familiares, havia um que eu não esperava ver: o de Beatrice.Revivi mais uma vez todos os sentimentos que me invadiram ao avistar Beatrice no baile. O meu coração chegou a dar um salto desagradável. A última vez que a tinha visto antes disso, havia sido quando o nosso casamento estava desmoronando, e pensar que na festa ela estava radiante, elegantemente vestida e simplesmente deslumbrante. Ela estava na companhia do filho de Joel Smith, o influente dono do jornal em que minha ex-esposa agora trabalha.Senti um desconforto
BeatriceNo dia seguinte, já próximo do final do expediente, Andrew me mandou uma mensagem avisando que precisaria se ausentar de Londres para resolver alguns negócios importantes e teve que desmarcar nosso encontro.— Não posso acreditar que ele vai desmarcar o nosso compromisso assim de última hora! — murmurei para mim mesma, a indignação me fazendo suspirar contrariada.Parecia que Andrew e Edward eram semelhantes, priorizando seus negócios importantes e resumindo, eu não sou prioridade na vida do meu novo pretendente.Estava perdida nesses pensamentos quando saia do jornal e demorei a reconhecer o homem parado ao lado do carro luxuoso na mesma rua em que eu caminhava agora. — Edward! — digo.— Como está, Beatrice? — ele pergunta de maneira extremamente cínica, um sorriso no canto da boca. — Espero que esteja bem.— O que faz aqui? — Eu não respondo a sua pergunta, pois me sinto perdida. O que o Edward estava fazendo ali? Ele também não responde aos meus questionamentos e se ap