Beatrice
Depois de um mês de casamento, a situação com Edward não mudou. Ele continua agindo de forma educada, mas parece manter uma distância invisível entre nós. Dividimos o mesmo quarto e cama, mas ele nunca tentou se aproximar. Em vez disso, ele sempre se tranca na biblioteca até tarde da noite, sempre alegando trabalho. Parece que ele está me evitando.
Isso me deixa triste, mas não consigo falar sobre isso com minha família ou amigos. A minha mãe foi contra o nosso casamento desde o ínicio, pois não concordava com a ideia do contrato, e admitir que está sendo uma decepção seria uma confirmação do que ela tentou me alertar.
Além disso, meu pai está doente, então já há preocupações suficientes em casa. Não quero adicionar mais problemas. Então, sorrio e finjo que está tudo bem, quando na verdade estou me sentindo muito sozinha.
Abigail, a irmã de Edward e minha amiga de verdade, me ligou naquela tarde. Ela estava de passagem por Londres e viria me visitar. Fiquei tão feliz com a a novidade. Ela sempre foi uma querida amiga e aquilo não mudou na vida adulta.
— Beatrice, querida, como você está? — Abigail me abraçou apertado quando entrou pela porta.
— Estou muito feliz com a sua visita — falei, tentando controlar a emoção.
Abigail não estava sozinha. Ela trouxe alguém junto.
— Beatrice, essa é a minha prima Evelyn. Ela estava curiosa para te conhecer.
Cumprimentei Evelyn com um sorriso, mas algo nela me deixou desconfortável.
— Prazer em te conhecer, Evelyn.
Evelyn sorriu, mas seus olhos estavam examinando cada detalhe do lugar, como se procurasse algo.
Enquanto conversávamos, Evelyn começou a falar sobre Edward de forma meio estranha.
— Você sabe algo sobre o período em que Edward morou em Paris? Parece que ele teve algo importante acontecendo lá.
Olhei para Abigail, confusa, antes de voltar para Evelyn.
— Não, ele nunca mencionou nada disso.
Evelyn parecia satisfeita com a minha resposta, como se tivesse conseguido o que queria.
— Bem, Edward teve um romance com uma modelo francesa chamada Louise Orleans. Ele estava realmente envolvido, mas teve que terminar por causa de alguns problemas.
Fiquei chocada com o que ouvi. A minha cabeça ficou cheia de perguntas, mas antes que eu pudesse entender tudo, Evelyn continuou.
— Edward pediu para Louise esperá-lo. Segundo ela me contou, vocês casaram através de um contrato, mas por um prazo curto, são só dois anos. Ao menos foi isso que ela me contou.
Foi notável o desconforto de Abigail, sem falar na minha surpresa pela audácia de Evelyn em falar tudo aquilo de maneira tão… tranquila. Se trata da minha vida e ela estava sendo extremamente ofensiva.
— Eu acredito que isso é algo muito particular para ser discutido dessa forma, Evelyn — Abigail comentou, tentando encerrar o assunto.
Evelyn sorriu de forma um pouco forçada, como se estivesse se divertindo com alguma piada interna.
— Desculpe se fui indelicada, não era minha intenção.
Eu senti uma mistura de emoções: choque, curiosidade e, acima de tudo, raiva. Como ela podia simplesmente trazer à tona essas informações tão pessoais e de uma forma tão… grosseira?
— Não tem problema — eu respondi, forçando um sorriso educado.
Mas minha mente estava em tumulto, tentando processar o que Evelyn havia dito. A verdade me atingiu de repente. Agora, sabendo disso, a fragilidade do que tínhamos estava mais clara do que nunca.
Enquanto a conversa seguia, minha mente vagava. Edward nunca havia mencionado nada sobre um romance em Paris. Sentimentos de tristeza e indignação começaram a surgir dentro de mim. Ele havia escondido isso de propósito, e agora me perguntava o que mais ele poderia estar escondendo.
Logo Abigail estava se despedindo e levando consigo Evelyn, a causadora do meu tumulto interior. Recebi uma ligação de Abigal uma hora mais tarde.
— Beatrice, está tudo bem? — Abigail perguntou, parecendo preocupada.
Mesmo que Abigail não estivesse me vendo, eu forcei um sorriso.
— Sim, está tudo bem. Só estou um pouco cansada.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu durante o chá. Não fazia ideia de que ela iria falar sobre essas coisas.
Suspirei, sentindo a mistura de emoções dentro de mim.
— Não é culpa sua, Abigail. Não sei por que ela fez isso, mas me deixou muito abalada.
— Se você precisar falar sobre isso, estou aqui para ouvir. E sobre Edward, talvez você também devesse conversar com ele.
Balancei a cabeça, pensando nas palavras de Abigail. Ela estava certa. Era hora de esclarecer as coisas com Edward, de descobrir o que ele estava escondendo e de decidir o que fazer com as informações que haviam sido reveladas. Porém, eu não tive coragem para tanto.
Optei por procurar na internet. Não foi difícil encontrar matérias falando sobre o relacionamento do magnata inglês Edward Maddox com a modelo francesa Louise Orleans. Foi doloroso ver tantas fotos deles juntos, exalando amor e romance. Evelyn pode ter sido cruel, mas ela não estava mentindo. Até a mídia francesa noticiou o fim do relacionamento deles e o subsequente casamento de Edward com uma jovem inglesa, filha de um importante sócio.
Sorri sem humor. Todas essas informações estavam ao alcance de qualquer pessoa. Eu apenas nunca havia procurado.
Minhas emoções estavam em frangalhos. Raiva, tristeza e um sentimento de traição se misturavam dentro de mim. Eu não sabia como encarar Edward depois de descobrir tudo isso. Perguntas inundavam minha mente. Será que ele estava apenas cumprindo um acordo? E Louise... O que ela representava para ele? Será que ele ainda pensava nela?
Uma ligação surpresa interrompeu meus pensamentos tristes. Um sorriso genuíno iluminou meu rosto ao reconhecer a voz de Sebastian, meu querido primo e amigo.
— Como está a recém-casada de Londres? — ele perguntou com um toque de humor.
— Confesso que um pouco entediada — respondi, permitindo-me um lampejo de sinceridade.
Sebastian e eu sempre compartilhamos uma intimidade especial, e sua voz trouxe um conforto instantâneo para a agitação dentro de mim.
— Imagino — disse ele, rindo. — Pelo que vejo, Edward está totalmente focado em levantar os negócios da família de novo. Aposto que as férias de verão na universidade não têm sido exatamente empolgantes para você.
— Meu marido só está tentando manter a empresa da família em alta, mesmo que não pareça — defendi Edward, mesmo com minhas próprias inquietações.
— Que tal irmos ao nosso pub favorito? Uma bebida sempre ajuda a animar o espírito.
BeatriceA sugestão de passar um tempo com alguém em quem confiava soava como um bálsamo, e aceitei a ideia do meu primo sem hesitar. Duas horas depois, estávamos rindo e compartilhando histórias engraçadas sobre as desventuras amorosas de Sebastian. Sua presença me ajudou a afastar temporariamente as preocupações e dilemas que estavam me consumindo, como se eu pudesse ser eu mesma novamente.Em meio às risadas, Sebastian mencionou o beijo que me roubou uma vez, o que me fez rir de novo, mesmo que embaraçada. O episódio veio à tona na conversa.— Foi péssimo! — admiti, lembrando do beijo que aconteceu e terminou no mesmo instante.— Nossa, você realmente destruiu minha autoestima, prima — brincou Sebastian, com um sorriso.— Você precisa concordar que foi um beijo terrível, Seb.— Sem dúvida — ele concordou, rindo. — Mas você estava triste porque Edward não apareceu no seu aniversário, e eu só estava tentando te animar. Afinal, nós rimos bastante com aquilo.Sebastian estava se referi
BeatriceContemplei o guarda-roupa abarrotado de roupas luxuosas, todas provenientes das marcas mais renomadas, apenas o ápice do que o dinheiro poderia adquirir, porém nada daquilo seria viável levar comigo. Arrumei na mala somente os itens que havia trazido para aquela residência há um ano.Diferente daquele dia, quando cheguei com o coração cheio de amor e esperança, agora tudo o que restava em meu peito era amargura e dor; estava prestes a me afastar daquela casa, que jamais foi realmente meu lar.Após mais de um ano de um casamento frustrante, no qual jamais experimentei verdadeiramente o que era ser amada por meu marido, tomei a difícil decisão de encerrar aquele relacionamento fadado ao fracasso, onde apenas uma pessoa batalhava pela felicidade do casal, e essa pessoa era eu.A partir deste momento, Edward não faria mais parte de minha vida, assim como eu não faria parte da dele, e cada um seguiria seu próprio caminho. Com essa perspectiva, dispensei todos os empregados da mans
EdwardApós a saída de Beatrice da mansão, eu caminho até o bar disposto quase no centro da minha sala de estar e despejo uma dose do meu whisky mais caro em um copo, tomando todo o conteúdo de um único e ardente gole.Consegui manter uma expressão de neutralidade, mas por dentro, o único sentimento que prevalece em mim é o mais puro e genuíno alívio.Uma coisa é certa, eu não fiquei nem um pouco triste com a decisão da Beatrice de partir. O nosso casamento foi apenas um contrato de negócios, algo que fiz exclusivamente em consideração ao antigo amigo de meu pai.Em um tempo passado eu já nutri uma forte paixão por Beatrice, mas tudo mudou quando eu a encontrei beijando o seu primo Sebastian. Naquela noite, eu percebi que o sentimento entre eles não era apenas de amizade ou um amor de primos. Eles sentiam algo mais um pelo outro e a maior prova desse fato foi o beijo que os vi trocar no jardim da casa de Beatrice.Eu havia falado com Beatrice naquele dia, a parabenizei por seu anivers
BeatriceDe maneira surpreendente, consegui rapidamente encontrar uma oportunidade excelente de trabalho. Eu tinha enviado vários currículos e entrado em contato com amigos com os quais estudei durante a universidade, então, quando recebi uma ligação me convidando para uma entrevista em um jornal de alcance em toda a Grã-Bretanha, eu fiquei muito feliz por ter meu esforço recompensado de maneira tão rápida. Ficar em casa não era uma opção, principalmente quando os meus amigos estavam juntos. Janet e Charles, o seu marido, estavam juntos, eu me sentia afetada pelo amor demonstrado entre eles. É difícil entender o motivo do meu próprio casamento ter saido tão errado. Então, quando fui selecionada para o cargo no Diário de Notícias, eu vibrei, não apenas pelo trabalho, mas também pela ótima proposta que recebi.Apenas cinco dias após pedir o divórcio, eu estava iniciando o trabalho no Diário de Notícias. Eu trabalhava na coluna de fofocas do jornal, na sessão de entretenimento, algo que
Andrew Desde o momento em que Beatrice ingressou no jornal de propriedade de meu pai, do qual sou o único herdeiro, sua dificuldade em acompanhar o ritmo frenético das notícias da alta sociedade e a abordagem usada para atrair leitores dessa coluna era evidente. No entanto, a cada dia, ela se adaptava melhor, florescendo em todas as direções, superando até mesmo as minhas expectativas. Sua habilidade em fazer perguntas, de maneira não invasiva, cativava aqueles que estava entrevistando.Mas, desde o primeiro momento em que pus os olhos em Beatrice, fui encantado por sua timidez, que a fazia ficar ruborizada quando ofereci minha ajuda, caso ela se sentisse perdida em seu novo trabalho no jornal. Seus olhos cinzentos desviavam dos meus, enquanto eu tentava admirar sua beleza estonteante, completamente hipnotizado pela mais nova integrante da equipe.Com o tempo, percebi o quão naturalmente tímida e reservada ela era. Deduzi que havia sido criada de maneira tradicional. À medida que nos
BeatriceAgora que me encontrava no salão de festas, uma forte suspeita pairava sobre mim: os olhares direcionados na minha direção pareciam cheios de especulações, centrando-se principalmente na minha companhia, Andrew. O arrependimento começou a se insinuar, gerando desconforto crescente.Ponderava seriamente a ideia de retroceder e partir o mais rapidamente possível. No entanto, Andrew teve a sensibilidade de perceber o meu receio. Com um simples olhar na minha direção, ele dissipou minhas preocupações. Estava ao meu lado, e isso era o que verdadeiramente importava.Aquela mensagem transmita em nossa troca de olhares me encheu de coragem para prosseguir, encarando os olhares curiosos ao nosso redor. Caminhamos juntos, nossas mãos entrelaçadas, e Andrew cumprimentou diversas pessoas ao longo do caminho. O modo como as pessoas o tratavam deixava claro que seu respeito e a busca por sua atenção não eram simplesmente decorrentes de sua riqueza e herança, mas também de sua gentileza e c
BeatriceQuando chegamos em frente à casa dos meus amigos, Andrew deu a volta no carro e abriu a porta para mim, demonstrando mais uma vez sua gentileza. Não conseguia ficar com raiva dele, afinal, ele havia me levado à festa com as melhores intenções.— Obrigada por tudo, Andrew — agradeci, já do lado de fora do carro.Ele limpou a garganta, indicando que desejava dizer algo, mas estava claramente envergonhado. Aguardei em expectativa.— Eu... hum-hum! — Andrew começou, tentando encontrar as palavras. — Você está linda, Beatrice.Fiquei surpresa ao perceber o que ele queria dizer.— Oh! &mda
EdwardSenti o maxilar rigido pela frustração ao olhar pela janela do meu escritório e lembrar da noite do baile de gala. As lembranças da noite de sábado ainda estavam muito frescas em minha memória. Naquela noite, eu estava acompanhado de Mila Durant, uma bela modelo francesa que havia conhecido recentemente. Estávamos envoltos em um clima de luxo e sofisticação, cercados por uma multidão de rostos conhecidos da alta sociedade. Mas, entre todos aqueles semblantes familiares, havia um que eu não esperava ver: o de Beatrice.Revivi mais uma vez todos os sentimentos que me invadiram ao avistar Beatrice no baile. O meu coração chegou a dar um salto desagradável. A última vez que a tinha visto antes disso, havia sido quando o nosso casamento estava desmoronando, e pensar que na festa ela estava radiante, elegantemente vestida e simplesmente deslumbrante. Ela estava na companhia do filho de Joel Smith, o influente dono do jornal em que minha ex-esposa agora trabalha.Senti um desconforto