Parte 6...
Em outra parte da cidade...
Vlad
A chuva batia incessante contra as janelas do meu escritório, cada gota amplificando o silêncio pesado que pairava na sala.
Já tinha lido alguns e-mails e recados, mas ainda tinha assuntos pendentes.
Eu estava sentado na minha poltrona de couro, observando a cidade de Chicago sob a escuridão da noite, através da janela alta ao meu lado. Gosto de fazer isso.
As luzes da cidade brilhavam como um campo de batalhas, cada uma representando uma parte do meu império. Mas esta noite, algo estava fora do lugar, e a irritação crescia em meu peito. Não gosto de pontas soltas.
Olhei ao redor da mesa, onde meus homens estavam reunidos. Nicolai, Alexei, Dimitri... Todos estavam tensos, esperando que eu falasse primeiro. Podiam sentir a tempestade se formando, não só lá fora, mas dentro de mim também.
— Leonel está morto - comecei, mantendo a voz baixa e controlada, mesmo que a raiva estivesse fervendo por dentro — Essa é a única resposta para o sumiço dele... E alguém aqui vai me explicar como diabos isso aconteceu debaixo dos nossos narizes.
Nicolai foi o primeiro a se pronunciar, como eu esperava. Ele sempre foi rápido para tentar aliviar a tensão.
— Senhor, Leonel tinha novas informações e provas e estava prestes a nos trazer uma informação que era importante sobre “La Mano Nera”... Mas parece que eles o encontraram antes. Creio ter sido isso.
Ele limpou a garganta, desconfortável sob meu olhar penetrante. Eu não disse nada, apenas continuei a encará-lo, esperando que ele terminasse. Eu sabia que havia mais.
— Realmente... Ele estava sumido há três dias... Mas já sabemos o que aconteceu - ele fechou a cara, apertando os punhos — Recebemos a dica e quando chegamos ao beco, ele já estava morto. Não tivemos chance de interferir.
As palavras dele caíram no silêncio como uma lâmina cortante. Apertei os punhos, sentindo o couro da poltrona ranger sob a pressão.
A morte de Leonel era um golpe duro, não só porque ele era um dos meus melhores informantes, mas porque significava que estávamos cegos para o que ocorria lá fora.
“La Mano Nera” tinha uma vantagem e sabia de algo que nós não sabíamos, e isso nos deixava vulneráveis.
Alexei, sempre o pragmático, tentou intervir para amenizar.
— Talvez nós possamos rastrear os movimentos deles em Las Vegas, descobrir o que...
— Não! - eu cortei sua fala, minha voz fria e afiada — Nós não estamos aqui para jogar de igual para igual. Não é dessa forma que as coisas acontecem por aqui... Eles mataram um dos nossos dentro do nosso próprio território. Isso não fica sem resposta.
Levantei-me da poltrona, sentindo a tensão na sala aumentar com cada passo que dei em direção à janela.
A cidade parecia menor vista de cima, mas eu sabia que uma tempestade estava se formando nos becos e ruas abaixo.
— Há rumores... - Dimitri finalmente falou, sua voz carregada de preocupação — De que “La Mano Nera” está se aliando a uma facção estrangeira. Se isso for verdade, podemos esperar um ataque direto aos nossos negócios aqui em Chicago, senhor!
Virei-me para encarar meus homens.
— Nós precisamos descobrir o que Leonel sabia. Se foram rápidos para se livrarem dele, aí tem coisa. Rastreem quem o matou, tragam essa pessoa até mim... Quero a pessoa viva ou morta. Quero respostas! - bati a mão na mesa.
Eles assentiram e começaram a sair, prontos para executar minhas ordens. Voltei para a janela, observando a chuva que caía sobre a cidade que eu controlava.
Mas a cada gota que caía, sentia que o tempo estava se esgotando. Eu tinha um plano para expandir meus braços sobre mais duas localizações que seriam de grande valia para nossa família. E Leonel deve ter descoberto algo que seria uma virada para nós.
“La Mano Nera” havia cometido um erro ao subestimar nossa família. A “Ordem da Noite” já comanda Chicago há muito tempo e agora vamos para outros caminhos. Eles não sabiam com quem estavam lidando.
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Elena
Minha esperança de passarmos despercebidas foi literalmente por água abaixo. Corremos para atravessar a rua e então, de repente, os faróis de uma van escura cortaram a escuridão à nossa frente, cegando-nos por um instante.
Eu instintivamente puxei Vicky para o lado, tentando nos afastar da estrada, mas era tarde demais.
A van parou bruscamente ao nosso lado, e antes que pudéssemos reagir, as portas se abriram com um estrondo, e alguns homens saíram de dentro, movendo-se com uma rapidez assustadora. Acho que eram uns cinco ou seis.
— Corre, Vicky! - gritei, tentando empurrá-la para longe — Corre!
Mas não havia para onde correr. Os homens eram rápidos, e em um piscar de olhos, estavam sobre nós.
Mãos fortes me agarraram, puxando-me para trás com uma força brutal. Senti meu corpo ser arremessado contra a lateral da van, o impacto me tirando o ar. Agarraram meu cabelo e eu gritei de dor.
Vicky gritou ao meu lado, lutando desesperadamente contra os homens que a seguravam, mas era inútil. Eles eram muito mais fortes.
— Me solta! - me desesperei, tentando me desvencilhar, mas um dos homens me deu um soco na barriga, fazendo-me dobrar de dor.
O ar escapou dos meus pulmões, e a dor irradiou por todo o meu corpo, deixando-me tonta.
— Fica quieta, sua vadia! - rosnou um deles, sua voz carregada de ódio.
Ele puxou meu cabelo com força, me arrastando para dentro da van. Senti minhas pernas baterem no metal frio, e logo fui jogada para dentro, caindo de lado, o corpo tremendo de dor e medo.
Vicky foi jogada ao meu lado, chorando e ofegante. Ela tentou alcançar minha mão, mas um dos homens a chutou para longe, prendendo-a contra a parede da van.
As portas foram fechadas com um estrondo, e em poucos segundos, estávamos em movimento, a van acelerando pelas ruas vazias.
Minha garganta doía porque apertaram muito meu pescoço para eu não gritar.
O interior da van era escuro e sufocante, o ar pesado com o cheiro de gasolina e fumaça. Um dos homens acendeu um cigarro, o brilho laranja iluminando seu rosto por um momento.
Aí eu o vi direito. Era o mesmo homem que eu tinha visto no beco, o assassino. Meu coração congelou ao reconhecer seus olhos frios e cruéis.
— Vocês acham que podem fugir, huh? - ele disse, soltando a fumaça em nossa direção. — Vocês viram o que não deviam, e agora vão pagar por isso.
Vicky começou a soluçar, tentando desesperadamente segurar minhas mãos.
— Por favor, nós não vimos nada! - ela choramingou, o desespero na voz dela partindo meu coração. — Nós só queremos ir embora... Nós não contamos a ninguém...
— Cala a boca! - o homem gritou, dando-lhe um tapa que ecoou na van, o som seco me fazendo tremer. — Vocês acham que são espertas, mas não são. Agora vão ficar quietinhas e fazer o que mandarmos, ou vão se arrepender.
Meu corpo estava paralisado pelo medo, o pavor que senti na noite anterior multiplicado por mil. Esses homens não eram apenas criminosos comuns, eles eram monstros, capazes de qualquer coisa. E nós estávamos nas mãos deles.
A van continuou sua jornada por ruas que não reconhecíamos, até que finalmente parou em frente a um armazém abandonado, suas paredes cobertas de grafites e janelas quebradas.
Os homens nos puxaram para fora com brutalidade, arrastando-nos para dentro do prédio frio e escuro.
O armazém era vasto e vazio, com apenas algumas caixas velhas espalhadas pelos cantos. O som de nossos passos ecoava nas paredes, e o frio era cortante, porque o chão estava muito molhado.
Eles nos jogaram no chão de concreto, onde caímos de joelhos, exaustas e aterrorizadas. Só pensei em Deus. Só ele para nos ajudar.
— O chefe vai decidir o que fazer com vocês - um dos homens disse, seu tom quase desinteressado, como se nossa vida não valesse nada.
Fiquei lá, sentada ao lado de Vicky, o corpo dolorido e a mente confusa. Minha cabeça girava com perguntas sem respostas. Quem eram esses homens? Por que estavam fazendo isso? E o que fariam conosco?
O medo crescia dentro de mim a cada segundo, mas eu sabia que precisava ser forte. Não por mim, mas por Vicky.
Ela estava aterrorizada, soluçando ao meu lado, e eu sabia que se eu desmoronasse, ela também caía junto comigo.
O tempo parecia se arrastar enquanto esperávamos, cada minuto parecendo uma eternidade. Até que, finalmente, a porta do armazém se abriu novamente, e um homem entrou.
Ele era alto e forte, com um olhar duro e uma presença que exalava poder. Eu sabia, sem sombra de dúvida, que esse era o chefe. E ele estava aqui para decidir nosso destino.
Ele caminhou lentamente até nós, seu olhar nos analisando de cima a baixo. Meu coração batia tão forte que eu achava que ele poderia ouvir.
Quando ele parou em frente a mim, seu olhar frio encontrou o meu e eu vi algo que me deixou gelada até os ossos. A sombra de um sorriso cruel.
— Então são vocês as duas que acharam que poderiam escapar da nossa atenção - ele disse, sua voz baixa e perigosa. — Acho que vamos nos divertir muito juntos...
Meu coração parou por um segundo. Eu não sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas sabia que não era bom.
Parte 7...Elena As palavras dele caíram como um golpe pesado em cima de mim. O que ele queria dizer com isso?— Levem essas duas. Serão vendidas amanhã, mas separem-nas primeiro - o chefe do grupo disse com uma voz fria e desprovida de compaixão — Achem um lugar para cada uma e não as deixem falar com ninguém.O mundo ao meu redor começou a girar. O pânico tomou conta de mim, e meu coração bateu tão forte que parecia que iria rasgar meu peito. Vicky, ao meu lado, começou a soluçar, a voz dela quase inaudível.— Não, por favor, não nos separem! - eu gritei, a voz embargada pelo medo — Nós não vamos contar nada a ninguém, nem sabemos o que vimos! Por favor, tenham piedade!— A gente pode pagar... Podemos trabalhar e pagar - Vicky gritou também — Não levem a gente, por favor!Os homens riram, aquele tipo de riso cínico que só pessoas sem alma são capazes de emitir. Eles não viam em nós duas, garotas desesperadas, apenas mercadoria a ser vendida.— Vocês são burras demais para manter um
Parte 8...VladO armazém que os Petrov usavam como base de operações estava logo à frente, uma construção velha e desgastada, cercada por cercas enferrujadas e pilhas de entulho. Mas algo estava errado. Antes mesmo de nos aproximarmos, o cheiro de fumaça já era forte no ar.— Chefe, parece que tem algo queimando lá dentro - disse Sergei, meu braço direito, franzindo o cenho enquanto olhava em direção ao armazém.— Merda! - murmurei. — Vamos, rápido! - disse entre entes, segurando o cabo da arma.Enquanto nos aproximávamos, o cenário ficava cada vez mais caótico. Havia gritos e o som de tiros ecoando pelo local. Um grupo rival havia invadido o território dos Petrov, e agora uma guerra entre gangues estava em andamento. Era um caos total, com homens atirando uns nos outros enquanto as chamas começavam a se espalhar pelo armazém.— Fiquem atentos e não hesitem - ordenei, puxando minha arma enquanto liderava meus homens em direção à entrada.Assim que invadimos o armazém, o calor inte
Parte 9...Vlad— Garota, se não me disser pelo menos o seu nome, posso deixá-la aqui com a polícia ou meter uma bala em sua cabeça - falei de modo seco — O que vai ser? - ela ergueu o rosto de novo — Me diga... Qual é o seu nome?— Meu nome é Elena… Eles… Me pegaram… Eu não sei por quê… - sussurrou, a voz trêmula. — Por favor… Eu só quero sair daqui… Não me deixe aqui...— Você vem comigo, então — disse friamente. — E espero que esteja falando a verdade. Porque, se não estiver, vai desejar nunca ter me conhecido.Elena olhou para mim, os lábios tremendo, mas assentiu. Ela sabia que não tinha escolha. E mesmo sem saber quem eu era, entendia que sua vida estava agora em minhas mãos.Enquanto a levávamos para um dos carros, meu telefone vibrou. Era uma mensagem de um dos meus contatos em Las Vegas. Algo grande estava para acontecer. O território estava fervendo, e uma nova jogada estava prestes a começar. É claro que sim ou não seria Las Vegas, a cidade do pecado e da loucura.— Chefe,
Parte 10...ElenaElenaAcho que não morri. Ainda não.O mundo ao meu redor era um borrão nebuloso de dor e confusão. Cada respiração era uma luta, meus pulmões queimavam como se ainda estivessem envoltos na fumaça espessa que havia engolido o armazém. A dor nos meus músculos, nas costelas, em cada articulação do meu corpo, era tão intensa que parecia que até mesmo o mais leve movimento iria me despedaçar. Tudo estava turvo, fragmentado, como se a realidade fosse um sonho ruim do qual eu não conseguia acordar.Tentei abrir os olhos, mas a luz, mesmo que fraca, me fazia recuar, fechando-os rapidamente. Meu corpo inteiro tremia com uma mistura de medo, exaustão e me sinto quente, acho que uma febre que se alastrava por mim como um fogo lento e implacável. A sensação de estar flutuando entre a consciência e a inconsciência me deixava à beira da náusea. Não conseguia discernir o que era real ou fruto da minha imaginação desesperada.— Vicky…O nome escapou de meus lábios rachados como
Parte 11...ElenaEu acordei em um estado de torpor, o meu corpo me esmagando sob um peso desconhecido. A dor que irradiava dos meus músculos parecia uma agulha quente em cada movimento. A fumaça ainda estava em meus pulmões, misturando-se com a sensação de fraqueza que se instalara em mim. A respiração era um esforço doloroso e a garganta, seca como um deserto, gritava por alívio. Eu precisava muito de água.Ao abrir os olhos, vi o teto baixo e o ambiente ao meu redor. Era um quarto pequeno, mal iluminado, com paredes de um tom cinza sujo. Eu estava deitada em uma cama de aparência gasta, coberta por um lençol que parecia ter visto dias melhores, mas depois entendi que a culpa era minha do pano estar sujo.A dor no corpo, o peso da exaustão, e o desespero de não saber onde estava me envolviam como um manto opressor. — Água... - passei a língua nos lábios e os senti rachados — Eu quero água...A sede intensa me consumia. Eu me sentei lentamente, cada movimento causando uma dor lanc
Parte 12...ElenaElenaEu estava imunda, fedendo a fumaça e suor, com o corpo coberto de arranhões e machucados que latejavam a cada movimento. A sede ainda queimava na minha garganta, mas o medo a abafava. Não fazia ideia de onde estava ou quem era aquele homem que me observava com olhos impassíveis, de pé, segurando uma maleta preta.— É essa a criatura? - mexeu nos óculos — Ela tem que sentar, pelo menos - ele entrou e fechou a porta — Pode sair e esperar lá fora. Eu vou ver o que posso fazer - ele ordenou com um sotaque pesado, sem qualquer gentileza na voz.— Sente-se logo, garota - o que me vigiava ordenou, me puxando sem o menor jeito e eu gemi de dor — O doutor vai cuidar de você. Não cause problema, ouviu?Suas mãos ásperas me levantaram, e eu mal conseguia me manter em pé. Minha cabeça girava, o mundo ao meu redor parecia desfocado e distorcido. — O que... O que você vai fazer comigo? - minha voz saiu rouca, mal reconhecível. Ele não respondeu. Em vez disso, apenas se ap
Parte 13...ElenaMas por dentro, eu estava em pânico. Minha mente voltava ao incêndio, aos gritos e aos rostos desconhecidos que se transformaram em borrões de violência e caos.— Fique parada - o médico ordenou enquanto começava a limpar a ferida na minha cabeça. O toque do algodão embebido em antisséptico ardia como fogo, mas eu me forcei a não me mover, a não gritar.— Eu não... Eu não sei onde estou - confessei, sentindo as lágrimas brotarem nos meus olhos, mas sem força para contê-las.O médico parou por um momento, suas mãos pausando. — Está segura agora - ele disse, sem olhar para mim, enquanto continuava o trabalho. Não era o tipo de resposta que me confortava, mas parecia o máximo de empatia que ele estava disposto a oferecer.— Segura? - eu ri, mas o som saiu mais como um soluço — Eu... Fui sequestrada... Minha amiga... Não sei onde ela está. Como posso estar segura?Ele não respondeu. Continuou o procedimento, colocando pontos na minha testa com uma precisão que só um pr
Parte 14...VladEu saí com Charles para falar sobre o estado da garota. Não que eu me importe realmente, mas já que a retirei daquela situação de merda, quero saber o que pode ter acontecido para que estivesse ali.A turma que invadiu o lugar não estava para brincadeira e os homens da Mano Nera não iam se arriscar a salvá-la. Tanto que a deixaram presa ainda com a merda toda da troca de tiros.Preciso tirar umas dúvidas e se ela não puder ao menos falar direito e ficar de pé, não vai me adiantar de nada.Depois posso me livrar dela em algum lugar de Las Vegas e voltar para Chicago tão logo eu consiga pegar mais informações com meus informantes aqui.— A garota soltou algo?— Não, nada. Na verdade ela está é bem confusa... Além de fedida demais - ele deu uma risadinha — Deixe que tome um banho e depois descanse um pouco. Não creio que vá ter condição de enfrentar um interrogatório agora.Eu suspirei com uma leve irritação. Não sou conhecido por ser uma pessoa paciente.— Ok... Vou ver