Parte 125...Elena— Dimitri vai cuidar de você até o aeroporto. E já avisei Anton e Vicky. - Vlad continuou, voltando ao seu tom prático. — Vicky também está muito envolvida com Anton e parece que ele quer virar o guarda - costas pessoal dela - deu uma risadinha — Quem diria!A menção de Vicky me deixou um vazio maior. Sempre estivemos juntas em tudo, e agora, pela primeira vez, estávamos indo em direções diferentes. Era estranho, mas eu sabia que estava tudo certo. Nossa amizade sobreviveria a isso. Sempre sobreviveu.— Obrigada, Vlad! - disse, mais como um encerramento momentâneo do que qualquer outra coisa. — Por tudo.Ele me olhou por um longo momento, como se estivesse memorizando meu rosto pela última vez. E então, com um aceno breve e um olhar final, ele se virou e sumiu em algum canto da cobertura.O barulho da porta se fechando atrás dele ecoou na minha mente, e eu soube que era o fim. Ele não ia ser um emocionado, que me pediria para ficar. Não depois de outras tantas veze
Parte 126...Algum tempo mais tarde...ElenaO ano no Canadá me mudou de maneiras que eu não esperava. Quando saí de Chicago, estava perdida, sufocada pelas circunstâncias e pelo caos que era minha vida com Vlad. A distância me fez enxergar tudo com mais clareza e me deu a coragem que antes me faltava para olhar para dentro e reconhecer o que realmente importava. Mas, acima de tudo, a distância me deu algo ainda mais valioso: a habilidade de fazer escolhas conscientes e de estabelecer limites.O Canadá foi meu refúgio, mas também meu laboratório emocional. Eu estava sozinha, sem a constante presença de Vlad, ou de Vicky, e isso me forçou a confrontar minhas inseguranças. No começo, os dias eram longos, e as noites, solitárias. Eu me pegava andando pelas ruas de Vancouver com uma sensação constante de vazio, como se tivesse deixado uma parte de mim em Chicago. Passei muito tempo sentada em um banco à beira-mar, com o vento frio cortando minha pele, tentando processar tudo o que ha
Parte 127...ElenaQuando Vlad recebesse meu e-mail, eu não sabia o que esperar. Depois de tanto tempo, tantas palavras não ditas, e uma distância que nos separava mais do que apenas quilômetros, sua resposta poderia vir de várias formas. Eu não o conhecia o suficiente para saber que poderia ter mudado de ideia ou não, mas mesmo com toda a sua intensidade, ele tentaria ser direto. Vlad sempre foi uma pessoa complicada. E eu não estaca realmente ligada nele para captar suas mudanças. Mas isso foi antes.Então, quando a resposta finalmente chegou, meu coração disparou ao ver seu nome na caixa de entrada. Abri o e-mail devagar, como se o tempo estivesse em câmera lenta, e comecei a ler.Assunto: Eu estive esperando por issoElena,Ler suas palavras me trouxe um alívio que eu não esperava. Todo esse tempo, tudo o que eu queria era entender como você estava, o que estava sentindo. Eu tentei te dar espaço, porque sabia que você precisava disso. Mas isso não quer dizer que tenha sido fácil
Parte 128...Elena— Você voltou... - Vlad quebrou o silêncio, a voz baixa e rouca, cheia de uma emoção contida que ele parecia lutar para controlar.— É... Eu voltei - respondi, tentando soar firme, mas a suavidade em meu tom traiu o que eu realmente sentia.Olhamos um para o outro por mais um momento, como se estivéssemos medindo o quanto cada um de nós havia mudado. Ele estava mais magro, os traços do rosto mais marcados, mas seus olhos, aqueles olhos que sempre pareciam ver através de mim, estavam mais suaves, quase... Saudosos. Mas havia algo de diferente neles, algo mais contido, como se ele estivesse esperando por mim, sem querer pressionar.Ele deu um passo à frente, hesitante, como se estivesse com medo de fazer algo errado. Suas mãos tocaram de leve meus braços, e foi como se uma corrente elétrica passasse entre nós dois.O toque dele, apesar de familiar, parecia novo. Mais delicado. E, por um momento, tudo o que eu queria era me jogar em seus braços, mas me segurei.— Voc
Parte 1...Elena A noite em Chicago estava fria e úmida, e eu sentia o vento gelado cortar minha pele enquanto segurava os pequenos buquês de flores. O cheiro de fumaça e poluição parecia grudar na minha garganta, e o barulho constante da cidade me deixava com dor de cabeça. As luzes da boate piscavam em vermelho e azul, refletindo no asfalto molhado, mas para mim, tudo era apenas uma mancha de cores sem vida. Eu não ligo mais para isso.Eu estava ao lado de Vicky, minha melhor amiga, a única família que me restava desde que saímos do orfanato. Ela puxou o casaco fino mais apertado em volta de si, seus olhos verdes brilhando com uma mistura de frustração e cansaço.— Eu odeio isso - ela murmurou, a voz baixa, mas cheia de raiva contida. — Vendendo flores para caras bêbados que mal olham para a gente. Isso não é vida, Elena.Eu suspirei, olhando para os buquês em minhas mãos. As flores estavam levemente amassadas, mas ainda tinham um pouco de cor, uma lembrança frágil do que restav
Parte 2...ElenaVicky tropeçou ao meu lado, quase caindo, mas eu a segurei pelo braço, puxando-a para continuar. O som da chuva era ensurdecedor, abafando nossos passos apressados pelas ruas escuras. Minha mente estava em um turbilhão, o pânico me cegando, mas tudo que importava agora era escapar.— Precisamos sair daqui rápido! - eu disse entre os dentes, tentando manter minha voz firme, apesar do medo que me dominava.Vicky apenas assentiu, os olhos arregalados e a respiração descontrolada. Ela parecia prestes a desmoronar a qualquer momento, e eu sabia que precisava mantê-la em movimento.Estávamos quase na saída do beco quando Vicky, em sua pressa desesperada, esbarrou em uma lata de lixo metálica, derrubando-a com um estrondo. O som ecoou pelo beco como um tiro, e meu coração parou por um segundo.— Droga, droga! - Vicky exclamou em um sussurro apavorado, os olhos arregalados de pânico. — Eles ouviram isso, Elena!Meu sangue gelou, e a adrenalina percorreu meu corpo como uma d
Parte 3...Elena* Elena *O sol mal havia despontado no horizonte quando saímos do trailer, os primeiros raios de luz refletindo nas poças d’água que ainda marcavam a chuva forte da noite anterior. Eu estava exausta, a cabeça pesada de preocupação e cansaço. Vicky, ao meu lado, não parecia muito melhor. Seus olhos estavam fundos, como se a noite mal dormida tivesse arrancado qualquer vestígio de energia.Andamos em silêncio pelas ruas ainda úmidas, as lembranças do que havíamos visto na noite anterior pesando sobre nós. Eu não conseguia tirar da mente a imagem daquele homem sendo assassinado, o som seco e final do tiro ainda ecoando em meus ouvidos.— E se eles nos encontrarem? - Vicky quebrou o silêncio, sua voz baixa e trêmula.Olhei para ela, tentando mascarar meu próprio medo com uma expressão confiante. Eu não sou a mais corajosa de todas, mas sou um pouco mais do que a Vicky.— Ninguém vai nos encontrar, Vicky. Só precisamos ser cuidadosas e continuar com nossas vidas como se
Parte 4...ElenaAs horas passaram lentamente, o clima na confeitaria oscilando entre a tranquilidade habitual e uma tensão subjacente que eu não conseguia afastar. Quando chegou perto das cinco, comecei a preparar a encomenda do homem, embalando os doces com todo o cuidado.Vicky me ajudou, mas eu podia ver que ela estava inquieta, seus olhos constantemente indo em direção à porta.— Você acha que ele... Pode ser alguém perigoso? - ela perguntou de repente, sua voz baixa, quase como se estivesse com medo de que alguém pudesse ouvir.Eu pausei, refletindo por um momento.— Não sei, Vicky. Ele me pareceu estranho, mas isso não significa que ele seja perigoso. Vamos apenas entregar a encomenda e depois podemos ir para casa. Nós estamos com os nervos à flor da pele.Ela assentiu, mas o medo em seus olhos não desapareceu.Vicky sempre foi a mais medrosa de nós duas. Eu também sou, mas como sou um pouco mais solta, eu acabo fazendo as coisas com medo mesmo.Quando o sino da porta soou nov