Parte 127...ElenaQuando Vlad recebesse meu e-mail, eu não sabia o que esperar. Depois de tanto tempo, tantas palavras não ditas, e uma distância que nos separava mais do que apenas quilômetros, sua resposta poderia vir de várias formas. Eu não o conhecia o suficiente para saber que poderia ter mudado de ideia ou não, mas mesmo com toda a sua intensidade, ele tentaria ser direto. Vlad sempre foi uma pessoa complicada. E eu não estaca realmente ligada nele para captar suas mudanças. Mas isso foi antes.Então, quando a resposta finalmente chegou, meu coração disparou ao ver seu nome na caixa de entrada. Abri o e-mail devagar, como se o tempo estivesse em câmera lenta, e comecei a ler.Assunto: Eu estive esperando por issoElena,Ler suas palavras me trouxe um alívio que eu não esperava. Todo esse tempo, tudo o que eu queria era entender como você estava, o que estava sentindo. Eu tentei te dar espaço, porque sabia que você precisava disso. Mas isso não quer dizer que tenha sido fácil
Parte 128...Elena— Você voltou... - Vlad quebrou o silêncio, a voz baixa e rouca, cheia de uma emoção contida que ele parecia lutar para controlar.— É... Eu voltei - respondi, tentando soar firme, mas a suavidade em meu tom traiu o que eu realmente sentia.Olhamos um para o outro por mais um momento, como se estivéssemos medindo o quanto cada um de nós havia mudado. Ele estava mais magro, os traços do rosto mais marcados, mas seus olhos, aqueles olhos que sempre pareciam ver através de mim, estavam mais suaves, quase... Saudosos. Mas havia algo de diferente neles, algo mais contido, como se ele estivesse esperando por mim, sem querer pressionar.Ele deu um passo à frente, hesitante, como se estivesse com medo de fazer algo errado. Suas mãos tocaram de leve meus braços, e foi como se uma corrente elétrica passasse entre nós dois.O toque dele, apesar de familiar, parecia novo. Mais delicado. E, por um momento, tudo o que eu queria era me jogar em seus braços, mas me segurei.— Voc
Parte 1...Elena A noite em Chicago estava fria e úmida, e eu sentia o vento gelado cortar minha pele enquanto segurava os pequenos buquês de flores. O cheiro de fumaça e poluição parecia grudar na minha garganta, e o barulho constante da cidade me deixava com dor de cabeça. As luzes da boate piscavam em vermelho e azul, refletindo no asfalto molhado, mas para mim, tudo era apenas uma mancha de cores sem vida. Eu não ligo mais para isso.Eu estava ao lado de Vicky, minha melhor amiga, a única família que me restava desde que saímos do orfanato. Ela puxou o casaco fino mais apertado em volta de si, seus olhos verdes brilhando com uma mistura de frustração e cansaço.— Eu odeio isso - ela murmurou, a voz baixa, mas cheia de raiva contida. — Vendendo flores para caras bêbados que mal olham para a gente. Isso não é vida, Elena.Eu suspirei, olhando para os buquês em minhas mãos. As flores estavam levemente amassadas, mas ainda tinham um pouco de cor, uma lembrança frágil do que restav
Parte 2...ElenaVicky tropeçou ao meu lado, quase caindo, mas eu a segurei pelo braço, puxando-a para continuar. O som da chuva era ensurdecedor, abafando nossos passos apressados pelas ruas escuras. Minha mente estava em um turbilhão, o pânico me cegando, mas tudo que importava agora era escapar.— Precisamos sair daqui rápido! - eu disse entre os dentes, tentando manter minha voz firme, apesar do medo que me dominava.Vicky apenas assentiu, os olhos arregalados e a respiração descontrolada. Ela parecia prestes a desmoronar a qualquer momento, e eu sabia que precisava mantê-la em movimento.Estávamos quase na saída do beco quando Vicky, em sua pressa desesperada, esbarrou em uma lata de lixo metálica, derrubando-a com um estrondo. O som ecoou pelo beco como um tiro, e meu coração parou por um segundo.— Droga, droga! - Vicky exclamou em um sussurro apavorado, os olhos arregalados de pânico. — Eles ouviram isso, Elena!Meu sangue gelou, e a adrenalina percorreu meu corpo como uma d
Parte 3...Elena* Elena *O sol mal havia despontado no horizonte quando saímos do trailer, os primeiros raios de luz refletindo nas poças d’água que ainda marcavam a chuva forte da noite anterior. Eu estava exausta, a cabeça pesada de preocupação e cansaço. Vicky, ao meu lado, não parecia muito melhor. Seus olhos estavam fundos, como se a noite mal dormida tivesse arrancado qualquer vestígio de energia.Andamos em silêncio pelas ruas ainda úmidas, as lembranças do que havíamos visto na noite anterior pesando sobre nós. Eu não conseguia tirar da mente a imagem daquele homem sendo assassinado, o som seco e final do tiro ainda ecoando em meus ouvidos.— E se eles nos encontrarem? - Vicky quebrou o silêncio, sua voz baixa e trêmula.Olhei para ela, tentando mascarar meu próprio medo com uma expressão confiante. Eu não sou a mais corajosa de todas, mas sou um pouco mais do que a Vicky.— Ninguém vai nos encontrar, Vicky. Só precisamos ser cuidadosas e continuar com nossas vidas como se
Parte 4...ElenaAs horas passaram lentamente, o clima na confeitaria oscilando entre a tranquilidade habitual e uma tensão subjacente que eu não conseguia afastar. Quando chegou perto das cinco, comecei a preparar a encomenda do homem, embalando os doces com todo o cuidado.Vicky me ajudou, mas eu podia ver que ela estava inquieta, seus olhos constantemente indo em direção à porta.— Você acha que ele... Pode ser alguém perigoso? - ela perguntou de repente, sua voz baixa, quase como se estivesse com medo de que alguém pudesse ouvir.Eu pausei, refletindo por um momento.— Não sei, Vicky. Ele me pareceu estranho, mas isso não significa que ele seja perigoso. Vamos apenas entregar a encomenda e depois podemos ir para casa. Nós estamos com os nervos à flor da pele.Ela assentiu, mas o medo em seus olhos não desapareceu.Vicky sempre foi a mais medrosa de nós duas. Eu também sou, mas como sou um pouco mais solta, eu acabo fazendo as coisas com medo mesmo.Quando o sino da porta soou nov
Parte 5...Elena— Meu Deus!... - Vicky cobriu a boca com a mão, as lágrimas começando a encher seus olhos — Por que alguém faria isso... Que horror!— Eles vieram atrás de nós - eu sussurrei, engolindo em seco, enquanto o horror da situação se tornava realidade pra mim — Eles vieram atrás de nós... - molhei o lábio com a ponta da língua — Nós vimos algo que não deveríamos ter visto... - olhei para ela.Vicky começou a hiperventilar, o pânico tomando conta de seu rosto. Eu me virei para ela, tentando encontrar as palavras certas, mas eu mesma estava à beira de entrar em desespero.— Eles podem voltar, Elena... - ela choramingou, segurando em meus braços com força — O que vamos fazer? Não temos para onde ir... E se eles voltarem aqui de novo?Eu não sabia o que dizer a ela, porque também não sei de verdade. Meu coração estava batendo tão rápido que eu mal conseguia pensar.O trailer é nosso único refúgio e tinha sido invadido. Era como se o chão tivesse sido puxado debaixo de nossos pé
Parte 6...Em outra parte da cidade... Vlad A chuva batia incessante contra as janelas do meu escritório, cada gota amplificando o silêncio pesado que pairava na sala. Já tinha lido alguns e-mails e recados, mas ainda tinha assuntos pendentes.Eu estava sentado na minha poltrona de couro, observando a cidade de Chicago sob a escuridão da noite, através da janela alta ao meu lado. Gosto de fazer isso. As luzes da cidade brilhavam como um campo de batalhas, cada uma representando uma parte do meu império. Mas esta noite, algo estava fora do lugar, e a irritação crescia em meu peito. Não gosto de pontas soltas.Olhei ao redor da mesa, onde meus homens estavam reunidos. Nicolai, Alexei, Dimitri... Todos estavam tensos, esperando que eu falasse primeiro. Podiam sentir a tempestade se formando, não só lá fora, mas dentro de mim também.— Leonel está morto - comecei, mantendo a voz baixa e controlada, mesmo que a raiva estivesse fervendo por dentro — Essa é a única resposta para o sumiço